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DEMOCRÁTICO MULTIPARTIDÁRIO

3. Legitimidade democrática

A legitimação democrática dos titulares do poder político encontrava o seu fundamento no art.º 6.º, n.º 2 da CRDSTP-1990 e com a revisão constitucional de 2003(39) encontra o seu fundamento no art.º 6, n.º 2 da CRDSTP-2003, e o art.º 1.º n.º 1 da Lei Eleitoral - Lei n.º 11/90 de 26 de Novembro de 1990, onde se definiu e define que o poder político pertence ao povo, que o exerce através de sufrágio universal(40), igual(41), direto(42), secreto(43) e

(38) «Em democracia, o poder político reside na Nação. Na democracia representativa esse poder é exercido

pelo conjunto de indivíduos que a Nação escolheu, através das eleições. Assim sendo, tendo eleito os seus representantes, a colectividade delega neles a sua autoridade soberana.

Como seria de esperar, aqueles que recebem da colectividade a capacidade de executar o poder político deverão representá-la em todas as situações e, perante ela, ser responsáveis.» (HENRIQUE, Vítor e CABRITO,

Belmiro Gil – Introdução à Política. Tomo 1. 7.ª Edição. 2.ª Tiragem. Lisboa: Texto Editora, 1991, p. 43).

(39) Lei n.º 1/2003, de 29 de Janeiro de 2003 – Lei de revisão constitucional a qual designaremos de CRDSTP de

2003. Como a revisão Constitucional de 2003 não traz alterações nestas matérias e por uma questão de não estar a ser repetitivo a quando da análise da revisão Constitucional de 2003, fazemos desde já referência a estas matérias mencionando a CRDSTP-2003 (em diante, procederemos assim, com relação a todas as matérias em que não tenha havido alteração com a revisão Constitucional de 2003).

(40) Sufrágio universal significa poderem nele envolver-se todos os cidadãos são-tomenses maiores de idade com

a capacidade eleitoral. Os menores e cidadãos maiores com as chamadas incapacidades eleitorais não podem votar.

(41) Sufrágio igual ou igualitário traduz que, numa mesma eleição, cada eleitor dispõe de um número igual de

votos, geralmente um único voto com o mesmo valor ou peso. «(…) significa que todos os votos devem ter a

mesma eficácia jurídica, ou seja, o mesmo peso. O voto deve ter o mesmo valor numérico, o que impede o voto plúrimo ou múltiplo e o voto plural, ou seja votos em que o eleitor se expressa em qualidades diferentes, ou é

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periódico(44), concretizando-se, deste modo, a configuração da vontade popular como base da República (art.º 1.º da CRDSTP-1990 e CRDSTP-2003).

A participação e o envolvimento direto e ativo dos cidadãos na vida política, constituía e constitui condição fundamental de consolidação da República (art.º 65.º CRDSTP-1990 e art.º 67.º da CRDSTP-2003).

«(…) em termos internacionais, a legitimidade democrática dos titulares do poder político (alargada a todas as autoridades titulares de poderes públicos) é hoje uma exigência dotada de vocação universal, expressão de uma regra ius cogens, consagrada pelo art.º 21º, n.º 3, da Declaração Universal dos Direitos do Homem: a autoridade dos poderes públicos tem como fundamento a vontade do povo e esta exprime-se através de eleições honestas, periódicas e na direcção dos negócios públicos do seu país (art.º 21, n.º 1)»(45).

Os titulares do poder político, desde que dotados de uma legitimidade democrática, tornam-se representantes políticos do povo (art.º 6.º, n.º 2 da CRDSTP-1990; art.º 6º, n.º 2 da CRDSTP- 2003).

A legitimidade política das autoridades titulares do poder público pode assumir diferentes níveis de incidência:

A legitimidade democrática é direta, imediata ou de primeiro grau, sempre que nos encontramos perante titulares eleitos por sufrágio direto, universal e periódico da população –

atribuído o direito a certos eleitores votarem uma só vez com vários votos (…)» (PINTO, Ricardo Leite;

CORREIA, José de Matos; SEARA; Fernando Roboredo - Ciência Política e Direito Constitucional – Teoria Geral do Estado e Formas de Governo, Eleições e Partidos Políticos. 4ª Edição, rev. e ampl. Lisboa: Editora Universidade Lusíada, 2009, p. 368).

(42) No sufrágio directo os eleitores elegem os titulares dos órgãos políticos sem quaisquer intermediários. (43) Sufrágio secreto, significa votar em segredo, sem que outras pessoas saibam em quem o eleitor votou a

menos que este conte. É uma forma de evitar pressão sobre os eleitores, e também evitar a coação. O sufrágio secreto funciona como a garantia da liberdade.

(44) Como regra o art.º 1.º n.º 1 da Lei Eleitoral - Lei n.º 11/90 de 26 de Novembro, refere como um dos

princípios fundamentais que «O Presidente da República e os Delegados à Assembleia Nacional são designados

mediante eleição baseada no sufrágio universal, igual, directo, secreto e periódico dos cidadãos, nos termos da presente lei». Enquanto o art.º 2.º, n.º 1 da Lei Eleitoral dos Órgãos das Autarquias Locais – Lei n.º 11/92 de 9

de Setembro, não refere a periodicidade do sufrágio, quanto aos membros das Assembleias Distritais. Mas a periodicidade existe e está presente no art.º 119.º da CRDSTP-1990 e 141.º da CRDSTP-2003, que refere que «Os membros das Assembleias Distritais são eleitos por três anos…».

(45) OTERO, Paulo - Direito Constitucional Português: Organização Do Poder Político. Volume II. Coimbra:

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é o que sucede com o PR, os Deputados da AN e da Assembleia Legislativa Regional do Príncipe, e os membros das Assembleias Distritais.

A legitimidade democrática revela-se semidirecta ou quase direta, ocupando um segundo grau de legitimação, sempre que, utilizando um processo eleitoral destinado à eleição de Deputados, o motivo principalmente determinante da escolha do eleitorado acaba por ser a escolha do líder do Governo e temos como exemplo: à escolha do PM, do Presidente do Governo Regional do Príncipe e Presidente da Câmara Municipal. Todos eles titulares e dotados de uma legitimidade democrática semidireta.

Um terceiro grau de legitimidade democrática, revelando-se já de natureza indireta ou mediata, compreende todos os titulares que são designados por via eletiva ou de nomeação, por órgãos cujos titulares gozam de legitimidade democrática direta. São estes, por exemplo: Titular de órgão nomeado pela AN (Juízes do Supremo Tribunal de Justiça) ou os titulares nomeados pelo PR (Ministros e Secretários de Estado, o Procurador Geral da República).

Num quarto grau de legitimidade democrática, agora dotado de uma natureza indireta e secundária, encontram-se os titulares que são designados por órgãos, cujos titulares são também portadores de uma legitimidade indireta ou mediata. São eles: Diretor-geral nomeado por um Ministro, e um adjunto nomeado por um Secretário de Estado.

Como abrilhanta Paulo Otero «(…) o principio da legitimidade política ascendente,

alicerçando-se no principio democrático, conduz a que as principais decisões devam sempre ser tomadas pelos órgãos dotados de maior representatividade, isto é, que, sendo representantes directos e imediatos da vontade do povo, se situem mais perto da sua fonte de legitimação – aos órgãos cujos titulares têm uma legitimidade democrática directa e imediata justifica-se a atribuição de poderes reforçados ou, pelo menos, as principais decisões políticas da colectividade»(46).

(46) OTERO, Paulo - Direito Constitucional Português: Organização Do Poder Político. Volume II. Coimbra:

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