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DEMOCRÁTICO MULTIPARTIDÁRIO

8. Multipartidarismo e o sistema de Governo

8.1. Formação e evolução dos partidos no novo regime democrático

Antes da implementação da Constituição da República Democrática de São Tomé e Príncipe, de 1990, só existia um único partido, o MLSTP, que tinha formalmente um poder absoluto no sistema mono partidário (embora os poderes residissem materialmente no PR). Neste sistema o partido confundia-se com o próprio Estado.

O partido acima referenciado foi fundado em 1972 por um grupo de nacionalistas são- tomenses no exílio em Santa Isabel (atualmente Malabo), a capital da Guiné Equatorial. Em Setembro de 1974, o MLSTP foi reconhecido pelo governo português como único e legítimo representante do povo são-tomense. Também convém frisar que o MLSTP foi o sucessor do Comité de Libertação de São Tomé e Príncipe (CLSTP), a primeira organização nacionalista criada em 1960 (111).

(110) GUEDES, Armando Marques [et al] - Litígios e Legitimação: Estado, Sociedade Civil e Direito em S.

Tomé e Príncipe. Coimbra: Almedina, 2002, p. 135.

(111) SEIBERT, Gerhard - Instabilidade Política e Revisão Constitucional: semipresidencialismo em São Tomé e

Príncipe. in LOBO, Maria Costa e NETO, Octávio Amorim, Organização - O Semipresidencialismo nos Países de Língua Portuguesa. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais. 2009, pp. 202-223.

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Nas sociedades democráticas, diferente do acima mencionado monopartidarismo, os partidos políticos são uma organização orientada para adquirir o controlo legítimo do governo através de um processo eleitoral(112) e não fazem parte do Estado. «Os partidos políticos, embora

tenham relevância constitucional, não são instituições constitucionais, (…) mas sim associações privadas a quem são reconhecidas funções constitucionais (…)»(113).

A CRDSTP de 1990, no seu preâmbulo, refere que «Quinze anos depois, e após análise

aprofundada da experiência de exercício legítimo do poder pelo MLSTP, o comité Central, na sua sessão de Dezembro de 1989, fiel ao dever patriótico de promover o desenvolvimento equilibrado e harmonioso de São Tomé e Príncipe, decidiu ratificar as justas aspirações nacionais, expressas durante a Conferência Nacional, de 5 a 8 de Dezembro de 1989, no sentido da abertura do necessário espaço à participação de outras forças politicamente organizadas (…)». Com esta nova constituição abriu-se o país a um multipartidarismo em que

diferentes forças políticas, diferentes do MLSTP, também podiam participar e dar a sua contribuição no xadrez político de São Tomé e Príncipe e de acordo com o estipulado no art.º 62.º da CRDSTP-1990, cabia a lei especial regular a formação dos partidos políticos, Lei dos Partidos Políticos – lei n.º 8/90, D. R., n.º 10, de 21 de Setembro de 1990.

Com o despoletar de São Tomé e Príncipe para o multipartidarismo os primeiros partidos com relevância que surgiram foram: a) O Partido de Convergência Democrática - Grupo Reflexão (PCD-GR). Antes de ser PCD, e apenas como GR, estes protagonizaram a primeira oposição organizada dentro do país. O núcleo GR foi constituído por ex-membros da Associação Cívica pró-MLSTP, e por dissidentes do MLSTP. Em Novembro de 1990, durante um congresso constituinte, o GR transformou-se em Partido Convergência Democrática (PCD- GR). Este partido ganhou as primeiras eleições legislativas em 1991, obtendo uma maioria absoluta. Em 2001 este partido perde a sua designação GR, e o partido passa a ser PCD. b) A Coligação Democrática de Oposição (CODO), este partido começou a sua formação em Abril de 1990 em Lisboa e resultava de uma coligação dos três pequenos grupos de dissidentes, União Democrática e Independente de São Tomé e Príncipe (UDISTP); Frente de Resistência

(112) GIDDENS; Anthony – Sociologia. Tradução de José Manuel Sobral, Maria Alexandra Figueiredo, Catarina

Lorga da Silva e Vasco Gil. 2ª Edição. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2000, p. 415.

(113) Nação e Defesa, Revista de assuntos políticos, económicos, científicos e militares, Instituto de Defesa

Nacional, Ano IV, n.º 10, Abril-Junho de 1979, Ordem Constitucional, Direitos Fundamentais e Partidos Políticos, pág. 98; Cit. in FONTES, José. Teoria Geral do Estado e do Direito. Coimbra: Coimbra Editora, 2009, p. 183.

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de São Tomé e Príncipe (FRNSTP) e Acção Democrática Nacional de São Tomé e Príncipe (ANDSTP). CODO foi formalmente constituído em São Tomé em Outubro de 1990. Nas primeiras eleições este partido elegeu um deputado. c) Frente Democrata Cristã (FDC) era um partido sem qualquer base social de apoio no país, na campanha para eleições de 1991, teve de reduzir a sua campanha aos tempos de antena na rádio e na televisão(114).

O MLSTP que fora fundado 1972 e que durante pós-independência foi o único partido a existir no país até a implementação do multipartidarismo, apresentava-se na nova fase política, como sendo o partido que dispunha de maiores meios logísticos e financeiros. Em Outubro de 1990 o MLSTP reconstitui-se, passando a incorporar a designação Partido Social- Democrata (PSD) e sendo assim passou a ser designado Movimento Libertação de São Tomé e Príncipe – Partido Social-democrata (MLSTP-PSD)(115).

Com o andar do tempo, surgiram dois grandes partidos que marcaram a política são-tomense e mostraram de facto alguma consistência na sociedade, são eles: Acção Democrática Independente (ADI) e o Movimento Democrático Força de Mudança - Partido Liberal (MDFM-PL). Estas duas formações políticas têm a semelhança de serem ambas constituídas com o apoio dos Presidentes da República. A ADI, teve o apoio do PR Miguel Trovoada, e o MDFM-PL o apoio do PR Fradique de Menezes.

O objetivo por detrás destas formações partidárias, era transformar estes partidos como instrumento político para que os Presidentes pudessem exercer, de alguma forma, os poderes executivos.

(114) Sobre estas matérias consultar SEIBERT, Gerhard - Instabilidade Política e Revisão Constitucional:

semipresidencialismo em São Tomé e Príncipe. In LOBO, Maria Costa e NETO, Octávio Amorim, Organização - O Semipresidencialismo nos Países de Língua Portuguesa. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais. 2009, p. 223.

(115) Consultar: GRAÇA, Carlos - Memórias Políticas de um Nacionalista Santomense Sui Generis. 2ª Edição.

União Nacional dos Escritores e Artistas Santomenses (UNEAS). 2012, pp. 164-168; e SAIBERT, Gerhard - Instabilidade Política e Revisão Constitucional: semipresidencialismo em São Tomé e Príncipe. In LOBO, Maria Costa e NETO, Octávio Amorim, Organização - O Semipresidencialismo nos Países de Língua Portuguesa. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais. 2009, pp. 223-223 e seg.).

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Em finais de 1992, devido a divergência entre o PR Miguel Trovoada, e o PCD-GR, os apoiantes do PR constituíram a ADI, que se transformou formalmente em partido político em Março de 1993 (116).

O partido MDFM-PL foi criado em 2001(117)com o apoio do PR Fradique de Menezes. Tomé Vera Cruz, antigo funcionário de uma empresa privada propriedade do PR Fradique de Menezes(118) assumiu o lugar de secretário-geral do partido.

Nas eleições de 3 de Março de 2002, o partido MDFM-PL, em coligação com o PCD-GR, ganharam as eleições.

O PR Miguel Trovoada sempre negou o seu envolvimento ativo na política partidária, ao contrário do PR Fradique de Menezes, que confessou ser «líder virtual» do MDFM-PL(119).

8.2. Oposição

Não podemos falar de multipartidarismo, sem porém, tecer algumas considerações sobre a oposição exercida no âmbito de pluralismo democrático.

De acordo com Jorge Miranda «Oposição é a designação que abrange pessoas, correntes de

opinião pública, grupos ou partidos políticos que em qualquer país se manifestam contrários ao Governo ou ao regime político vigente. No primeiro caso (oposição só ao Governo) diz-se oposição constitucional; no segundo, (oposição ao regime, e portanto, também ao Governo) oposição anticonstitucional» (120).

Num sistema multipartidário, onde o pluralismo deve ser a regra, a maioria que ganha as eleições legislativas deve governar, e a minoria deve estar na oposição (oposição

(116) SEIBERT, Gerhard - Instabilidade Política e Revisão Constitucional: Semipresidencialismo em São Tomé e

Príncipe. In LOBO, Maria Costa e NETO, Octávio Amorim, Organização - O Semipresidencialismo nos Países de Língua Portuguesa. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais. 2009, p. 224.

(117) SEIBERT, Gerhard - Instabilidade Política e Revisão Constitucional: semipresidencialismo em São Tomé e

Príncipe. In LOBO, Maria Costa e NETO, Octávio Amorim, Organização - O Semipresidencialismo nos Países de Língua Portuguesa. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais. 2009, p. 226.

(118) Idem, p. 225.

(119) Idem, p. 225; CAMPOS, Fernando Rui de Sousa e – As Relações Entre Portugal e São Tomé e Príncipe:

Do Passado Colonial à Lusofonia. Lisboa: Edições Colibri, 2011, p. 241).

(120) MIRANDA, Jorge - Formas e Sistemas de Governo. 1ª Edição. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2007, p.

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constitucional), entendida como fiscalização pública dos atos do Governo ou como poder de resistência ou de garantia; a representação de minorias e a institucionalização dos grupos parlamentares e dos partidos políticos, são corolários jurídicos desse princípio.