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Atributos Regionais que Ajudam a Identificar os Diferentes Níveis de Resiliência

CAPÍTULO III A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE

NO DESENVOLVIMENTO REGIONAL

3.2.4 Atributos Regionais que Ajudam a Identificar os Diferentes Níveis de Resiliência

Existe uma grande variedade de trabalhos sobre resiliência que diferem de acordo com o objeto de estudo, a escala espacial e temporal em que a análise é realizada, o tipo de perturbação estudada e a abordagem teórica adotada. Contudo, nestes estudos alguns atributos usados para justificar os diferentes níveis de resiliência se repetem, com destaque para: capital natural/ambiental, capital humano, capital social, diversidade, capacidade de inovação, acessibilidade e conectividade. A presença desses atributos podem significar o maior êxito das estratégias adaptativas e representar o diferencial presente em regiões com maior resiliência. Na sequência iremos abordar cada um deles.

Capital natural/ambiental: o capital natural refere-se aos recursos do sistema biofísico de onde a região está inserida e é influenciado pela ação humana individual e coletiva (MARGIS, 2010). Tem um papel mais importante em regiões em que as atividades rurais exercem um papel de destaque (WILSON, 2010; AKAMANI, 2012). Isto porque, a redução do capital natural, em casos mais extremos, pode ameaçar a base de subsistência das comunidades rurais e provocar a destruição da resiliência (WILSON, 2010). As métricas usadas para avaliar o capital natural compreendem tanto o estoque de recursos como o acesso a eles, sendo que quanto maior e mais disponível for o estoque para a comunidade, maior tende a ser a resiliência da região.

Capital social: o capital social tem sido usado para ajudar a explicar porque algumas regiões são mais bem-sucedidas em superar crises (NORRIS et al., 2008; WILSON, 2010; WOLFE, 2010; MÉNDEZ, 2013). Este é apontado como um dos componentes centrais da resiliência, que quando presentes em uma região podem ser mobilizados para resolver problemas coletivos (SMITH et al., 2012). O capital social seria o agregador dos recursos reais ou potenciais que estão ligados à posse de uma rede durável de relações mais ou menos institucionalizadas de conhecimento e reconhecimento mútuos. Representam a qualidade das relações sociais, nas quais o elevado capital social é fundamental para o engajamento individual ou coletivo em ações voltadas para melhorar a adaptação da comunidade às mudanças (MARGIS, 2010; AKAMANI, 2012). Regiões em que o processo de desenvolvimento é ditado e controlado por um grupo pequeno de empresas e que a população demonstra sinais de dependência e clientelismo tende a ter pouco capital social e baixa resiliência (SMITH et al. 2012).

Capital humano: nos trabalhos sobre resiliência este atributo é comumente tratado (MARGIS, 2010; DAVIES, 2011; FOXÀ et al., 2011; MÉNDEZ, 2013). O capital humano refere-se a atributos inatos e adquiridos dos indivíduos, sejam eles latentes ou já manifestados (MARGIS, 2010). Aspectos como o grau de instrução (escolaridade), a faixa etária da população e, consequentemente, a disponibilidade de mão de obra em idade laboral são informações que podem ajudar na análise da resiliência (FOXÀ et al., 2011). Para alguns pesquisadores, o grau de qualificação da população pode incrementar a resiliência de um território. Aparentemente, trabalhadores com qualificação mais elevada são mais ágeis e flexíveis em situação de crise (CHRISTOPHERSON et al., 2010, AKAMANI, 2012). Ou, como afirmam Chapple e Lester (2010), trabalhadores altamente qualificados fortalecem a resiliência regional. Já, por outro lado, o elevado grau de envelhecimento da população pode afetar negativamente a resiliência de uma região. Além disso, existem indícios de que o predomínio de contratos de trabalhos temporários seria um indicativo de menor resiliência (FOXÀ et al., 2011). Já, a presença de muitos trabalhadores com algum vínculo junto ao setor público (funcionários públicos, aposentados) pode gerar uma maior estabilidade na região (FICENEC, 2010).

Diversidade: é recorrente na literatura que trata da resiliência o entendimento de que regiões com atividades produtivas mais diversificadas são menos afetadas por choques e apresentam uma recuperação mais rápida, estando menos propensas a experimentar oscilações drásticas de empregos e salários (HUDSON, 2009; BRISTOW, 2010; CHAPPLE e LESTER, 2010; CHRISTOPHERSON et al., 2010; PIKE et al., 2010; COTE e NIGHTINGALE, 2012). A diversificação se estuda principalmente do ponto de vista setorial, mas pode também ser considerada segundo outros âmbitos, como o intrassetorial. A dependência da região a uma única grande empresa limita a resiliência, enquanto que uma estrutura variada de empresas (grandes, pequenas, cooperativas) atua de forma contrária (FOXÀ et al., 2011). Ahern (2011), ao tratar da diversidade, afirma que os espaços economicamente e socialmente mais diversos apresentam um repertório mais amplo de respostas a perturbações e crises sendo, também, mais capazes de se adaptar às mudanças advindas destes processos. A diversidade funciona como um “amortecedor”, dissipando os efeitos negativos de uma perturbação em toda uma série de atividades econômicas e locais, ao invés de concentrá-los e reforçá-los (DAWLEY et al., 2010 e PIKE et al., 2010). Também é importante destacar que a diversidade é o atributo mais apontado na literatura como gerador de

resiliência.

Capacidade de inovação: dentre todas as publicações que tratam do tema de inovação, o Manual de Oslo continua sendo uma referência relevante. É possível observar ali um conjunto de definições consideradas básicas para o entendimento da inovação. Assim, segundo este manual, a inovação é a implantação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas, desde que sejam novos para o mercado ou, pelo menos, para a empresa (OCDE, 2005). Já, as bibliografias que tratam da resiliência têm apontado que as regiões que dispõem de empresas situadas em setores mais inovadores parecem manifestar maior capacidade de resistir e de se recuperar de choques externos (CHRISTOPHERSON et al. 2010; SIMMIE e MARTIN, 2010; DAVIES, 2011; GLOVER, 2012; MÉNDEZ 2012, 2013). Para autores como Foxà et al. (2011), a inovação e a diversificação caminham juntas nas regiões e o aumento da diversificação implica no aumento da capacidade de inovar. Também apontam para uma relação entre a formação e o grau de qualificação, no sentido de que regiões que atraem trabalhadores mais qualificados e que estão envolvidas em processos de inovação geram ingressos regionais suficientes para melhorar os ingressos médios dos trabalhadores podendo, com isso, também melhorar a resiliência (CHAPPLE e LESTER, 2010).

Acessibilidade: a maior proximidade da região aos grandes eixos de dinamismo econômico permite uma maior diversificação e um maior acesso à inovação (FOXÀ et al., 2011). Também, a proximidade de centros universitários e de pesquisa é considerada um elemento de reforço que pode contribuir para a inovação e consequentemente para a resiliência.

Conectividade: foca principalmente nas conexões existentes dentro da região (AHERN, 2011; COTE e NIGHTINGALE, 2012;

WILSON

et al., 2013). Aqui, se destacam a integração horizontal

entre as empresas, as redes locais de confiança, as associações de negócios formais e informais, os padrões de mobilidade laboral, a difusão do conhecimento, etc. (FOXÀ et al., 2011). Entende-se que as regiões com mais conexões internas são mais resistentes a choques. Embora, também, seja verdade que sistemas fortemente conectados internamente e excessivamente hierarquizados podem apresentar uma menor adaptabilidade à mudança (SIMMIE e MARTIN, 2010). Isto

ocorre, normalmente, quando a região se encontra na fase K do ciclo adaptativo. Para melhor entender este processo, temos de recorrer a Holling (2001). Segundo este autor, o grau de conectividade pode ser alto ou baixo e forte ou fraco. Alta conectividade implica em diversidade de relações entre os componentes, enquanto que, a baixa conectividade significa justamente o contrário, ou seja, pouca diversidade de relações entre componentes. Forte conectividade faz o sistema ficar rígido, ao passo que quando esta é fraca o sistema fica flexível. Portanto, o que se deseja é que a conectividade seja alta e fraca.

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O referencial teórico exposto anteriormente nos indica que os SSEs quando resilientes apresentam a capacidade de persistir, de adaptar e de transformar, e dependem da criação de condições favoráveis de geração e (re)combinação de conhecimento através de procedimentos de experimentação e de aprendizagem. Nestas condições, diferentes atributos, assim como, diversas formas de conhecimento (tácito/explícito, prático/teórico) provenientes de diferentes agentes e de diferentes escalas são associadas ao longo do ciclo adaptativo do sistema. Contudo, para avançarmos ainda mais no entendimento da importância da resiliência em estudos que tratam do desenvolvimento regional, precisamos explorar esta abordagem em uma realidade empírica, através de uma estrutura metodológica concebida a partir da vertente teórica da “resiliência adaptativa”, anteriormente discutida. Com base nesta estrutura de análise espera-se identificar se a resiliência pode auxiliar na compreensão do processo de desenvolvimento regional, bem como, identificar formas de manifestação da mesma.

Os próximos capítulos se destinam a alcançar os propósitos anteriores. Para tanto, o Capítulo IV é dedicado à construção de uma estrutura metodológica para o estudo da resiliência em sistemas regionais, enquanto que os demais capítulos (V, VI e VII) usam a estrutura proposta para o estudo de uma realidade empírica.

CAPÍTULO IV PROPOSTA DE ESTRUTURA