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CAPÍTULO III A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE

NO DESENVOLVIMENTO REGIONAL

3.2.3 Gestão da Resiliência nos Espaços Regionais

Gerir resiliência implica compreender como as dinâmicas históricas do sistema se comportam ao longo do tempo e modelam a atualidade, revelando quais são as principais forças de mudança, bem como, o efeito de pertubações e crises passadas e as respostas das regiões as mesmas (FOLKE et al., 2003). Não se pode perder de vista que, de uma forma mais simplificada, a resiliência é a capacidade de ser flexível. Está implícito no conceito o reconhecimento de que os sistemas e os seus contextos mudam continuamente, e que a resiliência confere a capacidade de adaptação, de aprendizagem e de reestruturação contínua. Assim, ao gerir a resiliência se procura evitar que o SSE se mova para configurações indesejáveis (SANTOS, 2009a). O objetivo seria nutrir e preservar os elementos que permitem ao sistema renovar-se e reorganizar-se depois de perturbações e crises. Para tanto, se demanda compreender onde é que o sistema possui resiliência e como é que ela pode ser conquistada ou perdida. Também, seria importante identificar pontos de intervenção que permitam aumentar a capacidade de adaptação. Do ponto de vista da dinâmica dos SSEs, tal capacidade pode evitar que o sistema alcance um ponto de viragem ou, ainda, pode intervir no sentido de alterar a estrutura do próprio sistema de maneira a mover, para algum lugar no futuro, esse ponto de viragem.

Outro elemento-chave na gestão da resiliência reside na qualidade da comunicação entres os agentes, as redes e as instituições. É particularmente interessante analisar os efeitos da informação transferida entre sistemas que operam em diferentes escalas ou em diferentes níveis de organização. De um lado temos os sinais “top-

down” em um nível administrativo mais elevado, veiculados através de

leis, decretos, impostos e outras formas de coerção e, do outro, temos os sinais emitidos “bottom-up” que podem ser menos eficientes para chegar ao destinatário, pois esta informação gerada em escalas menores da região pode ser degradada ou eliminada antes de atingir o topo (FARRALL, 2012). Ou seja, isso pode significar que aquelas instituições ao nível mais alto da organização não disponham da informação de que necessitam acerca das escalas menores do SSE. O bloqueio da comunicação entre as diversas escalas do sistema pode diminuir a resiliência deste ao reduzir o número e qualidade das conexões existentes.

Na gestão da resiliência, também é importante estar atento à relação existente entre a resiliência dos subsistemas (específica) e a resiliência geral (global) do SSE. Se as relações de poder forem muito desiguais resultando, por exemplo, em políticas públicas que enfoquem excessivamente uma parte do sistema, isto pode resultar na perda de resiliência em outros subsistemas ou mesmo do próprio sistema global (FOLKE et al., 2010). Isto ocorre porque, embora a resiliência específica permita ao sistema enfrentar perturbações conhecidas e frequentes, apenas a resiliência geral permite a superação de disrupções associadas a níveis de incerteza elevados, raros e/ou catastróficos (FARRALL, 2012). Deste modo, a resiliência adaptativa de um SSE depende da dinâmica das interligações entre os vários subsistemas que o compõem e não do privilégio a um único subsistema.

De acordo com Folke et al. (2003), com base na noção de resiliência adaptativa, haveriam quatro fatores críticos para gerir as dinâmicas socioecológicas durante períodos de rápida mudança e reorganização de sistemas resilientes: i) aprender a viver a mudança e a incerteza; ii) combinar diferentes tipos de conhecimento na aprendizagem; iii) criar oportunidades de auto-organização; e iv) nutrir as fontes de resiliência para a renovação e reorganização. Com isso, também queremos dizer que a resiliência pode ser vista como uma capacidade que pode ser aumentada, no sentido de melhorar a adaptação de um determinado sistema às condições envolventes. Tanto que, Hopkins (2008) alerta para a importância das regiões gerirem adequadamente a sua resiliência, a fim de aumentá-la, possibilitando a

construção de espaços mais preparados para lidar com as crises futuras. Isto também nos leva a compreender que existem diferentes graus de resiliência e que, em função das estratégias de desenvolvimento regional adotadas, se poderá promover o incremento da resiliência ou, então, a sua erosão. Portanto, a resiliência regional não seria estática, mas sim, uma construção complexa que pode ajudar a explicar porque determinadas regiões prosperam enquanto outras encontram mais dificuldades.

Para Hudson (2009), as políticas neoliberais são as principais responsáveis pela erosão da resiliência e pela criação de regiões mais vulneráveis. A vulnerabilidade seria a propensão do SSE para sofrer danos perante as perturbações ou as crises (SANTOS, 2009a). Desta forma, precisa-se aprender a criar economias regionais mais autossuficientes e, ao mesmo tempo, garantir uma transição bem conduzida para uma economia regional mais sustentável e socialmente justa.

Para Santos (2011), está “implícito a ideia de pró-atividade em relação ao poder-se atuar no sentido de gerir a resiliência, sobretudo, através da construção de capacidades sociais”. Para Foster (2007), Hudson (2009) e Pike et al. (2010) também as autoridades governamentais têm um papel fundamental para a sustentação da resiliência através do envolvimento dos diferentes agentes no planejamento regional, o que possibilitará a aprendizagem social. Este olhar também é compartilhado por Ficenec (2010), para quem a resiliência depende, em parte, da capacidade das autoridades políticas para assegurar o planejamento eficaz e a implementação de estratégias em resposta às perturbações do sistema.

Portanto, a resiliência pode ser um dos fatores mais importantes para explicar as diferenças na capacidade de adaptação econômica das regiões, superando outros discursos presentes nestes espaços. Bristow (2010) e Hudson (2009) destacam em seus trabalhos que as estratégias de desenvolvimento regional têm sido subjugadas ao discurso hegemônico de competitividade, de tal forma que o objetivo final traçado para todas as regiões, via decisões de políticos e profissionais, baseia-se na criação de vantagem econômica através do desempenho de produtividade superior, ou na atração de novas empresas. Assim, tende- se a uma convergência nas estratégias de desenvolvimento regional que pouco ou nada diferem entre si e as tornam absolutamente previsíveis. Os autores que trabalham na construção do conceito de resiliência não negam a importância da competitividade, entretanto, enfatizam que as

empresas ou agentes envolvidos também não podem abrir mão de manter inter-relações virtuosas com as demais empresas ou agentes.

Neste sentido, Christopherson et al. (2010) sugerem que um dos caminhos para determinar a resiliência e geri-la pode se dar pela análise de diferentes regiões ao longo do tempo e, para tanto, argumentam que se deve atentar para alguns elementos: a presença de um sistema regional de inovação; a identificação de fatores que criam uma região de aprendizagem; a infraestrutura produtiva (transportes, acesso à banda larga, etc.); a força de trabalho capacitada para inovar e para empreender; um sistema de apoio financeiro; e uma base econômica diversificada não dependente de um único setor. Já, Bristow (2010) aponta características consideradas importantes para sustentar a resiliência, tais como: diversidade de empresas, de instituições e de meios de ganhar a vida; políticas de valorização das atividades que estão embutidas nas capacidades do meio ambiente local e adaptadas aos seus limites; e, finalmente, em virtude da necessidade de utilização mútua dos ativos e recursos locais, a resiliência implica, também, em uma economia de apoio à família, à comunidade e à sociedade civil.

Uma economia regional resiliente envolve, entre outras coisas, em uma “pegada ambiental” mais leve, um maior grau de fechamento interno, uma menor dependência de decisões tomadas em outros lugares e menor vulnerabilidade a choques externos (HILL et al., 2008). Por fim, Christopherson et al. (2010) argumentam que há muitas evidências nos estudos até então desenvolvidos que permitem afirmar que a resiliência tem muito a colaborar para o entendimento das dinâmicas por trás das mudanças regionais. Esses autores também concordam com a observação feita por Bristow (2010), para quem a resiliência tem a capacidade de exibir propagação viral. Afinal, para esta pesquisadora, a resiliência consegue cortar toda a chamada “zona cinzenta” entre a academia, a política e a ação prática.

Enfim, o desenvolvimento de um país, região ou comunidade é governado por pessoas e instituições, que coletivamente determinam ou influenciam o seu destino, em face de condições envolventes as quais necessitam se adaptar. A forma como conseguem ou não fazê-lo pode ser determinante para a sua continuidade. Ou seja, a capacidade de gerir resiliência pode contribuir sobremaneira para a construção de um desenvolvimento regional mais duradouro.

3.2.4 Atributos Regionais que Ajudam a Identificar os Diferentes