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CAPÍTULO I – TEORIAS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL

TEORIAS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL (DR) As teorias de DR acompanharam as transformações estruturais

1.1.3 Produção Recente sobre Desenvolvimento Regional

1.1.3.5 Neo-schumpeterianos

As correntes evolucionistas neo-schumpeterianas, também chamadas simplesmente de “enfoques neo-schumpeterianos” (DALLABRIDA et al., 2011), ressaltam que a inovação nas empresas, somada a fatores relacionados ao entorno socioeconômico e cultural, seria determinante para as aglomerações econômicas e para o desenvolvimento regional. Assim, segundo Dallabrida et al. (2011), além dos referenciais schumpeterianos, esta corrente assume também alguns elementos teóricos das teorias institucionalistas. Com isto, diferentemente de Schumpeter, enfatizam que o desenvolvimento não necessariamente acontece por rupturas radicais, podendo se dar de forma adaptativa e progressiva, destacando a importância do papel da aprendizagem, do conhecimento tácito e da rotina nos processos inovadores. Da mesma forma, a figura isolada do empresário, central no modelo original de Schumpeter, é menos enfatizada em favor das instituições de pesquisa e de desenvolvimento de produtos e processos.

Esta estratégia foi bastante trabalhada por uma rede de pesquisadores europeus que se agregaram em torno do Groupe de

Recherche Européen sur les Mileux Innovateurs (GREMI), na qual

faziam parte autores como: Aydalot, Camagni, Maillat, Perrin, Crevoisier, entre outros, (AMARAL FILHO, 1999; CAVALCANTE, 2008). De uma forma geral, estes autores estavam preocupados com as externalidades de natureza tecnológica que decorreriam dos vínculos de cooperação e interdependência estabelecidos entre as empresas através da formação de redes de inovação (CAVALCANTE, 2008). Tanto que, para Amaral Filho (1999), esta estratégia foi elaborada em parte pela preocupação em fornecer elementos que contribuíssem para a sobrevivência dos distritos industriais, e para que outras regiões e locais pudessem conceber seus próprios projetos de desenvolvimento de maneira sólida. Outro fator marcante ainda destacado por esse autor é que esta corrente acaba dando especial atenção para a tecnologia, considerada essencial no processo de transformação vivenciado após os anos de 1980.

Assim, os pensadores “neo-schumpeterianos” se diferenciam dos pensadores dos “distritos industriais” porque, enquanto no segundo prevalece à visão do “bloco social”, o primeiro confere às inovações tecnológicas certa autonomia e um papel determinante. Já no Brasil, segundo Vale e Castro (2010), as ideias schumpeterianas influenciaram as correntes associadas à temática do Sistema Nacional de Inovação, a partir do qual surge o conceito de “Sistemas Produtivos e Inovativos Locais” (SPIL)10, do qual deriva o conceito de “Arranjos Produtivos Locais” (APL)11. Vale destacar que este último foi incorporado por diversas agências de políticas públicas e privadas do país encarregadas de promover o desenvolvimento da produção de bens e serviços, atuando em nível nacional e local, passando a substituir nas agendas políticas outros conceitos supostamente análogos (COSTA, 2010).

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Os SPIL caracterizam conjuntos de agentes econômicos, políticos e sociais, localizados em um mesmo território, desenvolvendo atividades econômicas correlatas e que apresentam vínculos expressivos de produção, interação, cooperação e aprendizado. Tais sistemas seriam resultantes da evolução histórica, vinculada a um processo de formação da própria identidade do território em que se inserem. São caracterizados, também, por uma dimensão territorial; por um escopo de diferentes atividades e distintos atores econômicos, políticos e sociais aí presentes; pela presença de conhecimento tácito; por processos de inovação e aprendizagem interativos; mecanismos de coordenação das atividades (governança) e por um certo grau de enraizamento das atividades na comunidade local (VALE e CASTRO, 2010).

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Segundo Costa (2010) em meados da década de 1990 havia diversos conceitos (Clusters, Distritos Industriais, dentre outros) influenciando tanto a academia quanto os formuladores de políticas. Esta diversidade de experiências e de nomenclaturas acabou confundindo e dificultando sobremaneira o delineamento de políticas públicas adequadas destinadas às aglomerações de pequenas e médias empresas. Na tentativa de criar uma alternativa para esta questão, o termo APL surgiu como uma espécie de “guarda-chuva” capaz de abrigar uma ampla diversidade do fenômeno, porém com um elemento de coesão, algo presente em todos os conceitos e análises, com intuito de se constituir como um promissor instrumento de política econômica. Foi desta maneira que no Brasil, em que pese à diversificação conceitual, morfológica ou de nomenclatura das diversas experiências, passou-se, a partir do final da década de 1990, a utilizar com cada vez mais frequência o termo APL, como sendo um espaço social, econômico e historicamente construído através de uma aglomeração de empresas (ou produtores) similares e/ou fortemente inter- relacionadas, ou interdependentes, que interagem numa escala espacial local definida e limitada através de fluxos de bens e serviços.

Avançado na discussão sobre a abordagem neo-schumpeteriana, Cassiolato e Lastres (2003) afirmam que esta procura adicionar um novo componente à dimensão espacial ao enfatizar o papel das tecnologias de informação e comunicação na mudança de paradigma tecnoeconômico. Segundo Amaral Filho (1999), esse traço tecnológico demonstra que a corrente em questão está preocupada em evitar que regiões periféricas sejam vítimas dos resultados desastrosos difundidos pela desintegração do modelo vertical de produção fordista. Entende-se que a desintegração vertical fordista permite às empresas separar o núcleo estratégico (P&D e marketing) das partes de produção e/ou de montagem. Assim, estas poderiam simplesmente conservar o seu núcleo estratégico no lugar de origem e deslocar, para outras regiões, as partes de simples montagem do produto. Nesse caso, a empresa exige da região receptora apenas vantagens em termos de mão de obra barata.

Contudo, para Amaral Filho, essa “janela de oportunidade” pode ser apenas uma bolha passageira, na qual uma região periférica passa a crescer sem a capacidade de realizar a união entre território e indústria e é justamente contra isso que a corrente em questão trabalha, com o objetivo de evitar a formação de uma industrialização de natureza nômade. Afinal, os neo-schumpeterianos entendem que uma região pode ser mais ou menos inovadora segundo as práticas e os elementos que a regula. Isso quer dizer que esses últimos podem estar sendo orientado tanto para aproveitar “vantagens adquiridas” quanto para a renovação ou a criação de recursos (MAILLAT, 1995). Tanto que, para Amaral Filho (1999), é fácil deduzir que as regiões que optam pelas vantagens adquiridas ou dadas estão se candidatando ao declínio econômico, enquanto que aquelas que optam pela conquista de novas vantagens estão mais próximas do sucesso ou da sobrevivência.

Portanto, a chave para o sucesso de uma região estaria na capacidade dos atores locais em compreenderem as transformações que estão ocorrendo em sua volta, no ambiente tecnológico e no mercado, de forma que tenham os subsídios para evoluir e transformar o seu ambiente. Isto também vai demandar destes atores sociais a construção da capacidade de resposta, a qual consiste na mobilização de conhecimento e de recursos para colocar em prática projetos de reorganização do aparelho produtivo, dentro de uma lógica de valorização da capacidade de interação entre os atores, segundo as regras de cooperação/concorrência e dinâmica de aprendizagem. Para Cassiolato e Lastres (2003), este processo final depende também de uma forte inovação organizacional que passa pela constituição de redes- empresas e destas com outras organizações. Assim, a competitividade

das empresas e organizações estaria relacionada à abrangência das redes em que estão inseridas e com a intensidade do uso que fazem das mesmas.

Nesta mesma linha de pensamento, Costa (2010) afirma que a competitividade e a concorrência “implicam no surgimento permanente e endógeno de diversidade no sistema, importando mais a criação de diferenças, por meio das inovações em sentido amplo, do que sua eliminação”. É em função disto, segundo o mesmo autor, que as inovações aparecem em pontos localizados no tempo e no espaço, conformando uma geografia do desenvolvimento descontínua, desarmoniosa e desequilibrada, conferindo aos sistemas locais de inovação, oriundos de uma aglomeração produtiva, uma importância fundamental na endogeneização do desenvolvimento. As aglomerações produtivas passam a ser entendidas como:

...organizações heterogêneas que aprendem, inovam e evoluem, e nas quais os conhecimentos externos e os fluxos de informações assumem importância fundamental na “fertilização cruzada” dos agentes; nos spill-overs de conhecimento, que potencializam a localidade um efeito sinérgico positivo; e no bojo do relacionamento e da interdependência entre empresas e destas com outras instituições locais responsáveis pela pesquisa, desenvolvimento e difusão de conhecimento tecnológico. (COSTA, 2010). Outro fator de destaque é protagonizado pelas variantes da corrente evolucionista neo-schumpeteriana, entre as quais se destacam os enfoques que utilizam conceitos tais como “ambientes inovadores” (AYDALOT, 1985; MAILLAT, 1995), “regiões inteligentes” (FLORIDA, 1995; MORGAN, 1997), “territórios inovadores” (MÉNDEZ, 2002) e “sistemas regionais de inovação” (LUNDVALL, 1992). É evidente na bibliografia neo-schumpeteriana o destaque dado, por pesquisadores como Amaral Filho (1999) e Cavalcante (2008), à variante “ambientes inovadores”. Esta variante, segundo Maillat (1996), se destaca por poder se manifestar em condições territoriais e produtivas bastante diversas. Os quais podem ser especializados ou multifuncionais, industriais ou turísticos, urbanos ou rurais, de tecnologia elevada ou tradicional. O que parece ser fundamental é a existência de “sistemas produtivos locais” que traduzam um conjunto de

relações sociais capazes de coordenar os agentes envolvidos e potencializar os resultados de suas atividades.

Por fim, conforme destaca Fochezatto (2010), independente da corrente evolucionista neo-schumpeteriana, a ênfase à inovação e à tecnologia como as formas mais adequadas para se promover o desenvolvimento regional e local sempre está presente. O pano de fundo dessa ênfase tecnológica é tornar as regiões mais competitivas e, até certo ponto, mais autônomas, tornando-as menos vulneráveis a problemas externos, como por exemplo, o de desintegração vertical de grandes cadeias produtivas.

1.2 QUADRO RESUMO

Como vimos, as teorias de desenvolvimento mudaram e evoluíram consideravelmente ao longo de tempo. Assim, para facilitar a visualização deste processo, apresentamos um quadro resumo (Quadro 1). Neste quadro encontram-se as principais correntes de pensadores do DR, agrupadas em três períodos distintos, formando os três grupos de teorias anteriormente abordados.

Quadro 1 - Teorias relacionadas ao desenvolvimento regional e seus principais pensadores.

Grupos de Teorias

Denominação Principais Teorias

de Cada Grupo Principais Pensadores Primeiro Grupo Teorias Tradicionais de Localização Industrial Teoria do Estado

Isolado von Thünen

Teoria da Localização de

Indústrias

Alfred Weber Teoria dos Lugares

Centrais Walter Christaller Teoria da Ordem Espacial da Economia August Lösch Localização e

Economia Espacial Walter Isard

Segundo Grupo

Teorias da Economia do Desenvolvimento

Teoria dos Polos de Crescimento François Perroux Teoria Causação Circular Cumulativa Gunnar Myrdal Teoria de Efeitos de Encadeamento para Trás e para Frente Albert Hirschman Terceiro Grupo Produção Recente sobre Desenvolvimento Regional Nova Geografia

Econômica Paul Krugman Organização Industrial Allan Scott e Michael Storper Escola da Especialização Flexível Michael J. Piore e Charles F. Sabel Teoria da Competitividade de Porter Michael E. Porter Neo-schumpeterianos GREMI* * Groupe de Recherche Europeén sur les Mileux Innovateurs