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4.1 Organização e Gestão do Ensino e Aprendizagem

4.1.3 Atuação

“A aula é o ponto de convergência do pensamento e da ação do/a professor/a”

(Bento, 1987)

A idealização de todo o processo de ensino-aprendizagem converge na lecionação das aulas, à qual corresponde a fase da realização. Um dos meus

objetivos pessoais, para a minha atuação, passava pela transmissão da minha perspetiva e gosto pelo desporto e pelas aulas de EF pois, é dever de todos nós combatermos a iliteracia motora e o sedentarismo.

Os contributos das componentes de gestão, instrução, disciplina e clima para a relação pedagógica advêm dos recursos aplicados na fase interativa do ensino (Siedentop e Tannehill, 2000).

Estas quatro componentes estavam contempladas nos objetivos por etapas da nossa atuação como estudantes estagiários - futuros docentes. Deste modo, para cada período, o núcleo de estágio elaborou uma ficha de observação das aulas (Anexos 1, 2 e 3), a qual evidenciava uma sequência temporal lógica.

Os momentos de instrução devem ser claros e sucintos, ou seja, a instrução deve ser objetiva e acessível para os alunos, sem perder informação pertinente e num tom de voz assertivo (Siedentop, 1991). No entanto, apesar de ter a perfeita noção e entendimento de como instruir, inicialmente, realizava extensas “palestras”, durante o tempo de aula, para explicar e demonstrar os exercícios, sendo uma das mais visíveis dificuldades que tive que ultrapassar. Não se tratou de um processo simples, mas de uma complexidade e morosidade para o qual a professora cooperante me alertou por inúmeras vezes. Todavia, a superação desta dificuldade possibilitou-me um melhor discernimento e aplicação das competências de instrução.

No capítulo das regras, a pontualidade foi um dos maiores problemas, principalmente na aula de meio bloco (45’) devido à transição entre a sala de aula (disciplina teórica) e o pavilhão; a assiduidade; as normas de segurança – ausência de brincos, relógios, cabelos presos, entre outros – não foram respeitadas, infelizmente, nalgumas exceções; a linguagem adequada ao contexto da aula foi alvo de atenção durante o ano letivo.

O incumprimento, ocasional, das regras e das rotinas condicionou a gestão e organização da aula, não permitindo a criação de um clima positivo e promotor da aprendizagem.

“A afirmação do paradigma do desporto plural consolidou a ideia de que a prática de desporto é algo de valioso para a qualidade de vida da generalidade das pessoas, independentemente de idades, condições, possibilidades ou aptidões.”

(Rosado e Mesquita, 2009, p. 40)

O significado e a importância que atribuo à EF é muito pessoal, pelo que, é passível reconhecer o caráter subjetivo deste tema. Considero que esta disciplina deveria ter uma maior carga horária, uma maior importância na vida diária dos alunos e não, como acontece, ser subvalorizada e afrontada com desapreço. Comummente, os alunos afirmam que a disciplina é “uma seca!”; a falta de interesse e motivação para a aula, entre outros. Contudo, existe o direito à liberdade de expressão e de opinião, portanto, a minha postura passa por tentar perceber as razões que levam os alunos e a população a tecer tais comentários negativos e refletir sobre as estratégias que são possíveis de implementar para transformar essas conceções.

A lecionação dos conteúdos programáticos deveria ser enquadrada em situação competitiva ou em situação de prática analítica, ou seja, o ensino apresenta dois tipos (possíveis) de sequência – da base para o topo; ou do topo para a base – progressão intratarefa (relações verticais) e intertarefa (relações horizontais), respetivamente (Rosado e Mesquita, 2009).

Por modelo entenda-se um processo de orientação educativa e de princípios teóricos de atuação pedagógica. Neste sentido, nas aulas do segundo e terceiro períodos, as situações de aprendizagem incorporavam algumas das dinâmicas do modelo de educação desportiva (Siedentop, 1987) isto é, apesar das experiências positivas, dinâmicas e enriquecedoras vivenciadas nas didáticas específicas – no primeiro ano de mestrado, num contexto totalmente distinto – a aplicação na minha turma foi realizada de forma condicionada.

Deste modo, na lecionação dos conteúdos e, independentemente, do tipo de atividade (base> topo ou topo> base), o propósito principal é o jogo formal. Portanto, quando se realiza uma prática analítica dos conteúdos, esta pode ser estruturada de acordo com três metodologias (Wightman e Lintem, 1985, cit. por Godinho, Mendes, Barreiros, & Melo, 2002) – a segmentada, simplificada e fracionada.

Godinho et al. (2002, p. 170) baseia-se nas palavras de Ruiz (1994) para sustentar que, a prática pode ser, também, suscetível às caraterísticas do sujeito.

Adaptado de Ruiz (1994), Godinho et al. (2002) organizou a seguinte tabela:

Prática Global Prática Analítica

Habilidade Motora

Habilidade com pares

muito integradas e

organizadas;

Habilidade simples

Independência das

componentes da habilidade; Habilidade muito complexa

Indivíduo Elevada capacidade de memorização de sequências longas; Elevada capacidade de atenção; Nível de desempenho na habilidade elevado Limitações na retenção (memória); Problemas de atenção concentração;

Dificuldades com algum elemento ou componente da habilidade

Quadro 1 - Prática Analítica por Godinho, Mendes, Barreiros, e Melo (2002, p. 170)

Por tal, o conhecimento do perfil individual e coletivo dos meus alunos, enquadra-os no grupo dos alunos com problemas de atenção concentração e nas dificuldades com algum elemento ou componente da habilidade. Pese

embora, o processo educativo não ser estagnado, existe a possibilidade dos intervenientes (alunos e professores), deste processo, poderem transformar a sua maneira de ser, estar e agir.

O modelo privilegiado durante este ano letivo foi o modelo de educação desportiva, o qual assenta numa formação, de cada pessoalidade, desportivamente competente, culta e entusiasta, através de um domínio das habilidades técnicas e das componentes táticas; de um conhecimento das tradições e rituais desportivos; e de um interesse pela prática, respetivamente. Este providencia a familiarização com um contexto competitivo real ou o mais idêntico possível, segundo uma educação lúdica.

A sua aplicabilidade não se cinge às atividades desportivas coletivas mas, também, às de cariz individual, como a ginástica, atletismo, entre outras. Neste sentido, a lecionação da modalidade de ginástica de solo foi realizada segundo alguns princípios deste modelo, nomeadamente, o espírito de cooperação, entreajuda e apoio tendo como finalidade a colaboração de todos para o resultado final, onde a heterogeneidade individual é minorada e a participação ativa de todos é exponenciada, sobretudo nas tarefas organizativas e de aprendizagem (Rosado e Mesquita, 2009).

Ainda, segundo os mesmos autores, a transversalidade da participação dos alunos na formação permite-lhes a promoção da integração – filiação - e a aquisição de conhecimentos sobre a (re)definição dos múltiplos papéis, na construção das equipas – jogadores, capitães, treinadores, árbitros, dirigentes, jornalistas, etc. (Rosado e Mesquita, 2009).

Em suma, este modelo apresenta-se como uma alternativa sólida às aplicações tradicionais do modelo de múltiplas atividades, dedica-se à valorização da dimensão humana e cultural do desporto, pela promoção de uma educação inclusiva (Rosado e Mesquita, 2009).

Evolução da minha atuação no decorrer do estágio

Nesta etapa do meu desenvolvimento profissional deparei-me com diversos obstáculos, alguns dos quais criados pela minha própria insegurança, desconhecimento total dos factos e uma clara e óbvia falta de experiência. Neste sentido, o primeiro período revelou-se num verdadeiro cabo das tormentas e as minhas dificuldades e inseguranças resultaram em erros dispensáveis. Assim, o primeiro passo de uma recuperação é sempre o reconhecimento da existência dos problemas e de querer ajuda e formação para os superar.

O desenvolvimento profissional exige, igualmente, um desenvolvimento pessoal pois trata-se de um processo indissociável, assim, esta área (desenvolvimento profissional) engloba atividades de crescimento progressivo da minha competência pessoal e profissional, tendo como pressupostos a superação gradual de etapas neste crescimento.

Um desígnio válido e objetivo pelo qual ambiciono consolidar cada etapa deste meu longo percurso. Em cada tomada de decisão existiu uma entrega máxima de mim próprio, por mais ténue que fosse, envolvendo-me neste processo de ensino-aprendizagem sempre com a intenção de melhorar os conhecimentos já adquiridos junto dos mais experientes, sem recuos ou desistências. É com base neste pressuposto que procurei e procuro estruturar as etapas do meu caminho nesta profissão.

Na elaboração do Projeto de Formação Individual (PFI), no início do ano letivo, apresentei como as minhas maiores dificuldades a reduzida experiência e competência nalgumas modalidades mas no decorrer do primeiro período deparei-me com dificuldades em mais áreas, nomeadamente, no controlo e organização da turma, na gestão do tempo de empenhamento motor, na interação com os alunos, na capacidade reflexiva das minhas ações, na capacidade de observação e avaliação do desempenho dos alunos, no tempo e qualidade da instrução e os parcos conhecimentos em algumas questões mais técnicas de algumas modalidades.

O pressuposto deste plano de formação pessoal visou uma tomada de consciência, de decisão e de ação nas tarefas necessárias para a superação das dificuldades através da aquisição de mais competências em todos os domínios. Assim, no final de cada aula, de cada semana e de cada mês seja possível apresentar melhorias de acordo com os critérios de avaliação do estágio.

No campo de ação do EP está prevista a observação das aulas dos estudantes estagiários que compõem este Núcleo de Estágio, da professora cooperante e de qualquer outro professor da escola, sendo assim uma ferramenta indispensável para a recolha de informações e de metodologias, de outras perspetivas do processo de ensino aprendizagem.

No entanto, a minha atuação não se cingiu à observação e interação com outros docentes, tendo começado (por indicação da professora cooperante) a lecionar a outra das suas turmas com o intuito de desenvolver uma maior confiança, autonomia e segurança em todos os domínios da atuação, no contexto do estágio. Neste sentido, durante o ano letivo, tive a oportunidade de lecionar e interagir com diferentes turmas, de forma regular.

Em suma, a minha presença, dedicação e empenho no processo de lecionar (durante algum tempo) em duas turmas, conduziu a uma melhoria das minhas capacidades e competências, e de uma constante participação na escola. A observação das aulas dos outros docentes, da interação e debate das ideologias e metodologias de trabalho permitiu-me alargar as minhas conceções, elaborar novas estratégias e procurar implementá-las nas minhas aulas.

No documento Relatório Final de Estágio Profissional (páginas 76-82)

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