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Capítulo I – A Escola de Hoje como Organização Educativa

1. Políticas Educativas Rumo a Um Percurso Inclusivo

2.1. O Atual Enquadramento Legal

No âmbito da redefinição do conceito de NEE pela Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994) e pelos princípios de inclusão nela proclamados, e na sequência das políticas educativas rumo a um percurso inclusivo, é publicado em Portugal o Decreto-Lei n.º 3/08, de 7 de janeiro.

Este normativo vem reforçar a responsabilização da escola, referindo Capucha, Pereira, Crespo, Correia, Cavaca, Croca e Micaelo (2008) que

cabe às escolas ou agrupamentos de escolas contemplar nos seus projectos educativos as adequações relativas ao processo de ensino e de aprendizagem, de carácter organizativo e de funcionamento, necessárias à resposta educativa aos alunos que se enquadram na educação especial. Estas adequações melhoram a qualidade da educação prestada, beneficiando, desta forma, todos os alunos (p.18).

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Capucha e colaboradores (2008) consideram que, um sistema de educação inclusivo “deve estruturar-se e desenvolver-se atendendo à diversidade de características das crianças e jovens, às diferentes necessidades ou problemas e, portanto, à diferenciação de medidas” (p. 11). Deste modo, os alunos com NEE podem ser distinguidos “entre os que apresentam problemáticas de baixa-intensidade e alta-frequência e os que apresentam problemáticas de alta-intensidade e baixa-frequência” (Capucha et al., 2008, p. 8), sendo o primeiro grupo de alunos o que se enquadra no âmbito da educação especial e necessitam da diferenciação pedagógica positiva.

O Decreto-Lei n.º 3/08, de 7 de janeiro vem, segundo Capucha e colaboradores (2008), como primeira medida da reorganização da educação especial, clarificar o grupo alvo a que se destina, enquadrando

as respostas educativas a desenvolver no âmbito da adequação do processo educativo às necessidades educativas especiais dos alunos com limitações significativas ao nível da actividade e participação, num ou vários domínios da vida, decorrentes de alterações funcionais e estruturais de carácter permanente e das quais resultam dificuldades continuadas ao nível da comunicação, da aprendizagem, da mobilidade, da autonomia, do relacionamento interpessoal e da participação social ( p. 11).

Por outro lado, este normativo constitui, atualmente, o enquadramento legal para o desenvolvimento da educação especial, definindo os apoios especializados “a prestar na educação pré-escolar e nos ensinos básico e secundário dos sectores público, particular, cooperativo ou solidário” (Capucha et al., 2008, p. 11), aos alunos com as características atrás referidas, tendo em vista a criação de condições para a adequação do seu processo educativo.

Considerando que alunos com NEE de carácter permanente “carecem de apoio específico ao longo de todo o percurso escolar” (Capucha et al., 2008, p. 7) assiste-se, com a publicação do Decreto-Lei n.º 3/08, de 7 de janeiro, “à criação do grupo de recrutamento dos docentes de educação especial, colocados nas escolas para prestar esse apoio” considerada a “segunda grande medida da reorganização da educação especial” (p. 8).

Neste âmbito, o Decreto-Lei n.º 3/08, de 7 de janeiro, prevê no art.º 4º, para além de um conjunto de outras medidas, o desenvolvimento de respostas diferenciadas, orientadas para a especificidade das crianças e jovens com NEE de carácter permanente, nomeadamente a criação de escolas de referência nas áreas da cegueira e baixa visão e da surdez, bem como a criação de unidades de apoio especializado para a educação de alunos com perturbações do espectro do autismo e alunos com multideficiência. No que respeita à

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rede de escolas e respetivos serviços de apoio, refira-se ainda a definição de um conjunto de escolas de referência para a Intervenção Precoce (art.º 27º).

No sentido de reforçar os recursos especializados ao serviço do sistema, Capucha e colaboradores (2008) referem que “foi também criada uma rede de escolas equipadas com Centros de Recursos TIC especializados” (p. 9), com a finalidade de “avaliação dos alunos com NEE de carácter permanente para fins de adequação das tecnologias de apoio às suas necessidades específicas” (p. 9).

Em síntese, podemos referir que o Decreto-Lei n.º 3/08, de 7 de janeiro, define:

 A criação de condições para a adequação do processo educativo às NEE dos alunos com limitações significativas ao nível da atividade e participação decorrentes de alterações funcionais e estruturais, de carácter permanente (art.º 1º);

 Osprocedimentos de referenciação e avaliação dos alunos (art.º 5º, 6º e 7º);

 A avaliação dos alunos por referência à Classificação Internacional da Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF - CJ) (art.º 6º);

 A implementação do PEI e do PIT (art.º8º, 9º, 10º, 11º, 12º, 13º e 14º);

 Um conjunto de medidas educativas: adequação do processo de ensino e de aprendizagem (art.º 16º), apoio pedagógico personalizado (art.º 17º); adequações curriculares individuais (art.º 18º), adequações no processo de matrícula (art.º 19º), adequações no processo de avaliação (art.º 20º); CEI (art.º 21º); tecnologias de apoio (art.º 22º);

 A aplicação de medidas educativas cumulativamente, com exceção das medidas previstas nos art.º 18º e 21º, não cumuláveis entre si (art.º 16º);

 A autorização prévia do encarregado de educação para a aplicação de qualquer das medidas educativas (art.º 11º).

 Asmodalidades específicas de educação (conforme já referido anteriormente). A 12 de maio de 2008 é publicada a Lei n.º 21, sendo a primeira alteração ao Decreto-Lei n.º 3/08, de 7 de janeiro. Este normativo vem alterar os art.º 1º, 4º, 6º, 23º, 28º, 30º e 32º, que passam a ter redação modificada.

Na continuidade deste percurso inclusivo, Pereira, Crespo, Croca, Breia e Micaelo (2011) referem que

a ratificação por Portugal da Convenção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, designadamente do artigo 24º, através da Resolução da Assembleia da República n.º

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56/2009, de 30 de Julho, confirma a determinação do Estado Português em manter a educação inclusiva no centro da Agenda Política (p. 5)

No âmbito de um projeto de avaliação externa da implementação do Decreto-Lei n.º 3/08, de 7 de janeiro, Ferreira e Simeonsson (2010) referem que este normativo “introduz mudanças substantivas no modo de entender e responder aos alunos com deficiência e incapacidade, propondo mais um passo na direcção de um pensamento e de uma pragmática inclusiva” (p. 1). Os autores sublinham que esta legislação é o elemento central desta mudança, dado que

a substituição da necessidade de um diagnóstico médico ou psicológico na elegibilidade de alunos para a Educação Especial, pela descrição de um perfil de funcionalidade baseado numa avaliação biopsicossocial mediada pela utilização da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) (p. 1).

Neste estudo, em que foi realizada uma abordagem documental quantitativa de 252 processos dos alunos e uma abordagem mais qualitativa, avaliando as perceções dos profissionais e dos pais envolvidos, concluiu-se, que o Decreto-Lei n.º 3/08, de 7 de janeiro “permitiu uma melhor qualidade das respostas educativas e do ensino, nomeadamente uma escola mais inclusiva, um ensino de maior qualidade e mais tempo e envolvimento dos alunos com NEE na sala de aula” (Ferreira & Simeonsson, 2010, p. 2). Os autores acrescentam que esta legislação promove “a aproximação a uma escola inclusiva tem sido conseguida pelo envolvimento e profissionalismo dos diferentes profissionais e dos recursos disponibilizados pela tutela” (p. 2).

Com base neste estudo, Ferreira e Simeonsson (2010) consideram que

a optimização da implementação do Decreto-Lei depende e envolve o contexto organizacional (…), a sua relação com o contexto externo (…) e, particularmente, os processos comunicacionais e de colaboração estabelecidos entre os serviços de educação especial e a escola em que se integram (p. 6).

Neste sentido, apresentam algumas recomendações dirigidas a diferentes estruturas, das quais destacámos a direção da escola e os docentes, pelo interesse que apresenta para o nosso estudo. Relativamente à primeira estrutura, Ferreira e Simeonsson (2010) recomendam:

 Reforço da articulação entre o PEI, o PE e o PAA, “capaz de gerar mecanismos mais eficazes de integração das respostas educativas inscritas” (p. 6) nos PEI;

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 “Desenvolvimento da colaboração e cooperação entre instituições com vista à criação de recursos para a integração social do aluno e sua transição para a vida pós-escolar” (p. 6);

 “Criação de sistemas de referenciação e intervenção preventivos” (p. 6);

 Reorganização das respostas educativas, que não no âmbito da educação especial, adequando-as às necessidades dos alunos;

 Cooperação com as associações de pais, “num esforço de promover a sua participação no processo educativo dos seus filhos” (p. 6), assim como na divulgação/informação dos seus direitos e deveres;

 “Organização dos horários dos diferentes profissionais” (p. 6) de modo a promover um trabalho de equipa, colaborativo, entre todos os profissionais que intervêm com determinado aluno;

 “Reforço da integração dos pais na equipa de modo a garantir a sua participação na discussão e delineamento” (p. 7) do PEI.

Recentemente, no seguimento destas recomendações e no que respeita à direção das escolas e/ou agrupamentos de escola, o ME publicou um guia para diretores com indicadores-chave para o desenvolvimento das escolas, no âmbito da educação inclusiva e da educação especial. É objetivo desta publicação, segundo Pereira e colaboradores (2011), “apoiar as escolas na organização de respostas educativas de qualidade” (p. 6) para os alunos com NEE, sendo “desenhado especificamente para ser utilizado pelos directores dos agrupamentos ou escolas” (p. 6), considerando as “responsabilidades e competências atribuídas a estes profissionais no âmbito no definido no Decreto-Lei n.º 3/08” (p. 6).

No que respeita aos docentes, Ferreira e Simeonsson (2010) aconselham:

 Assegurar a implementação do PIT três anos antes da idade limite de escolaridade obrigatória;

 Continuar a considerar a idade cronológica dos alunos com CEI, “como condição a equacionar na progressão entre ciclos de ensino” (p. 7);

 “Integração do aluno, sempre que existam condições, como elemento da equipa na elaboração” (p. 7) do PEI;

 “Elaboração de um perfil de funcionalidade” de modo a permitir “uma melhor adequação entre a avaliação e a intervenção nos contextos educativos” (p. 7).

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2.2. Escola Inclusiva ou Escola Contemporânea: Um Modelo de