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Capítulo III – A Escola de Hoje e o Processo Educativo dos Alunos com

4. Processo de Referenciação e Avaliação

A primeira medida da reorganização da educação especial, consagrada no Decreto- Lei n.º 3/08, de 7 de Janeiro, foi referem Capucha e colaboradores (2008), a clarificação dos destinatários: “crianças cujas dificuldades resultam de alterações em estruturas e funções do corpo com carácter permanente, que geram desvantagens face ao contexto e ao que este oferece e exige a cada um” (p. 7).

Este normativo vem, assim, definir o grupo-alvo da educação especial, enquadrando-o, claramente, no grupo de alunos a que Simeonsson (1994), cit. por Capucha e colaboradores (2008), refere de “baixa-frequência e alta-intensidade” (p. 16), isto é, os alunos que “têm grandes probabilidades de possuírem uma etiologia biológica, inata ou congénita e que foram ou deviam ser detectados precocemente, exigindo um tratamento significativo e serviços de reabilitação” (p. 15). São ainda aqueles que segundo Bairrão (1998), cit. por Capucha e colaboradores (2008), exigem mais recursos humanos, meios adicionais e materiais especializados para apoiar as suas NEE.

No sentido de definir a elegibilidade do grupo-alvo para a educação especial, Capucha e colaboradores (2008) referem que o Decreto-Lei n.º 3/08, de 7 de janeiro “pressupõe a referenciação das crianças e jovens que eventualmente possam vir a necessitar de respostas educativas no âmbito da educação especial” (p. 21), sendo que a referenciação consiste na comunicação/formalização de situações que possam indiciar a existência de NEE de carácter permanente.

A este respeito, também Pereira e colaboradores (2011) referem que a referenciação é

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o primeiro passo para que a escola inicie, com autorização dos encarregados de educação, o processo de avaliação que conduzirá à tomada de decisões quanto à elegibilidade para a educação especial, bem como à identificação dos apoios especializados adequados para responder às necessidades educativas especiais (p. 15).

Assim, no capítulo II do Decreto-Lei n.º 3/08, de 7 de janeiro, faz-se referência aos procedimentos de referenciação e avaliação, no art.º 5º menciona-se que esta pode ser efetuada sempre que existe suspeita que uma criança ou jovem necessitar de uma resposta educativa no âmbito da educação especial. A iniciativa pode partir dos pais ou encarregados de educação; dos serviços de intervenção precoce; dos docentes; dos serviços da comunidade (serviços de saúde, serviços da segurança social, serviços da educação, etc.).

A propósito da tomada de iniciativa da referenciação, também Pereira e colaboradores (2011) referem que “de acordo com o previsto no Decreto-Lei n.º 3/08, de 7 de janeiro qualquer pessoa eu entidade, sempre que presume que um aluno necessita de apoios especializados, deve expressar e fundamentar essa necessidade junto da escola” (p. 14). Há que ter presente, acrescentam Capucha e colaboradores (2008), que “embora qualquer destes serviços possa fazer a referenciação, a família deverá ser contactada para autorizar o início do processo de avaliação” (p. 21).

A referenciação, conforme é referido no art.º 5º do Decreto-Lei n.º 3/08, de 7 de janeiro, é feita aos órgãos de gestão das escolas ou agrupamentos de escolas da área da residência.

A sua formalização é efetuada através do preenchimento de um formulário disponibilizado pelos estabelecimentos de ensino e no qual se regista o motivo da referenciação, informações sumárias sobre a criança ou jovem e se anexa toda a documentação que se considere importante para o processo de avaliação. Neste primeiro momento, acrescentam Capucha e colaboradores (2008), devem ser indicados quais os problemas detetados sendo que a “referenciação deve espelhar o conjunto de preocupações relativas à criança ou jovem referenciado” (p. 21).

Neste sentido, Pereira e colaboradores (2011) consideram que, sempre que a referenciação é feita pelo professor da turma ou disciplina, o respetivo formulário deve ser acompanhado de algumas informações pedagógicas, nomeadamente as preocupações do professor relativas ao desempenho escolar do aluno que justificam a eventual necessidade de educação especial; evidências que sustentam a referenciação (trabalhos dos alunos, registos de avaliação, etc.); e ações já implementadas pelo professor, para melhorar o

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processo de ensino e de aprendizagem (adequação de metodologias, de estratégias, organização da sala de aula, utilização de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), apoio individualizado ao aluno, recurso a tutorias, trabalho a pares, etc.).

Pereira e colaboradores (2011) consideram que “a referenciação não é um mero acto administrativo de encaminhamento para apoios especializados devendo assumir, antes de mais, um carácter pedagógico” (p. 14) e só deve ser realizada quando “o professor verifica que através de estratégias de diferenciação pedagógica não consegue responder às necessidades educativas do aluno” (p. 14). Antes de proceder à referenciação acrescentam os autores, o docente deve analisar as suas práticas, “no sentido de identificar aspectos que possam ser melhorados ao nível do processo de ensino e de aprendizagem” (p. 14).

No Decreto-Lei n.º 3/08, de 7 de janeiro menciona-se que, referenciada a criança ou jovem “compete ao conselho executivo” (art.º 6º) desencadear todo o processo de avaliação, que “deve solicitar ao departamento de educação especial e aos serviços técnico- pedagógicos de apoio aos alunos, a avaliação das crianças e jovens referenciados e a elaboração do respectivo relatório técnico-pedagógico” (Capucha et al., 2008, p. 22).

A este respeito, Pereira e colaboradores (2011) referem que

no acto de tomada de decisão quanto ao envio do processo de referenciação para a equipa de avaliação, o director deve assegurar-se que as razões da referenciação estão claramente expressas; a informação disponibilizada indicia tratar-se de um aluno que necessita de apoios especializados; do processo constam produtos de aprendizagem do aluno e a informação disponibilizada comprova que o professor esgotou todas as possibilidades de responder às necessidades educativas do aluno” (p. 15).

Segundo Capucha e colaboradores (2008), a avaliação, no âmbito do previsto no Decreto-Lei n.º 3/08, de 7 de janeiro, tem como objetivo, por um lado, recolher informação que permita verificar-se se está perante uma situação de NEE de carácter permanente e por outro, dar orientações para a elaboração do PEI e identificar os recursos adicionais a disponibilizar. Neste sentido, acrescentam os autores, “a primeira questão que se coloca é de saber se se está perante uma situação que exige uma avaliação especializada” (p. 22).

Uma vez analisada toda a informação disponível, referem Capucha e colaboradores (2008), apresentam-se duas situações. Se “o aluno não apresenta necessidades educativas que exijam uma intervenção no âmbito da educação especial” (p. 22), os serviços do departamento de educação especial e do serviço de psicologia deverão proceder ao “encaminhamento dos alunos para os apoios disponibilizados pela escola que melhor se adequem à sua situação específica” (Decreto-Lei n.º 3/08, de 7 de janeiro, art.º 6º),

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fazendo-se acompanhar por um relatório técnico-pedagógico onde deverão ficar registadas todas as informações que se considerarem pertinentes relativamente ao aluno. Por outro lado, caso se considere a necessidade de uma avaliação especializada, refere-se no art.º 6º do Decreto-Lei n.º 3/08, de 7 de janeiro, o conselho executivo deverá solicitar a intervenção do departamento de educação especial e do serviço de psicologia assim como outros técnicos ou serviços (serviços de saúde, centros de recursos especializados, escolas ou unidades previstas no n.º 2 e 3 do art.º 4º do Decreto-Lei n.º 3/08, de 8 de janeiro), para que, referem Capucha e colaboradores (2008), “em conjunto com os encarregados de educação se constitua uma equipa pluridisciplinar que avalie as necessidades específicas de cada aluno” (p. 22).

Uma vez constituída a equipa, Capucha e colaboradores (2008), consideram que cada elemento deverá preparar-se para uma reunião conjunta onde, após a primeira etapa, que consiste na análise da informação disponível, se procede à organização num roteiro de avaliação do que é necessário avaliar, quem vai avaliar e como se avalia.

Segundo Capucha e colaboradores (2008), a avaliação, tendo a CIF-CJ como quadro de referência, deve contemplar vários fatores, nomeadamente componentes da funcionalidade e da incapacidade e fatores contextuais, e as interações que se estabelecem entre eles.

Neste sentido e para o efeito, deverão ser selecionadas as categorias relativamente às quais se considere ser necessário obter nova ou mais informação, de acordo com a condição específica de cada criança/jovem, e serem identificados os aspetos em que vai incidir a avaliação, quem vai avaliar as diferentes categorias e que instrumentos vão ser utilizados. Todos estes elementos deverão aparecer descritos no referido roteiro de avaliação, sendo esta fase considerada, por Capucha e colaboradores (2008), da maior importância, “já que desta forma não se duplicará informação e ficará claro o papel de cada um neste processo” (p. 23).

Para efeitos de elegibilidade, referem Pereira e colaboradores (2011), a equipa responsável pela avaliação tem que ter presente o grupo-alvo da educação especial considerando questões como se o aluno evidencia problemas nas funções ou estruturas do corpo, se tem dificuldades na execução das tarefas ou ações, se tem dificuldades em envolver-se nas atividades da vida diária esperadas para o seu nível etário e/ou se existem fatores ambientais que limitam/restringem ou facilitam a sua funcionalidade.

Pereira e colaboradores (2011) acrescentam que, compete à equipa de avaliação, com base na análise de toda a informação recolhida no processo de referenciação e de

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avaliação, identificar as NEE dos alunos e os apoios especializados necessários, cabendo ao conselho executivo, conforme se refere no Decreto-Lei n.º 3/08, de 7 de janeiro, desencadear esses procedimentos, como já tivemos oportunidade de referir. No mesmo normativo legal, menciona-se ainda que compete ao concelho executivo “assegurar a participação activa dos pais ou encarregados de educação, assim como a sua anuência” (art.º 6º) no referido processo.

Capucha e colaboradores (2008) referem que após uma análise conjunta dos dados da avaliação, tendo como referência a CIF-CJ, como já tivemos oportunidade de referir, é elaborado um relatório técnico-pedagógico “onde se identifica o perfil de funcionalidade do aluno, tendo em conta a actividade e participação, as funções e estruturas do corpo e a descrição dos facilitadores e barreiras que a nível dos factores ambientais influenciam essa mesma funcionalidade” (p. 23).

Com base no Decreto-Lei n.º 3/08, de 7 de janeiro, com as alterações introduzidas pela Lei n.º 21/08, de 12 de maio, no relatório técnico-pedagógico deverão constar

os contributos dos restantes intervenientes no processo, para além do departamento da educação especial e do serviço de psicologia, onde sejam identificadas, nos casos em que tal se justifique, as razões que determinam as necessidades educativas especiais do aluno e a sua tipologia, designadamente as condições de saúde, doença ou incapacidade (…) e os resultados decorrentes da avaliação, obtidos por diferentes instrumentos de acordo com o contexto da sua aplicação, tendo por referência a Classificação Internacional da Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, da Organização Mundial de Saúde, servindo de base à elaboração do programa educativo individual (art.º 6º).

Neste relatório, acrescentam Capucha e colaboradores (2008) e Pereira e colaboradores (2011), deverão ainda constar as respostas e medidas educativas a adotar assim como orientações que servirão de base à elaboração do PEI.

O processo de avaliação termina assim, referem também Pereira e colaboradores (2011), com a elaboração do relatório técnico-pedagógico que deve conter os resultados da avaliação e a descrição do perfil de funcionalidade do aluno e que “faz parte integrante do processo individual do aluno” (Decreto-Lei n.º 3/08, de 7 de janeiro, art.º 6º).

No âmbito das competências do conselho executivo previstas no Decreto-Lei n.º 3/08, de 7 de janeiro, compete a este órgão para além de “solicitar ao departamento de educação especial e ao serviço de psicologia um relatório técnico-pedagógico conjunto” (art.º 6º) no início do processo, “ homologar o relatório técnico-pedagógico e determinar as

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suas implicações” (art.º 6º), após confirmada a anuência do encarregado de educação (Capucha et. al, 2008, p. 23).

Segundo o previsto no Decreto-Lei n.º 3/08, de 7 de janeiro, com as alterações introduzidas pela Lei n.º 21/08, de 12 de maio, “a avaliação deve estar concluída 60 dias após a referenciação com a aprovação do programa educativo individual pelo conselho pedagógico da escola ou do agrupamento escolar” (art.º 6º).