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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.6 AUDITORIA AMBIENTAL

Uma das motivações para o surgimento e disseminação da auditoria ambiental foram os graves acidentes ambientais, principalmente ligados ao setor industrial. Enquanto que o poder público, nas palavras de La Rovere et al. (2011, p. 9), “[...] representado pelas agências ambientais, absorveu instrumentos criados pela gestão empresarial”, passando, em alguns países, a auditoria ambiental a “[...] ser utilizada como instrumento de políticas públicas voluntária e estimulada, em outros se apresenta como compulsória” (LA ROVERE et al., 2011, p. 10), sendo essa última situação comum em alguns estados brasileiros, conforme descrito no Quadro 36. As auditorias também passaram a ser exigidas pelos bancos de financiamento, a exemplo, segundo Glasson et al. (1999), do Banco Africano de Desenvolvimento, diante das exigências ambientais para os projetos financiados, que recomendava uma auditoria para garantir que as medidas de mitigação e os danos fossem reduzidos ao mínimo.

No Brasil, vários autores têm se debruçado em tal temática contemplando os diversos aspectos (BARATA, 1995; SILVA, 1996; LA ROVERE; BARATA, 1996; D´AVIGNON et

al., 2000; SALES, 2001; CERQUEIRA, 2004; MACHADO, 2004; PHILIPPI JR.; AGUIAR,

2004; BARBIERI, 2007; ALMEIDA, 2008; CAMPOS; LERÍPIO, 2009; LA ROVERE et al., 2011; OLIVEIRA, 2014), como também em outros países (BISSET, 1984; TOMLINSON; ATKINSON, 1987a e 1987b; BUCKLEY, 1991; JACOBS, 1991; GRAYSON, 1992;

WOOLSTON, 1993; BIRD, 1996; BIRD; THERIVEL, 1996; MORRISON-SAUNDERS et al., 2014).

Conceitualmente, a auditoria é “[...] um exame e/ou avaliação independente, relacionada a um determinado assunto, realizada por especialista no objeto de exame, que faça uso de julgamento profissional e comunique o resultado aos interessados (clientes)” (LA ROVERE et

al., 2011, p. 13). Já Oliveira e Rodrigues (2001) explicam que “auditar” significa ouvir e

inquirir, a partir do uso de conhecimentos prévios de um determinado fenômeno, visando ao teste da veracidade ou consistência de certas hipóteses, fatos ou informações. Para os citados autores, a auditoria é “[...] o exercício de desvendar a verdade pela obtenção de evidências objetivas. [...], como processo sistemático de verificação e análise, desenvolve-se por etapas que vão desde o planejamento até a execução dos trabalhos de campo” (OLIVEIRA; RODRIGUES, 2001, p. 27).

A auditoria ambiental, segundo a Resolução CONAMA nº 306/2002, é definida como o:

Processo sistemático e documentado de verificação, executado para obter e avaliar, de forma objetiva, evidências que determinem se as atividades, eventos, sistemas de gestão e condições ambientais especificados ou se as informações relacionadas a estes estão em conformidade com os critérios de auditoria estabelecidos nesta Resolução, e para comunicar os resultados desse processo.

Para La Rovere et al. (2011, p. 13), “[...] a auditoria ambiental é um instrumento usado por empresas para auxiliá-las a controlar o atendimento a políticas, práticas, procedimentos e/ou requisitos estipulados com o objetivo de evitar a degradação ambiental”. E Oliveira (2014, p. 29) define como:

[...] o processo documentado de verificação, executado para obter e avaliar, de forma sempre objetiva, evidências que determinem se as atividades, eventos, sistemas de gestão e condições ambientais especificados ou as informações relacionadas a estes estão em conformidade com os critérios de auditoria, e para comunicar os resultados desse processo.

No tocante à aplicação da auditoria ambiental em obras públicas, como é o caso da proposta apresentada neste trabalho, Oliveira e Rodrigues (2001, p. 23) defendem que “[...] a realização de auditorias ambientais nortearia o gestor público quanto às restrições e exigências ambientais a serem observadas por empreendimentos públicos impactantes [...]”, enfatizando o

papel do Tribunal de Contas da União (TCU)22, por meio da verificação do cumprimento das determinações ambientais mais importantes. Os autores elencam procedimentos voltados ao planejamento da auditoria ambiental de um empreendimento público passível de licenciamento ambiental. Lima (2001) lista os tipos de auditorias ambientais no âmbito do TCU (Quadro 5), sendo citado o EIA na auditoria do licenciamento ambiental.

Quadro 5 – Tipologia das auditorias ambientais no âmbito do controle externo do TCU

TIPO OBJETO

Auditoria de orçamento ambiental

Análise da aplicação dos recursos alocados para programas ambientais, oriundos de dotações orçamentárias, de empréstimos ou doações internacionais, ou da receita própria dos órgãos ambientais.

Auditoria de impactos ambientais

Análise dos impactos causados ao meio ambiente pelas atividades do próprio Estado, diretamente ou mediante concessões, permissões e autorizações.

Auditoria dos resultados das políticas ambientais

Análise da eficiência e da eficácia das políticas públicas afetas ao meio ambiente.

Auditoria da fiscalização ambiental pública

Análise da eficiência da atuação do poder público como fiscal do meio ambiente.

Auditoria de cumprimento dos tratados ambientais

internacionais

Análise da adequada execução de tratados firmados pelo Brasil.

Fonte: Lima (2009). Org.: autor.

A auditoria ambiental precisa ser preparada, por meio de um rigoroso planejamento, voltado à sua aplicação. Aspectos como o objetivo, escopo, escolha dos auditores e a disponibilização dos recursos para a realização da auditoria são imprescindíveis.

Sendo assim, o Protocolo e a Lista de Verificação (Checklist) são os instrumentos essenciais para a realização da auditoria ambiental. De acordo com La Rovere et al. (2011, p. 60), o Protocolo “[...] é um plano que o auditor deve seguir na aplicação da Auditoria Ambiental, no local, para atingir seus objetivos”. No caso da pesquisa aplicada aos EIAs, o “auditor” pode ter seu papel desempenhado, prioritariamente, pelos consultores responsáveis pela elaboração do EIA, pelos técnicos dos órgãos ambientais licenciadores incumbidos da análise e pelos profissionais encarregados da gestão ambiental do empreendimento, seja na fase de instalação, seja na de operação, contudo não excluindo outros profissionais, a exemplo dos auditores dos Tribunais de Contas, pesquisadores das universidades e institutos de pesquisa, membros de ONGs etc.

22 “Se as instituições são da esfera pública federal ou administram recursos de origem federal, o Tribunal de Contas da União (TCU) é por excelência o órgão destinado a realizar esse tipo de atividade” (OLIVEIRA; RODRIGUES, 2001, p. 23).

Se tal instrumento, na realidade empresarial, tem o intuito de estabelecer o passo a passo dos “[...] procedimentos que devem ser seguidos para coletar evidências das práticas de gestão da empresa” (LA ROVERE et al., 2011, p. 60), na aplicação proposta neste trabalho o instrumento visará expor um roteiro do que deve ser contemplado no estudo ambiental e do que deve ser atendido na atividade de implementação (gestão ambiental), e de como realizar a obtenção de tais conhecimentos, seja em campo, no laboratório ou no gabinete, e os materiais que poderão a vir ser usados: cartográfico, instrumentos de campo, documentos, entrevistas etc. Vale salientar que, a depender do projeto e do ambiente impactado, algumas situações necessitarão ser incluídas no Protocolo, o que irá depender dos conhecimentos e da experiência do(s) profissional(is) incumbido(s) da aplicação do instrumento. Ou seja, o Protocolo não deve ser visto como algo rígido, absoluto, que não permita desvios e não venha substituir o julgamento profissional (LA ROVERE et al., 2011).

Já a lista de verificação constitui um outro instrumento a ser utilizado numa auditoria, visando nortear a aplicação da auditoria ambiental de acordo com o seu objetivo e atentando para as particularidades inerentes ao caso analisado. Segundo La Rovere et al. (2011, p. 95), a lista “[...] tende a ser longa e detalhada, frequentemente estruturada para incorporar todas as questões relevantes”.

Segundo o IBAMA (2016, p.29), as listas “são documentos que relacionam ações para o desenvolvimento de atividades, análises, controles ou auditorias a serem executadas, garantindo qualidade, aumento de segurança ou redução de falhas”. Logo, com o objetivo de orientar, padronizar e registrar as ações e providências elencadas. Podendo ser simples ou complexa, contudo, é sempre uma ferramenta estruturada, geralmente específica para determinado componente, e usada para verificar se um conjunto de etapas foi executado de modo satisfatório (IBAMA, 2016). Em sua publicação, o IBAMA identificou e analisou listas de verificação nos órgãos estaduais no Brasil (total de 386 listas) e em alguns países (Alemanha, Holanda, Portugal, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Chile e Brasil), total de 132 listas, voltadas para as etapas de triagem, definição do escopo, identificação de impactos e monitoramento e acompanhamento.

Em se pensando numa auditoria ambiental aplicável aos Estudos de Impacto Ambiental, não resta dúvida o papel desempenhado como instrumento que pode contribuir com a fiscalização ambiental dos órgãos públicos, já que a aplicação dela perpassa por todas as fases do licenciamento ambiental de um determinado empreendimento, bem como pode contribuir nas atividades de gestão ambiental do empreendimento ao permitir a verificação do cumprimento do que consta no estudo ambiental, seja na fase de instalação, seja na de operação.

Já a fiscalização ambiental, utilizada por alguns autores como sinônimo de inspeção ambiental é caracterizada pelo caráter não periódico e por não ser submetida a uma programação vinculante para o órgão ambiental. A falta dela acarreta na ausência de monitoramento do licenciamento ambiental do empreendimento (MACHADO, 2004). Logo, a fiscalização fará uso dos dados do monitoramento ambiental, caso existam. Na sua falta, deverá levantar os dados da realidade atual do ambiente. Portanto, a realização da auditoria ambiental não descarta a ação de fiscalização pelo órgão ambiental, o que evidencia as diferenças entre esses dois instrumentos.