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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.5 LISTAS DE VERIFICAÇÃO E A ANÁLISE TÉCNICA DE QUALIDADE

As Listas de Verificação vêm sendo mundialmente utilizadas, principalmente voltadas à elaboração e à avaliação da qualidade dos estudos de impacto. No Brasil, as listas de Pinho, Maia e Monterroso (2007), Sánchez (2013) e Montaño et al. (2014) são exemplos de iniciativas para os estudos ambientais. No entanto, vale salientar que tais listas tomam como referência algumas listas produzidas em outros países, a exemplo de Hickie e Wade (1998), Lee e Colley (1999), de Glasson, Therivel e Chadwick (1999) e o Guia da Comissão Europeia (2001). Mais recentemente, segundo Fonseca et al. (2020), impulsionado pelas expectativas de eficiência administrativa, modernização e efetividade, as agências de alto nível do governo federal (IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis e o ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) estão promovendo a padronização de métodos para prever impactos e avaliar a significância (IBAMA, 2016, ICMBio, 2018ba). Foram criados grupos de trabalho técnico para desenvolver padrões para orientar a prática. Essas iniciativas ainda estão em andamento, mas, segundo os autores, consistem na criação de "protocolos" para o uso de listas de verificação padrão e respectivas terminologias, procedimentos e critérios.

Pode-se dizer que, no Brasil, a Resolução CONAMA nº 01/86 estabelece o conteúdo mínimo dos EIAs. São diversos os pesquisadores brasileiros e estrangeiros que vêm se debruçando sobre a avaliação crítica21 dos EIAs elaborados, como forma de demonstrar a real efetividade nas realidades analisadas. A qualidade dos estudos de impacto ambiental pode ser avaliada em função dos critérios de efetividade, eficiência e imparcialidade (CANADIAN

ENVIRONMENTAL ASSESSMENT RESEARCH COUNCIL, 1988 apud

CHRISTOFOLETTI, 1999).

Na literatura internacional, destacam-se alguns modelos voltados para a análise da qualidade dos EIAs: EIS Review Checklist (EISRC) (EUROPEAN COMMISSION, 2001); Lee

and Colley Review Package (LCRP) (LEE; COLLEY, 1992); Environmental Impact Statement Review Package (EISRP) (GLASSON; THERIVEL; CHADWICK, 2005). Venonez (2018, p.

48) apresentou um quadro listando a aplicação de tais modelos por diversos autores em diferentes países, destacando “[...] a ampla utilização do Lee and Colley Review Package em diversos contextos” (Quadro 4). Segundo Lee e Colley (1992), a publicação tem o objetivo de abordar o fortalecimento do controle da qualidade no processo de AIA, por meio de uma revisão sistemática de EIAs.

Quadro 4 – Conceitos de avaliação – Lee and Colley Review Package

Conceito Critério

A Bem realizado, nenhuma tarefa importante incompleta

B Geralmente satisfatório e completo, apenas omissões menores e poucos pontos inadequados

C Satisfatório, apesar de omissões ou pontos inadequados

D Contém partes satisfatórias, mas o conjunto é considerado insatisfatório devido a omissões importantes ou pontos inadequados

E Insatisfatório, omissões ou pontos inadequados significativos

F Muito insatisfatório, tarefas importantes desempenhadas de modo inadequado ou deixadas de lado

NA Não aplicável. O tópico não é aplicável ou irrelevante para o contexto Fonte: Lee e Colley (1992, p. 53, parte B, tradução VERONEZ, 2018).

Org.: autor.

21 “A percepção de que muitos consultores eram mal qualificados, que não entendiam os objetivos e muito menos os fundamentos da AIA, e que reduziam sua atividade a preparar documentos que pudessem facilitar a obtenção de uma licença ambiental levou ao surgimento da expressão ‘indústria do Rima’, indicando a preparação em série de relatórios quase idênticos, embora para projetos distintos” (SÁNCHEZ, 2013, p. 450).

Sendo assim, mesmo considerando a possibilidade de um EIA para um determinado empreendimento apresentar uma maior quantidade de impactos positivos, deve-se salientar que os EIAs são voltados para empreendimentos enquadrados como causadores de significativa degradação ambiental, o que leva à conclusão que, na maioria das vezes, os EIAs apresentarão o predomínio de impactos negativos. Sendo assim, Sánchez (2013, p. 453) destaca que os órgãos ambientais no Brasil (e a maioria em outros países) “[...] não fazem uma análise ou uma classificação sistemática da qualidade dos estudos apresentados, de forma tal que seja possível alguma comparação ou aferição de sua qualidade”. O autor destaca que é natural pensar que a qualidade dos EIAs apresente uma melhora com o passar do tempo, considerando que os profissionais que elaboram e que analisam passem a ter mais experiência por meio dos seus erros e acertos. Vale lembrar que, muitas vezes, as deficiências constatadas nos EIAs são decorrentes dos Termos de Referência mal elaborados, que se caracterizam por ser pouco exigentes e sem objetividade. Para Sánchez (2013, p. 453):

O diagnóstico ambiental é a parte mais facilmente criticável dos EIAs, haja vista que os inventários sempre podem ser mais detalhados e as análises mais aprofundadas. Há, portanto, de se estabelecer qual a extensão e o grau de detalhe dos estudos necessários para fundamentar a análise dos impactos e a proposição de medidas de gestão, de modo que a análise técnica do EIA tenha como referência esses requisitos mínimos. Logo, é na etapa de preparação dos termos de referência que devem ser buscadas as causas das falhas mais comuns dos diagnósticos ambientais, pois é antes de ter início a preparação propriamente dita do EIA que devem ser definidos os levantamentos necessários, a extensão da área de estudo, os métodos empregados e vários outros parâmetros para orientar o estudo a ser feito. Com termos de referência falhos, grande é a probabilidade de se encontrar estudos ambientais falhos. Naturalmente, um EIA feito a partir de excelentes termos de referência também pode ser de má qualidade, concorrendo para isso outros fatores, como capacitação de equipe e os recursos disponíveis.

Brasil – MPF (2004) identificou desconexão entre o diagnóstico ambiental, a análise de impactos e as propostas de mitigação, e “[...] um bom EIA não se faz somente com um bom diagnóstico, mas com um adequado balanço entre diagnóstico, prognóstico e propostas factíveis e eficazes de atenuação dos impactos adversos e valorização dos impactos benéficos” (SÁNCHEZ, 2013, p. 453 e 455).

Um outro ponto a ser tocado é com relação à ética envolvida nos EIAs, quando alguns estudos omitem determinadas informações relevantes que poderiam gerar uma decisão desfavorável ao projeto. Para os técnicos do órgão ambiental licenciador, a análise técnica se constitui na segunda tarefa mais importante, após a preparação dos termos de referência (SÁNCHEZ, 2013).

A leitura crítica do EIA é a tarefa central, mas a análise costuma ser facilitada por outras atividades, como as imprescindíveis vistorias de campo, a eventual visita de empreendimentos similares, a consulta à bibliografia técnica e científica e a consulta a bases de informação e conhecimento da própria organização (pareceres anteriores, relatórios de monitoramento), que contribui para a coerência entre sucessivos pareceres. O trabalho de análise deve ser multidisciplinar, como deve também ser a preparação do EIA e, naturalmente, deve-se levar em conta os resultados da consulta pública (SÁNCHEZ, 2013, p. 456).

Portanto, compreende-se que a obtenção de melhorias na qualidade dos EIAs e a obtenção de bons índices de efetividade na aplicação do que foi recomendado para o empreendimento requerem o uso de outros instrumentos de planejamento e de gestão ambiental, voltados para o EIA. Como exemplo, destaca-se a auditoria ambiental, que pode ser útil durante todas as etapas que permeiam o EIA: elaboração do EIA, análise técnica do EIA (tendo como referência, principalmente, o Termo de Referência) e a implementação/gestão do que foi previsto para as suas diversas fases.