• Nenhum resultado encontrado

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.7 AUDITORIA DE ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL

No tocante à auditoria de Estudo de Impacto Ambiental, em nível internacional, destacam-se as publicações de Munro et al. (1986), Htun (1988), Sadler (1989), Bailey e Hobbs (1990), Davies e Sadler (1990), Culhane (1993) e Frost (1997). No Brasil, destaca-se o trabalho de Silva (1996) como um dos primeiros trabalhos sobre o tema.

Tratar da auditoria de EIA é remeter à busca em analisar a eficiência desses estudos. A “auditoria de EIA”, nas palavras de Sadler (1988), está diretamente associada ao monitoramento dos impactos e das medidas mitigadoras indicadas. A inserção da auditoria nos EIAs contribui para o monitoramento, bem como no melhor conhecimento das predições dos impactos, de modo a aperfeiçoar as práticas de gerenciamento dos impactos identificados e avaliados. Logo, a auditoria torna-se um instrumento fundamental para que se garanta a conformidade com os programas de monitoramento e outros itens do EIA.

Para Bisset e Tomlinson (1988, p. 117), esse tipo de auditoria tem o objetivo de “[...] descrever o processo de comparação dos impactos previstos em um EIA com os que realmente ocorrem após a implementação, a fim de avaliar se o processo de previsão de impactos apresenta desempenho satisfatório”. Os autores consideram que o objetivo da auditoria é, entretanto, não para examinar a lógica do tomador de decisão, mas para estudar a qualidade das informações disponíveis para o processo de tomada de decisão. Sánchez (2013, p.69), ao abordar a legislação ambiental brasileira, afirma que “[...] em teoria, a regulamentação brasileira, de modo inovador, previa que o EIA fosse o equivalente de uma auditoria de terceira parte, na qual uma equipe independente formula um parecer sobre determinada atividade, à imagem da auditoria contábil”.

Nessa discussão, faz-se necessário remeter à revisão do EIA “review EIS audit”, como sendo a atividade que deve analisar se o EIA atendeu as exigências legais e ao que foi proposto

no Termo de Referência emitido pelo órgão ambiental licenciador. Enquanto isso, na fase de análise (revisão) pelo órgão ambiental, pode-se considerar que esse desempenha o principal papel no controle da qualidade desses estudos. Contudo, dificuldades inerentes à realidade brasileira demonstram a necessidade de aperfeiçoamento e avanços. Sánchez (2013, p.195) aponta que “reter pessoal qualificado é um grande desafio que influencia diretamente a qualidade da revisão”. No Quadro 6, Christofoletti (1999) detalha os critérios de efetividade, eficiência e imparcialidade aplicados à realidade dos EIAs.

Quadro 6 – Os critérios de efetividade, eficiência e imparcialidade aplicados à avaliação da adequabilidade dos EIAs

Critério de efetividade Critério da eficiência Critério da imparcialidade

As informações geradas no EIA contribuíram para a tomada de decisão

As decisões do EIA estejam feitas em tempo hábil para a economia e outros fatores que determinam as decisões do projeto

Todas as partes interessadas possuem oportunidade igual para influenciar as decisões antes que elas sejam tomadas

Foram corretas as predições da efetividade sobre as medidas dos impactos

Os custos relacionados com a condução do EIA e manejo dos inputs durante a implementação do projeto possam ser determinados e sejam razoáveis

As pessoas diretamente afetadas pelo projeto possuem igual acesso às normas de compensação

As medidas mitigatórias e compensatórias atingiram os objetivos almejados

Fonte: Adaptado de Christofoletti (1999). Org.: autor.

A Figura 2 detalha as principais etapas do processo de AIA, com ênfase nas atividades desenvolvidas no EIA, culminando, após a aprovação, diante do monitoramento, com a etapa de auditoria.

Figura 2 – Principais etapas do processo de Avaliação de Impacto Ambiental com destaque para a etapa de auditoria

Fonte: Adaptado de Wathern (1988) por Sánchez (2013).

Glasson et al. (1999) estabelecem que a auditoria encontra-se totalmente relacionada ao monitoramento, por permitir a comparação dos resultados reais com os previstos e pode ser utilizada para avaliar a qualidade das previsões e a eficácia da mitigação. É o entendimento de Machado (2004, p. 101) de que

[...] a auditoria ambiental não pode dispensar o monitoramento ambiental, pois sem os seus dados dificulta-se a tal ponto uma idônea avaliação ambiental, que a auditoria transforma-se numa inspeção ambiental, isto é, avaliará as condições presentes, sem abranger o período anterior.

Sánchez destaca que o monitoramento ambiental é dinâmico, necessitando ser revisto, ajustado e atualizado.

Ademais, é da maior importância que os futuros gerentes do empreendimento conheçam a fundo os programas de gestão ambiental idealizados durante a fase de planejamento e incorporados como condicionantes da licença ambiental. Estudos empíricos realizados no Brasil mostraram que os gestores ambientais de empreendimentos sujeitos à apresentação prévia de um EIA raramente levam em consideração as recomendações desses estudos (PRADO FILHO; SOUZA, 2004 apud SÁNCHEZ, 2013, p. 414).

A auditoria de EIA torna-se um desafio, já que deve se propor a analisar a qualidade do que foi abordado no estudo, como também em indicar, por meio das não conformidades, aquilo que seria pertinente abordar, mas se encontra ausente, seja por algo que não foi cobrado no TR, seja por ter sido cobrado pelo órgão ambiental, e a equipe elaboradora tenha omitido. Sendo assim, a proposta de auditoria de EIA desta pesquisa recai não apenas sobre a etapa de implementação da gestão ambiental nas etapas de construção e de operação, mas alcança o uso dos seus instrumentos, como o protocolo, voltado a orientar a elaboração do EIA, bem como um Checklist para a análise do EIA, especialmente pelo órgão ambiental licenciador. Tal desafio é exemplificado por Mills (1992) apud Glasson et al. (1999), que, diante da análise do monitoramento de grandes projetos no Reino Unido, constatou a dificuldade em auditar as previsões do estudo, visto que havia muitas diferenças significativas entre o que foi declarado em um EIA e o que realmente aconteceu. Sendo assim, a efetividade da auditoria de EIA requer que a elaboração prévia e a análise do estudo sejam aprimoradas para que os itens auditáveis enriqueçam a auditoria ambiental a ser realizada.

Htun (1988), ao discorrer sobre o monitoramento e a auditoria de EIA, aponta a necessidade de uma maior disseminação de mecanismos específicos para monitoramento e para a auditoria de impactos ambientais. Para o autor, há falta de metodologias voltadas para a avaliação da qualidade dos itens monitorados durante a construção e na operação do empreendimento. Sem esses mecanismos, fica difícil avaliar se os efeitos e os impactos previstos estão realmente ocorrendo, bem como se as medidas mitigatórias estão sendo implementadas pelo proponente.

Machado (2004, p.100) defende que a “[...] auditoria ambiental será sempre posterior ao Estudo Prévio de Impacto Ambiental – EPIA exigido constitucionalmente para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente”. O autor entende que tal instrumento visa avaliar se as orientações contidas no EIA estão sendo observadas e se os métodos de controle ambiental estão sendo eficazes.

Para Htun (1988), a incorporação do monitoramento e da auditoria ao processo de AIA são requisitos importantes, pois não apenas fortalecerá, mas também possibilitará o uso de vários procedimentos, técnicas e metodologias voltados para a identificação, previsão e avaliação a serem melhoradas, o que resultará na melhoria da utilidade do EIA. Posição similar é defendida por Glasson et al. (1999, p. 184), que acreditam que a AIA não deve parar na decisão, mas deve ser um meio de obter uma boa gestão ambiental ao longo da vida do projeto, o que significa incluir o monitoramento e a auditoria no cotidiano da gestão ambiental do empreendimento. Os autores abordam a auditoria de impacto ambiental, com o objetivo de comparar os impactos previstos em um EIA com os que realmente ocorrem após a implementação, a fim de avaliar se a previsão dos impactos indicada no estudo foi observada na realidade (quão boas foram as previsões?) e se as medidas mitigadoras e os programas estão sendo implementados e se estão sendo eficazes. Tal a perspectiva encontra-se resumida na Figura 3, que indica a possibilidade de uma experiência bem-sucedida num determinado projeto, ser aplicada em outros.

Figura 3 – Monitoramento e auditoria no processo de AIA

Já o fluxograma de Oliveira e Rodrigues (2001) elenca as principais etapas a serem observadas pela auditoria ambiental, destacando aquelas de responsabilidade do licenciador e as demais de responsabilidade do empreendedor.

Figura 4 – Principais etapas a serem observadas pela auditoria ambiental (em destaque, as de responsabilidade do licenciador; as demais, de responsabilidade do empreendedor)

Fonte: Oliveira e Rodrigues (2001).

Considera-se que a última etapa da Figura 4, “fiscalização, auditoria ambiental e revisão da licença”, em especial a atividade de auditoria, não se encontra restrita na responsabilidade do licenciador, mas também de responsabilidade do empreendedor.

No tocante à relação entre órgão licenciador e o empreendedor, a realização da auditoria ambiental no momento da renovação da licença de operação será de grande valia para esse momento, já que o órgão ambiental terá mais subsídios para avaliar a renovação em si, bem

como a possibilidade de aumentar ou diminuir o prazo da nova licença, e suprimir ou acrescentar condicionantes.

2.8 GEOMORFOLOGIA COMO FERRAMENTA PARA O PLANEJAMENTO E A