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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.4 ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL

2.4.2 Métodos de previsão de impactos

2.4.2.4 Modelos

Possuem uma capacidade preditiva, com a possibilidade de utilização de uma grande quantidade de dados, possibilitando também identificar necessidades adicionais de pesquisa e estudar as relações entre fatores físicos, biológicos e socioeconômicos. É, porém, um método caro, que exige capacitação, trabalho, tempo e custos disponíveis, dependendo muito da qualidade das informações disponíveis, que nem sempre podem ser consideradas homogêneas (TOMMASI, 1993, p.215). Ribeiro (2014, p. 870) comenta que:

Vem crescendo a utilização de modelos matemáticos para dar mais confiabilidade às previsões. Os modelos e simulações têm sido úteis para quantificar parâmetros físicos, químicos ou biológicos do meio ambiente, além de permitir o estabelecimento de diferentes cenários para os fatores demográficos, econômicos e sociais. Os itens para os quais as modelagens matemáticas têm sido empregadas com maior sucesso são: hidrologia das águas superficiais; qualidade das águas e dispersão de poluentes; lençol freático e áreas de recarga; erosão do solo; dispersão de contaminantes nos solos; acústica e vibração; qualidade do ar e dispersão de poluentes, inclusive odor; transferência de contaminantes nos ecossistemas; e dinâmicas demográficas.

A partir dos métodos descritos, compactua-se com o pensamento de Macedo (2015, p. 189) ao afirmar que “[...] a maioria absoluta das iniciativas de desenvolvimento de métodos e metodologias de AIA coube aos Estados Unidos, tanto por parte de instituições de Estado quanto por meio da ação de universidades”. E não resta dúvida da influência da promulgação da National Environmental Policy Act (NEPA), que propiciou as condições para o surgimento e desenvolvimento dessas metodologias. O autor também enfatiza que:

Os demais países do mundo ocidental quase se limitaram a seguir a trilha norte-americana, com pequenas contribuições isoladas e ocasionais aos métodos já existentes, as quais, em grande parte, constituíram simplificações perigosas de seus processos originais.

Porém, sem ufanismo, vale salientar que no Brasil o tema é tratado com dedicação técnica. Vários profissionais do setor do ambiente e segurança,

desde a década de 1970, têm tido destaque em suas proposições de métodos e metodologias para a prática da AIA (MACEDO, 2015, p. 189).

Apesar de a Resolução CONAMA nº 001/1986 ser omissa em obrigar que se mencione e descreva(m) o(s) método(s) de AIA utilizado(s) na elaboração do EIA, tal lacuna pode ser sanada por meio do Termo de Referência. Glasson et al. (1999, p. 104) explicam que, em muitos casos, a discussão dos métodos refere-se à identificação do impacto, “[...] mas que na maioria das vezes também é de uso considerável em atividades, a exemplo da previsão de impacto, avaliação, comunicação, mitigação, apresentação, monitoramento e auditoria”. O autor destaca também a identificação de impactos com um enfoque participativo (métodos de envolvimento da comunidade). No caso da abordagem geomorfológica, os conhecimentos e metodologias inerentes à etnogeomorfologia podem ser de grande valia, sendo definida como:

[...] uma ciência híbrida, que estuda o conhecimento que uma comunidade tem acerca dos processos geomorfológicos, levando em consideração os saberes sobre a natureza e os valores da cultura e da tradição locais, sendo a base antropológica da utilização das formas de relevo por dada cultura (RIBEIRO, 2012, p. 49).

Para a citada autora, o estudo das formas e dos processos geomorfológicos contribui para uma melhor organização do uso e manejo da paisagem pelas sociedades. E, assim, constitui uma área que aglutina conhecimentos de diversas campos científicos, além da geomorfologia, a exemplo da geografia, pedologia, ecologia, antropologia etc. Ribeiro (2012) considera que a etnogeomorfologia pode ser aplicada no planejamento e na gestão do uso do espaço, além dos usos no processo de ensino-aprendizagem nos ciclos básicos da educação.

Por outro lado, devem ser destacados os impactos cumulativos (ou acumulativos), como aqueles que se acumulam no tempo ou no espaço, resultando de uma combinação de efeitos decorrentes de uma ou diversas ações. Cumulatividade e sinergismo referem-se, respectivamente, à possibilidade de os impactos se somarem ou se multiplicarem.

A abordagem e o tratamento insatisfatório dos impactos cumulativos nos EIAs vêm sendo objeto de análise. “Tais deficiências decorrem de duas ordens de causas: (i) dificuldade ou mesmo impossibilidade de obter informação sobre outros projetos presentes e, ainda mais, sobre projetos futuros; (ii) problemas de planejamento e condução dos estudos ambientais” (SÁNCHEZ, 2013, p. 238).

Uma outra atividade consiste na avaliação da importância dos impactos, constituindo numa das mais difíceis de um EIA, dentre outros motivos, devido ao alto grau de subjetividade a tal atividade. Para isso, o EIA surge como um estudo técnico que fundamenta a tomada de

decisão, ou seja, por meio de um juízo de valor. Sánchez (2013, p. 322) acrescenta que “[...] é um paradigma racionalista que fundamenta a avaliação de impacto ambiental, mas a inevitabilidade da subjetividade na avaliação deve ser reconhecida”.

No tocante à reversibilidade, Sánchez (2013, p. 328) considera que “[...] a alteração da topografia causada por uma grande obra de engenharia ou uma mineração é praticamente irreversível pois, mesmo se tecnicamente exequível, é na maioria dos casos inviável economicamente recompor a conformação topográfica original”. Como se sabe, um dos objetivos da AIA é nortear o planejamento e a gestão ambiental16 das atividades de um determinado empreendimento. Contudo, o EIA foca em prováveis impactos e a implementação de determinadas ações de gestão, que serão implementadas caso o empreendimento venha a ser licenciado, tanto para a sua instalação como para a sua operação.

Sendo assim, o plano de gestão ambiental17 oriundo de um EIA leva em consideração as fases de planejamento, implantação (construção), operação e desativação do empreendimento18. Sánchez (2013) explica que o plano de gestão ambiental resultante da avaliação de impactos é essencial para se ter uma contribuição efetiva. Destaca três condições para se alcançar tal objetivo:

a) a preparação cuidadosa do plano de gestão, visando buscar atenuar os impactos adversos significativos e reduzir as lacunas de conhecimento e as incertezas sobre os impactos reais do projeto;

b) envolvimento das partes interessadas na elaboração do plano (empreendedor, órgãos públicos, ONGs etc.);

c) adequada implementação do plano de gestão ambiental dentro de prazos compatíveis com o cronograma do empreendimento. Recomenda-se o uso de instrumentos, como: a supervisão ambiental, a fiscalização, a auditoria ambiental e o monitoramento ambiental.

16 GESTÃO AMBIENTAL: “Um conjunto de medidas de ordem técnica e gerencial que visam a assegurar que o empreendimento seja implantado, operado e desativado em conformidade com a legislação ambiental e outras diretrizes relevantes, a fim de minimizar os riscos ambientais e os impactos adversos, além de maximizar os efeitos benéficos” (SÁNCHEZ, 2013, p. 380).

17 “Um plano de gestão ambiental é um conjunto de medidas propostas para prevenir, atenuar ou compensar impactos adversos e riscos ambientais, além de medidas voltadas para valorizar os impactos positivos” (SÁNCHEZ, 2013, p. 382).

18 “Durante muitos anos, o foco da avaliação de impacto ambiental foi evitar e minimizar as consequências negativas dos investimentos públicos e privados. O enfoque atual é muito mais amplo, pois vários protagonistas perceberam que o potencial do processo de AIA é muito maior: em vez de concentrar-se na redução dos impactos negativos, o processo de AIA pode permitir uma análise, sob a perspectiva de múltiplos atores, da contribuição que os projetos analisados podem trazer para a recuperação da qualidade ambiental, para o desenvolvimento social e para a atividade econômica da comunidade ou da região sob sua influência” (SÁNCHEZ, 2013, p. 380).

O plano de gestão ambiental inclui as medidas mitigadoras, o plano de monitoramento, as medidas compensatórias e as medidas de valorização dos impactos benéficos, sendo exemplificado, no quadro 3, um plano de gestão ambiental de uma barragem e as suas medidas mais comumente aplicadas.

Quadro 3 – Medidas típicas de um plano de gestão ambiental de uma barragem Remoção da vegetação antes da inundação

Compensação pela perda de hábitats mediante a proteção de uma área equivalente Extrair os materiais de construção das áreas a serem inundadas

Adotar medidas de controle da poluição durante as obras Adotar medidas de controle de erosão durante as obras Recuperar as áreas degradadas

Educação ambiental e treinamento da mão de obra Salvamento arqueológico na área diretamente afetada Reassentamento de populações atingidas

Provisão de infraestrutura e serviços nas áreas de reassentamento Indenização das benfeitorias perdidas

Indenização de direitos de exploração mineral Assistência técnica para os reassentados Regularização jurídica das propriedades Manutenção de vazão mínima a jusante

Regularização da vazão a jusante de forma a reproduzir o regime hídrico preexistente Construção de escada para passagem de peixes

Desenvolvimento da produção pesqueira no reservatório Desenvolvimento do potencial turístico e recreativo

Reconstrução da infraestrutura inundada (estradas, linhas de transmissão, armazéns, infraestrutura social) Documentação cultural e programa de valorização da cultura local

Documentação e registro do patrimônio natural perdido

Medidas de proteção da bacia hidrográfica (revegetação das margens do reservatório, programas de conservação de solos etc.)

Fonte: Sánchez (2013, p. 382).

O Quadro 3 demonstra o alcance dos impactos ambientais gerados pela construção e operação de uma barragem, pois elenca medidas que afetam elementos de todos os três meios (físico, biótico e socioeconômico). No caso específico da geomorfologia, verificam-se medidas diretamente associadas (“controle de erosão durante as obras”, “recuperar as áreas degradadas” e “medidas de proteção da bacia hidrográfica”) e que, obrigatoriamente, precisam ser implementadas em qualquer obra de barragem.