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O professor Paulo atua com o ensino de guitarra elétrica na UNIVALI em duas disciplinas: Instrumento Principal (três horas/aula semanal) e Grupos Musicais (quatro horas/aula semanal). Segundo o professor, as aulas de Instrumento Principal:

São quase três horas por semana de instrumento principal. Eu divido isso em aulas de quarenta minutos [...] se a turma for de cinco alunos, que é o ideal que a gente tem aqui. Ideal porque pode aparecer um sexto elemento e também menos. Sendo cinco alunos, gira em torno de quarenta minutos para cada um. O atendimento é individual mesmo, a aula é individual. Nesse meio tempo os outros realizam atividades em grupo. Ou em duos ou em grupo mesmo. Eu dou aula para um e os outros quatro ficam trabalhando repertório em conjunto, ou divididos em duos, dois duos, ou em quarteto em outra sala [...]. (PROFESSOR PAULO, Entrevista).

Sobre as aulas de Grupos Musicais, o professor explicou que:

[...] é o próprio conjunto, que muitas vezes mistura guitarra e violão, pois nem sempre é só guitarra porque a entrada do curso não distingue esse tipo de situação, pode ser ou violão ou guitarra. Então acontece de ter três guitarristas e dois violonistas nos grupos musicais. (PROFESSOR PAULO, Entrevista).

Nas aulas do professor Paulo, observou-se como conteúdos o estudo de repertório, escalas e arpejos, harmonia, apreciação, leitura musical e transcrição. Nos planos de ensino fornecidos pelo docente, destacam-se a descrição da ementa, da carga horária, dos objetivos a serem alcançados na aprendizagem, dos conteúdos, das estratégias de ensino, da avaliação e das bibliografias utilizadas. Ao utilizar esse documento como fundamento para as suas aulas, o professor se apropriou de um programa para o desenvolvimento de suas aulas, o que para Tardif (2014) é um exemplo dos saberes curriculares. Nesta pesquisa, os saberes curriculares são relacionados a todo tipo de plano e

planejamento de aulas, desenvolvidos pelos professores e pelas instituições.

Em todas as aulas havia uma organização dos alunos com relação ao material de estudo, pois todos possuem uma pasta contendo os conteúdos a serem trabalhados durante o semestre. Essa atitude organizativa permitia a retomada de assuntos desenvolvidos durante o semestre, além da visualização de anotações realizadas com o intuito de direcionar as práticas de estudo.

Dentre as estratégias de ensino utilizadas pelo professor Paulo destacam-se a utilização de: (i) rotina de estudo semanal; (ii) instrumento para tocar junto com os alunos; (iii) canto (solfejo) para guiar os alunos; (iv) play-backs para acompanhamentos; (v) indicações para pontos de complexidade maior, visualizados por ele; (vi) tecnologia a partir de softwares e gravações de aulas; (vii) transcrições; (viii) métodos; (viii) apreciação musical; (ix) incentivo à pesquisa por referências musicais e textuais; (x) prática da memória intuitiva.

A principal estratégia de ensino é denominada pelo docente como: “[...] rotina de estudo semanal do aluno” (PROFESSOR PAULO, Observação), onde durante a aula o aluno mostra pequenos trechos dos estudos desenvolvidos na última semana. Essa ‘rotina’ é desenvolvida em conjunto com o professor, para qual ambos, aluno e professor, adequam e contribuem com elementos considerados pertinentes para os estudos do aluno. Ao ser questionado se a ‘rotina’ era uma criação sua, o professor contou que não sabe ao certo de onde veio essa estratégia pedagógica, pois seria a “[...] soma de vários autores” (PROFESSOR PAULO, Entrevista). O professor utiliza a ‘rotina’ para que o aluno compreenda como deve ser o estudo semanal, ou seja, uma forma de organizar o tempo e os conteúdos a serem trabalhados. Os elementos contidos nessa ‘rotina’ são os estudos dos mesmos conteúdos descritos no início dessa sessão.

Há uma preocupação, por parte deste docente, nas fases iniciais do curso em alertar o aluno a “[...] como estudar e não o que estudar” (PROFESSOR PAULO, Entrevista). Sendo assim, o professor constantemente questionava os alunos sobre seus estudos semanais durante as aulas observadas. Uma das ‘dicas’ relacionadas a esses estudos é a prática de anotar o andamento do metrônomo semanalmente, ou seja, uma estratégia de organização do estudo gradativo, fazendo com que os alunos tenham uma referência do ponto em que estão ao ponto que desejam alcançar.

Ao tratar de outra estratégia de ensino, identificou-se que poucas vezes o professor Paulo utilizou da guitarra elétrica, ou do violão, para mostrar algum elemento aos discentes. As poucas vezes nas quais estava com a guitarra à mão foram para resolver dúvidas advindas dos alunos com relação à digitação e a postura, elaborando assim, junto ao discente, um melhor caminho para o desenvolvimento dos elementos descritos. Segundo o professor: “[...] eu prefiro observar a execução dos alunos para poder ajudá-los em alguns elementos” (PROFESSOR PAULO, Entrevista).

Um ponto de destaque das aulas observadas na UNIVALI é a gravação em áudio e vídeo das aulas, momento em que alunos e professor discutem posteriormente as execuções desenvolvidas. Essa prática facilitava a percepção de erros e dificuldades apresentadas pelos alunos, contribuindo para uma melhor visualização de elementos executados durante a prática instrumental. Após a realização das gravações, professor e aluno escutavam e teciam comentários sobre a execução. O professor Paulo sempre disponibilizava aos alunos os conteúdos gravados e enviava por e-mail, ou fazia a cópia em um pen- drive. Gomes (2005, p. 114) aponta a necessidade de se utilizar o "[...] saber tecnológico como ferramenta para a prática pedagógica". Nesse sentido, as gravações realizadas salientavam o que ainda poderia ser melhorado nas práticas dos alunos, servindo também como forma de avaliação dos alunos.

Nas aulas observadas também foram utilizados play-backs para acompanhamento dos alunos durante a execução do repertório selecionado para estudo. O professor Paulo, além de usar áudios prontos, incentivava os alunos a desenvolverem as suas próprias bases de estudo; assim, vários softwares para essa finalidade foram apresentados no decorrer das aulas. Dentre os softwares citados estão o

Guitar Pro14, o Band in a Box15 e o Finale16. O professor alertava que o

aluno, ao usar este recurso, deveria estar atento para o modo de escrita, pois alguns destes softwares (particularmente o Guitar Pro) deixam a desejar no momento de colocar acidentes em determinadas notas. Por exemplo, em um acorde de ‘B7’ (si maior com sétima menor), o software, em um primeiro momento, escreve a terça maior como se fosse Eb (Mi bemol) e não o intervalo real de D# (Ré sustenido).

                                                                                                                         

14 Guitar Pro. Ver em: http://www.guitar-pro.com/en/index.php 15 Band in a Box. Ver em: http://www.pgmusic.com/

16 Finale. Ver em: http://www.finalemusic.com/

O professor Paulo fala muito que preza o desenvolvimento das memórias intuitivas de seus alunos. Essas memórias intuitivas estão relacionadas ao desenvolvimento do ouvido, do visual e do tato. Segundo o professor:

[...] eu tenho me dedicado bastante a essas metodologias de ensino focados na memória, de como desenvolver essas várias memórias [...] principalmente a memória tátil, a memória visual, a memória auditiva, a memória analítica, essas memórias eu vou tentando assim, na medida do possível, distinguir uma das outras [...]. (PROFESSOR PAULO, Entrevista).

O professor enfatizava que os alunos memorizassem pequenos segmentos (partes de músicas) e os fizessem repetidas vezes, com o objetivo de decorar o estudo e o repertório desenvolvido em aula. Paulo alertava para que os alunos, quando apresentassem alguma dificuldade na execução, memorizassem pequenos segmentos e trechos das músicas. O solfejo e o cantarolar melodias (temas e improvisos) foi uma prática frequentemente observada nas aulas do professor Paulo, para auxiliar os alunos na execução das peças. Além disso, o professor também incentivava os alunos a adotarem o canto como ferramenta para auxiliar a execução e a memória.

Observa-se que o professor Paulo utilizou diversas abordagens pedagógicas para que o aluno compreendesse o mesmo conteúdo. Um dos alunos, ao apresentar dificuldades em escrever a partitura de sua composição, é auxiliado pelo professor a partir de diferentes explicações até a compreensão da escrita correta.

Ao trabalhar elementos de determinados métodos como, por exemplo, arpejos e técnicas, o professor Paulo solicitava aos alunos a aplicação no repertório, pois nos seus estudos autodidatas identificou que somente estudar os elementos, sem a junção com a aplicação, não desenvolvia muitos frutos.

O incentivo à apreciação musical de diversos gêneros musicais foi bem presente nas aulas do professor Paulo. Em diversos momentos, o professor sugeriu que os alunos realizassem apreciações não somente aleatórias, mas que se concentrassem e reservassem um tempo diário para escutar diferentes artistas. Ao fazer isso, considerou importante o contato com uma grande quantidade de gêneros musicais e repassou essa orientação para os seus alunos.

Em diversos momentos o professor Paulo elogiava seus alunos quando a prática era bem executada. Em um caso especial, quando um aluno apresentou dificuldades em escrever uma célula rítmica de sua própria composição, o professor utilizou-se de elogios, no final, como forma de incentivar o aluno a não desistir de continuar estudando para melhorar a sua escrita, mesmo que este tenha demorado em resolvê-la. Nas pesquisas com práticas de professores de instrumento, autores como Garcia (2011) e Araújo (2005) também observaram que o elogio é fundamental para motivar os alunos para o estudo e a prática instrumental.

O professor alertava os alunos com relação ao estudo, pois: “[...] o nosso cérebro registra as notas consideradas erradas” (PROFESSOR PAULO, Observação). Sendo assim, o estudo deve ser consciente, para não correrem o risco de tocarem notas erradas, ou seja, orientava o aluno em como este deveria proceder nos estudos. Para isso, instruía a realização dos estudos em um andamento mais lento e em pequenos segmentos ou frases curtas.

O professor Paulo considerou que, embora no período da graduação tenha procurado outros objetivos, a licenciatura em música trouxe pontos positivos para a sua prática atual. Segundo ele: a organização, o entendimento do aluno e a observação dos níveis de conhecimento dos alunos, foram elementos fundamentais estudados no curso de licenciatura, sendo que ele considera que, sem estes elementos: “[...] as suas aulas nesse contexto seriam um fracasso” (PROFESSOR PAULO, Entrevista). A análise dos planos de aula e a observação das aulas evidenciou a existência de uma sistematização de objetivos e de conteúdos bem definidos a partir de um planejamento prévio para cada semestre.

Se comparado aos outros participantes dessa pesquisa, o professor Paulo, com o auxílio da ‘rotina’ e, possivelmente, com a ajuda da graduação realizada na licenciatura em música, fez mais considerações para os alunos depois das suas performances. Essas considerações eram revistas e anotadas nos materiais dos alunos, para que fossem retomadas durante a próxima semana.

Em síntese, grande parte da metodologia utilizada pelo professor Paulo se dá a partir do desenvolvimento da ‘rotina’, ou seja, da verificação dos estudos semanais dos alunos, Isso possibilita uma organização e evidencia um planejamento de aula. Além disso, o professor Paulo, quando necessário, utiliza-se do instrumento para solucionar dúvidas advindas dos alunos aos alunos. Ao escolher o

formato das aulas de instrumento, onde deixa alunos tocando em duos, e das aulas de grupos musicais, o professor privilegia o fazer entre pares. A apreciação musical também é um ponto de destaque das práticas de ensino deste docente.