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O professor Anderson ministra as aulas de instrumento da UFPB em duas disciplinas: Instrumento (duas horas/aula semanais) e Classe de Instrumento (duas horas/aula semanais). O professor opta por juntar a carga horária das duas disciplinas citadas acima e desenvolve aulas semanais em trio, com duração de três horas cada aula. Ao optar por aulas com duração de três horas, o professor Anderson revela que essa metodologia tem como objetivo principal demonstrar aos alunos como gostaria que eles desenvolvessem os seus estudos diariamente. Para o professor, esse formato é ideal, pois:

[...] dentro dessas aulas de três horas, eu procuro contemplar o máximo de assuntos possíveis, com concentração, ser bem objetivo nas aulas, não divagar muito e ficar perdendo tempo com conversa. [...] Tentar ser bem objetivo para aproveitar isso aí para que os alunos em casa se inspirem também com essa maneira de ensino [...] Eu dou aula em grupos de três. A não ser quando tem algum aluno que está fora da sequência natural que daí, às vezes, ele pega uma disciplina individual. Mas o normal é trabalhar com grupo de três [...] aqui os alunos têm dois créditos de instrumento como aula individual e tem dois créditos de instrumento como aula em grupo. O que eu faço? ‘Eu junto os quatro créditos e dou aula em grupo, todos ganham mais’. (PROFESSOR ANDERSON, Entrevista). Outro ponto relevante é a separação de alunos que não estão atingindo os objetivos a serem alcançados na disciplina, o que faz com que o professor Anderson trabalhe determinados conteúdos a partir do oferecimento de aulas individuais.

Nas aulas observadas do professor Anderson, nota-se que os principais conteúdos abordados fundamentavam-se na técnica, na leitura musical, no estudo de escalas e harmonias, na prática de improviso e na

apreciação musical. Nos planos de curso, fornecidos pelo docente, evidenciam-se as ementas, os conteúdos, os objetivos, os recursos metodológicos, os materiais necessários, os sistemas de avaliações e as bibliografias utilizadas.

Sobre as estratégias de ensino, o professor descreve que:

Uma coisa bem importante é ter ordem, organização em uma aula. Saber o que vai fazer quando chega na aula, ter uma programação, ter um plano de ensino para a aula e chegar consciente do que vai fazer. E lá, uma coisa ou outra pode surgir, pela energia do momento, sempre estar aberto também. Mas ter um direcionamento já auxilia bastante, é o que eu procuro fazer. Chegar com um direcionamento. (PROFESSOR ANDERSON, Entrevista). Lopes (2013) sugere que os a partir dos:

[...] conteúdos de guitarra a serem ensinados a um aluno, poder-se-iam organizar alguns destes conteúdos separados cronologicamente por conta do amadurecimento que se espera do aluno de guitarra para lidar com determinados assuntos. (LOPES, 2013, p. 31).

O professor Anderson, ao observar a organização como aspecto fundamental, programava suas aulas com uma sequência de conteúdos a serem apreendidos pelos discentes.

Ao iniciar a aula, o professor retomava os conteúdos (escala melódica) abordados na aula anterior, alertando aos alunos para a memorização, na prática, das digitações e das posições descritas em determinado método. A aula observada teve como objetivo principal trabalhar os conteúdos da escala menor melódica (leitura, harmonização, modos, análise da música para trabalhar improvisação). Para o desenvolvimento dessa aula, o professor utilizou basicamente o método desenvolvido por Willian Leavit (A modern methor for guitar III).

A principal estratégia de ensino desse professor consistia em praticar os exercícios propostos em conjunto com os alunos. Essa metodologia é um reflexo do método de um de seus ex-professores de instrumento, que sempre tocava os exercícios propostos em conjunto

com os alunos. A formatação das aulas em trio era também a reprodução de um modelo vivenciado por ele a partir de seus ex-professores. Essa prática permite que o professor mostre para os alunos os diferentes elementos propostos nos exercícios pois, ao solicitar que os alunos prestassem atenção na sua performance, acabava por tirar dúvidas surgidas pelos discentes. Todos os exercícios eram desenvolvidos com o auxílio do metrônomo.

A aula iniciava-se com aquecimento e exercícios de técnica. O professor Anderson, além de exemplificar uma melhor maneira de executar os exercícios, alertava para a digitação do dedo 4, devido à postura da mão que deve estar mais próxima do braço. Nesse exercício, o professor olhava atentamente para os alunos e fazia recomendações sobre a atenção ao uso do metrônomo. Ao final, cada exercício era repetido várias vezes. Para Lopes (2013, p. 30), na aprendizagem da guitarra elétrica: “[...] a repetição das ações bem sucedidas” fazem parte do aprendizado instrumental.

Para o desenvolvimento da improvisação, o professor Anderson utilizou play-backs para acompanhamentos dos alunos. Além disso, solicitou para que os próprios discentes acompanhassem os demais colegas. Para auxiliar os alunos em determinados trechos, o professor Anderson, nas aulas observadas, utilizou constantemente o solfejo, indicando, por exemplo, uma nota a ser executada ou uma nota errada que deveria ser corrigida.

A apreciação foi o último conteúdo a ser trabalhado na aula observada do professor Anderson, quando perguntou aos alunos se escutaram determinada música em casa. A partir das respostas, Anderson fez uma busca da música 500 Miles High (Chick Corea), no site youtube, indicando diferentes versões e comentando a audição junto aos discentes.

Ao tratar das instruções dadas pelo professor Anderson, primeiramente evidencia-se a indicação de acidentes presentes na armadura de clave e acidentes ocorrentes, momento em que o professor perguntava constantemente aos discentes qual escala está sendo executada no andamento da prática. O professor observava atentamente a execução dos alunos e constantemente fazia observações sobre postura e digitação. Em um dos exemplos, falou sobre sua preferência ao realizar este exercício, olhando para um espelho, para: “[...] ler e ver cada nota para ter a memória visual da partitura e do instrumento” (PROFESSOR ANDERSON, Observação).

O professor Anderson explicava aos alunos como estudar, dando indicações metodológicas para os seus estudos. Dentre essas sugestões, destacam-se: (i) o fazer lento e rápido (limite técnico); (ii) a leitura de fragmentos; (iii) o solfejo para trabalhar memória nominal da nota; (iv) a concentração; (v) a palheta; (vi) o olhar periférico para abrir os horizontes; (vii) o tocar a escala de uma maneira mais livre, ou seja, improvisar em cima da escala.

O professor Anderson demonstrava preocupação em como unir determinados elementos estudados. Segundo ele:

[...] tem 10 itens fragmentados, cada um em seu lugar, a ideia é o seguinte: ‘o que podemos fazer para não deixar essas coisas separadas?’ Eu vejo que atualmente isso é importante ter um pensamento mais amplo. (PROFESSOR ANDERSON, Observação).

Para fazer essa união ele explicava a escala, a técnica dentro da escala, agregando e integrando assim conteúdos como harmonia, fraseologia musical e improviso. O professor Anderson preferia pensar todos esses elementos de forma holística e, para isso, utilizava-se do repertório para desenvolver melodia, acordes e harmonização.

O professor Anderson fazia poucas considerações após as execuções dos alunos. A maioria das correções era realizada durante os exercícios desenvolvidos, quando o professor fazia ‘cortes’ nas performances dos discentes no momento que percebe que deve intervir e auxiliar em algum elemento.

Em síntese, na observação da aula do professor Anderson, fica clara a sistematização e a organização no estudo dos conteúdos propostos, cuja retomada de conteúdos da aula anterior indica a realização de um planejamento/plano bem definido para o desenvolvimento das atividades. Evidenciou-se também a aplicação de metodologias apresentadas no período de sua formação instrumental e acadêmica. Para preparar o aluno para a atividade docente, o professor abre espaços para os alunos ensinarem uns aos outros, criando um ambiente de interação onde todos participam ativamente do desenvolvimento de práticas de ensino.