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O início do aprendizado musical do professor Hermilson foi a partir da possibilidade de ‛mexer’ com um instrumento musical, ou seja, a presença de um violão em sua residência despertou o interesse inicial pela música. Com o seu desenvolvimento nesse instrumento, seus pais o colocaram para fazer aulas com um professor particular. O professor Hermilson recordou-se muito pouco do que foi trabalhado naquele momento, mas conseguiu relatar questões ligadas à técnica, a um material de iniciação ao violão e assuntos relacionados ao repertório desenvolvido naquele período de estudos. Considera, no entanto, que não houve uma definição clara do repertório a ser abordado, mas sim a existência de uma interação entre a música erudita e a música popular. As aulas de violão não eram o desejo do professor Hermilson naquele momento e, na sequência, um amigo lhe apresentou o rock. A escolha pelo instrumento guitarra elétrica então se deveu à sua inserção no contexto do gênero musical rock and roll e à influência de amigos.

Mesmo iniciando os estudos na guitarra elétrica a partir de um gênero específico, o rock, o professor Hermilson apontou para outras perspectivas musicais no instrumento. Os festivais de música popular no Brasil nos finais da década de 1970 e início da década de 1980, tendo como principal referência musical o artista Milton Nascimento, influenciaram fortemente o aprendizado e o gosto musical do professor. Nas questões relacionadas ao repertório, o professor Hermilson conta que diversos gêneros musicais, dentre eles o rock, o jazz e a música popular brasileira estiveram presentes nos seus estudos musicais.

Atualmente, a canção e a música brasileira instrumental, particularmente de guitarristas e violonistas, são os gêneros que mais o atraem.

O autodidatismo esteve presente no percurso do professor na aprendizagem da guitarra elétrica antes e durante os estudos na universidade. Além do autodidatismo, os processos informais de aprendizagem, como ouvir música e ‛copiar’ elementos musicais de ouvido, fizeram parte dos seus estudos.

Um ponto fundamental, apresentado pelo professor Hermilson e presente na sua aprendizagem na guitarra elétrica antes do ingresso na universidade, foi a edição dos fascículos de uma obra lançada na década de 1980. Esses fascículos, denominados “Curso Completo de Violão e Guitarra TOQUE”, baseados na obra de Ralph Denier, chamavam sua atenção, pois se tratavam de elementos discutidos por instrumentistas nacionais e internacionais. Segundo o professor, as edições brasileiras continham informações sobre artistas nacionais como Garoto, Américo Jacobino, Dilermando Reis, Baden Powwell, Garoto, Hélio Delmiro, Heraldo do Monte, entre outros. Ainda para o professor Hermilson, a ‘mistura’ de conteúdos trazidos por esse método foi, e ainda é, de grande valor para as perspectivas musicais desenvolvidas por ele. O professor defende a diversidade de elementos no estudo da guitarra elétrica, sendo isso fundamental para a formação do guitarrista atualmente. Ao defender a amplitude do conhecimento para o profissional que atua com a guitarra elétrica (professor e músico), o professor faz uma crítica às especialidades, ou seja, ao foco total em somente um gênero musical.

Em determinado período da sua aprendizagem musical, o professor Hermilson percebeu, com o intuito de se desenvolver mais nas questões musicais referentes à composição e à participação em bandas, a necessidade de buscar outras direções musicais. Nesse período, obteve a ajuda de amigos para o seu desenvolvimento musical, o que se caracteriza como uma aprendizagem entre pares.

Os estudos do professor Hermilson com um professor de guitarra elétrica começaram no período da graduação, no curso de bacharelado em música popular com opção pelo instrumento. No entanto, a visão do professor quanto às suas aulas neste período apresentam poucas considerações pedagógicas sobre as metodologias utilizadas por seu ex-professor de guitarra elétrica. Segundo ele:

Meu professor era bom de guitarra, mas era um cara que não me seduzia muito, não tinha ideias interessantes, mas tocava bem [...] mas não era

pedagógico, sem orientação, sem uma postura muito preocupada com questões de planejamento, de objetivos. Era uma aula bem prática e também meio sem sequência, não tinha planejamento. Ele gostava de acompanhar, isso era legal também, e fazia isso bem. Ele tocava bem, tanto de dedilhado quanto de palheta. Então era uma coisa muito mais naquela base antiga, aquela história, simboliza a maneira clássica da transmissão no instrumento [...] Nós praticávamos pouca leitura, ele não era um cara que forçava. Ele era muito invocado com escala e com exercícios de fraseado, de manejo das escalas. Não era negócio de escala ascendente e descendente, mas sim de: ta, tum tu, tim, pá [representação de salto de cordas dentro da escala], uns negócios assim, que ele chamava de intervalo training. ‘Sus four’ [acorde Xsus4] [...] nós tocávamos bastante jazz, de fato era um negócio muito jazz. [...] era bom, eu venho de um movimento muito jazz desde 85, 86 [...] Foi bom nesse sentido, mas foi lacunoso em outros, em outros pontos que teriam sido interessantes. [...] ele gostava muito de jazz mas tocava muito outras coisas, tocava country music bem, tocava blues, rock satisfatoriamente, um cara bem versátil [...] ele gostava muito de Joe Pass, muito nessa onda e mostrava [...]. (PROFESSOR HERMILSON, Entrevista).

Nesta fala, percebemos que o ensino de seu professor estava baseado na lógica de ‘quem sabe tocar ensina’, ou seja, o músico que torna-se professor sem se preocupar com questões pedagógicas presentes no processo de ensino e aprendizagem. O professor Hermilson descreve que seu ex-professor não tinha uma metodologia clara de ensino, mas que as atividades práticas de tocar junto com ele foram aspectos positivos durante a graduação. No entanto, o professor Hermilson manifesta a falta de um contato mais próximo com o professor. Segundo ele, é importante: “[...] estreitar outros laços e que você acaba tentando também que eles sejam positivos no processo, o lado psicológico, o lado da relação, do tipo de clima que você instala no relacionamento” (PROFESSOR HERMILSON, Entrevista).

Para ele, este tipo de relação com o professor teria sido importante para o seu desenvolvimento naquele período.

Um fator importante vivenciado pelo professor Hermilson, no período da graduação, foi a possibilidade de ouvir uma diversidade de músicas e ele alerta para: “o efeito disso sobre a formação cultural, sobre o ouvido” (PROFESSOR HERMILSON, Entrevista). O professor fez uma crítica a alguns alunos que, apesar de todas as possibilidades atuais de conhecer e ouvir a discografia pertinente para a guitarra elétrica, acabam subaproveitando toda essa facilidade em buscar novos conteúdos, ficando assim em assuntos já conhecidos e que não lhes trazem nada de produtivo, do ponto de vista da pesquisa, por novas perspectivas e conhecimentos (PROFESSOR HERMILSON, Entrevista).

O professor Hermilson relata que no período da graduação não teve contato com disciplinas relacionadas à pedagogia, mas que outras disciplinas e fatores foram essenciais para o seu aprendizado musical e, até mesmo, para a sua visão como professor de música. Na disciplina de história da música, por exemplo, comenta que seu ex-professor:

[...] discutia não a história ou as histórias da música, mas os processos, e tinha um pouco de história no meio, mas com essa consciência mais crítica do que é mercado, do que são os conflitos, do que está por trás de toda a produção e recepção da música. Compensa na estrutura, me lembrando disso tudo, compensa o curso como um todo a formação do instrumento ter sido como foi. (PROFESSOR HERMILSON, Entrevista). O professor deixa transparecer a preferência por aulas onde o professor sabia ‘fazer’ e não somente ‘falar’ sobre como fazer. Verificou-se esse aspecto na descrição das suas aulas de arranjo, vivenciadas também no período da graduação:

[...] eu aceito o argumento de alguém dizer que está bem preparado para ensinar, mais preparado para ensinar do que para mostrar na prática como se faz, mas eu acho que o efeito disso na cabeça de um, de um menino, de um cara começando a vida, não é tão contundente quanto o cara que às vezes tem dificuldade de mostrar, de dizer, de traduzir, de mastigar, mas estava tudo ali para você ver. (PROFESSOR HERMILSON, Entrevista).

Para esse professor, o ‘saber fazer’, o ‘saber mostrar’ como faz é mais importante do que uma formação pedagógica para atuação com o ensino. Este aspecto é também apresentado por Caimi (2014), Glaser e Fonterrada (2007) e Araújo (2005), que mostram que professores de instrumento investigados apontaram que a formação técnica- instrumental deveria estar em um primeiro plano para ser professor de instrumento, devido à necessidade de primeiro se ter o domínio do instrumento para depois ensiná-lo.

No currículo Lattes do professor Hermilson, constata-se a participação em diversos cursos realizados em festivais com guitarristas e músicos de renome nacional. Ao ser questionado sobre como foi o ensino nestes cursos e festivais, particularmente as questões pedagógicas desses professores, ele apresenta os seguintes pontos: (i) elaboração de apostila manuscrita com exercícios de técnica; (ii) aulas com turmas grandes onde os alunos se revezavam para tocar; (iii) contato pessoal dos professores com os alunos (PROFESSOR HERMILSON, Entrevista).

A pós-graduação do professor Hermilson foi realizada na área de musicologia, seu mestrado foi desenvolvido sobre o repertório de um compositor brasileiro e no doutorado discutiu sobre processos criativos. Ao ser questionado sobre a contribuição da pós-graduação em suas aulas atualmente, ele respondeu que o mestrado e o doutorado ajudaram na pesquisa e no aprofundamento de conteúdos para poder apresentar aos alunos (PROFESSOR HERMILSON, Entrevista).

Em síntese, o professor Hermilson contou que sua formação no instrumento se deu a partir de diferentes contextos (aulas particulares; festivais; graduação) e metodologias de aprendizagem (autodidatismo; entre pares; ouvir e copiar músicas de ouvido). Nas aulas de guitarra na graduação gostaria de uma presença mais efetiva de seu ex-professor. Essa presença é relacionada à organização das aulas, aos conteúdos a serem trabalhados e a um contato pessoal mais interativo com seu ex- professor de instrumento. Com relação à formação pedagógica, ele descreveu que não teve nenhuma formal, pois é oriundo de um curso de bacharelado.