• Nenhum resultado encontrado

O principal interesse do professor Anderson em aprender violão foi despertado a partir da convivência com os colegas da escola, quando estava com aproximadamente treze anos de idade. O início do seu aprendizado foi a partir do que chama de “experimentação” (PROFESSOR ANDERSON, Entrevista) dos sons no instrumento.

Depois desse período de ‘experimentação’, o professor Anderson contou que um vizinho começou, de maneira informal, a lhe dar algumas ‘dicas’ de como afinar e tocar o violão. Além desse estudo, chamado de informal pelo professor, o mesmo descreveu que o seu aprendizado, neste período, foi a partir da troca de informações entre amigos:

[...] nós ficávamos naquela coisa de aprender uma música e mostrar para o outro, daí o outro aprendia uma música e mostrava. Nós nos reuníamos e fazíamos encontros tocando violão e cantando, era uma coisa mesmo de amigos. (PROFESSOR ANDERSON, Entrevista). A satisfação em aprender estava relacionada à aprendizagem entre pares. As metodologias utilizadas nesse período inicial eram ouvir, ‘copiar’ música de ouvido e aprender a partir de revistinhas.

Quando fez quinze anos de idade, adquiriu uma guitarra e procurou aulas particulares em uma escola alternativa com o objetivo de ampliar os seus estudos musicais. O professor desta escola particular foi muito importante na sua formação, devido à descoberta: “[...] de um universo novo que se expandiu” (PROFESSOR ANDERSON, Entrevista). Nestas aulas, o professor teve o primeiro contato com um estudo musical sistemático e programado. Ao sintetizar como eram essas aulas, o professor destaca: (i) aulas individuais; (ii) havia cobrança de conteúdos anteriores; (iii) repertório baseado no jazz, escolhido pelo professor; (iv) aulas programadas e sistematizadas (PROFESSOR ANDERSON, Entrevista).

O professor Anderson seguiu seus estudos em um conservatório estadual com o mesmo professor até o primeiro ano da universidade. A graduação foi em violão erudito, devido à falta de disponibilidade de um

curso de bacharelado em guitarra elétrica naquele período. Garcia (2011) traz a discussão de que vários guitarristas, por motivos idênticos, ou seja, a falta de disponibilidade de cursos, graduaram-se no violão para ter uma titulação acadêmica. A escolha do professor, pela graduação em violão erudito, contraria a posição de um dos participantes da pesquisa de Caimi (2014), sobre professores universitários de violão, que revelou a possibilidade de se tornar melhor guitarrista a partir de um curso de violão erudito. Embora o professor Anderson descreva que usa elementos do violão no ensino da guitarra elétrica, acha pertinente que cada instrumento construa as suas abordagens metodológicas, o repertório e as técnicas de tocar.

No período da graduação, o professor Anderson conta que estava terminando o curso de guitarra no conservatório estadual e, depois de um ano cursando o bacharelado em violão, ingressou no curso técnico em guitarra na mesma instituição. Sendo assim, durante um período de tempo, acabou cursando três cursos distintos (o conservatório, a graduação e o curso técnico).

O professor afirma que não fez nenhuma disciplina na área da pedagogia, pois seu curso foi focado na formação do instrumentista. No entanto, descreveu que a sua experiência didática está muito voltada para a observação de como ele teve as aulas, ou seja, das diferentes atuações dos seus ex-professores e à sua inserção em outros contextos. Segundo o professor:

De instrumento eu tive três professores que passaram um tempo comigo, e cada um deles tinha uma maneira de ensinar diferente. Então eu via dos três o que era que funcionava. E também observava a parte de outros professores de disciplinas coletivas também e trazia para minhas aulas de instrumento também, porque eu via uma coisa na organização que me chamava à atenção, eu procurava e procuro ainda seguir. Outro que trabalhava mais a parte da criatividade isso é uma coisa que é constante, até hoje eu sempre venho realizando. (PROFESSOR ANDERSON, Entrevista).

Os três ex-professores (conservatório, graduação e curso técnico) foram muito importantes no desenvolvimento musical do professor Anderson e que, de certa forma, influenciaram também a sua

abordagem pedagógica como professor de instrumento. Ao tratar das metodologias, didática e conteúdos utilizados nas aulas de cada ex- professor, o professor Anderson destaca:

(a) Professor do conservatório: praticar junto aos alunos; utilizar sempre o metrônomo; utilizar fragmentos musicais; repetir exercícios propostos; mostrar as notas na partitura; corrigir postura de digitação e localização dos dedos; ensinar gradativamente; utilizar métodos; focalizar a técnica;

(b) Professor do curso técnico: organizar um modelo de curso de guitarra bem definido; utilizar história do instrumento; focalizar a prática da improvisação; definir aulas em trios com duração de três horas; escutar música de guitarristas;

(c) Professor da graduação (violão erudito): usar a organização da escola erudita; cuidar com a sonoridade; abordar as aulas sobre o repertório.

O professor Anderson, ao falar dos seus ex-professores, conta que fez uma ‘peneira’ do que achou mais interessante e, de certa forma, aplica a síntese do que lhe foi apresentado. Nesse sentido, as distintas metodologias apresentadas por seus ex-professores foram observadas na prática de ensino do professor.

Além das influências de seus ex-professores de instrumento e da formação pedagógica baseada na observação da atuação de outros professores (disciplinas distintas cursadas), o professor Anderson apresenta outros pontos de vista sobre as demonstrações vivenciadas por ele em como atuar pedagogicamente, sendo esses pontos não necessariamente relacionados à prática musical. Nesse sentido, as aulas de ioga fornecem subsídios para corrigir questões posturais de seus alunos e a prática de capoeira permite que o professor faça uma organização e graduação dos exercícios no decorrer das aulas. Ao observar a influência de professores em contextos diversos, o professor Anderson ilustra claramente um ponto destacado por Tardif (2014):

[...] os diversos saberes dos professores estão longe de serem produzidos diretamente por eles, que vários deles são de um certo modo ‘exteriores’ ao ofício de ensinar, pois provêm de lugares sociais anteriores à carreira propriamente dita ou situados fora do trabalho. (TARDIF, 2014, p. 64).

No mestrado, realizado na área de musicologia, fez uma pesquisa de análise sobre uma peça de concerto onde a guitarra se faz presente, desenvolvendo uma proposta de digitação para a execução das partes referentes ao instrumento. No doutorado na área de educação musical, ainda em andamento, pretende desenvolver metodologias para o ensino de guitarra elétrica no contexto universitário e aprofundar o seu conhecimento na área pedagógica, aonde visualiza: “[...] a possibilidade de conhecer um pouco mais formalmente esse universo” (PROFESSOR ANDERSON, Entrevista).

Em síntese, o professor Anderson iniciou seus estudos a partir da troca de informações entre colegas. O professor teve uma sólida formação em guitarra elétrica advinda de um curso técnico e de um conservatório, além da graduação em violão erudito, que trouxeram contribuições para o seu aprendizado musical. Com relação à formação pedagógica, descreve que não teve nenhuma formal, pois é oriundo de um curso de bacharelado, mas que a prática em ser professor e a observação de metodologias de ex-professores suprem a sua formação para a prática pedagógica.