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As instituições apresentam autonomia com relação à definição das disciplinas das grades curriculares analisadas, respeitando as atribuições da Resolução do CNE, de 8 de março de 2004, que apresenta as Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Música (BRASIL, 2004). Esta autonomia e abertura propostas pelo documento legal mencionado são positivas, na medida em que permitem adaptações locais, de acordo com as demandas próprias de cada contexto. Ao mesmo tempo, as diferenças de concepções de cursos de licenciatura e bacharelado estudados apresentam focos entrecruzados, nas quais o bacharel pode ser conduzido para a docência, se desejar, e o licenciado pode ser direcionado para a prática musical, distanciando-se da prática docente.

Embora os bacharelados investigados não ofereçam disciplinas obrigatórias voltadas para a educação na sua grade curricular, existe a possibilidade dos alunos cursarem disciplinas eletivas nos cursos de licenciatura em música das instituições selecionadas, pois os currículos são integrados. Não há um consenso sobre a inserção de disciplinas pedagógicas em cursos de bacharelado. Autoras como Louro e Souza (1999) afirmam que somente algumas disciplinas inseridas em um curso de bacharelado não conseguiriam suprir a formação pedagógica para futuros professores. Por outro lado, Glaser e Fonterrada (2007) e Araújo (2005) concordam com a possibilidade de incluir disciplinas optativas, de cunho pedagógico, em cursos de bacharelado, e que essas disciplinas supririam a formação voltada para a atuação docente. Considerando que a vivência, como aluno e professor, acabam formatando um modo de atuar como docente, é possível considerar que a inserção de algumas disciplinas com o enfoque no ensino poderiam ajudar o bacharel a vir a trabalhar com aulas de instrumento. No entanto, não podemos afirmar, também, que todos os alunos egressos de cursos de licenciatura saem

preparados para dar aulas, tanto musicalmente quanto pedagogicamente, considerando a complexidade desta tarefa que deve ser realizada num curto espaço de tempo.

Os professores Hermilson e Paulo, atuantes nos bacharelados investigados, acreditam também estar formando profissionais para o ensino de instrumento. Cada professor apresentou os seus pontos de vista em relação a essa temática, entendendo, de modo geral, que eles próprios, professores universitários, são mediadores das aprendizagens dos alunos com relação à formação docente. É importante a lembrança dos escritos de Sacristán (2000), que diz que cada professor é um agente ativo e relaciona os conteúdos considerados pertinentes por eles em suas aulas. Nesse sentido, esses professores também visualizam os alunos egressos como potenciais professores de instrumento.

As aulas de instrumento, nos cursos investigados, focam principalmente a formação para o instrumentista, deixando a cargo das disciplinas da área da educação e educação musical a formação pedagógica para os seus discentes. Alguns tópicos, como colocar os alunos para ensinar (PROFESSOR ANDERSON) e a análise de métodos e textos, no bacharelado, que discutam ‛como’ ensinar (PROFESSOR PAULO) são maneiras, do ponto de vista desses professores, de preparar os alunos para a prática docente. Para Bellochio (2003):

[...] os formadores também precisam estar atentos às múltiplas formas de realização da música e da educação musical no espaço socialmente determinado, encarando a produção musical fora do espaço da escola e da academia. (BELLOCHIO, 2003, p. 18).

Ao realizarem essas práticas, os professores Paulo e Anderson conectam-se com a discussão trazida por Bellochio (2003) no que diz respeito à preparação, além de instrumentistas, de professores de guitarra elétrica para a atuação em diferentes contextos de ensino e aprendizagem. Existe uma necessidade de visualização da formação instrumental para os diversos contextos de atuação (performance; docência; estúdio; dentre outras), nos quais os professores e as instituições poderiam estar atentos a um mercado de trabalho amplo, fornecendo aos alunos uma formação mais completa para a atuação profissional. No entanto, é preciso considerar o limite de tempo para esta formação ampliada e complexa, o que pode contribuir para a

seleção, por parte dos professores, de materiais e conteúdos que consideram mais relevantes e que estejam alinhados com sua própria formação e atuação.

Os professores Anderson e Cesar, atuantes nos cursos de licenciatura em instrumento descrevem que grande parte dos alunos nessas instituições preferiria cursar um bacharelado em instrumento, mas por diversas outras questões relacionadas à disponibilidade de cursos de bacharelado, condições de ingresso (vestibular mais difícil) e uma política nacional que favorece a licenciatura (PROFESSOR ANDERSON), acabaram optando por uma licenciatura em instrumento. A discussão envolvendo alunos de cursos de licenciatura e bacharelados em outros instrumentos, que gostariam de cursar um bacharelado especificamente em guitarra elétrica, é constante na literatura quando se trata de cursos superiores em música. Autores como Garcia (2011), Módolo e Soares (2009) e Mateiro (2007) atestam, em seus relatos de pesquisa, que muitos discentes optam por cursos de licenciatura devido à impossibilidade de cursar um bacharelado. Nesse sentido, visualiza-se a necessidade de instruir os candidatos e alunos ingressos sobre as reais intenções das graduações ou, indo mais longe, a possibilidade de reflexão por parte das instituições para possíveis mudanças que contemplem também parte dos objetivos dos discentes.

A discussão da literatura sobre qual seria o curso mais capacitado para a formação do professor de instrumento está presente em parte das publicações. Alguns autores defendem que o bacharelado, por ter como foco principal a formação do instrumentista, seria a melhor formação. Outros descrevem que a licenciatura seria o melhor curso, pois além das disciplinas voltadas para a formação musical, também ofereceria uma carga horária significativa na área da educação e educação musical. A licenciatura em instrumento seria o que poderíamos chamar de intermediário entre o bacharelado e a licenciatura, tendo o foco na formação do instrumentista. No que concerne à formação do professor de guitarra elétrica, notamos que a maioria dos cursos oferecidos no país é de bacharelado em instrumento e tendo, a priori, o foco voltado à formação do instrumentista. Esta temática mereceria mais investigações por parte de pesquisadores interessados nas questões relacionadas à formação universitária na área de música, trazendo outras contribuições para o debate que ainda é frequente em diversos contextos universitários.

Ao investigar cursos de bacharelado e licenciatura em instrumento, com professores oriundos de diferentes formações

(bacharelado em música popular; bacharelado em violão; licenciatura em música), levanta-se a questão que, embora cada formação apresente suas particularidades, a prática e a experiência em ser professor de instrumento é um ponto relevante na atuação dos professores investigados. Acredita-se que não exista um melhor curso, mas as intenções dos alunos em conjunto com as interações e objetivos dos professores são aspectos que acabam proporcionando a formação, musical e pedagógica para os alunos de guitarra elétrica no ensino superior. Apesar das aulas de instrumento observadas enfocarem a formação do instrumentista, a visão dos professores destaca interesse também para a docência instrumental.

Não há um consenso sobre os alunos egressos na opinião dos professores investigados. Segundo eles, existe um amplo mercado de trabalho para profissionais que atuam com a guitarra elétrica, não sendo possível estabelecer um perfil único para a formação, seja no bacharelado, seja na licenciatura. Essa indefinição de perfil é também observada por Louro (2004), que conta que professores universitários descrevem que há a necessidade de ampliação na preparação dos alunos para os possíveis campos de atuação.

Em síntese, as aulas de guitarra elétrica em ambas modalidades - bacharelado e licenciatura em instrumento - nos cursos participantes desta pesquisa, apresentaram como objetivo principal formar o performer, ou seja, as aulas desses professores são dadas sob o prisma da formação do instrumentista, conforme relatado pelos professores e nas observações de suas aulas. Nos cursos de bacharelado, as questões pedagógicas ficam a cargo de algumas atividades desenvolvidas por esses professores ou da opção dos alunos em cursarem disciplinas a partir da integração com o curso de licenciatura em música de cada instituição. Nas licenciaturas em instrumento, além das atividades apresentadas pelos professores participantes, a formação pedagógica está diretamente relacionada com as disciplinas da educação e da educação musical.

7.1.1 Currículo: Sacristán (1998; 2000)

Ao tratar da prática curricular, identifica-se que o currículo é desenvolvido na interação entre os sujeitos, pois os alunos, ao selecionarem diferentes disciplinas optativas durante a graduação, participam das escolhas oferecidas em uma grade curricular. Nesta pesquisa, a principal perspectiva buscada é a possibilidade de cursar

disciplinas, nos cursos de bacharelado, com enfoque na educação. A possibilidade dos alunos de cursos de bacharelado cursarem disciplinas com o enfoque da educação evidencia que o currículo é uma prática interativa entre discentes, docentes e instituições.

As contribuições de Sacristán (2000) com relação à opção cultural são identificadas na análise de dados desta pesquisa. Em se tratando das licenciaturas investigadas nesta pesquisa, as disciplinas que envolvem a metodologia de ensino do instrumento foram opções obrigatórias (UFPB) e optativas (IFPE) nas grades curriculares de cada curso. Os bacharelados também oferecem em sua grade curricular disciplinas distintas. A distribuição entre disciplinas obrigatórias ou optativas são decisões de cada instituição.

A análise do currículo permitiu compreender os objetivos principais dos cursos participantes desta pesquisa. Embora os cursos apresentem diferentes objetivos, como formação do professor de instrumento (licenciatura em instrumento) e instrumentistas (bacharelado), ambas as modalidades oferecem a imbricação destes objetivos distintos. Nos cursos de licenciatura em instrumento se observou uma grande carga horária voltada à prática instrumental e os professores contribuíam para reforçar essa informação, pois as aulas de instrumento têm como foco principal a formação do instrumentista. Por outro lado, os bacharelados permitem uma integralização com os cursos de licenciatura em música das respectivas instituições e os professores realizavam práticas que auxiliam a formação do professor de instrumento.

A possibilidade de formação de professores de guitarra elétrica nos cursos de bacharelado conecta-se com a discussão trazida por Sacristán (2000) no que se refere à existência de um currículo oculto nas instituições participantes. Percebe-se isso quando os professores orientam os alunos para a prática docente.

Os professores descreveram, além do planejamento institucional, uma autonomia com relação à seleção de conteúdos e metodologias a serem empregadas no ensino, conectando-se à discussão trazida por Sacristán (2000) sobre o papel do professor no processo de ensino e aprendizagem. Desta forma, cada docente privilegiaria o que considera mais importante como conteúdo para os determinados momentos nos quais os alunos se encontrariam, ao longo do processo de aprendizagem. Os professores ao decidirem os conteúdos e a organização das aulas, de certa forma se conectam com a discussão proposta por Sacristán quando se refere à mediação e a participação

ativa de professores nas escolhas do que deve ser trabalhado em aula.

7.2 DISCUSSÃO SOBRE A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES