• Nenhum resultado encontrado

M aurício Gonçalves Saliba e M arcelo G onçalves Saliba, Violência domésti­

A^polêmica sobre as lesões corporais

9 M aurício Gonçalves Saliba e M arcelo G onçalves Saliba, Violência domésti­

A POLÊMICA SOBRE AS LESÕES CORPORAIS 11,9

Violência Doméstica e Famiiiar contra a M u lh er-JV D FM s. Além de expressamente afastar a incidência da Lei 9 0 9 9 /1 9 9 5 , deslocou a com ­ petência para as Varas C rim inais, enquanto não estruturados os JVDFM s (art 3 3 ) Mas foi além Vedou a aplicação de penas restriti­ vas de direitos de conteúdo econôm ico, com o a entrega de cestas bá­ sicas e o pagamento de multa (art. 17)

A intenção de livrar o delito de lesões cor porais qualificado pela violência doméstica da égide da Lei dos Juizados Especiais também decorre do fato de ter havido a m ajoração da p e n a máxima, que pas- scLU.de um paia três anos.10 Com esse aumento da pena, a lesão cor po­ ral também não pode ser considerada infração penal de menor poten­ cial ofensivo, pois assim são considerados os crimes cuja pena máxima não é superior a dois anos (Lei 9 0 9 9 /1 9 9 5 , art 61)

Outro fundamento quejustificaria a inexigibilidade da represen­ tação é o fato de a Lei 9 0 9 9 /1 9 9 5 não ter dado nova redação ao Códi­ go Penal Seu texto permaneceu inalterado. Ou seja, a exigência de representação não foi incorporada à legislação codificada . Houve sim­ ples previsão, no bojo da Lei dosjuizados Especiais, condicionando à representação as lesões corporais leves e lesões culposas Como a lei que procedeu a esta alter ação teve sua incidência afastada por lei pos­ terior, em sede de violência dom éstica, voltaria a vigorar o Código Penal,

F d f íi p íi l i n h a Hp r n r i n r i n i n rtr* n ii p i n cm çfp n ríi n n p n Hplil-n r1í> 1*»- ,

| admitir renúnc ia ou desistência por parte da ofendida. Por todos es-

M esm o que não falte lógica a esse raciocínio., há necessidade de se atentar ao próprio bbjetivo daJberLMaria da,Benha,^eu.caráter:mtLr dameiite.praLeLi.vo à vitioia, muito mais do que punitivo ao seu agressor Agora o juiz tem o encargo de solver, no âmbito do JVDFM, tanto as questões cíveis com o as criminais. Refoge à finalidade da lei m anter a í ses m otivos, parece que não há com o condicionar à representação a / violência doméstica que ger a lesão corporal

10 O art 4 4 deu nova redação ao atl 1 2 9 , § 9 °, do CP para o só fim de alterar a pena, que passou de 6 meses a um ano para de três meses a 3 anos

ação penal quando acenadas iodas as questões envolvendo agressor c vítima Cabe figurai' a hipótese de o magistrado designar audiência por ocasião do pedido de medidas protetivas quando as partes são cônjuges ou companheiros Certamente as chances de um acertamento do conflito entre as partes são muito maiores se a vítima tiver a facul­ dade de fazer uso, com o instrumento de negociação, do direito de li­ vrar o agressor do processo criminal Esta arma, que pode sei utiliza­ da para exercer pressão psicológica, assegura o equilíbrio das partes. Literalmente a sorte do varão está nas mãos da m ulher . Invei tem-se os papéis Assim, com mais facilidade o juiz poderá obter sucesso e con ­ seguir que as partes façam acordo e acertem a separação, alimentos, visitas e partilha de bens

De todo descabido que, solvidas todas as controvérsias que m an­ tinham o casal em situação de conflito, ainda assim, instaure-se a ação penal Às claras que a vítima não tem mais interesse em dar seguim en­ to à representação levada a efeito. Certamente ela em nada contribui­ rá para a apuração do delito O resultado da investigação criminal ninguém duvida qual seja., O inquérito não será remetido a juízo pela autoridade policial ou o Ministério Público não oferecerá denúncia Ainda que venha a ser instaurada a ação penal, o juiz acabará absol­ vendo o réu por falta de provas Por tanto, havendo com posição e sol- vendo-se a situação de conflito entre as partes, é justificável adm itira possibilidade de a vítima obstar o prosseguim ento da demanda pe­ nal. Ainda assim deve o juiz ouvira vítima em audiência especialmeme designada para tal fim., H om ologada a desistência é com unicada a autoridade policial para que proceda ao arquivamento do inquérito

Não foi outra a intenção do legislador. A Lei Maria da Penha faz referência à representação e admite a renúncia à representação.. Tanto p ersiste a necessidade de a vitima representar contra o agressor que ;sua manifestação de vontade é tomada a termo quando do registro da ocorrência. Trata-se de condição para o desencadeam ento da investi­ gação policial A autoridade policial, ao proceder o registro da ocor­ rência, ouve a ofendida, lavra o boletim de ocorrência e toma a repre­ sentação a teim o (art. 1 2 , 1). Ou seja, a ação depende m esm o de representação. De outro lado, é admitida, antes do recebim ento da denúncia, a “renúncia à representação”, que só pode ser manifestada perante o juiz em audiência e com a participação do Ministério Públi-

c0 te™ sentido o a r t .1.6 da Lei Maria da Penha falai em renúncia

A POLÊMICA SOBRE AS LESÕES CORPORAIS 1 2,1

à representação, se a ação penal fosse pública incondicionada.11 /' Como bem pondera Damásio de Tesusé contraditório afirma?: em

ja c e d o c ir t 41 dciLei Marict.cia P enha, que a a ç ã o pen al é in con dicion ada,

> e, ao mesmo tem po, defender; perante o art 16, que não se p o d e interpre- j t a r a expressão renúncia no sentido de desistên cia cia rep resen tação Ado- ! tacla a tese da a ç ã o pen al p ú b lic a incondicionada, com o f a l a r cm renún­ c ia ou retrata ção d a rep resen ta ção ? 12 Continua o mesmo autor: N ão

\ pretendeu a lei tran sform ar em p ú blica in con d icion ad a a a ç ã o pen al p o r 1 c r^ne dc tesão co rp o ra l com etido contra m ulher no âm bito d om éstico c

I fa m ilia r, o que c o n tra ria ria a ten dên cia b ra sileira da a d m issã o de um

| Direito Penai de In terven ção M ínim a e dela. retiraria m eios de restau rar i ap a z n o la í:13 Conclui afirmando que: considerar a acão penal por vias [ dc fato e lesão corporal com um pública incondicionada, con sistiria

\em retrocesso legislativo in aceitável.

Essa também c a posição de Pedro Rui da Fontoura P orto: Parece m ais lógico reconhecer que o legislador não quis, com a redação do art 41, tornar o delito de lesões corporais leves novam enlp rrím e dffação penal pública incondicionada. E ssa con clu são m elh o r se har­

m on iza com a nova lei, tanto con cilian do seus p róp rios dispositivos que parecem p riv ileg ia r a represen tação da vítim a, co m o con ectan d o as no­ vas regras com todo o sistem a ju ríd ic o pen al preexistente.,1'''

No mesmo sentido se posiciona Emanuel Lutz Pinto: A ação penal continua sendo pública condicionada à representação. Isso porque, apesar do que prevê a Lei Maria da Penha (art 4 1 ) o obietivo da nor­ ma foi o de. em verdade, impedir que se concedessem benefícios tão ^ superficiais que não atendessem às finalidades repressiva e reflexiva da p en a. T ratar a a ç ã o com o p ú b lica in con d icion ad a nessas h ip óteses

g e r a r ia um a in com p atibilid ad e id e o ló g ic a com o sistem a d o direito p e ­ nal, a pon to cie c ria r um absu rdo ju ríd ico 53

11 Damásio cSe Jesus, Da exigência de representação da ação penai publica ,, 88

12 Idem, 4 13 Idem, 88

14 Pedro Rui da Fontoura Porto, A notações prelim inares à Lei 1.1 3 4 0 /2 0 0 6 e