• Nenhum resultado encontrado

4. ANÁLISES

4.2 AUTOCONFRONTAÇÃO CRUZADA (ACC)

4.2.1 Autoconfrontação cruzada (ACC1): professores e pesquisadora (s)

A sequência de imagens que dará início ao diálogo será do professor Boaventura sendo

apresentada para o professor Cândido.

O trecho selecionado, da autoconfrontação cruzada de PB, aborda a sobrecarga no

trabalho desse professor. Eles falam sobre as viagens de trabalho a Curitiba, as quais fazem

com que Boaventura, tenha que alterar seus horários de aula (Linhas 677-688):

680 685 M1 PB M1 PB

ou seja você tem uma agenda que está sobrecarregada de coisas

[ está sobrecarre/ é é na verdade eu tenho a parte administrativa que acaba impactando na na em sala de aula então assim tem tem coisa que você tem que planejar: de uma semana pra outra tem que adaptar aí

[ replanejar ali

[

não tem como você seguir a risca e tal porque essa parte administrativa ela te toma: um certo tempo e você tem alguns compromissos que muitas vezes

A sobrecarga, de certa forma, é confirmada pelo professor, pois ele fala sobrecarre/,

há aqui um truncamento, ele não termina de pronunciar a palavra sobrecarrega. Na sequência,

evitando usar o termo sobrecarga ele fala em impacto do trabalho administrativo na sala de aula.

O professor, além das funções docentes, também exerce a função de coordenador do curso,

então, além das demandas do papel docente, ele precisa equilibrar suas atividades de professor

com uma função administrativa.

Boaventura confirma que sua agenda está sobrecarregada e atrela a sobrecarga às

questões administrativas da coordenação, descritas como impacto. O impacto, o choque contra

algo, no caso a sala de aula, ou seja, as questões administrativas causam um efeito de choque

nas atividades que ele desempenha em sala.

Ao fazer uso do pronome indefinido, certo, em, toma um certo tempo, o professor se

abstém de quantificar o tempo que é utilizado para realização das questões administrativas, mas

continua a fala tem alguns compromissos que muitas vezes não tem como é é vamos dizer assim

adiar. Ele talvez até adie ou considere adiar alguns compromissos administrativos que afetem

a sala de aula, a rotina de uma disciplina, mas afirma que muitas vezes não tem como, ele nega

a possibilidade de adiar os compromissos da coordenação na maioria das vezes

Na sequência Juliane questiona sobre a atuação de PC, como docente e contador, sobre

como ele equilibra essas atividades (Linhas 1511-1549):

1515 1520 1525 1530 1535 M1 PC M1 PB M1 PB M1 PB M1 PC

minha pergunta vai na direção de de como dosar e cuidar para que é: talvez você não acabe se dedicando muito ali para a atividade docente e deixando de lado o exercício de contador ou se dedicando muito para o exercício de contador e acaba deixando de lado ali a:

[ é: [

o GÊNERO da atividade docente porque não é o mesmo ( ) [

financeiramente hoje por exemplo para o Professor Candido isso qui: isso aqui não representa nada ((em tom de riso))

[

não mas não financeiramente falando [

é [

falando em termos de: ( ) [

é mais por paixão mesmo né Professor Candido porque se se olhar o mercado hoje uma empresa: ( )

[

falando em termos DE atividade ( ) [

de atividade tem que: tem que: se virar bonito... eu corrijo e preparo aula nos finais de semana

O questionamento de Juliane, como dosar, faz iniciar um processo de reflexão pela

verbalização, mas o questionamento que foi dirigido para o professor Cândido foi

primeiramente respondido pelo professor Boaventura, que não se conteve em aguardar a

resposta de Cândido e foi respondendo por ele, fez uso do dêitico isso para se referir ao trabalho

na Universidade, e justifica que financeiramente não representa nada para o seu colega. Segue

fazendo um questionamento ao colega é mais por paixão mesmo né? Um questionamento que

parece esperar uma confirmação do professor sobre sua “paixão”, uma vez que termina o

questionamento com um né, o não, que geralmente é usado na fala para confirmar o que foi dito

anteriormente.

Quando Cândido consegue iniciar sua resposta com o tem que se virar bonito, uma

frase feita que remete ao fato de ter que agir rápido, resolver muita coisa ao mesmo tempo, ser

reconhecido como uma pessoa que executa mais do que a maioria das pessoas consegue

executar no trabalho. Mas mesmo se “virando bonito” ele afirma que o trabalho na dinâmica

que se encontra o faz em sua fala fazendo pensar se continuo ou não, ou seja, ele está refletindo

sobre sua atuação profissional e a dinâmica de vida que leva, e já na sua sessão de

autoconfrontação simples, o professor afirmava estar pensando. Ele concluí que ainda

permanece modalizando sua afirmação eu sou, por ser apaixonado, um elemento afetivo do

sentido, a paixão. Nesse momento, ele confirma o questionamento anteriormente feito por seu

colega, que ele não respondeu de imediato. Não podemos esquecer também que seu colega

Boaventura é o coordenador do curso de Ciências Contábeis em que ele ministra aulas, o que,

de alguma forma, expressa uma relação de poder que talvez tenha levado o professor a

confirmar o questionamento com a resposta dada né?

O professor Cândido arremata quanto a dosagem entre os dois trabalhos, diz é um

grande problema... mas eu até hoje estou há vinte e um anos aqui né... e:u: consigo:....

1540 1545 M1 PC M1 PC M1 PC

você comentou que: isso é: desgastante [

isso está: me: ... fazendo pensar se eu continuo ou não... mas assim... claro como eu já te falei é: eu

[

(seria conciliar os dois) [

continuo aqui porque eu sou apaixonado pelo negócio e: [ essa conciliação dos dois com/ né qual qual a doSAGEM disso?...

é::: aí que: é um grande problema... mas eu até hoje estou há vinte e um anos aqui né... e:u: consigo:.... consigo:: consigo administrar isso né mas... realmente chega um momento que a gente tem que começar repensar a vida né daqui a pouco...

consigo:: consigo administrar isso né mas... realmente chega um momento que a gente tem

que começar repensar a vida né daqui a pouco... Nessa fala, o verbo conseguir é repetido,

consigo, como se desejasse se convencer e convencer aos demais sobre seu empenho em

permanecer trabalhando com algo que ele mesmo considera como possível encerrar. Segue em

sua conclusão com o uso do dêitico de pessoa a gente, referindo-se a nós, os professores, que

precisam em alguns momentos, assim como o momento que ele está vivenciando, repensar a

vida né, o né pede uma confirmação da pesquisadora. Encerra sua fala com o dêitico de tempo

daqui a pouco, para demonstrar que em um futuro, não definido, mas próximo, algo pode

ocorrer, algo implícito em sua fala, algo que se pode pressupor, segundo ele, após todo o diálogo

que ocorreu até aqui. Fica, portanto, a pergunta em mente, o que pode ocorrer daqui a pouco?