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2.1 O TRABALHO HUMANO NA CONTEMPORANEIDADE

2.1.1 Trabalho do professor do Magistério Superior

Ao pensar no papel do professor universitário na sociedade, a princípio uma das

primeiras representações que podem surgir, é a de que a sua atividade é voltada ao aluno,

ensinando conteúdos específicos para formação profissional, ensinar para a vida, educar,

orientar, dentre tantas outras possíveis afirmativas.

Contudo, o professor, ao planejar uma aula, precisa também responder a exigências de

instituições superiores, leis, ministérios, regras institucionais, de coordenações e, ao mesmo

tempo, considerar as características específicas de cada turma, fatores instrumentais para a

realização da aula, suas expectativas com relação ao trabalho, dentre tantos outros fatores. E,

ao final dessa busca por uma resposta ao que lhe é cobrado, possivelmente, ele irá realizar muito

mais do que estava prescrito como sendo seu trabalho (AMIGUES, 2004, p.42-43).

Assim, é importante retomar os aspectos históricos do papel do professor na sociedade,

que segundo Nóvoa (1999, p.15) se destaca a partir da estatização do ensino na Europa, na

segunda metade do século XVIII, quando o professor passou a ser laico e não mais religioso,

como haviam sido até então.

Primeiramente, a função docente constituía uma ocupação secundária para religiosos

ou leigos de diferentes origens, ou seja, era uma função subsidiária e não especializada. Com a

estatização, os professores passaram a ter presença mais ativa e intensa na educação,

produzindo um corpo de saberes e de técnicas e um conjunto de normas e valores. O trabalho

docente torna-se assunto de especialista, diferenciando-se como um “conjunto de práticas”, as

quais acabam exigindo maior dedicação de tempo e energia (NÓVOA, 1999).

No século XVIII, já havia diversos grupos, além dos do campo religioso, que

encaravam o ensino como ocupação principal, exercendo-o inclusive em tempo integral. A

intervenção estatal vem ao encontro com a homogeneização, unificação e hierarquização à

escala nacional desses grupos. Assim, os professores passam a ter um enquadramento estatal,

que os institui como corpo profissional, mas ao mesmo tempo abrem espaço para um maior

controle do estado (NÓVOA, 1999, p. 16, 17).

Imprecisões quanto à profissão dos professores começam a surgir em meados do

século XIX, quando os professores não são burgueses, não são do povo; não devem ser

intelectuais, mas devem possuir um bom acervo de conhecimentos; não são notáveis locais,

mas têm uma influência importante nas comunidades; devem se relacionar com todos os grupos

sociais, sem privilegiar nenhum; não exercer trabalho com independência, mas usufruir de

alguma autonomia, etc. Tais fatores reforçam a feminização, o isolamento social e a indefinição

do estatuto da profissão, mas por outro lado também avigoram a solidariedade interna entre os

profissionais e a formação de uma identidade docente (NÓVOA, 1999, p.18, 19).

O prestígio do professor é vivenciado no começo do século XX como reflexo de ações

das Associações Profissionais de Professores e à adesão a um conjunto de normas e valores.

Nesse período se alimenta a crença generalizada nas potencialidades da escola e na sua

expansão ao conjunto da sociedade. E os professores passam a ser os protagonistas desses

desígnios, sendo investidos de um forte poder simbólico (NÓVOA, 1999, p. 19).

Diante dessas diferentes representações acerca do desenvolvimento histórico do

profissional docente, nesse estudo, o professor em evidência será o professor do magistério

superior, na esfera federal. Inicialmente, ele será apresentado sob o ponto de vista legal. Para

compreender o trabalho deste profissional, serão tratados aspectos, a partir do que é descrito

como sendo sua atividade.

A Lei 12 772 de 28 de dezembro de 2012, que dispõe sobre a estruturação do Plano de

Carreiras e Cargos de Magistério Federal; sobre a Carreira do Magistério Superior, que em seu

Art. 1

o

estrutura, a partir de 1

o

de março de 2013, o Plano de Carreiras e Cargos de Magistério

Federal, composto pelas seguintes Carreiras e cargos:

I - Carreira de Magistério Superior, composta pelos cargos, de nível superior, de provimento efetivo de Professor do Magistério Superior, de que trata a Lei no 7.596, de 10 de abril de 1987;

II - Cargo Isolado de provimento efetivo, de nível superior, de Professor Titular-Livre do Magistério Superior;

(...)

§ 6o Os cargos efetivos das Carreiras e Cargos Isolados de que trata o caput integram os Quadros de Pessoal das Instituições Federais de Ensino subordinadas ou vinculadas ao Ministério da Educação e ao Ministério da Defesa que tenham por atividade-fim o desenvolvimento e aperfeiçoamento do ensino, pesquisa e extensão, ressalvados os cargos de que trata o § 11 do art. 108-A da Lei no 11.784, de 22 de setembro de 2008, que integram o Quadro de Pessoal do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. (Incluído pela Lei nº 12.863, de 2013) (BRASIL, 2016)

Cabe destacar também o Art. 2

o,

da citada Lei, que define as atividades das Carreiras e

Cargos Isolados do Plano de Carreiras e Cargos de Magistério Federal, aquelas relacionadas ao

ensino, pesquisa e extensão e as inerentes ao exercício de direção, assessoramento, chefia,

coordenação e assistência na própria instituição, além daquelas previstas em legislação

específica. Ainda no § 1

o

do referido artigo, lê-se:

a Carreira de Magistério Superior destina-se a profissionais habilitados em atividades acadêmicas próprias do pessoal docente no âmbito da educação superior.

(...)

§ 3o Os Cargos Isolados de provimento efetivo objetivam contribuir para o desenvolvimento e fortalecimento de competências e alcance da excelência no ensino e na pesquisa nas Instituições Federais de Ensino – IFE (BRASIL, 2016)

Notamos assim, uma descrição bastante ampla e, ao mesmo tempo, vaga em alguns

aspectos, por não delimitar como essas atividades serão efetuadas. A docência é uma das mais

antigas ocupações, sendo, inclusive, a figura do professor anterior à criação das instituições de

ensino. Os processos de ensino e aprendizagem e a docência vem se modificando no transcurso

da institucionalização dos processos de formação profissional, notadamente em função das

mudanças no mundo do trabalho e da produção, das modificações culturais e da evolução

tecnológica, que repercutiram e repercutem sobre as condições de vida e trabalho dos

professores. (LEMOS, 2005, p.10)

O trabalho do professor, como ocorreu em outras profissões, passou por profundas

mudanças. Tais mudanças não se referem apenas às condições objetivas de executá-lo. Elas

estão imbricadas na mudança do próprio cenário social que se concretiza. Os professores e o

sistema de ensino precisam preparar seus alunos não para uma sociedade do presente, mas do

futuro e de um futuro, sem dúvida, muito diferente do atual (ESTEVE, 1999).

Diante do cenário atual é difícil definir objetivamente o trabalho docente, conforme

Cosme (2011):

O espaço do debate em função do qual se visa a refletir acerca da redefinição do trabalho docente é, reconhecidamente, um espaço plural, contraditório e complexo. É que se não há respostas indiscutíveis que permitam definir como é que os professores devem conceber, organizar e promover o processo de influência educativa pelo qual são responsáveis no seio das escolas – já que as instituições educativas dependem das opções ideológicas, epistemológicas e pedagógicas daqueles que a propõe -, também se torna cada vez mais arriscado definir, de forma prévia aos contextos escolares e aos professores que aí intervêm, o inventário das exigências e dos desafios concretos que permitem configurar e definir o trabalho docente (COSME, 2011, p.27).

Consoante a isso, Bueno et al. (2014, p.56,57) lembra que, ao organizar um meio de

trabalho que propicie a aprendizagem de determinados conteúdos disciplinares e o

desenvolvimento de algumas capacidades dos alunos, ou dirigidas aos outros que possam estar

envolvidos socialmente, o professor está desenvolvendo uma atividade voltada também para

ele mesmo.

Sendo a atividade voltada também para si, está sofre influência constante de diferentes

fatores do trabalho docente e, ao enfrentar as situações de trabalho em cada contexto, o

professor está colocando em jogo além de aspectos teóricos, metodológicos, técnicos, dentre

tantos outros, também os aspectos de sua saúde e de realização profissional.

Desta forma, cada contexto de atuação é diferente, uma vez que é composto por

condições físicas, estruturais e de pessoas diferentes, relações diferentes dentro de um mesmo

ambiente, e tudo isso irá influenciar na maneira de atuação do docente, além disso se refletir

em sua vida, em sua saúde.

As preocupações com a saúde do professor, apesar de recentes (CODO, 2006;

LEMOS, 2005; ESTEVE, 1999), indicam que os problemas de saúde que afetam a categoria

estão intimamente relacionados ao tipo de trabalho exercido, ao fato de estarem relacionadas à

formação de outros sujeitos, ao excesso de trabalho, à precarização do trabalho, à perda de

autonomia, à sobrecarga de trabalho burocrático, ao quadro social e econômico e às condições

de vida dos alunos, entre outros. Em acréscimo, devem-se às condições objetivas impostas pelas

reformas educacionais desde a segunda metade da década de 1990.

Como exposto anteriormente os problemas de saúde que afetam os professores têm

correlação, dentre outros fatores, com o excesso de trabalho. Sendo assim, vale refletir sobre a

sobrecarga de trabalho, a qual será discutida na sequência.