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Capítulo VI – Discussão dos Resultados

5. Autoperceção da idade, Perceções do envelhecimento, Imagens do envelhecimento

Entre um conjunto de potenciais preditores, a autoperceção de saúde tem sido consistentemente usada para explicar uma proporção substancial de variância em idade subjetiva, enquanto fatores sociodemográficos, como género e educação desempenham apenas um papel menor (Barak & Stern, 1986; Barrett, 2003; Hubley & Russell, 2009; Infurna et al., 2010; Rubin & Berntsen, 2006).

Assim, a escolaridade dos idosos não se evidenciou como um fator influenciador da autoperceção da idade. Estes resultados estão em acordo com Zupančič et al., (2011). Porém, sem que os resultados sejam significativos, os idosos que têm maior escolaridade revelaram ter uma idade sentida, ideal e genérica mais baixa e os que têm menos escolaridade, que mostram uma idade ideal pessoal baixa, indo ao encontro dos resultados do estudo MIDUS (1995 – 1996), que sugere que os idosos que se sentem e desejam ser mais jovens têm mais habilitações académicas.

Em relação à Perceção subjetiva da saúde também não se identificou como um fator influenciador da autoperceção da idade. Contudo, os participantes mais velhos cronologicamente indicam ter uma perceção de saúde positiva, assim como apontam para uma

idade sentida mais baixa e para uma idade ideal, pessoal e a genérica mais elevada, em relação aos restantes.

A este propósito, Hubley e Russell (2009) examinaram se a autoperceção da idade e a saúde subjetiva podem variar em função da idade cronológica e concluíram que a autoperceção de saúde explica uma proporção ligeiramente maior da idade subjetiva para os indivíduos de 70 e 90 anos do que para indivíduos de 55 a 69 anos, ou seja, sugerem que a perceção positiva da saúde estaria profundamente relacionado com uma idade subjetiva mais jovem nas pessoas idosas mais velhas.

Westerhof et al. (2003) refere que as avaliações favoráveis da saúde são altamente valorizadas como um indicador de juventude.

Também Demakakos et al. (2007) refere que aautoperceção do envelhecimento pode estar associada com a saúde, na medida em que acarreta um complexo de informação sobre o próprio indivíduo e o seu contexto social e cultural. No estudo realizado pelos autores, verificaram que os idosos que se sentiam mais jovens do que a sua idade cronológica ou que acreditavam que a meia-idade terminava mais tarde demonstravam ter melhores índices de saúde e sofrer menos de hipertensão e diabetes do que aqueles que não se sentiam mais jovens do que a sua idade cronológica ou que acreditavam que a meia-idade terminava mais cedo.

Quando analisada a relação entre a Perceção de envelhecimento com a escolaridade, os inquiridos com o ensino universitário apresentam uma perceção positiva em relação à “Duração crónica”, “Duração cíclica “e “Representações emocionais”, ao contrário dos idosos com menor nível de escolaridade indiciam uma perceção de envelhecimento negativa face à” Duração crónica” e “Duração cíclica”; “Representações emocionais”; “Consequências negativas”. Por outro lado, revelam uma perceção de envelhecimento positivo face ao “Controlo positivo”. Todavia, não existem diferenças estatisticamente significativas em nenhuma das dimensões da Perceção de envelhecimento, à exceção das

Representações emocionais.

Assim, pode inferir-se que, globalmente, a Perceção de envelhecimento não é influenciada pelo nível de escolaridade. Contudo, os idosos com escolaridade mais baixa (1º 2º e 3º CEB) são aqueles que evidenciam maior nível de emoções negativas de preocupação, ansiedade, depressão, zanga, medo e tristeza relativamente à experiência de envelhecimento.

Pela análise dos respetivos dados da Perceção do envelhecimento em função da

Perceção do estado de saúde dos idosos, foram encontradas diferenças estatisticamente

emocional” e “Consequências negativas” do envelhecimento. São os idosos com perceção de

saúde negativa que têm uma representação do envelhecimento e da idade como sendo uma experiência crónica e permanente e que evidenciam respostas emocionais negativas, resultando em menor bem-estar subjetivo. Os participantes com perceção de saúde positiva apresentam ao nível do “controlo negativo” e das “Consequências positivas”, maior bem- estar subjetivo associadas ao envelhecimento.

Finalmente podem-se observar diferenças significativas ao nível da escala da

Identidade pois, os idosos com perceção de saúde positiva (M = 52.37) consideram que as

mudanças estão relacionadas com o estado de saúde se devem ao facto de estar a envelhecer. Globalmente, a perceção do estado de saúde influencia a perspetiva do envelhecimento (2 = -3.026; p =.002). Os resultados coincidem com o verificado em vários estudos (Chasteen, 2000; Demakakos et al., 2007; Kotter-Grünh et al., 2009; Levy et al., 2002) que demonstram que as autoperceções do envelhecimento se associam com diversas dimensões da saúde e do nível de funcionalidade, pelo que autoperceções mais negativas se relacionam com maior fragilidade física e deterioração no âmbito da saúde, bem como com indicadores de um desenvolvimento mais negativo, durante a velhice.

No estudo efetuado por Ron (2007), observa-se uma relação entre as atitudes negativas em relação à idade avançada e a avaliação subjetiva do estado de saúde dos indivíduos. Os que descreveram o seu estado de saúde de forma negativa apresentavam mais atitudes e perceções do envelhecimento negativas do que os sujeitos que definiram a sua saúde como boa ou excelente.

Os resultados obtidos num estudo efetuado por Lourenço (2012) sugerem que os indivíduos que avaliam mais positivamente o seu processo de envelhecimento (valores mais elevados nas escalas associadas a uma autoperceção do envelhecimento mais positiva) que apresentam menos sintomatologia depressiva. Inversamente, os indivíduos que não avaliam tão positivamente o seu processo de envelhecimento (valores mais baixos nas escalas associadas a uma autoperceção do envelhecimento mais positiva) apresentam mais sintomatologia depressiva.

Os resultados demonstram o importante papel dos recursos psicológicos e das perceções subjetivas e sugerem a necessidade de considerá-los no planeamento de intervenção.

Os inquiridos com imagens negativas ao nível da “Incompetência relacional e

baixa, ou seja, tendem a apresentar valores superiores nas imagens mais negativas da velhice, e os que apresentam imagens positivas de “Maturidade relacional e cognitiva” são os do ensino secundário e superior. Estes resultados podem ser justificados de acordo com Cerqueira (2010) pelo facto de os inquiridos que possuem menos informações sobre o processo de envelhecimento encararem as mudanças como inevitáveis, inalteráveis e não passiveis de mudança. Todavia, pela observação dos resultados apurados, constata-se que não há diferenças estatisticamente significativas em nenhuma das dimensões consideradas (p>.05). Deste modo, verifica-se que as imagens da velhice e do envelhecimento não são influenciadas pela escolaridade dos idosos.

Estes resultados vão ao encontro de Cerqueira (2010), quando refere que não há uma ligação direta entre as imagens da velhice e envelhecimento e a escolaridade, mas indica haver uma maior propensão para se viver condições de frustração quando existe pobreza ou baixo estatuto social, geralmente relacionados com baixa escolaridade.

Os dados da Imagem de velhice em função da Perceção do estado de saúde dos idosos indicam que os idosos que revelam uma perceção de saúde negativa apresentam imagens negativas de Incompetência relacional e cognitiva (uma pessoa velha é triste, sente menos emoções, é doente, tem pouca saúde física e psicológica) e de Dependência física e emocional

e antiquado (a velhice é uma fase da vida especialmente difícil (aproximação da morte,

doenças, solidão). Já os idosos com perceção de saúde positiva apresentam imagens positivas de Maturidade relacional e cognitiva (a velhice é uma fase boa da vida, mais maturidade e tempo para disfrutar as coisas boas da vida). Contudo, não é possível identificar diferenças estatisticamente significativas em nenhuma das subdimensões da Imagem da velhice e

envelhecimento (p>.05). Assim, as imagens da velhice e envelhecimento não são

influenciadas pelo estado de saúde dos idosos.

Num estudo realizado por Macia, Chapuis-Lucciani, e Boetsch (2007, cit. in Cerqueira, 2010), analisou-se a relação entre as imagens sociais da velhice, a autoestima e autopercepção da saúde, em indivíduos entre os 60 e 92 anos. Os dados sugeriram que as variáveis sociodemográficas não influenciavam as imagens da velhice, o que é consistente com os resultados do presente estudo.

Contudo, Cerqueira (2010) alerta que as imagens já eram influenciadas pela personalidade e história de vida, determinando uma relação entre o velhismo sentido e a saúde autoapercebida: quanto maior o nível de velhismo sentido, pior a condição de saúde autoapercebida.

Relativamente à influência do género, Sousa e Cerqueira (2006, cit. in Silva, 2011) defendem que são as mulheres quem tende a vivenciar de forma mais negativa o processo de envelhecimento e a serem mais estigmatizadas em termos sociais pelas alterações da velhice. As mulheres idosas tendem a sentir-se menos atraentes e com menor autoestima do que os homens e a autoatribuir-se a imagem de incapacidade e dependência. Porém, como já referido no nosso estudo, não se encontraram diferenças de género.

6. Autoperceção da idade, Perceções do envelhecimento e Imagens do