• Nenhum resultado encontrado

1. Velhice e envelhecimento: Distinção de conceitos

1.2. Envelhecimento

1.2.2. Envelhecimento demográfico em Portugal

Portugal não está imune a este cenário geral de envelhecimento populacional. Com efeito, algumas estimativas recentes apontam que a população portuguesa é a sétima mais envelhecida do mundo (Bandeira, 2012). Segundo Azevedo (2011), “Portugal sofreu desde os

anos 60 importantes modificações demográficas resultado da diminuição da taxa de fecundidade, da taxa de mortalidade e também dos surtos emigratórios das décadas de sessenta e setenta” (p. 33), que se consubstancia no envelhecimento da população.

O peso dos idosos – e dos grandes idosos – na estrutura populacional tem vindo a aumentar de forma significativa. A idade média da população portuguesa era, em 2010, de 41 anos, podendo em 2050 conquistar os 50 anos (Rosa, 2012), sendo a esperança média de vida à nascença de 79,20 anos (76,14 para os homens e 82,05 para as mulheres) e a esperança média de vida aos 65 anos de 18,47 anos (16,64 para os homens e 19,89 para as mulheres), o que significa um prolongamento do tempo de vida comparativamente a décadas anteriores (INE, 2011). O aumento da esperança média de vida resulta dos progressos da nossa sociedade, em áreas como a saúde, a educação, a nutrição, as condições de trabalho e de vida (CES, 2013).

A população portuguesa apresenta atualmente, e pela primeira vez na sua história, uma população idosa mais numerosa que a população jovem. De acordo com os dados do INE (2011), em Portugal, a população jovem (0-14 anos) representa 15% da população e a população idosa (65 e mais anos) representa 19% da população residente. Mais concretamente, o país conta com mais de 2 milhões de pessoas nesta faixa etária. Por outro lado, o grupo dos mais idosos (80 e mais anos) representa quase meio milhão da população. Segundo as projeções efetuadas pelo INE (2011) em relação ao índice de envelhecimento nos próximos tempos (entre 2010 e 2055) o número total de pessoas idosas em Portugal vai aumentar cerca de 40%, ultrapassando os 3 milhões, conjeturando-se um acréscimo de 80% da população com mais de 75 anos. Porém, prevê-se uma estagnação do índice de envelhecimento para o ano de 2060, estas projeções podem ser visualizadas no Gráfico 1.

De acordo com o INE (2011), a relação entre o número de idosos e jovens, traduziu-se, em 2010, num índice de envelhecimento de 129, valor que traduz que para cada 100 jovens existem 129 idosos.

Os dados divulgados pelo INE (2011) salientam o duplo envelhecimento da nossa sociedade. A nossa pirâmide etária é caraterizada por um alargamento do topo e um estreitamento da base, sendo que entre 2000 e 2011 houve uma redução da população jovem e uma contração progressiva da população em idade ativa (15-64 anos) e um aumento da população idosa, e dos grandes idosos, como demonstra o Gráfico 2.

Gráfico 2. Pirâmide etária da população residente por sexo, 2001 e 2011: Censos (2011) - Resultados provisórios

Tal como se verifica na generalidade dos países, a população idosa tem, também em Portugal, uma percentagem superior de mulheres, devido à maior longevidade comparativamente com os homens e à maior mortalidade masculina (Carrilho & Patrício, 2008). No grupo etário dos 65 ou mais anos prevalecem as mulheres, 11%, face aos homens, 8% (INE, 2011). Contudo, o facto de as mulheres viverem mais anos que os homens, não significa que a vivam com saúde, já que a esperança média de vida sem incapacidades é mais reduzida no sexo feminino que no masculino (Azevedo, 2011).

Apesar de se ter verificado, nas últimas décadas, uma evolução do nível de instrução da população, este ainda é muito baixo. No final de 2011, mais de uma em cada três pessoas idosas não tinha qualquer escolaridade completa, sendo este facto mais visível no género feminino. Além disso, a nossa população idosa carateriza-se por ter baixos rendimentos,

isolamento físico e social, baixa participação social e cívica, a que se somam as condições desfavoráveis de saúde, habitação e conforto. Outro dado relevante é que a maior parte da população vive com o seu cônjuge, apesar da elevada taxa de viuvez, e que a maioria da população está reformada e situa-se na categoria de doméstica (INE, 2011).

Outra característica do envelhecimento no nosso país é o da assimetria geográfica, ou seja, o processo de envelhecimento da população ocorreu em todas as regiões do país, sendo, contudo, as regiões do Alentejo e Centro as mais envelhecidas. No lado oposto encontram-se as regiões Autónomas dos Açores e da Madeira. Estes dados encontram-se representados no Gráfico 3.

Gráfico 3. Índice de envelhecimento por região (NUTS II), 2011: INE, 2011

O envelhecimento demográfico também se faz sentir no grupo de idades ativas (15-64 anos) que, atualmente, representa 66% da população residente em Portugal (Rosa, 2012). Segundo o índice de sustentabilidade potencial apurado nos Censos de 2011, existem 3.4 ativos por cada indivíduo idoso (65 e mais anos) (INE, 2011), bem diferente do que sucedia nos anos 60, altura em que existiam 8 pessoas em idade ativa por cada idoso. Provavelmente, em 2060, o número de pessoas em idade ativa por pessoa em idade idosa seja inferior a dois (Rosa, 2012).

Dada a dimensão e visibilidade do envelhecimento demográfico atual, este é o fenómeno social mais marcante das últimas décadas (Azevedo, 2011). É um dos maiores êxitos da humanidade das sociedades modernas conseguindo «dar mais anos à vida» (Dias & Rodrigues, 2012; Fernandez-Ballesteros, 2002, in Paúl & Fonseca, 2005) tornando-se também um dos seus maiores desafios devido às suas consequências sociais, económicas e políticas.

De acordo com a OMS (2005, cit. In Jacob (2007) ”O envelhecimento da população é, antes de tudo, uma história de sucesso para as políticas de saúde pública, assim como para o desenvolvimento social e económico do mundo” (p. 15).

Rosa (2012), refere que “o futuro da sociedade, face ao envelhecimento demográfico, dependerá do modo como o programarmos” (p. 83). Assim, o aumento de pessoas idosas só se torna preocupante porque se desenvolve num contexto desfavorável associado à diminuição da taxa de natalidade, à crescente instabilidade nos laços familiares, à indisponibilidade da família em dar apoio efetivo aos seus idosos, à crise dos sistemas de proteção social, à crescente despersonalização das relações pessoais, à exclusão dos idosos dos sectores produtivos da sociedade, contexto em que se agravam as condições de vida das pessoas mais velhas (Pimentel, 2005).

Gonçalves e Carrilho (2007) mencionam que as recomendações internacionais vão no sentido de encarar o envelhecimento da população, como uma oportunidade de potenciar a experiência e capacidades dos idosos de forma a poderem intervir na vida em sociedade.

Neste contexto, Fernandez-Ballesteros (2002, in Paúl & Fonseca, 2005) defende ser necessário promover um envelhecimento ótimo, tendo em atenção que os idosos constituem um grupo heterogéneo e, como tal, existem diversas formas de envelhecer. O alcance deste objetivo passa, pois, pela prevenção de um envelhecimento patológico e pela melhoria de diversas condicionantes individuais e sociais suscitáveis de promover “o envelhecimento com êxito, competente, ativo, satisfatório” (p. 287).