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Capítulo III – A velhice e o envelhecimento no olhar dos outros: Imagens da velhice e

1.3. Imagens mentais, perceções e estereótipos

1.3.1. Imagens sociais

A imagem social representa, segundo Cerqueira (2010), “a forma como um objecto existe no universo cognitivo do indivíduo (vertente psicológica) e o juízo de valor que ele faz sobre as características e propriedades atribuídas a esse mesmo objeto (vertente social) ” (p. 104). A mesma autora refere, também, que as imagens sociais são de natureza psicossocial e assumem-se como um fenómeno coletivo, já que, por um lado, o indivíduo produz uma imagem do objeto, entende-o, interpreta-o e faz inferências baseando-se em informações prévias e, por outro lado, a mesma imagem é partilhada por outros indivíduos que estão expostos a fontes de informação idênticas.

No conceito de imagem social incluem-se outros conceitos, tais como as atitudes (dimensão afetiva), os preconceitos (generalização), a discriminação (dimensão

comportamental) e a representação social (generalização) (Cerqueira, 2010; Ribeiro, 2007) (cf. Quadro 1).

Quadro 1. Imagem social: preconceito, atitude, discriminação e representação social

Preconceito

Generalização inflexível sobre e perante um

Indivíduo/grupo, baseada na pertença a um determinado grupo e não nas suas características pessoais

Atitude

Predisposição do indivíduo para reagir a uma dada situação ou objeto, em função do valor que lhe atribui (dimensão afetiva)

Discriminação Manifestação do preconceito através de comportamentos (dimensão comportamental)

Representação social Apreensão e interpretação do meio social, dando origem à imagem social (generalização)

Fonte: Adaptado de Cerqueira (2010, p.105)

Como preconceito entende-se um “juízo” preconcebido manifestado na forma de uma atitude ”discriminatória” favorável ou desfavorável em relação a membros de um grupo baseada sobretudo no facto da pertença a esse grupo e não necessariamente em caraterísticas particulares de membros individuais (Neto, 1998; Wikipédia, 2006). Costuma indicar desconhecimento depreciativo de alguém, ou de um grupo social, ao que lhe é diferente. As formas mais comuns de preconceito são a social, racial e de género (Wikipédia, 2006).

Monteiro e Santos (1999, cit. in Catita, 2008, p. 54) definem atitude como “uma tendência, uma predisposição para responder a um objeto, pessoa ou situação de uma forma positiva ou negativa. A atitude implica um estado que orienta o indivíduo a reagir de determinado modo”. Os mesmos autores mencionam que a atitude comporta três componentes: i) a componente cognitiva, que inclui um conjunto de crenças sobre um objeto, sendo a crença uma informação que aceitamos sobre uma situação, um acontecimento ou um conceito; ii) a componente afetiva, em que a pessoa desenvolve sentimentos positivos ou

negativos, estando ligada ao seu sistema de valores; e iii) componente comportamental, que implica que a pessoa se comporte de determinada forma, ou seja, todo o conjunto de reações de um sujeito relativamente ao objeto da atitude (Monteiro & Santos, 1999 cit. in Catita, 2008). De acordo com Neto (1998), as atitudes podem-se formar progressivamente ao longo do processo de desenvolvimento humano, ou então, ganham forma através de alguma situação marcante para a pessoa. No surgimento das atitudes, o autor refere que não se pode esquecer a influência de outras pessoas, como os pais, os primeiros agentes de socialização, bem como outros meios, tais como a comunicação social, os companheiros e os grupos de referência (Neto, 1998).

A discriminação como imagem social refere-se a atitudes que prejudicam os sujeitos

pertencentes a determinados grupos sociais. Engloba uma diferenciação injusta e arbitrária, com base na crença de que os indivíduos pertencentes a determinadas categorias possuirão características indesejáveis (Ribeiro, 2007). Trata-se, assim, de uma manifestação comportamental do preconceito e a atitude tem lugar depois de se percecionar alguém de modo negativo (ou, muito raramente, positivo) somente por pertencer a um grupo (Neto, 1998; Cerqueira, 2010). Pode assumir diferentes moldes para com o alvo do preconceito: evitamento, exclusão ou agressão. O género, etnia, raça, nacionalidade e religião têm sido, ao longo da História, algumas categorias relativamente às quais se verificou discriminação (Ribeiro, 2007).

A definição de representação social quase que se confunde com a de imagem social. Contudo, diferenciam-se uma vez que “a representação social é um fenómeno de generalização, produtor de imagens sociais. A representação é em si mesma um processo enquanto que, a imagem social é um produto” (Cerqueira, 2010, p.112). A autora refere também que a imagem social é estabelecida pelo processo de perceção e interpretação que compõem a representação social, uma vez que o conjunto cognitivo, que constitui o conteúdo da representação social, permite apreender e interpretar o meio social (o que dá origem à imagem social). Porém, quando a imagem social já se encontra relacionada com um dado objeto, não é suscetível de ser transferida para outro, enquanto que, uma representação social já permite esse tipo de generalização.

As representações sociais compreendem um sistema de interpretação da realidade constituído por processos sociocognitivos, com implicações nas relações dos indivíduos com o mundo, nas suas condutas e nos seus comportamentos no meio social (Herzlich, 2005, cit. in Ferreira, Maciel, Silva, Sá, & Moreira, 2010). Em relação ao funcionamento das

representações sociais, Moscovici (2007, cit. in Ferreira et al., 2010) evoca dois processos fundamentais: a ancoragem e a objetivação. Este autor refere que objetivar significa transformar uma noção abstrata em algo concreto, tornando-a palpável e objetiva, dando uma forma específica ao conhecimento que se tem a seu respeito com a finalidade de reproduzir algo não-familiar em algo que pode ser compreendido e controlado. Já a ancoragem é definida como o processo de classificar informações sobre um objeto social em relação a estruturas de conhecimento anteriormente existentes, ligando as representações sociais a uma memória coletiva, a contextualização histórica. Moscovici (2009, cit. in Ferreira et al., 2010) destaca que, mais concretamente, tudo se ordena na representação a partir de um nó figurativo, que condensa todas as imagens, todas as noções ou os julgamentos que um grupo ou uma sociedade gera ao longo do tempo. Jodelet (2002, cit. in Paulino, 2007, p.74) reforça esta ideia referindo que “são uma forma de conhecimento socialmente elaborado e compartilhado, com um objetivo prático e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social”, ou seja, as representações sociais são construídas com base nas informações que circulam pela sociedade, nas relações sociais e no movimento do grupo no qual nascem, transformam-se e podem extinguir-se, sendo importante conhecer o contexto em que são produzidas para que sejam compreendidas (Jodelet, 2005, cit. in Ferreira et al., 2010).

A Teoria das Representações Sociais, cuja contribuição tem sido significativa para a compreensão de diversos fenómenos, apresenta-se como um referencial importante para o estudo dos significados atribuídos ao envelhecimento e à velhice. No que concerne aos idosos, a exploração das suas representações poderá permitir o contato com imagens e conteúdos que expressam, de certa forma, as suas necessidades psicossociais (Ferreira et al., 2010).