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2 RELAÇÕES ENTRE O DIREITO PENAL E O DIREITO DO TRABALHO NA

2.4 Autores europeus que tratam da relação entre o Direito do Trabalho e o

Em sua obra, Leñero (1948) traça o quadro comparativo entre os diversos ramos da ciência jurídica a partir da clássica divisão entre o Direito Privado e o Direito Público. Para o autor, pressupondo o “carácter civilista” do Direito laboral e, pois, integrante daquele, seriam evidentes seus contatos com o Direito Civil e o Direito Comercial e despiciendos maiores aprofundamentos.

As conexões com os ramos do Direito Público, ao seu turno, decorreriam da “tendencia característica de nuestra época de la socialización de instituciones dominadas originariamente por la idea del interés privado, al que hoy se sobrepone en toda la vida jurídica, el del bien común” (LEÑERO, 1948, p. 42).

hemos de admitir que, dado el carácter especial de nuestro Derecho Laboral, su contenido, es decir, el trabajo, ha de ser, necesariamente y en parte, objeto del Derecho Público, que estudia en último término la seguridad del bien común, al que se halla vinculado aquél por su transcendencia en la vida económica de la nación (LEÑERO, 1948, p. 43).

Valverde, Gutiérrez e Murcia (1997) inserem o Direito Penal no estudo do Direito do Trabalho sob a perspectiva do ordenamento jurídico laboral vigente, como um dos modos por meio dos quais o Poder Público intervém na regulamentação do Direito do Trabalho.

De acordo com os autores, além das relações individuais e coletivas do trabalho, o ordenamento jurídico trabalhista também cuida de outras matérias, marcadas pela intensa intervenção estatal, como o são as políticas de emprego e de formação ocupacional, de redução dos riscos do trabalho e as normas de garantia jurisdicional dos direitos e deveres trabalhistas. As leis processuais e os delitos relacionados ao trabalho integram esta última categoria de relações, como modalidade de normas que reforçam a efetividade da ordem jurídica de proteção aos trabalhadores.

O Direito Penal interfere no Direito do Trabalho, orientado pelo princípio da intervenção mínima, apenas nos casos mais graves, quando uma conduta de desrespeito às normas trabalhistas tem potencial para produzir efeitos particularmente danosos; as demais infrações seriam objeto de sanção administrativa.

Adotando a mesma posição teórica da doutrina clássica esplanada até agora no presente trabalho, os autores espanhóis explicitam as condutas tipificadas como crimes e classificam-nas em quatro grupos, de acordo com o objeto de proteção jurídica: normas que impõem condições de trabalho ilegais, normas definidoras de condições ilegais de recrutamento e emprego de trabalhadores, normas penais protetoras da liberdade de trabalho e dos direitos fundamentais de ação coletiva e, por último, as infrações das regras de segurança e higiene no trabalho (VALVERDE, GUTIÉRREZ e MURCIA, 1997, p. 161). Mas não é só. Os autores também registram que

La descripción legal de los delitos laborales se caracteriza por una acusada complejidad’. Los comportamientos de infracción tipificados no se definen solamente atendiendo a la naturaleza de las normas infringidas o de los derechos vulnerados, sino que exigen la concurrencia de determinadas circunstancias subjetivas u objetivas: dolo o imprudencia grave engaño o abuso de situación de necesidad, peligrosidad especial de la conducta, contumacia. Esta complejidad de los comportamientos constitutivos de delito

laboral es manifestación y consecuencia de la dualidad de mecanismos sancionadores del sistema adoptado por el legislador español para reforzar el cumplimiento de la normativa laboral. La tipificación penal resulta, en realidad, de añadir notas o requisitos a conductas de infracción que, de faltar unas u otros, serían objeto de sanción administrativa (VALVERDE, GUTIÉRREZ e MURCIA, 1997, p. 161).

Pinto (1996, p. 25), nas notas introdutórias de sua obra, alerta o leitor da importância de uma visão interdisciplinar para ingressar no estudo do Direito do Trabalho com acuidade científica suficiente a perceber o trabalho como “centro dos mais agudos problemas económicos, sociais, políticos e ideológicos dos nossos dias”.

Para identificar as interconexões do Direito do Trabalho com os diferentes ramos do conhecimento jurídico, o autor baseia-se no fato de que “nem todas as normas de algum modo directa ou indirectamente referíveis ao trabalho subordinado fazem parte do corpo científico do direito do trabalho” (PINTO, 1996, p. 98).

Com base nesta assertiva, Pinto (1996) delineia as fronteiras entre normas de ramos diversos do Direito, com o fim de permitir o adequado tratamento jurídico das relações trabalhistas. O autor explica que o objeto científico não é repartido porque mais de uma disciplina científica dele se apodera e entre elas é fixada uma fronteira, ao contrário, ele se mantém em sua inteireza, divergindo em cada qual a perspectiva científica que orienta seu estudo.

O trabalho subordinado, como objeto do Direito trabalhista, possui disciplina jurídica por parte também do Direito Constitucional, Civil, Comercial, Internacional, Penal, Processual, Administrativo, da Segurança Social, tomada para pesquisa sempre que o operador do direito laboral entender necessário, a fim de construir um saber integrado.

Pérez (1996) tem uma preocupação especial com a resolução do problema da unidade dogmática e, por conseguinte, a questão da autonomia do Direito do Trabalho.

Para tanto, toma por base o agrupamento dos ramos da ciência jurídica em dois blocos: os ramos verticais, homogêneos porque construídos acerca de uma matéria ou uma função específica, e os ramos horizontais, cujas normas direcionam-se a certo grupo de pessoas “cuya relevancia jurídica produce una normativa propia” (PEREZ, 1996, p. 55).

De acordo com esta classificação 1, os ramos horizontais do Direito se caracterizam por interpenetrar os diversos ramos verticais, aproveitando deles diferentes institutos, a fim de regulamentar, com plenitude, as diferentes situações jurídicas em que o sujeito central do microssistema normativo está inserido.

Dadas as peculiaridades do Direito do Trabalho, o autor conclui pela inexistência de unidade dogmática absoluta, exatamente por ser um ramo horizontal, marcado por uma interdisciplinaridade intrínseca, já que absorveu técnicas e instrumentos de quase todos os outros ramos do Direito. Para ser mais específico, Pérez (1996) confronta o Direito do Trabalho com outras disciplinas jurídicas e explicita o resultado da filtragem que aquele opera, ao exportar conceitos e institutos e adaptá-los às especificidades das relações que disciplina.

O ponto de partida do autor, todavia, dá indícios de suas conclusões a respeito do tema: se a unidade dogmática do ordenamento jurídico-laboral é o fundamento de sua prospecção em busca das relações que o Direito Laboral mantém com outros ramos, evidentemente, haveria de encontrar e referir-se, apenas, aos intercâmbios de regras, conceitos e institutos jurídicos. Tal conclusão é evidenciada com a síntese do próprio autor:

De modo que, con modelizaciones o peculiaridades, en confrontación con el Derecho Civil aparecerá el contrato de trabajo como modalización, versión modalizada, del arrendamiento civil de servicios; en relación con el Derecho Administrativo general, la Administración Laboral, llamada a organizar el intervencionismo público en materia laboral; respecto al Derecho Penal y el Derecho sancionador general, el Derecho Penal y Derecho sancionador del trabajo; y, en fin, en confrontación con el Derecho Procesal y el llamado Derecho de conflictos, los procedimientos de solución de los conflictos de Trabajo (PEREZ, 1996, p. 62).

2.5 Autores brasileiros que tratam das relações do Direito do Trabalho com