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Avaliação Ambiental Estratégica para o Setor Sucroalcooleiro

CAPÍTULO 4 – I NSTRUMENTOS DE E STUDOS A MBIENTAIS PARA O S ETOR

4.2 Avaliação Ambiental Estratégica para o Setor Sucroalcooleiro

Tem se avolumado a concepção de que os instrumentos tradicionalmente disponíveis pela legislação ambiental não tem se mostrado completamente adequados para o alcance do meio ambiente sustentável.

Baseados no conhecido sistema de comando e controle, tais instrumentos, em sua maioria, pretendem prevenir e resolver os problemas ambientais. Contudo, não se baseiam em planos e tomadas de decisões estratégicas e mais amplas, quase sempre restringindo-se a observação de questões técnicas, momentâneas e pontuais.

Nesse sentido, a legislação ambiental, notadamente as resoluções Conama, quando da avaliação de um determinado empreendimento, não tem se mostrado suficientes a responder aos anseios e necessidades reais da sociedade e do desenvolvimento sustentável, na medida em que não contemplam muitos aspectos estratégicos a exemplo da localização do empreendimento avaliado em relação a todos os demais localizados em seu entorno ou até mesmo em locais distantes.

Na verdade, os instrumentos legais disponíveis praticamente iniciam seu papel quando um empreendimento ou atividade, se classificado como potencialmente causadora

de significativa degradação apresenta o seu projeto e requer as licenças ambientais submetendo-se ao procedimento do licenciamento ambiental.

Com a Avaliação Ambiental Estratégica – AAE, o que se propõe é uma visão mais ampla e ainda anterior do negócio, a qual possibilite antever questões ambientais, econômicas e sociais advindas do negócio avaliado, tais como localização, saturação, atrativos, investimentos, impactos e retorno econômico do negócio, restrições, limites, sempre levando em conta uma visão ampliada de modo a considerar não somente o local e as proximidades do negócio, mas sim todos impactos diretos e indiretos possíveis.

A Avaliação Ambiental Estratégica envolve análises amplas e completas, as quais fomentarão tomadas de decisões sobre os caminhos a serem seguidos na busca do desenvolvimento sustentável. Quer se acreditar que a Avaliação Ambiental Estratégica – AAE deva se preocupar menos com os projetos colocados para aprovação dos órgãos ambientais competentes e mais com a implantação e seus respectivos impactos e influências no ambiente globalmente considerado.

Trata-se de verdadeira metodologia a ser pensada e observada para tomadas de decisões que visam à implantação de políticas que levem em consideração, de uma só vez, aspectos sociais, econômicos e, notadamente, os ambientais.

Não se trata apenas da avaliação das consequências ambientais do objeto estudado ou de determinada intervenção isoladamente considerada. É mais que isso, trata-se de avaliação ampliada e fomentadora de tomada de decisões estratégicas (alternativas) e integradoras das questões sócio-econômicas e ambientais.

A Avaliação Ambiental Estratégica há bastante tempo é discutida em vários países do mundo. Iniciou-se no final da década de 1969 quando da aprovação do NEPA (National

Environmental Policy Act) onde se ressaltava a necessidade de avaliação prévia dos possíveis negativos impactos ambientais. No velho continente há indicações do AAE na Inglaterra, Alemanha, Portugal,156 Holanda, Suécia, Dinamarca, Finlândia. Fora da Europa fala-se em AAE na Austrália, Hong Kong, África do Sul e aqui no Brasil, dentre outros mais. Ademais, a Avaliação Ambiental Estratégica tem sido adotada por instituições financeiras multilaterais, a exemplo do Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento, com o objetivo de avaliar as inúmeras alternativas de investimento, políticas e tomadas de decisões “para o fortalecimento da gestão ambiental e a definição de impactos cumulativos de projetos. Como nos últimos anos a redução da pobreza tem sido o principal objetivo dos organismos multilaterais de financiamento, a utilização da AAE

156 A Avaliação Ambiental Estratégica em Portugal é obrigatória desde a publicação do Decreto-Lei 232, de

auxilia no desenvolvimento de uma abordagem integrada dessas estratégias, frisado pelas Metas do Desenvolvimento do Milênio (MDM) e pelo WSSD como fundamental para o alcance das metas de redução da pobreza”.157

No Brasil, tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei 2.072, de 24 de setembro de 2003,158 o qual pretende incluir na Lei da Política Nacional do Meio Ambiente a obrigatoriedade da Avaliação Ambiental Estratégica para os órgãos da administração direta e indireta na formulação de políticas, planos e programas a serem por eles executados, conceituando-a como sendo o “conjunto de atividades com o objetivo de prever, interpretar, mensurar, qualificar e estimar a magnitude e a amplitude espacial e temporal do impacto ambiental potencialmente associado a uma determinada política, plano ou programa tendo em vista: I – a opção por alternativas tecnológicas ou locacionais que mitiguem os efeitos ambientais adversos; II – a proposição de programas e ações compensatórias dos efeitos ambientais adversos”.159

A Lei 6.938/81 ao descrever os seus instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente (artigo 9.º) não prevê a Avaliação Ambiental Estratégica. Contudo, dentre os seus treze incisos prevê instrumentos que muito se aproximam da AAE, dos quais se destacam o Zoneamento Ambiental160 e a Avaliação de Impactos Ambientais,161 denotando que a ideia há muito existe presente no ideário do legislador.

No Estado de São Paulo foi editada Resolução Consema 44, de 29 de dezembro de 1994, a qual previu a constituição de um Comissão de Avaliação Estratégica. Vale ressaltar que em São Paulo, a AAE tem como exemplo emblemático o caso do Rodoanel que teve, segundo a Deliberação Consema 27/2004,162 o documento denominado “Rodoanel Mario

Covas – Avaliação Ambiental Estratégica” incluído como parte integrante dos estudos ambientais pertinentes ao licenciamento ambiental.163

157 OBERLING, Daniel Fontana. Avaliação ambiental estratégica da expansão do etanol no Brasil: uma

proposta metodológica e sua aplicação preliminar. Dissertação de mestrado. Rio de Janeiro, março de 2008. p. 40-42. Disponível em:<http://www.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/daniel oberling.pdf>Acessado em 24.08.2009.

158 Projeto de lei do Deputado Federal Fernando Gabeira (PV-RJ), recebeu parecer favorável na Comissão de

Constituição e Justiça e de Cidadania. Disponível em: <http://www2.camara.gov.br/proposicoes>, acesso em 24.08.2009.

159 Art. 2.º, Projeto de Lei 2.072/2003. 160 Art. 9.º, II, Lei 6.938/81.

161 Art. 9.º, III, Lei 6.938/81.

162 Disponível em: <http://www.ambiente.sp.gov.br/rodoanel/deliberacao/del_27.pdf>, acesso em

24.08.2009.

163 “Outro caso é o do Estado da Bahia. A Lei 7.799, de 07.02.2001, instituiu a Política Estadual de

Administração dos Recursos Ambientais. O seu Regulamento (Dec. 7.967, de 05.06.2001), no Título IV, trata da Avaliação de Impactos Ambientais; no seu artigo 160 prescreve a AIA para as ‘obras, atividades e empreendimentos, públicos ou privados, bem como planos, programas, projetos e políticas públicas setoriais, suscetíveis de causar impacto no meio ambiente’. Já o art. 161 dispõe explicitamente sobre a AAE, verbis: ‘A

Na prática, o que se espera da efetiva aplicação da AAE é que a mesma se transforme em instrumento que possibilite previamente a antecipação e respectivas soluções dos potenciais efeitos relacionados ao usufruto dos recursos ambientais, através da capacidade de avaliar, considerar e induzir reflexões em relação aos impactos negativos e positivos do objeto estudado e que se pretende colocar em operação, sempre associadas a políticas, planos e tomadas de decisões adequadas ao desenvolvimento sustentável.

Assim, partindo do conceito e objetivos desenvolvidos a acima quanto a Avaliação Ambiental Estratégica – AAE, especificamente no agronegócio, poderíamos destacar inúmeros benefícios, tais como a avaliação e compreensão da expansão da fronteira agrícola, análise e soluções para utilização de áreas antropisadas, mitigação do uso dos recursos naturais, opções locacionais, fornecimento de informações prévias para o Estudo de Impactos Ambientais, saturação de áreas ou recursos naturais, possíveis vantagens e desvantagens econômicas e sociais, entre outras análises mais.

Em relação ao setor sucroalcooleiro, o Governo, desde a liberalização do mercado do açúcar e do álcool ocorrido definitivamente com a extinção do Instituto do Açúcar e do Álcool – IAA na década de 1990, somente tem controlado a quantidade de etanol adicionado na gasolina.

Entretanto, devido ao grande desenvolvimento do setor, mas, notadamente, diante da importância que possui o etanol como principal substituto dos combustíveis fósseis, além da capacidade de geração de energia com a queima do bagaço da cana-de-açúcar, não se pode desprezar a observação da Avaliação Ambiental Estratégica para o setor sucroalcooleiro.

É cediço que o consumo de energia aumenta a cada dia. A necessidade de susbstituição dos combustíveis fósseis se impõe como uma das medidas primordiais contra o aquecimento global e diminuição dos índices de poluição na atmosfera.

Tudo isso, aliado ao grande potencial de produção em terras brasileiras, também faz do setor sucroalcooleiro um dos caminhos viáveis para a tentativa de solucionar estes e outros problemas sócio-econômicos e ambientais. Porém, também é certo que o setor é potencialmente impactante, de forma que se faz necessário a equação entre o

Avaliação Ambiental Estratégica – AAE é um processo sistemático para se avaliar as conseqüências ambientais de políticas, planos e programas – PPPs, de forma a assegurar que sejam incluídas e apropriadamente consideradas no estágio inicial do processo de tomada de decisão, juntamente com os aspectos socioeconômicos’. Essa prescrição é detalhada logo a seguir (cf. Bahia – Nova legislação ambiental. Série Cadernos de Referência Ambiental. Salvador: CRA – Centro de Recursos Ambientais, 2001, v. 8)” (MILARÉ, Édis. Direito do ambiente cit., p. 402-403).

desenvolvimento do setor e seus impactos, servindo a Avaliação Ambiental Estratégica para a tomada de decisões de planos e políticas específicas para o setor.

Neste sentido não poderiam deixar de ser avaliados questões ambientais estratégicas como o uso e ocupação do solo, vocações regionais, disponibilidade hídrica, geração de emprego e renda, áreas destinadas ao plantio e ao desenvolvimento industrial das usinas, biodiversidade, as características dos biomas nacionais, impactos na qualidade e quantidade do solo, impactos na atmosfera, suprimento de alimentos e segurança alimentar, expansão de áreas agriculturáveis, aproveitamento de áreas antropisadas, entre outras avaliações importantes e preliminares ao próprio licenciamento ambiental de modo a auxiliar nas tomadas de decisões sobre o desenvolvimento do setor sucroalcooleiro.