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Protocolo Agroambiental do Setor Sucroalcooleiro

CAPÍTULO 5 – I MPACTOS A MBIENTAIS DO S ETOR S UCROALCOOLEIRO

5.2 As Usinas de Açúcar e Álcool e os Impactos relativos à Atmosfera

5.2.5 Protocolo Agroambiental do Setor Sucroalcooleiro

Em ação conjunta, o Governo do Estado de São Paulo, as Secretarias do Meio Ambiente e da Agricultura e Abastecimento e a União da Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo – UNICA,309 em 04 de junho de 2007, firmaram “Protocolo de Cooperação” para o desenvolvimento sustentável do setor sucroalcooleiro paulista.

Trata-se de documento de adesão voluntária, portanto, sem força cogente, que tem por objetivo “promover a cooperação técnica e institucional entre as partes de forma a criar condições que viabilizem, de forma objetiva e transparente, o desenvolvimento de um conjunto de ações para a consolidação do processo de desenvolvimento sustentável do setor sucroalcooleiro no Estado de São Paulo”.310

O referido documento, com vigência de 60 (sessenta) meses a contar da sua assinatura, ocorrida em 04 de junho de 2007, prorrogável por meio de aditivo,311 não prevê qualquer sanção pelo descumprimento de uma das partes, exceto a disposição de que a implementação do mesmo está condicionado ao integral cumprimento de todas as cláusulas pelos signatários, sendo que o descumprimento de uma delas, desobriga do cumprimento das demais.312

Pelo quanto disposto no documento firmado, os produtores e as indústrias da cana- de-açúcar que aderiram o protocolo deverão:313

309 “A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA) é a maior organização representativa do setor de

açúcar e bioetanol do Brasil. Sua criação, em 1997, resultou da fusão de diversas organizações setoriais do Estado de São Paulo, após a desregulamentação do setor no País. A associação se expressa e atua em sintonia com os interesses dos produtores de açúcar, etanol e bioeletricidade tanto no Brasil como ao redor do mundo. As 118 companhias associadas à UNICA são responsáveis por mais de 50% do etanol e 60% do açúcar produzidos no Brasil” Disponível em <http://www.unica.com.br/quemSomos/texto /show.asp?txtCode ={A888C6A1-9315-4050-B6B9-FC40D6320DF1>. Acesso em 27.03.2009.

310 Cláusula segunda do protocolo paulista. 311 Cláusula sexta do protocolo paulista. 312 Cláusula quinta do protocolo paulista. 313 Cláusula terceira do protocolo paulista.

“a) Antecipar, nos terrenos com declividade até 12%, o prazo final para a eliminação da queimada da cana-de-açúcar, de 2021 para 2014, adiantando o percentual da cana não queimada, em 2010, de 50 % para 70%;

“b) Antecipar, nos terrenos com declividade acima de 12%, o prazo final para a eliminação da queimada da cana-de-açúcar, de 2031 para 2017, adiantando o percentual da cana não queimada, em 2010, de 10 % para 30%;

“c) Não utilizar a prática da queima de cana-de-açúcar para fins de colheita nas áreas de expansão de canaviais;

“d) Adotar ações para que não ocorra a queima, a céu aberto, do bagaço de cana, ou de qualquer outro subproduto da cana-de-açúcar;

“e) Proteger as áreas de mata ciliar das propriedades canavieiras, devido à relevância de sua contribuição para a preservação ambiental e proteção à biodiversidade;

“f) Proteger as nascentes de água das áreas rurais do empreendimento canavieiro, recuperando a vegetação ao seu redor;

“g) Implementar Plano Técnico de Conservação do Solo, incluindo combate à erosão e a contenção de águas pluviais nas estradas internas e carreadores;

“h) Implementar Plano Técnico de Conservação de Recursos Hídricos, favorecendo o adequado funcionamento do ciclo hidrológico, incluindo programa de controle da qualidade da água e reuso da água utilizada no processo industrial;

“i) Adotar boas práticas para descarte de embalagens vazias de agrotóxico, promovendo a tríplice lavagem, armazenamento correto, treinamento adequado dos operadores e uso obrigatório de equipamentos de proteção individual; e

“j) Adotar boas práticas destinadas a minimizar a poluição atmosférica de processos industriais e otimizar a reciclagem e o reuso adequados dos resíduos gerados na produção do açúcar e etanol.”

Por sua vez, deverá o Poder Público estadual:314

“a) Fomentar a pesquisa para o desenvolvimento energético e econômico da palha da cana-de-açúcar;

“b) Apoiar a instalação de infra-estrutura logística sustentável para a movimentação de produtos da agroindústria da cana-de-açúcar no Estado, com ênfase nas exportações, visando a otimização dos modais de transportes e a redução do tráfego potencial de veículos pesados nas regiões metropolitanas e nos acessos aos portos;

314 Cláusula quarta do protocolo paulista.

“c) Conceder o certificado de Conformidade Agro-Ambiental aos produtores agrícolas e industriais de cana-de-açúcar que aderirem ao Protocolo e atenderem as Diretivas Técnicas constantes deste Protocolo; e

“d) Estimular a adequada transição do sistema de colheita de cana queimada para a colheita de cana crua, em especial para os pequenos e médios plantadores de cana, com área de até 150 hectares.”

Note-se que o conteúdo do protocolo firmado e as intenções assumidas extrapolam as regras da Lei estadual paulista 11.241/2002, que trata da eliminação gradual da prática da queimada, na exata medida em que, além de encurtar as metas de eliminação do fogo como técnica agrícola de despalhamento, trata de outras questões, tais como matas ciliares, embalagens de agrotóxicos, reciclagem, entre outras intenções, o que merece elogios.

Assim como aconteceu no Estado de São Paulo, o governo de Minas Gerais assinou juntamente com representantes do setor sucroalcooleiro do Estado protocolo com o estabelecimento de prazos objetivando a eliminação gradativa da queimada da palha da cana-de-açúcar.

O protocolo mineiro prevê a eliminação da prática agrícola de queimadas até 2014, através da implantação da colheita mecanizada. Para tanto, determina que nos empreendimentos instalados até o ano de 2008 seja eliminada a queima da palha nas áreas de plantio com declividade inferior a 12% (doze por cento) e no mínimo 80% (oitenta por cento) da cana de primeiro corte, alcançando a meta de 100% (cem por cento) até 2014. Nos empreendimentos que foram implantados até o ano de 2007, considerados ainda aqueles licenciados em data posterior, deverá ocorrer a implantação da colheita mecanizada em áreas com declive inferior a 12% (doze por cento), a qual deverá estar concluída também até o ano de 2014.

Iniciativas como a dos Estados de São Paulo e Minas Gerais em conjunto com representantes do setor sucroalcooleiro demonstram que a sustentabilidade social, econômica e, por conseqüência, ambiental, não depende exclusivamente de comandos legais cogentes e sancionadores, sendo possível a criação de termos de compromissos voluntários firmado entre os agentes envolvidos. Entretanto, há que se ressaltar a necessidade de comandos legais, pois servem de base e demonstram limites mínimos para tais tratativas voluntárias.