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CAPÍTULO 4 – I NSTRUMENTOS DE E STUDOS A MBIENTAIS PARA O S ETOR

4.3 Licenciamento Ambiental

4.3.3 Estudo de Impacto Ambiental – EIA

Em regra, a instalação ou operação de qualquer obra ou atividade de significativa degradação do meio ambiente está sujeita a análise e controle dos órgãos administrativos e judiciais. Isto porque necessário se faz o dimensionamento do impacto e da interação com o meio ambiente, objetivando minimizar eventuais danos ou até mesmo impedir o desenvolvimento da obra ou atividade analisada diante de sua potencialidade danosa.

Para que se possa fazer uma interpretação conceitual adequada do que vem a ser o “impacto ambiental”, faz-se necessário realizar uma interpretação do artigo 225, § 1.º, IV,

192 Consultar o site <http://www.ambiente.sp.gov.br-etanolverde>. 193 Artigo 6.º, parágrafo único, Resolução SMA 88/2008.

da Constituição Federal de 1988, o qual se refere ao impacto ambiental como sendo a “significativa degradação ambiental”.

Entretanto, dificuldade existe quanto a conceituação sobre o que vem a ser exatamente uma degradação “significativa” do meio ambiente, a qual dará ensejo a realização do Estudo de Impacto Ambiental, procedimento interno do processo administrativo de Licenciamento Ambiental, conforme suscita a nossa Constituição.

Em nosso entender, aos olhos da Constituição Federal brasileira, “impacto ambiental” não pode ser concebido como qualquer alteração do meio ambiente, mas deve representar efetiva, considerável e significativa degradação do meio ambiente, ou melhor, há que se apresentar como uma brusca e considerável alteração de natureza prejudicial e negativa à qualidade de vida, ou ainda deve representar verdadeira alteração que possa descaracterizar o bem em si ou a sua função ecológica.

PAULO AFFONSO LEME MACHADO esclarece que significativo “(...) é o contrário de

insignificante, podendo-se entender como a agressão ambiental provável que possa causar dano sensível, ainda que não seja excepcional ou excessivo”.195

Cumpre ressaltar que antes mesmo da vigência da Constituição Federal de 1988 o ordenamento nacional já contava com a recepcionada Resolução CONAMA 1/86 que desde então conceitua, em seu artigo 1.º, o impacto ambiental como sendo a alteração das condições ambientais resultantes de alguma atividade humana que venha a afetar a saúde, o bem-estar da população, a segurança, as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente, as atividades sociais e econômicas, a fauna e a flora, os recursos naturais.

Enfim, impacto ambiental significativo é aquele que altera a característica natural do bem e sua função ecológica considerada em sentido amplo, alterando o meio ambiente natural, artificial, social, cultural, de forma a obrigar o interessado no desenvolvimento da obra ou da atividade impactante a tomar previamente as medidas cabíveis para o desenvolvimento do seu empreendimento.

A Constituição Federal de 1988, ao tratar do meio ambiente em capítulo específico, exigiu, como exposto anteriormente, estudo prévio de impacto ambiental para todas as obras ou atividades potencialmente causadoras de significativa degradação ambiental.196

Assim como deve ser, a Constituição estabeleceu regra geral, deixando para a legislação infraconstitucional o regramento do comando constitucional, o qual, na realidade, já existia na Lei da Política Nacional de Meio Ambiente (Lei 6.938/81), que

195 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 1996. p.

137.

previu a Avaliação de Impactos Ambientais (AIA) e o Licenciamento Ambiental de atividades potencialmente causadoras de significativa degradação ambiental como instrumentos viabilizadores da tutela estatal do meio ambiente.197

Dentro dessa política e como modalidade de Avaliação dos Impactos Ambientais, surgiu o Estudo de Impacto Ambiental – EIA, o qual tem se mostrado como a avaliação de maior importância para a tutela do meio ambiente. Trata-se de procedimento administrativo prévio e obrigatório consubstanciado em estudo técnico realizado por equipe multidisciplinar competente, exigível das atividades potencialmente lesivas ao meio ambiente e que tem por escopo a prevenção e o monitoramento dos potenciais danos ambientais.

Assim, a doutrina especializada tem considerado o Estudo de Impacto Ambiental – EIA como um mecanismo de planejamento de obras e atividades que, no desenvolver de sua atividade ou obra, possa repercutir negativamente no meio ambiente e na qualidade de vida da sociedade.

Nos dizeres de ÁLVARO LUIZ VALERY MIRRA:198 “O EIA, nestes termos, tem caráter

eminentemente preventivo de danos ao meio ambiente e deve, conseqüentemente, ser sempre analisado em conformidade com a orientação prevalecente nos diversos países, de priorizar atitudes prudentes em relação aos efeitos nocivos da atividade potencialmente degradadora, em atenção à evidência, hoje incontestável, de que os prejuízos ambientais são, freqüentemente, de difícil, custosa e incerta reparação”.

Segundo determina a Lei Federal 6.938/81, artigo 9.º, III, a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) realizada através do EIA, é um dos mais importantes instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, motivo pelo qual torna-se medida obrigatória e destinada a honrar seus objetivos primordiais expressos no artigo 2.º, caput, pelo qual, a política ambiental que deve ser adotada e perseguida pelo poder público e pela sociedade, deve sempre visar “à preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no país, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana”.

O papel fundamental e revolucionário do Estudo de Impacto Ambiental – EIA como modalidade de Avaliação de Impactos Ambientais (AIA) previsto pela Lei da Política Nacional do Meio Ambiente é destacado por ÉDIS MILARÉ nos seguintes termos: “Como

modalidade de Avaliação de Impacto Ambiental (AIA), o Estudo de Impacto Ambiental

197 Art. 9.º, III e IV, Lei 6.938/81.

198 MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Impacto ambiental: aspectos da legislação brasileira. 3. ed. São Paulo:

(EIA) é hoje considerado um dos mais notáveis instrumentos de compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente, já que deve ser elaborado antes da instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação, nos termos do art. 225, § 1.º, IV, da CF/1988. A obrigatoriedade desses estudos significou um marco na evolução do ambientalismo brasileiro, dado que, até meados da década de 1980, nos chamados projetos desenvolvimentistas, apenas eram consideradas as variáveis técnicas e econômicas, sem qualquer preocupação mais séria com o meio ambiente e, muitas vezes, em flagrante contraste com o interesse público. A insensibilidade do Poder Público não impedia que obras gigantescas altamente comprometedoras do meio ambiente, fossem erigidas sem um acurado estudo de seus impactos locais e regionais, com o que se perdiam ou se comprometiam, não raro, importantes ecossistemas e enormes bancos genéticos da natureza”.199

Destarte, com a evolução da legislação e da conscientização geral, o Estudo de Impacto Ambiental – EIA foi, pela primeira vez, introduzido na legislação brasileira pela Lei 6.803/80, que dispunha sobre as diretrizes básicas para o zoneamento industrial e sobre a autorização para implantação de zonas industriais destinadas ao recebimento e formação de pólos petroquímicos, cloroquímicos, carboquímicos e instalações nucleares.

Contudo, foi com o advento da Lei 6.938/81, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente, que o Estudo de Impacto Ambiental – EIA passou a fazer parte fundamental da legislação de proteção ao meio ambiente.

O artigo 9.º da referida lei, como dito, incluiu a avaliação de impactos ambientais dentre os instrumentos e mecanismos da Política Nacional do Meio Ambiente, enquanto seu artigo 8.º, incisos I e II, atribuiu ao Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA200 competência para determinar e estabelecer normas e critérios segundo os quais deveria se realizar o licenciamento de atividades potencialmente lesivas ao meio ambiente.

199 Direito do ambiente. A gestão ambiental em foco. Doutrina. Jurisprudência. Glossário. 5. ed. São Paulo:

RT, 2007. p. 362.

200 O CONAMA é composto por um plenário integrado por representantes da Administração Pública Federal,

dos Governos dos Estados, Distrito Federal e Municípios, de entidades nacionais representativas de empregados e empregadores da indústria, do comércio e da agricultura, entidades atuantes na área de prevenção, conservação e defesa de recursos naturais e organizações não-governamentais ligadas a preservação do meio ambiente, e por câmaras técnicas para assessoria do plenário (arts. 5.º e 8.º do Decreto 99.274/90).

O CONAMA, utilizando-se da competência que lhe fora outorgada pelo artigo 8.º e incisos da lei supra citada editou a Resolução 1/86 e estabeleceu os critérios e as diretrizes gerais e específicas para a elaboração do Estudo de Impacto Ambiental – EIA.

Posteriormente, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, o Estudo de Impacto Ambiental – EIA foi elevado à matéria constitucional como sendo um instrumento necessário a tornar efetivo o direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, exigível para a instalação de obra ou atividade potencialmente lesiva nos moldes já tratados.201