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Revisão bibliográfica Capítulo

Categoria 13 – Qualidade sanitária do ar 13.1 Garantia de uma ventilação eficaz

2.6. Revestimentos vinílicos ecologicamente corretos

2.6.6. Avaliação do Ciclo de vida (ACV)

A ACV é uma das técnicas de avaliação ambiental criadas para produtos e serviços. É uma avaliação de impactos ambientais ocorridos ao longo de toda a vida do material, desde a extração da matéria-prima até o uso e descarte, considerando também seu desempenho ambiental ao ser descartado ou ao ser reutilizado (MACEDO, 2011). Um dos benefícios da abordagem do ciclo de vida é que ele orienta os consumidores na aquisição de produtos e dá oportunidade para que estas pessoas se envolvam em estratégias conjuntamente com as empresas para o desenvolvimento ecologicamente correto do produto (UNEP, 2009).

De acordo com Macedo (2011), a metodologia de uma ACV geralmente consiste das seguintes etapas:

a) Definição de metas e escopo – que serve para especificar quais unidades de processo serão avaliadas e qual o material a ser estudado em função de seus usos, limites geográficos, temporais, técnicos e naturais. E essa etapa define o ciclo de vida a ser avaliado e detalha o processo de fabricação, uso e operação e descarte do material. A definição deste escopo é fundamental para alcançar um resultado confiável.

b) Análise de inventário - onde os sistemas estudados e seus limites são definidos e fluxogramas de processo são desenhados. O fluxograma representa o ciclo de vida do material e onde são contabilizadas entradas e saídas de matérias-primas, energia, água, resíduos e emissões.

c) Avaliação do impacto do ciclo de vida - é um processo quantitativo e/ou qualitativo que avalia os efeitos das cargas ambientais analisadas no inventário. Cada carga (emissão) é relacionada a um impacto ambiental. A caracterização dos impactos tem por objetivo interpretar essas emissões como efeitos, tornando os resultados compreensíveis, principalmente, para um público leigo; e

d) Avaliação dos melhoramentos – nesta etapa da ACV são identificadas opções para reduzir os impactos ambientais ou encargos do(s) sistema(s) no âmbito do estudo. A metodologia para a definição de metas e escopo e análise de inventário é compreendida e estabelecida, de acordo com a Sociedade de Toxicologia e Química Ambiental – SETAC (BANAR e ÇOKAYGIL, 2011).

No entanto, os profissionais da arquitetura não possuem informações suficientes e nem inventários confiáveis para tomar decisões em prol de ações sustentáveis, em especial na escolha de materiais de construção, sendo que no mercado existe uma gama enorme de produtos similares com propaganda pouco confiável. Com isto surge a preocupação destes profissionais e ususários pela existência de informações sobre a ACV dos diversos materiais, o que evidencia a importância de aprimorar as bases de dados de fácil interpretação, nestes casos (GUÍO, 2013).

2.6.6.1. Programa computacional BEES

De acordo com Silva (2003), existe uma série de ferramentas computacionais de suporte às decisões e auxílio ao projeto, especializadas no uso de ACV para medir ou comparar o desempenho ambiental de materiais e componentes de construção civil, como o ECO QUANTUM (Holanda), ECOPRO (Alemanha), EQUER e TEAM™ for Buildings (França), BEES (EUA), ATHENA™ (Canadá) e LCAID (Austrália). No

entanto, entre estes programas é o BEES que possui critérios e indicadores mais adequados aos estudos voltados para a nossa realidade.

O programa Building for Environmental and Economic Sustainability (BEES) foi desenvolvido em 1995 pelo National Institute of Standards and Technology / Green

Building Program - NIST. O seu objetivo é desenvolver e implementar uma

metodologia sistemática para a seleção de materiais construtivos e produtos utilizados na edificação que possua um balanço apropriado entre os desempenhos econômico e ambiental. Atualmente o programa está disponível na versão 4.0 (agosto de 2007) incluindo mais de 230 produtos/ materiais construtivos (LIPPIATT, 2007).

O autor ainda afirma que o BEES analisa o desempenho ambiental dos produtos de construção baseado na série ISO 14040, considerando todos os estágios da vida do produto: aquisição de matéria-prima, produção, transporte, instalação, uso e descarte. O desempenho econômico é avaliado com base no ASTM E917-05, Standard Practice

for Measuring Life-Cycle Costs of Buildings and Building Systems que considera os

custos relativos a investimento inicial, substituição, operação, manutenção e descarte. Ambos os desempenhos são analisados conjuntamente com base na ASTM E1765-

07, Standard Practice for Applying Analytical Hierarchy Process (AHP) to Multiatribute Decision Analysis of Investments Related to Buildings and Building Systems.

2.6.6.2. ACV dos revestimentos vinílicos

Parte das discussões no campo da sustentabilidade diz respeito à diminuição dos resíduos e emissões no ar (nos processos de fabricação e durante o uso de um produto) que possam gerar algum tipo de impacto ambiental. Em função disto, desde o final da década de 1980, pelo menos 26 avaliações de ciclo de vida foram publicadas sobre produtos de construção em vinil, muitos deles comparando produtos de vinil a produtos similares feitos de outros materiais. Produtos vinílicos, em geral, foram produzidos para terem desempenho favorável em termos de eficiência energética, isolamento térmico, baixa contribuição ao efeito estufa e durabilidade para menor uso dos recursos naturais (PVC, 2000).

No entanto, Thorton (2002) afirma que nas etapas no ciclo de vida da matéria-prima básica dos revestimentos em PVC, quantidades de substâncias tóxicas são formadas e liberadas para o meio ambiente. Sendo a primeira etapa a produção do polímero, no qual há formação de subprodutos organoclorados perigosos com a produção do gás cloro, além de dioxinas e furanos, gerados na síntese do etileno dicloreto (ethylene

dichloride-EDC) e do monovinil cloreto (vinyl chloride monomer-VCM), ambos

precursores do PVC. Seguido da etapa de uso dos componentes de PVC, que podem liberar substâncias como dioxinas, metais pesados e COVs, e no final deste ciclo, durante a fase de descarte, este polímero pode liberar mais dioxinas e organoclorados tóxicos e persistentes para o meio ambiente.

Se na etapa de uso, os componentes de PVC forem flexíveis, como é o caso dos revestimentos vinílicos, há um problema em especial, que é a presença de ftalatos que liberam substâncias químicas tóxicas, quando em altas concentrações, e são bioacumulativos no organismo humano (como é analisado no capítulo 2.4.3). Isto, além das substâncias tóxicas que são emitidas pelos produtos utilizados para a aplicação destes revestimentos nos pisos.

No caso de reciclagem, deve-se considerar que os aditivos tóxicos dos primeiros produtos podem se dispersar para os novos produtos. Como é o caso de um produto pós consumo em PVC, formulado com estabilizante térmico à base de chumbo ou cádmio, ou mesmo retardante de chama halogenado - aditivos associados a problemas nos rins, fígado, desregulamento da tiroide; problemas reprodutivos, neuro- desenvolvimento e câncer, que depois de descartado é reciclado e utilizado na formulação de um novo revestimento vinílico (SENJEN, 2012).

Na análise de um inventário do ciclo de vida do revestimento vinílico de piso, mostra que o consumo de energia primária para a produção deste componente é 116 MJ (77% de energia elétrica e 23% de energia térmica a partir de óleo combustível) (JÖNSSON et al., 1997; BLANCHARD e REPPEB, 1998). Em um inventário de matérias-primas para a produção de pisos de vinil foi levantado que o peso específico do revestimento vinílico é de 1,3 kg /m² (JÖNSSON et al., 1997). Fórmula típica para o revestimento de vinilo foi considerado como 40% de PVC, 35% de calcário, 20% de plastificante e 5% de pigmentos (GÜNTHER e LANGOWSKI, 1997). Cloreto de

polivinila (PVC) é um dos principais constituintes do revestimento de vinil, e é produzido a partir de cloreto de sódio (NaCl) (57%) e óleo bruto (43%) (INSTITUTO DO PVC, 2015).

Na figura 32 pode ser observado um fluxograma, o qual é parte do estudo realizado por Jönsson et al. (1997) e que ilustra como é a avaliação do ciclo de vida de um revestimento vinílico de piso e suas etapas.

Figura 31: Exemplo de fluxograma de ACV de um piso vinílico Fonte: JÖNSSON et al. (1997)