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Sustentabilidade na seleção dos materiais de construção

Revisão bibliográfica Capítulo

Categoria 13 – Qualidade sanitária do ar 13.1 Garantia de uma ventilação eficaz

13.2. Controle de fontes de poluição

2.1.5. Sustentabilidade na seleção dos materiais de construção

Em um futuro próximo, a construção civil necessitará de uma quantidade expressiva de materiais de construção para atender ao consumo e às necessidades da população, principalmente nos países em desenvolvimento, classificados como emergentes. Em razão disto, a especificação de materiais tende a tornar-se cada vez mais exigente, ampliando os critérios utilizados na atualidade, como estética, custo, potencialidade para construir rapidamente (HUANG et al., 2011). Além disso, há as preocupações sociais como conforto térmico e acústico, boa qualidade do ar interior e boa qualidade estética (ABEYSUNDARA et al., 2009).

A adoção de parâmetros sustentáveis para a escolha de materiais, por parte dos profissionais da arquitetura, do design de interiores e da engenharia civil, ainda é incipiente. Tal problema é bem caracterizada por Bissoli-Dalvi, Alvarez et al. (2013, p.02) quando afirmam que:

Esta deficiência vem acompanhada da dificuldade para a introdução dos princípios da sustentabilidade no processo de elaboração do projeto, visto o desconhecimento do conceito por parte dos profissionais; da ausência de critérios sistematizados para auxiliar nas escolhas; da falta de disciplinas acadêmicas específicas e de mecanismos para implantar novos hábitos; da resistência do cliente pelo custo de investimento em técnicas e materiais diferenciados; da falta de exemplos concretos próximos; da resistência por parte dos construtores e incorporadores; da falta de conhecimento pelo cliente; da falta de divulgação e normatização de determinados produtos e soluções; e da ausência de informações sobre o tema.

Segundo John e Oliveira (2006), os critérios sustentáveis para a escolha dos materiais predominam em países desenvolvidos, onde as exigências são maiores para cumprimento das normas, as quais devem ser respeitadas pelos fabricantes. Entretanto, quando a maioria destes fabricantes se estabelece em países em desenvolvimento diminuem a qualidade dos produtos, devido à informalidade do setor da construção civil nestes locais. Este fato configura uma disfunção entre os pilares da sustentabilidade (aspectos econômico, social e ambiental), pois é mais importante o ganho econômico para estes fabricantes do que os outros fatores, mesmo que a manufatura de seus produtos deva seguir às especificações de alta qualidade.

A informalidade da indústria da construção causa uma série de inconvenientes para o desenvolvimento da sustentabilidade social, pois, muitas vezes, os materiais de construção são extraídos de forma informal e isto gera consequências como prejuízos aos direitos e à saúde dos trabalhadores, assim como afetam indiretamente a sociedade com a evasão fiscal. Por outro lado, a formalização do setor da construção permite o controle seguido dos produtos, desde a extração da matéria prima até o fim da vida útil, ajudando na tomada de decisões sustentáveis (GUÍO. 2013, p. 81).

Ainda, de acordo com Bissoli-Dalvi, Alvarez et al. (2013), para um profissional considerar a sustentabilidade na escolha dos materiais de construção, como um aspecto adicional aos critérios de projeto, é necessário avaliar os indicadores desta sustentabilidade, sendo que alguns deles são relacionados e conceituados como:

a) Certificação e rotulagem – a certificação de materiais favorece a adoção de ciclos de menor impacto, amparo às exigências trabalhistas, práticas que garantam a qualidade do material, e a redução do uso de substâncias nocivas à saúde humana (TURK, 2009). A rotulagem consiste em uma série de requisitos que um material deve obter para ser considerado sustentável.

b) Conteúdo reciclado – um material com este conteúdo pode ser constituído a partir de resíduos do próprio setor da construção ou de outras atividades. O resíduo passa a ser um subproduto na cadeia produtiva [...]

c) Emissões – podem ser de diferentes tipos: radiações, materiais particulados, emissões gasosas e químicas; e poluentes hídricos. Podem contaminar o ar, o solo e a água.

d) Energia incorporada – é um parâmetro utilizado para comparar materiais em termos ambientais, quantificando-se a energia consumida durante o ciclo de vida, incluindo a energia necessária para o transporte (ABEYSUNDARA et al., 2009).

e) Geração e gestão de resíduos – a construção consome recursos naturais e gera quantidades expressivas de resíduos (Rodriguez et al., 2007). Um material pode contribuir para a geração através da baixa qualidade da matéria-prima; da não conformidade com as normas [...]

f) Manutenção do material – um material favorece uma manutenção de menor impacto quando facilita a higienização através do acabamento superficial, não requer o uso de novos materiais e de produtos não agressivos, contribuindo para a não proliferação de fungos e bactérias (contaminantes biológicos) [...]

g) Materiais proibidos – a não utilização de materiais que estejam proibidos ou não recomendados por organismos reconhecidos tem como objetivo evitar o contato

do homem com substâncias nocivas; propicia ambiente mais saudável, seguro e produtivo, além de contribuir para a manutenção dos recursos naturais.

h) Normas técnicas – especificam critérios e requisitos que aferem o desempenho do material, contribuindo para a garantia da qualidade do produto, com redução de custos na etapa produtiva; oferecendo qualidade de vida e saúde aos usuários; consolidando uma linguagem única entre produtor e consumidor, etc (ABNT, s.d.).

i) Odor – o conforto olfativo visa à redução dos odores desagradáveis, sendo estes responsáveis por ocasionar irritação, alergias, mal-estar, dores de cabeça, entre outros. Muitas vezes, os sintomas são identificados pelo odor desagradável, além de problemas gerados por agentes químicos, etc (TAKIGAWA et al., 2009).

j) Procedência – o uso de materiais locais contribui para a redução do consumo de combustíveis, das emissões e do aquecimento global e chuva ácida (HUBERMAN e PEARLMUTTER, 2008). Propicia o acúmulo de capital para a região, a geração de emprego e a melhoria da qualidade de vida, [...] (DREYER et al., 2006).

k) Processamento mínimo – utilizar materiais que estejam o mais próximo possível do estado natural ou que passaram por pouco ou nenhum processo de industrialização contribui para redução dos gastos energéticos; evita a geração de resíduos sólidos, líquidos e gasosos; proporciona ambiente saudável e não tóxico; poupa o consumo de água, reduz os deslocamentos, etc (LIMA e ARANHA, 2007).

l) Reaproveitável – significa reutilizar ou prolongar a vida útil do material em aplicações iguais ou diferentes dos originais, garantindo que não percam as suas propriedades, não sejam processados para outro uso (CHPS, 2006).

m) Reciclável – é um material que pode ser coletado, separado ou recuperado de resíduos sólidos e passa por processo de transformação para originar outro produto (CHPS, 2006). Necessita de tecnologia para a separação, o processamento e a transformação em um novo material (WADEL et al., 2010).

n) Renovável – significa que a reposição ou a regeneração acontece de forma contínua, sem a necessidade de passar por processos de transformação

tecnológica, e o material pode ser utilizado sistematicamente sem risco de se esgotar. Uma forma de evitar a extinção de certos materiais e ter uma oferta contínua de matéria-prima (GONÇALVES e DUARTE, 2006).

o) Transporte – nele acontece a queima de combustíveis fósseis e a liberação de gases (LIU et al., 2010). Somando-se à problemática das emissões, o transporte dos materiais também contribui para o aumento no tráfego nas rodovias e para o desgaste destas pistas e dos próprios veículos, [...].

p) Viabilidade econômica do material e da mão de obra - deve ser coerente com a realidade onde será utilizado. O Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil é um sistema de pesquisa mensal que informa os custos e índices da construção civil. Por meio deste é possível ter uma referência dos custos médios praticados pelo mercado em diferentes estados do Brasil. Pode ser citado o “custo da construção por metro quadrado” no Estado de São Paulo, que em junho de 2016 fechou em R$ 1.100,32, sendo (em média) 52% relativo aos materiais de construção e 48% relativo à mão de obra (IBGE, 2016).

Entretanto, Moussatche e Languell (2001) declaram que o impacto dos materiais sobre o meio ambiente não tem sido adotado como um critério significativo para a seleção destes materiais. Pois, os projetistas de interiores recorrem apenas às informações fornecidas pelos fabricantes e raramente procuram por dados mais específicos para a seleção de um material. Enquanto Bissoli-Dalvi, Alvarez et al. (2013) revelam que a carência de dados disponibilizados por produtores/fabricantes, além dos desafios apresentados por cada região, na maioria das vezes, são fatores que dificultam a realização de uma análise mais detalhada dos indicadores de sustentabilidade para a seleção de materiais.

De qualquer maneira, o mercado de materiais de construção apresenta uma variedade de materiais sintéticos que ainda não tem seus efeitos conhecidos e que por isso deve haver cuidados para usá-los. Já os materiais naturais são mais indicados, como é o caso dos revestimentos de piso com pedras naturais, pois são mais saudáveis que os materiais sintéticos. Porém, o baixo desempenho técnico e o baixo resultado estético dos materiais naturais têm colaborado para que os profissionais continuem a especificar os materiais artificiais para seus projetos. Dessa forma, os materiais

tradicionais estão sendo reexaminados por pesquisadores, que tentam desenvolver diferentes formas de utilizá-los, através de novas técnicas (EDWARD, 2008), e melhorar seus desempenhos em relação à durabilidade, impermeabilidade, isolamentos térmico e acústico, entre outros (AVEZUM, 2007).