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Revisão bibliográfica Capítulo

Categoria 13 – Qualidade sanitária do ar 13.1 Garantia de uma ventilação eficaz

2.3. Emissões de COV pelos Revestimentos Vinílicos

2.3.7. Emissão de COV por revestimentos internos

2.3.7.1. Emissão de COV por revestimentos vinílicos

Durante o ciclo de vida dos revestimentos com base no PVC, existe um determinado número de efeitos tóxicos gerados pelas dioxinas formadas durante a produção, descarte e reciclagem destes revestimentos (SENJEN, 2012). No entanto, são os plastificantes ftalatos e outras substâncias químicas, usadas para melhorar ou produzir certas características nestes produtos que contribuem para a contaminação do ar no interior dos edifícios, podendo ocasionar problemas de saúde em seus ocupantes. Em relação à estas questões, foram realizados alguns trabalhos científicos nas últimas décadas, dos quais podem ser citados os estudos de Norback, Wieslander et al. (2000); de Martins (2003) e de Tuomainen, Sueri e Sieppi (2004).

No caso do estudo realizado por Norback, Wieslander et al. (2000), foram avaliadas concentrações de poluentes no ar interno e umidade do piso, em quatro hospitais geriátricos, com 87 pessoas, durante período de inverno. Os resultados indicaram sintomas de asma em 17% dos pacientes, sendo que em 2 edifícios haviam sintomas relacionados às emissões de 2-32 µg/m³ do composto 2-etil-1-hexanol no ar, pela degradação por umidade do ftalato DOP presente no PVC utilizado como revestimento do piso de concreto. Em 75% das amostras de poeira foram encontrados ácaros, mas estes alérgenos não tinham relação com os sintomas de asma das pessoas.

Na pesquisa de Martins (2003), avaliou-se a qualidade do ar interno de uma sala, em relação aos COVs emitidos por quatro revestimentos de piso, instalados em períodos diferentes de um ano. Dois destes produtos possuíam aplicação superficial de PVC, sendo um com PVC sobre camada de cortiça e outro com PVC sobre placa de madeira. As amostras de ar foram recolhidas por adsorção em tubos Tenax e desadsorvidas termicamente em GC-MS para que os COVs fossem analisados. Os resultados mostraram que algumas amostras eram recomendadas em termos

ecológicos, por apresentarem baixa concentração de COVT na atmosfera (100 µg/m³),

e que haviam COVs com limiares de odor que podem gerar queixas da qualidade do ar interno e mesmo sintomas de SED nas pessoas expostas.

Na pesquisa de Tuomainen, Sueri e Sieppi (2004), tratou-se da relação entre uma elevada incidência de asma brônquica em funcionários que trabalhavam em um prédio de escritórios e um problema do ar interior relacionado com a degradação dos revestimentos de PVC nos pavimentos do edifício. Durante quatro anos, em um dos escritórios com 150 funcionários foram encontrados cerca de oito novos casos de asma, além de que os trabalhadores se queixavam de doenças respiratórias, conjuntivas e sintomas nasais. As emissões indicaram a degradação dos revestimentos e emissões de 2-etil-1-hexanol e 1-butanol nas amostras do ar interno. Em razão disto, estes revestimentos tiveram que ser removidos.

2.3.7.2. O plastificante dioctil ftalato (DOP)

Os ftalatos são plastificantes que têm a função de diminuir a intensidade das ligações entre as moléculas da resina de PVC, aumentando a flexibilidade da cadeia polimérica e deixando o composto vinílico maleável. Neste tipo de aplicação, o plastificante mais utilizado é o dioctil ftalato (DOP), ou di (2-ethilhexil) ftalato (DEHP), de fórmula química C24H38O4 (RODOLFO JR., NUNES e ORMANJI, 2006), e resultante da reação entre

2-etil-1-hexanol e anidrido ftálico. Por ser um álcool de cadeia hidrocarbônica longa, os seus ésteres tendem a ter propriedades emolientes (COMPOUND SUMMARY, 2015). A representação da cadeia molecular do DOP pode ser observada na figura 4.

Figura 4: Representação da estrutura química do dioctil ftalato (DOP). Fonte: Rodolfo Jr., Nunes e Ormanji (2006)

O DOP se incorpora fisicamente e não quimicamente às moléculas da resina de PVC (ZAIONCZ, 2004). Assim, pode ser liberado no ar ao ser submetido às altas

temperaturas durante o processamento do produto por calandragem (RODOLFO; NUNES et al., 2006). Além do que, este plastificante representa consideráveis riscos à saúde humana e ao ambiente, por ser uma substancia tóxica (THORTON, 2002).

Mais de 3,5 milhões de toneladas de ftalatos são utilizados em todo o mundo a cada ano, principalmente como plastificantes de produtos flexíveis de PVC (CADOGAN e CHRISTOPHER, 2001), dos quais 50% são representados pelo DOP. Este plastificante se destaca pois encontra uso em praticamente todos os processos de transformação, como calandragem, espalmagem, extrusão, injeção, moldagem rotacional, graças às suas propriedades de alta eficiência e estabilidade, baixa volatilidade, excelentes características dielétricas, resistência ao calor e à luz ultravioleta, e baixa solubilidade em água (ELEKEIROZ, 2015).

Ainda, segundo a empresa Elekeiroz, estas características asseguram que o DOP seja utilizado em aplicações que necessitem de boa permanência, flexibilidade, resistência às intempéries, durabilidade e excelentes propriedades dielétricas. Dentre suas principais aplicações, destacam-se mangueiras e perfis plásticos, tintas, vernizes, revestimentos vinílicos, adesivos, solado de calçados, estofamento de carros e móveis, embalagens alimentícias e revestimentos de fios e cabos elétricos.

Considerado o plastificante mais importante e mais consumido na indústria do PVC, além de ser bastante nocivo à saúde humana, o dioctil ftalato (DOP) motivou o surgimento de trabalhos científicos, como os realizados por Reiser, Meile et al. (2002), Bornehag, Lundgren et al. (2005); Carlstedt, Jonsson e Bornehag (2013) e Braun, Sathyanarayana e Hauser (2013).

No estudo realizado por Reiser, Meile et al. (2002) em uma universidade técnica da Suíça, na qual os funcionários e alunos queixaram-se da deterioração do ar interior depois que o edifício tinha sido renovado, sendo que alguns destes funcionários ainda sofriam de doença e dor de cabeça, fez-se uma análise das concentrações dos compostos orgânicos voláteis totais (TVOC) emitidos no ar interno das salas de laboratório e de referência, pelos pisos de PVC e linóleo, instalados nestes locais.

Quanto ao método utilizado, foram coletadas amostras de ar nestas salas sob condições de temperatura do ar variando entre 23ºC a 25ºC e umidade relativa do ar de 50%. Os COV coletados e amostrados em uma célula FLEC (em janeiro e em junho), foram medidos por meio de cromatografia gasosa /espectrometria de massa/ dessorção térmica. Foram identificadas várias substâncias, mas entre elas apenas o 2-etil-1-hexanol (proveniente do DOP existente na formulação do piso de PVC), apresentou aumento de sua concentração no decorrer destes períodos.

2.3.7.3. Emissão de COV por revestimentos não vinílicos

Nos últimos anos, também foram desenvolvidos alguns trabalhos científicos sobre a emissão de COV emitidos por revestimentos de materiais que não são à base de PVC. Neste caso podem ser citados os estudos de Silva (2012), Guío (2013) e Silva (2000).

Na pesquisa realizada por Silva (2012), avaliou-se o uso de madeira para revestimento de superfícies internas em edifícios, como material sustentável alternativo. No entanto, devido à sua degradação progressiva, a madeira tem sua utilização associada a diferentes produtos para preservação e tratamento de superfícies, os quais, embora aumentem a vida útil e o bom resultado estético da madeira, representam uma ameaça à qualidade do ar interno e à saúde das pessoas, por conterem resinas à base de uréia-formaldeído, que emitem formaldeído e outros compostos orgânicos para o ar.

O método utilizado no estudo foi pesquisa bibliográfica a fim de oferecer atualização sobre estes diferentes produtos, considerando suas restrições e cuidados durante o uso, e uma pesquisa de opinião com profissionais da área da Construção Civil, a fim de verificar o conhecimento destes sobre o assunto pesquisado. Os resultados mostraram que os produtos evidenciam a criação de espaços bem ventilados, com taxas adequadas de renovação do ar.

Na pesquisa de Guío (2013), o objetivo foi identificar COVs nas emissões de tintas imobiliárias usadas em ambientes internos dos edifícios na cidade de São Carlos. Os

testes foram realizados através das técnicas de cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massas, e coletas pela técnica de micro extração de fase sólida. Os resultados mostraram que as tintas podem chegar a emitir mais de 61 COV divididos em classes químicas, sendo ácidos carboxílicos, alcanos, álcoois, aldeídos, aminas, cetonas, cicloalcanos, éteres, ésteres, glicóis e hidrocarbonetos aromáticos.

Verificou-se que a maior parte destes COV causa irritação respiratória, e cinco destas substâncias são suspeitas de desenvolver câncer. Estas substâncias não tiveram suas concentrações determinadas (estudo quantitativo), mas foram analisadas em relação aos limites máximos de exposição estabelecidos por normas internacionais. Além de ser abordada a necessidade da criação de um selo ambiental que garantisse a baixa emissão de COV nas tintas.

O trabalho de Silva (2000), teve como objetivo a implementação de metodologia para o estudo das emissões de COVs por materiais de revestimento para interiores de edifícios. Efetuou-se o estudo das emissões de COVs de amostras de cortiça sem acabamento, verniz aplicado sobre cortiça e tinta aplicada sobre cimento, por meio de câmaras de teste para a caracterização das emissões destes materiais em função de parâmetros como temperatura, umidade, taxa de ventilação e velocidade do ar. As amostras geradas foram recolhidas por adsorção e desadsorvidas termicamente e identificadas/ quantificadas por cromatografia gasosa com detectores selectivo de massa/ ionização de chama.

Os resultados da avaliação química permitiram concluir que nenhum dos materiais emitia compostos carcinogéneos. Aplicando os critérios da European Collaborative Action (ECA) chegou-se à conclusão que 36% dos materiais obtiveram classificação negativa até períodos de exposição ao ar de 28 dias (máximo estudado). Estes materiais necessitarão de ser estudados por períodos de tempo mais prolongados. Os restantes 64% dos materiais obtiveram uma classificação positiva.