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4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.1 Amplitude de Participação da Comunidade nos Conselhos Estaduais de Saúde da

4.1.1 Amplitude de Participação Social da Comunidade no CES/GO

4.1.1.2 Tradução das Demandas da Comunidade

4.1.1.2.1 Avaliação das Necessidades da Comunidade

A categorização para o indicador avaliação de necessidades no Conselho Estadual de Saúde de Goiás tende a ser média. As categorias intermediárias que fundamentam essa tendência são: “Avaliação das necessidades por diferentes meios”, “Plano Anual de Trabalho é discutido nas plenárias”, “Conselho pauta discussões em conferências e na elaboração do Plano de Saúde” e “Hierarquia de solicitações avaliada pela Diretoria Executiva”. Como forma de justificar a referida tendência tem-se a questão das necessidades serem trazidas em grande parte pelos próprios conselheiros de saúde, que, segundo as entrevistas, estão mais próximos das demandas da saúde no Estado. Além disso, existem outros canais receptivos às demandas da saúde, como as questões levantadas em fóruns de discussões das entidades representativas dos conselheiros, denúncias realizadas pela própria população e mídia – posteriormente recepcionadas e discutidas pelo Conselho; e também por meio dos Planos Anuais de Trabalho da Secretária de Saúde que apresentam demandas da saúde para o CES deliberar, até mesmo em virtude do Plano Estadual de Saúde. Os referidos elementos fundamentam a categoria teórica intermediária “avaliação das necessidades por diferentes meios”.

Adicionalmente, cita-se a participação dos conselheiros em fóruns, conferências e seminários – além dos realizados pelas entidades representativas dos conselheiros – no intuito de trazer questões, discutidas nesses espaços, relativas aos anseios da comunidade, para o pleno da instituição participativa. Vale lembrar também que o conselho se utiliza de Comissões Intergestores para tratar assuntos que não estão diretamente ligados à matéria da saúde, mas que podem ter consequências para ela como, por exemplo, qualidade da água, questões de trânsito, condições de trabalho dentre outros. Em face do exposto, formulou-se a categoria teórica intermediária “Conselho pauta discussões em conferências e na elaboração do Plano de Saúde”. A conselheira 04 (segmento prestadores de serviço) argumenta que os conselheiros de saúde possuem papel importante na identificação das necessidades e descreve como isso ocorre no CES/GO:

Hoje se baseia mediante a necessidade da população da entrada das políticas dentro do Conselho, da entrada até mesmo da prestação de contas. Um exemplo é a avaliação que fizemos na última reunião de plenária na qual aprovamos os indicadores de saúde do Estado. Nós identificamos itens que precisam ser amplamente debatidos, inclusive

algumas diretrizes que constam no Plano Estadual de Saúde que não estão sendo cumpridas da forma que deveriam. O conselheiro traz esta consciência de grupo, cada grupo traz sua necessidade, demanda. O conselheiro acaba tendo papel fundamental para identificar necessidades, pois vivencia os problemas e a sociedade.

Apesar da importância dos conselheiros no que se refere à identificação das demandas destacam-se outros canais para tal. O conselheiro acaba sendo parte de um rol de possibilidades, ou seja, não existe apenas ele para trabalhar as demandas da comunidade. Nesse sentido, o conselheiro 05 (segmento usuários) avalia que:

No âmbito do Conselho Estadual, Municipal, em qualquer instância de Conselho de Saúde, ela (necessidade) tem que ser identificada por meio das entidades. Na verdade, eu como conselheiro, devo fazer relatório diariamente para a minha entidade e discutir as questões de saúde na minha entidade. Por quê? Porque as pessoas que contribuem na minha entidade moram em lugares longínquos e sabem a verdadeira necessidade da saúde para o povo. Então é nessa concepção que tem que ser feito o trabalho dentro Conselho.

A visão do conselheiro 05 (segmento usuários) representa a fala de outros conselheiros no sentido de deixar claro a participação de algumas entidades, outrora menos atuantes, na recepção e no atendimento às demandas sociais da área de saúde. Por outro lado, a conselheira 06 (segmento trabalhadores) destaca que as necessidades da comunidade podem também ser identificadas “por meio dos Planos Anuais de Trabalho apresentados pela Secretária de Saúde, que manda as demandas para o Conselho Estadual de Saúde deliberar. E às vezes pelos conselheiros que levam denúncias para o Conselho orientar encaminhamentos”. A partir daí formulou-se a categoria teórica intermediária “Plano Anual de Trabalho é discutido nas plenárias”.

Ainda com respeito às denúncias, a conselheira 02 (segmento usuários) afirma “a gente acompanha muito a questão da demanda e da necessidade da comunidade, no geral do SUS, pela mídia”. Então, além dos conselheiros trazerem demandas verificadas na saúde, também acabam recebendo denúncias e discutindo-as, o que indica a representação, pelo menos em parte, do ponto de vista da comunidade.

Adicionalmente, a conselheira 04 (segmento prestador de serviço) informa que existe um trabalho realizado por comissões cujo foco é justamente discutir, de maneira conjunta, assuntos que envolvem também outras áreas: “eu acho que a saúde tem que ser

discutida com outros assuntos como educação, alimentação e segurança”. De maneira complementar, o conselheiro 03 (segmento usuários) informa que o CES:

Possui algumas comissões interligadas ao Conselho, compostas por pessoas de outros segmentos que trazem essa visão para a gente, permitindo novas discussões e levando essas propostas para se englobar ao plano da saúde e conferencias de saúde.

Nota-se que a discussão das demandas em determinado momento se insere em fóruns de discussão, bem como no plano de saúde destinado às ações a serem praticadas no Estado, com intuito de atender às demandas da sociedade. Diante das razões expendidas neste tópico, verifica-se – em termos de ganho para o controle social – uma participação mais ativa e mais consciente das demandas de saúde, fato que apresenta uma evolução se considerados os relatos do conselheiro 09 – mais antigo – os quais apresentaram menor participação do CES para com o controle social na implantação do Conselho.

Após a exposição de alguns aspectos que estão relacionados a categorização do indicador avaliação das necessidades cumpre-se destacar um ponto que restringe a ideia de tendência aberta para o mesmo. Trata-se da Mesa diretora, composta da Secretaria Executiva, criada pelo regimento interno em seu art. 34, estabelecer hierarquia de prioridades nos encaminhamentos das discussões – similar a Secretaria Executiva instituída no Conselho Municipal de Saúde de Porto Alegre, aspecto verificado por Silva (1999). Especificamente para o caso de Goiás o estabelecimento de prioridades para os encaminhamentos das discussões a respeito das necessidades da saúde, realizado pela Secretaria Executiva, fere uma atribuição que deveria ser de competência das próprias comissões que realizaram os estudos e confeccionaram pareceres para fundamentar o processo decisório do CES. Diante disso, formula-se a categoria teórica intermediária “Secretaria Executiva Estabelece Hierarquia de prioridades para o encaminhamento das discussões sobre as necessidades”.

Entende-se que as comissões são formadas por indivíduos que detêm as competências necessárias tanto para elaborar o parecer quanto para acompanhar a situação dos casos analisados por elas. Dessa forma, foi considera tendência média para a avaliação das

necessidades no CES/GO. O quadro 11 apresenta a categorização do indicador avaliação das necessidades.

Quadro 11 – Categorização do indicador Avaliação das Necessidades - CES/GO. Fonte: Baseado em Silva (1999).