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1. CONTEXTUALIZAÇÃO

2.1 Participação e Controle Social

2.1.2 Controle Social

Segundo Correia (2000) a definição de controle social possui origem nos estudos de sociologia. A autora conceitua controle social como a capacidade que a sociedade tem de interferir na gestão pública de forma a orientar as ações do Estado e os gastos públicos para as necessidades de sua classe. Carvalho (1995) afirma que o controle social é uma expressão a qual está vinculada à relação entre Estado e sociedade, onde cabe a esta promover a vigilância e o controle sobre os atos governamentais. Já Barros (1998) define controle social sobre as ações estatais como a democratização dos processos decisórios que objetivam a construção de cidadania.

O controle social pode ser conceituado como canal institucional de participação na gestão governamental, contando com a presença de indivíduos que representam o coletivo nos processos decisórios, não se tratando de movimentos sociais que existem de forma autônoma para o Estado (CONSTRUCTION, 2003). No Brasil o controle social tomou corpo com o início do processo de democratização vivido na década de 1980. Neste momento a expressão passou a

ser entendida como forma de controle exercido pela sociedade sobre o Estado. Em termos contemporâneos, é possível citar dois canais institucionais de participação social na saúde, responsáveis por discutir controle social, quais sejam: conferências de saúde e conselhos (CORREIA, 2005).

Para Correia (2000) as conferências de saúde têm como foco avaliar e propor diretrizes para políticas de saúde desenvolvidas pelas três esferas do governo. Dessa forma, é possível pautar a proposição de novas políticas públicas alinhadas às necessidades daqueles que se inserem em um canal participativo aberto por meio de espaços públicos. Seguindo essa ótica, o canal para discutir essas questões perpassa a figura do conselho de saúde – visto pela autora como instância colegiada de caráter permanente e deliberativo, composta de forma paritária entre os representantes da sociedade: usuários, gestores públicos, trabalhadores da saúde, filantrópicos e trabalhadores privados. Com efeito, o objetivo principal dessa instituição participativa torna- se a busca pelo controle social (CORREIA, 2000).

Cabe acrescentar, por outro lado, que o controle social não pode ser praticado caso os atores sociais responsáveis por controlar as ações do Estado não tenham acesso a informações que possam influenciar a condução da gestão da saúde. Para contextualizar o acesso às referidas informações no Brasil, destaca-se a lei 12.527/2012, que regula o acesso a informação na administração pública. Em seu art. 5 fica clara a atribuição do Estado no sentido de “garantir o direito de acesso à informação, que será franqueada, mediante procedimentos objetivos e ágeis, de forma transparente, clara e em linguagem de fácil compreensão”. O referido artigo aborda questão inerente a parte do mosaico proposto nesta pesquisa: o acesso a informações da gestão da saúde pública, no caso, via prestação de contas para avaliar as ações do gestor da saúde.

Todavia, para considerar se determinada linguagem é transparente, clara e de fácil compreensão avalia-se quais seriam as características necessárias para cumprir tal finalidade. Dentro dessa perspectiva, e com objetivo de responder ao questionamento posto, cumpre salientar os aspectos qualitativos da informação contábil como instrumentos de avaliação da qualidade dos relatórios de prestação de contas das ações governamentais de saúde. A justificativa se dá em virtude da qualidade da informação estar alinhada ao tripé elencado no art. 5 da lei de acesso à informação – transparência, clareza e fácil compreensão.

Nazário, Silva e Rover (2012) consideram que a qualidade da informação é pré- requisito essencial para que haja efetiva transferência de conhecimento e informações – vistos

aqui como insumos para transparência – entre os indivíduos que atuam em diversas áreas do conhecimento. No tocante ao foco deste trabalho, é possível traçar, então, um paralelo entre os aspectos qualitativos da informação contábil, transparência das ações do Estado e participação, no sentido de promover meios para o fortalecimento do controle social.

A esse respeito, a Controladoria Geral da União (CGU, 2009, p. 27), em sua cartilha para o controle social, considera que “a participação ativa do cidadão no controle social pressupõe a transparência das ações governamentais”. Portanto, revestir o controle social de maior participação – incentivando maior amplitude participativa – pode gerar mais transparência. Além disso, o mesmo órgão julga ser necessário disponibilizar para todo cidadão brasileiro acesso as informações da gestão pública, no sentido de privilegiar a relação governo e sociedade, a partir do prisma da transparência e responsabilidade social.

Segundo a própria CGU, a transparência da gestão pública depende da publicação de informações; de espaços públicos de participação que procurem solucionar problemas e da construção de canais de comunicação entre sociedade civil e governante. No que tange a aplicação dos recursos públicos e sua transparência, é preciso informar como se gasta o dinheiro e, mais do que isso, prestar contas dos seus atos (CGU, 2009).

Em síntese, essas proposições perpassam a questão de relatórios de prestação de contas como ferramenta de controle social e transparência. Logo, o acesso à informação, com objetivo de promover maior transparência, pode ser visto como abertura de espaço para uma segunda fase, ligada ao nível de utilização das informações – fato condicionado à amplitude da participação social. Nesse caso, supõe-se que maior participação precedida de acesso à informação pode promover maior transparência às ações de saúde pública. Sob essa ótica, Silva

et al. (2007) argumentam que para fortalecer o controle social na esfera da saúde, via

participação, é preciso que os sujeitos políticos envolvidos detenham conhecimento – fase posterior ao acesso a informação – efetivo do SUS, demais legislações, realidade epidemiológica, assistência social, parte financeira, política entre outras.

No entanto, para adquirir conhecimento e, mais do que isso, praticá-lo em uma instituição participativa é preciso que as informações cheguem de forma adequada aos responsáveis pelo processo decisório em matéria de saúde pública. A partir de então, abre-se espaço para discussões que efetivamente possam influenciar no atendimento às demandas da sociedade. A esse respeito, Chauí (1993) afirma que esses sujeitos políticos participantes do

meio social se envolvem nas referidas discussões de acordo com a proporção e o volume de informações recebidas. Porquanto, o autor aponta a publicização das informações como fator importante para este pleito, além das condições favoráveis para que estas sejam, de fato, aproveitadas pelo sujeito político no sentido de intervir como produtor de saber nas áreas em que está presente (CHAUÍ, 1993).

Não por acaso, o envolvimento dos sujeitos no controle social, abordado por Chauí (1993), além de ser influenciado pela proporção e volume de informações recebidas, está, também, relacionado a outros fatores que podem condicionar a amplitude da participação social exercida por estes. Afinal, a busca pela participação citada anteriormente, por Demo (2001) e Silva (1999), sobre processo constante de vir-a-ser, pode influenciar o fortalecimento do controle das ações do Estado tendo como base diferentes facetas do conhecimento da área de saúde.

Essas facetas podem estar relacionadas a experiências vividas pelos sujeitos nas áreas de saúde, ou em outras áreas do conhecimento que possam ter implicações em matéria de saúde – trânsito, segurança pública, parte ambiental entre outros –, a conhecimentos ligados à gestão da saúde e demais aspectos (SILVA et al., 2007; SARRETA; BERTANI, 2010). Ao considerar os fatores elencados é possível visualizar a necessidade de aplicação desse conhecimento para dar resolutividade às necessidades da sociedade. Isto pode representar o adensamento das práticas de controle social e, por consequência, maior participação social da comunidade. Diante do exposto, retoma-se o conceito da amplitude como medida de uma onda de participação que oscila em virtude do maior ou menor envolvimento participativo dos sujeitos políticos, com vistas a instrumentalizar ferramentas e novos caminhos para o controle social.

Oportunamente e como base na proposta desta pesquisa frisa-se que, além dos conhecimentos citados por Silva et al. (2007), os responsáveis – conselheiros de saúde – pelo controle social utilizem este aprendizado no intuito de ampliar a sua participação no controle das ações do gestor público da saúde por meio, também, da análise das prestações de contas encaminhadas pelas Secretarias Estaduais de Saúde. Dessa forma, espera-se que uma maior participação, precedida do conhecimento necessário, possibilite maior qualidade nas prestações de contas e, por consequência, na transparência da gestão da saúde pública.