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4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.4 Considerações Iniciais dos Resultados

As conclusões iniciais dos resultados discutidos nos estados da região Centro Oeste vão ao encontro de uma ideia em que a participação social dos Conselhos de Saúde pode incrementar a qualidade da informação dos relatórios das prestações de contas das SES. Para o caso de Goiás as tendências dos indicadores de amplitude indicaram um ambiente de menor participação se considerados os Conselhos de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Além disso, a qualidade da informação dos relatórios de prestação de contas da SES/GO foi considerada

restrita, inclusive com divulgação apenas de aspectos obrigatórios por legislação. Vale destacar

que nenhum aspecto voluntário foi divulgado, ou seja, apresentou ambiente menos participativo e colaborativo entre a Secretaria e o CES. A partir do cenário exposto para o Estado de Goiás é possível considerar que pelo fato da participação social do CES não conseguir induzir o gestor a divulgar mais informações, sobretudo as de caráter voluntário, não consegue incrementar a qualidade da informação dos relatórios de prestação de contas, contudo em razão do estágio em que se encontra a amplitude de participação social naquele Estado.

Já no caso de Mato Grosso a amplitude de participação social apresentou alguma evolução em relação a Goiás – aspectos relativos a avaliação das necessidades. No entanto, em razão do estágio atual, a participação (caracterizada pela amplitude de participação) do CES não foi suficiente para incrementar a qualidade da informação das prestações de contas da SES/MT. Para que seja possível fazer um comparativo com a qualidade da informação de Goiás, considerando percentual de variáveis médias/amplas39, são apresentados os seguintes resultados: Goiás com 38,46% de divulgação e Mato Grosso com 46,15%. Apesar do incremento na evidenciação a qualidade ainda é considerada baixa para Mato Grosso, principalmente quando se verifica novamente que nenhuma variável voluntária foi evidenciada.

Aliás as variáveis voluntárias assumem papel importante para analisar a questão da participação, inclusive para revelar se existe um ambiente participativo em que o CES e a SES atuam com maior cooperação no atendimento às demandas da saúde. Além disso, vale lembrar que o percentual de qualidade da informação dos relatórios de prestações de contas de Mato

39 Foram consideradas variáveis médias e amplas pelo fato destas representarem divulgação parcial ou total dos aspectos avaliados, respectivamente. Logo, considera-se que para verificar a qualidade é preciso que os itens sejam divulgados parcial ou totalmente.

Grosso, apesar de ser superior ao de Goiás, só aumentou por conta de variáveis decorrentes das obrigatórias, ou seja, ainda em virtude de influência de lei. Portanto, para Goiás e Mato Grosso verificou-se que a participação não incrementou a qualidade, dado que só se cumpre o que é obrigatório e decorrente de obrigação legal, muitas vezes de maneira parcial.

Por oportuno, cabe ressaltar um paralelo existente entre o ambiente de controle social e accountability horizontal (PINHO; SACRAMENTO, 2009), pois a necessidade de se ter uma articulação entre o controle social e as instituições externas de controle parece não ocorrer de maneira adequada nos estados de Goiás e Mato Grosso. Em princípio os aspectos citados integram a discussão da participação dos Conselhos não incrementar a qualidade dos relatórios de prestação de contas das Secretarias, também por conta dos CES não conseguirem ter voz nas SES – situação em que os gestores atuam de maneira independente, tendência média para o indicador liderança.

O’Donnell (1998) argumenta que o Executivo, Legislativo, Judiciário, agências de supervisão e instancias responsáveis pela fiscalização das prestações de contas compõem a dimensão da accountability horizontal – que pressupõe o controle entre os poderes constituídos (perspectiva do checks and balances). Para o ambiente abordado nesta pesquisa vale mencionar que a accountability horizontal representa, por exemplo, a atuação do Ministério Público no sentido de agir, quando solicitado, para compelir o gestor da saúde a cumprir as deliberações dos Conselhos Estaduais de Saúde, ou seja, dar voz à liderança a ser exercida pelo CES.

Ainda nessa linha, Pinho e Sacramento (2009) consideram que o autoritarismo possui grande capacidade de se redesenhar em face de possíveis mudanças culturais e institucionais a favor do incremento da accountability, ou seja, parece ocasionar um efeito mutante para não dar espaço ao ato de prestar contas por parte dos gestores da saúde. Sob esse invólucro, verificou-se que atuação do Ministério Público e do Tribunal de Contas em Goiás e Mato Grosso parece não instigar a formação de um ambiente de cooperação com os CES.

Para Borges (2014, p. 10) “a operacionalização do controle social perpassa a questão da accountability”. Seguindo essa ótica, entende-se que o ambiente de controle social acaba não sendo operacionalizado, dado que a qualidade das prestações de contas de Goiás e Mato Grosso é restrita e a participação dos CES não é suficiente para fazer com que o gestor da saúde seja induzido a prestar contas da sua gestão, inclusive por não haver cooperação de outras instâncias de poder voltadas ao controle. É justamente este ponto que diferencia Mato

Grosso e Mato Grosso do Sul, em virtude destes possuírem tendências de amplitude de participação similares. Para Mato Grosso do Sul é possível afirmar que a amplitude de participação do CES consegue, aliada a um maior ambiente de cooperação com outras instâncias de controle, induzir e compelir o gestor a ser mais transparente. A referida afirmação encontra embasamento no fato da qualidade da informação de Mato Grosso do Sul ter chegado a 66% de evidenciação, inclusive com variáveis consideradas voluntárias.

Em se tratando de variáveis da qualidade da informação que possibilitam maior participação, cumpre-se salientar que a visualização, por exemplo, da aplicação de recursos

apresentada por programas e ações (variável obrigatória) permite ao conselheiro verificar se

os recursos estão sendo aplicados de acordo com Plano Estadual de Saúde. A partir daí os conselheiros de saúde tem maior possibilidade de avaliar o atendimento das necessidades da saúde conforme planejamento realizado no PES. Em casos de desconformidade o CES pode oferecer denúncias ao Ministério Público, caso o gestor da saúde não homologue as deliberações do Conselho que têm o intuito de buscar solucionar os problemas detectados. Por outro lado, pode-se citar também a variável que evidencia pontos que necessitam de melhoria (variável voluntária), aspecto que demonstra a neutralidade do gestor da saúde. A evidenciação deste tipo de variável permite aos conselheiros avaliarem se o gestor verifica pontos que devem ser melhorados no sentido de empenhar-se para corrigir eventuais problemas da gestão da saúde, ou, até mesmo, incrementar procedimentos já realizados de maneira satisfatória.

Ainda como exemplo de variáveis que podem ensejar maior participação dos conselheiros é possível citar a variável objetivos e metas para o exercício subsequente e a

divulgação de prioridades para a destinação de recursos financeiros. Para Mato Grosso do Sul

a Secretaria de Saúde apresentou evidenciação pelo menos parcial deste tipo de informação voluntária, o que permite aos conselheiros de saúde avaliarem se as prioridades apresentadas estão realmente de acordo com as necessidades de saúde do Estado e se os objetivos e metas estão adequadas para o ano seguinte. Sendo assim, a participação dos conselheiros pode encontrar maior facilidade para atuar no cumprimento de suas atribuições. Nesse sentido, a maior qualidade da informação dos relatórios de prestação de contas de Mato Grosso do Sul em face da amplitude de participação social média/aberta do CES encontra como possível justificativa o fato de haver uma atuação mais parceira de outras instâncias de controle no sentido fazer com que o gestor da saúde cumpra as deliberações do Conselho.