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3. DESENHO METODOLÓGICO

3.1 Amplitude de Participação Social

3.1.2 Dimensão Histórica dos Conselhos Estaduais de Saúde

3.1.2.1 Entrevista em profundidade com conselheiro mais antigo do CES

A realização de entrevista com o conselheiro mais antigo tem por finalidade complementar – em virtude da ausência das atas – a visão do indicador implantação e

departamentalização, abordado na dimensão da amplitude da participação por Silva (1999).

Diante desse propósito, foram elaboradas questões25, com base em temas; e não mais em categorias, de modo a compilar roteiro para a entrevista em profundidade – semiestruturada. A entrevista em profundidade é uma técnica qualitativa responsável pela investigação de determinados assuntos e tem como foco a busca de percepções, informações e experiências de indivíduos de modo que se possa realizar, posteriormente, análise que seja apresentada de maneira estruturada (BARROS; DUARTE, 2006).

Os autores afirmam, ainda, que essa técnica é dinâmica e flexível para capturar a realidade tanto de questões ligadas a aspectos íntimos dos sujeitos, como para descrever processos complexos nos quais estes estão ou estiveram envolvidos de alguma forma. Além

25 Barros e Duarte (2006) afirmam que as questões possuem origem no problema da pesquisa e têm por finalidade tratar da amplitude do tema – que no caso desta pesquisa está justamente alinhado à tendência de amplitude de participação social e sua influência na qualidade dos relatórios remetidos pela SES.

1988 – CF, art. 4º  Descentralização Lei 8.142/90 - Conselhos Constituição do Conselho – Ano X 2014 Atas Plenárias História Oral (M) Entrevistas (T) Dimensão Histórica 1990  2014 Análise de Conteúdo (T) Análise Documental (T)

disso, as entrevistas em profundidade podem ser classificadas da seguinte maneira: não estruturadas, semiestruturadas e estruturadas. A entrevista não estruturada é aplicada sem roteiro previamente delimitado e tem como foco apenas um tema central, enquanto a semiestruturada se utiliza de roteiro base. A similaridade entre as duas é que em ambas existe flexibilidade e os temas são explorados ao máximo a partir das respostas dos indivíduos entrevistados. Por fim, a entrevista estruturada, mais utilizada em pesquisas quantitativas, possui menos flexibilidade por assumir muitas vezes a forma de questionários (BARROS; DUARTE, 2006).

Não obstante, Guber (2001) argumenta que entrevistas abertas (não estruturadas e semiestruturadas) estão alinhadas à participação do pesquisador nos termos da figura do entrevistado – e suas percepções –, ao passo que nas entrevistas fechadas a participação dos entrevistados ocorre nos termos do pesquisador. Para efeito desta pesquisa, os conselheiros de saúde são o foco base para avaliar a tendência da amplitude participação social dos CES e, portanto, a participação do pesquisador ocorre nos termos dos conselheiros.

A partir da transcrição das entrevistas realizadas com os referidos conselheiros, empregou-se a análise de conteúdo para coletar as percepções dos indivíduos em relação aos aspectos que permeiam o desenvolvimento histórico da participação social dos CES no Centro Oeste. Contudo, nesta etapa a elaboração do roteiro se deu por meio de temas e não por categorias teóricas – opção mencionadas por Silva e Fossá (2013). O quadro a seguir apresenta o roteiro e seu embasamento teórico para a entrevista com o conselheiro mais antigo.

Dimensão Histórica - Roteiro

Entrevista Semiestruturada Justificativa / Objetivo

(1)

Como ocorreu a implantação do conselho? i) De quem partiu a iniciativa? ii) Houve envolvimento da população?

A metodologia para medir a amplitude de participação desenvolvida por Rifkin et al. (1989) preconizou, dentro outros fatores, a busca pelo entendimento de como o comitê de saúde havia sido implementado. Seguindo essa linha objetiva-se entender como se deu a implementação, seja ela por meio de imposição de legislação, discussões da comunidade, incentivo de entidades representativas ou demais fatores. Dentro desse âmbito, importa saber de onde veio a inciativa e se a comunidade teve participação nesse processo, pois esses elementos podem fornecer apontamentos importantes para o entendimento da amplitude de participação atual e da sua evolução ao longo do tempo.

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Como ocorreu a nomeação/eleição dos primeiros conselheiros (foi formal)? i) foram constituídos de forma paritária? ii) e as demais como ocorreram ao longo do tempo?

Ao tratar da questão paritária é importante destacar possíveis justificativas para sua aplicabilidade. Moreira et al. (2006) discutem uma delas e afirmam que ao considerar a paridade entre usuários e os outros componentes é possível avaliar, eventualmente, um maior nível de autonomia e democratização dos conselhos. Portanto, o foco deste item objetiva verificar como se deram – no primeiro momento e ao longo do tempo – as nomeações/eleições dos conselheiros e se, principalmente, a paridade foi aplicada nesses momentos. Por conseguinte, o intuito é perceber indícios da maior autonomia do conselho em face do processo democrático.

(3)

Como foram e são tratadas as demandas da população no conselho (canal participativo)? i) e as demandas do conselho na SES?

Putnam (1994) afirma que para um governo ser considerado eficiente e democrático não basta o fato deste se mostrar sensibilizado pelas demandas da comunidade, pois é preciso promover uma gestão eficaz que proponha, de fato, o atendimento aos anseios do cidadão. Sob este prisma, é importante saber como o CES trata as demandas da sua comunidade e se efetivamente procura atende-las. Por outro lado, objetiva-se entender, também, como se dá o tratamento das demandas do CES encaminhadas à SES, pois estes fatores representam uma segunda análise do atendimento às necessidades da sociedade.

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Como se deu o processo de criação de comissões em virtude das demandas da comunidade (ao longo do tempo)?

Avritzer (2007) entende que as comissões que se estruturam dentro de instituições participativas indicam a intenção de mitigar questões ligadas a assimetria informacional entre os participantes do processo de gestão da saúde. O autor considera ainda que o objetivo é disponibilizar a todos a possibilidade de maior participação no processo decisório, pois a discussão dos conselheiros que as compõem, teoricamente, em alguma parcela, representam a sociedade. Com efeito, o objetivo deste tópico é verificar como se deu a criação dessas comissões e, mais do que isso, se essas realmente surgiram em virtude das demandas da sociedade - resultantes da redução de assimetria informacional preceituada por Avritzer (2007).

(5)

Como se deu a participação das entidades representativas nas deliberações do conselho ao longo do tempo?

Ao considerar eventual participação de entidades representativas nas deliberações do CES insere-se mais uma ferramenta para avaliar o quanto este é participativo. Cumpre-se destacar que mesmo havendo integrantes dessas entidades na formação do CES é possível que estes não busquem levar as pautas daqueles que representam para discussão nas plenárias. Face ao exposto, o objetivo aqui é avaliar em uma perspectiva histórica o quão participativas foram essas entidades nas discussões do conselho - no sentido de dar, novamente, suporte à avaliação da dimensão histórica da amplitude de participação.

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A comunidade se reconhece como parte integrante do processo de gestão da saúde?

Segundo Silva, Cruz e Melo (2007) a democratização dos conselhos de saúde busca adotar práticas que tenham como um de seus principais intuitos promover maior participação da sociedade na tomada de decisão. Caso essa concepção venha a se efetivar em determinado município, por exemplo, é possível considerar que ao estar mais envolvida a sociedade se perceba como parte integrante da gestão da saúde local. Logo, esse aspecto favorece a compreensão da amplitude de participação do conselho.

(7)

Qual a influência de questões políticas por parte de integrantes e não integrantes do conselho nas deliberações (ao longo da história do CES)?

Paim e Teixeira (2007) consideram que a ocorrência de mudanças de concepções – ocasionadas em virtude de alternâncias nas posições políticas de agentes que fazem parte do SUS – indica preponderância de articulações ligadas a interesses político-partidários. Os autores ainda consideram que isto sobrepõem o debate acerca de funções e competências dentro do SUS de forma geral. Por oportuno, não se pode refutar a ideia de que os elementos expostos podem estar presentes no CES. Dessa forma, o objetivo é entender se essas questões impactam os conselheiros e, por conseguinte, o processo deliberativo do conselho.

Quadro 3 – Roteiro da entrevista semiestruturada para realizar com o conselheiro mais antigo do CES. Fonte: Elaboração própria.