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1. CONTEXTUALIZAÇÃO

2.3 Prestações de contas e os aspectos qualitativos da informação

2.3.3 Aspectos Qualitativos da Informação Contábil

2.3.3.2 Características Qualitativas de Melhoria

O SFAC nº 2 ao classificar as características da informação como qualidades secundárias destaca a comparabilidade como informação útil e detentora de dois atributos: uniformidade e consistência. A norma define que a comparabilidade ocorre quando a utilidade de uma informação pode ser ampliada em virtude de sua apresentação permitir comparação com outras entidades ou até mesmo a própria entidade ao longo do tempo. Para Fuji e Slomski (2003) a comparabilidade incrementa a qualidade da informação em virtude de possibilitar justamente as comparações levantadas pelo FASB17. O ganho gerado segundo os autores tem por finalidade

melhorar e embasar as predições e decisões financeiras.

Adicionalmente, o IASB (1998) menciona a possibilidade de identificar tendências a partir da comparação entre empresas e da própria entidade. Além disso, reitera, de forma implícita, a questão da consistência na mensuração de transações e eventos. Adicionalmente, o organismo afirma que para possibilitar a comparação é preciso também a presença de outra caraterística, no caso, a menção às políticas empregadas na elaboração dos demonstrativos

17 De acordo com Fuji e Slomski (2003, p. 36) a comparação do FASB se refere à “qualidade da informação que permite identificar semelhanças e diferenças entre dois conjuntos de fenômenos: uniformidade, consistência”.

contábeis, pois qualquer alteração nestas pode causar efeitos adversos modificando, eventualmente, o conjunto de demonstrações e demais relatórios. Diante disso, o impacto de eventuais alterações nas políticas empregadas, caso haja, precisa ser abordado nos relatórios – para o contexto desta pesquisa, as prestações de contas.

Na perspectiva do CPC 00 (R1) a comparabilidade assume praticamente os mesmos contornos abordados pelos organismos anteriores ao mencionar duas características que a auxiliam: consistência – empregando os mesmos métodos para os mesmos itens – e a uniformidade para que as coisas sejam iguais proporcionando, portanto, a comparação. Por oportuno, vale destacar a afirmação do Comitê ao supor que um bom de grau de comparabilidade possivelmente é alcançado por conta da satisfação das características qualitativas fundamentais. Isto reitera a posição de complementariedade das características qualitativas da informação em relação aos relatórios de prestações de contas da saúde.

O entendimento do FASB (1980) acerca da característica compreensibilidade é de que esta auxilia o usuário a entender as informações contábeis. Porém, vale ressaltar, ainda segundo a entidade, o fato dessa característica requisitar um nível mínimo de conhecimento para utilizar a informação nas decisões. Saudagaran (2009) classifica dois tipos de usuários: hábil e inábil. O autor reitera o pensamento de que a compreensão de relatórios contábeis está embasada no conhecimento de seus usuários considerado hábeis – capazes de compreender as informações.

No entanto, para a realidade dos Conselhos de Saúde a preocupação com entendimento da informação contida na prestação de contas – principalmente ao abordar questões contábeis e financeiras – se mostra controversa pelo fato da multiplicidade de segmentos dos conselheiros que compõe essas instituições participativas, a saber: usuários do SUS, trabalhadores da saúde, gestores e prestadores de serviços. Ocorre que esta diversidade não necessariamente implica em conhecimentos prévios por parte dos responsáveis pelo processo decisório no CES.

Por conseguinte, este panorama dicotômico incita apontamento interessante na medida em que se busca qualidade informacional na elaboração das prestações de contas, haja vista a necessidade de uma linguagem mais acessível para tornar a informação compreensível aos usuários leigos que manuseiam as informações contidas nos relatórios. Dessa forma, lidar com essas questões no sentido de prover maior compreensão também daqueles usuários menos

abastados de conhecimentos técnicos se mostra condição necessária e favorável à esfera do controle social.

Na esteira dessas evidências, o Accounting Principles Board, por meio do APB nº 4, de 1964, ao citar as características qualitativas da informação contábil considera que a compreensibilidade está alinhada não só a seleção das informações mais inteligíveis, mas sim ao fato destas proporcionarem entendimento aos usuários. Por este motivo, esse tipo de entendimento na área de saúde deve focar também os usuários que não detêm conhecimento mais aprofundado das questões que permeiam a gestão da saúde, de modo que se possa buscar controle das ações do SUS, via prestação de contas à sociedade. Um exemplo para elucidar este caso é a apresentação, via relatório de contas, da alocação de recursos na atenção à saúde básica dentro de determinado município. Ocorre que as informações podem não ser suficientemente claras para um usuário, ao passo que podem ser triviais para um contador ou analista de orçamento que compõe uma comissão de orçamento e prestações de contas. Portanto, o exercício das atribuições de um conselheiro pode ser prejudicado.

Ainda com respeito a essa linha, para Schroeder (2001) a compreensibilidade envolve aspectos tanto dos usuários quanto das próprias características qualitativas da informação e por conta disso estabelece ligação entre a informação e os responsáveis pela tomada de decisão. Dias Filho (2001), considera a compreensibilidade como característica importantíssima para que informações possam atingir a eficácia de se fazerem claras, concisas, sobretudo àqueles usuários que não sabem determinar quais são a informações adequadas para um relatório.

Por outro lado, o IASC (2001) considera que informações complexas, porém relevantes, para o processo decisório não devem ser excluídas sob o argumento de que parte de seus usuários não as entendam. Para o presente trabalho, esta vertente abre espaço para dois aspectos, a saber: i) informações importantes podem ser excluídas do relatório de prestação de contas; e ii) informações desnecessárias que podem ser incluídas sem haver ganho informacional para os usuários. O que se discute nesse caso é a questão da ausência ou presença de determinadas informações prejudicarem ou auxiliarem a compreensão dos relatórios de prestação de contas da SES.

Em relação à tempestividade Campelo (2012) a considera como característica análoga à oportunidade. A justificativa pode ser dada ao se pensar que a informação divulgada

em tempo hábil, ou seja, oportunamente, para auxiliar no processo decisório, é ferramenta importante para decidir os rumos de uma entidade. Entretanto, o CPC 00 (R1) (2013, p. 21) afirma que “certa informação pode ter o seu atributo tempestividade prolongado após o encerramento do período contábil, em decorrência de alguns usuários, por exemplo, necessitarem identificar e avaliar tendências”. Logo, cabe enfatizar a possibilidade de fatos passados, incialmente sem valor por não terem sido tempestivos, poderem adquirir este aspecto mesmo de forma tardia.

Wolk et al. (2004) afirma que para ser relevante, a informação deve ser oportuna, o que significa dizer que deve estar disponível para os tomadores de decisão antes que ela perca a sua capacidade de influenciar nas decisões. Portanto, existe relação entre a tempestividade e a relevância da informação. Todavia, o autor faz referência a conflitos existentes entre outras características ligadas a relevância, pois quanto mais completas e acuradas forem as informações a tendência é relaxar a restrição do tempo – sendo, assim, menos tempestiva.

Adicionalmente, Soares (1998) afirma que mesmo uma informação contábil próxima da realidade, se feita oportunamente, tem mais importância do que aquela informação precisa disponibilizada de forma tardia. Para os Conselhos de Saúde essa é uma realidade, às vezes, presente no processo deliberativo, pois o atraso de uma informação que pode auxiliar nas decisões realizadas em reuniões ordinárias pode vir a prejudicar o exercício das atribuições dos conselheiros e, consequentemente, do controle social. No tocante à aplicação da tempestividade no contexto dos relatórios de prestação de contas é possível pensar na periodicidade em que estas são disponibilizadas aos CES e no momento após a sua apreciação – o qual emite-se parecer a respeito das contas apresentadas pela SES.

Por fim, a verificabilidade permite que os usuários se assegurem a respeito da fidedignidade da informação que o fenômeno econômico objetiva representar (CPC, 2010). O Comitê ainda estabelece dois tipos de verificabilidade: a direta e indireta. A primeira consiste “verificar um montante ou outra representação por meio da observação direta” e a segunda “significa checar os dados de entrada do modelo, fórmula ou outra técnica e recalcular os resultados obtidos por meio da aplicação da mesma metodologia”. Especificamente para esta característica, a aplicação ao contexto de avaliação das prestações de contas se mostra inviável pela falta de contato com a elaboração dos relatórios, acesso a informações complementares e demais processos atinentes a esta fase. Portanto, só seria possível verificar os montantes de recursos apresentados nos relatórios de prestações de contas da SES. Após a síntese das

características qualitativas de melhoria a figura 2 insere quadro esquemático das mesmas.

(I) – Indicadores.

Figura 2 - Características Qualitativas de Melhoria. Fonte: Elaboração própria.

Após apresentar sustentação teórica para desenvolver o empreendimento problemático desta pesquisa faz-se necessário apresentar a maneira pela qual se buscou ataca- lo: possibilidade da maior participação social incrementar a qualidade dos relatórios de prestação de contas das Secretaria Estaduais de Saúde.