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1. CONTEXTUALIZAÇÃO

2.3 Prestações de contas e os aspectos qualitativos da informação

2.3.3 Aspectos Qualitativos da Informação Contábil

2.3.3.1 Características Qualitativas Fundamentais

mencionadas e tipificadas pelos organismos contábeis supramencionados, as discussões para elaboração de normas perpassam aspectos ligados à teoria contábil, afinal para transformá-las em matéria contábil (normas) é preciso sempre considerar uma série de fatores, conceitos e situações – muitas vezes até dinâmicas – caracterizando, também, a necessidade de eventuais adequações. A visão do CPC, na sua estrutura conceitual, demonstra este panorama quando faz alterações nas questões relacionadas às características qualitativas da informação.

No caso de verificar qual é o revestimento qualitativo que relatórios contábeis ou até mesmo prestações de contas, precisam ter, alguns autores empregam suas próprias proposições, à luz da teoria da contabilidade, no tocante às características mais importantes. Hendriksen e Van Breda (2011) e Glautier e Underdown (2001) consideram que os principais aspectos qualitativos da informação necessários para que os usuários possam compreender as informações contidas nos relatórios e, por consequência, tomarem a melhores decisões possíveis, são a materialidade, a relevância e a confiabilidade.

Por oportuno, e ressaltando discussão anterior sobre a reformulação realizada pelo CPC 00 (R1), buscam-se os conceitos teóricos relativos às características qualitativas para depois compilá-los na forma preconizada pelo Comitê: características fundamentais e de melhoria, além da sua respectiva organização. Sendo assim, a materialidade, na perspectiva de Glautier Underdown (2001), pode ser considerada como característica indispensável à informação para esta assumir caráter de utilidade. Hendriksen e Van Breda (2011) afirmam que no momento de decidir divulgar ou não determinada informação algumas características precisam ser verificadas para auxiliar neste processo, são elas: i) dados quantitativos; ii) o grau de itemização dos dados quantitativos, iii) relações especiais entre a entidade e indivíduos ou grupos específicos, afetando os direitos e interesses dos outros indivíduos ou grupos e iv) planos e expectativas da administração.

Então, parte-se da ideia de um olhar avaliativo mais próximo e focado em características como essas para apreciar as prestações de contas recebidas pelo CES, no sentido de realizar análise para dizer o que é pertinente e o que não é dentro dos relatórios. Em outra perspectiva, Bonízio (2001) afirma que além da informação conter itens considerados relevantes pelo usuário, também podem conter informações desnecessárias, que não trazem contribuição para as decisões e que, eventualmente, podem até prejudica-las. No caso dos Conselhos de Saúde, informações desnecessárias dentro das prestações de contas podem atrasar a sua apreciação ou até mesmo confundir os conselheiros no exercício de suas atribuições

deliberativas.

Ademais, em relação à materialidade destaca-se o fato desta ser intrínseca à relevância. A justificativa para essa questão pode ser dada pelo CPC 00 (R1) (2010, p. 17) quando este afirma que “a materialidade é um aspecto de relevância específico da entidade baseado na natureza ou na magnitude, ou em ambos, os itens para os quais a informação está relacionada no contexto do relatório contábil-financeiro de uma entidade”.

Cabe acrescentar, então, a dimensão da relevância como elemento atrelado a aspectos que fazem com que a informação seja útil em determinado momento e no seguinte não mais, ou seja, relevante para um e não para o outro (ALVES, 2003). O primeiro deles se refere à importância do valor preditivo das informações pelo fato deste fomentar as predições de eventos futuros com base nas informações do passado. O segundo aspecto faz alusão ao valor confirmativo – informações a respeito do resultado de uma decisão tomada anteriormente. Este indicador pode balizar decisões futuras. Neste caso, a predição e a confirmação podem ser consideradas ferramentas importantes para a gestão da saúde, pois uma prestação de contas que forneça subsídios para predição acaba por auxiliar o controle e confirmação daquilo que se julga adequado para sua gestão.

Por fim, o terceiro – oportunidade – considera que uma informação deve estar disponível no momento em que o usuário precisa do seu auxílio para tomar uma decisão (HENDRIKSEN e VAN BREDA, 2011). Logo, caso isto não ocorra, a informação perde a sua materialidade e, consequentemente, o usuário perde a oportunidade de tomar a melhor decisão possível. Todavia, pela nova estrutura conceitual abordada pelo CPC a abordagem da relevância não faz menção ao aspecto da oportunidade. Logo, entende-se como mais razoável inseri-la como uma característica qualitativa de melhoria, mais especificamente como tempestividade.

A dimensão da confiabilidade16 – na visão do IASB (1998) – considera que uma informação confiável é aquela que não possui erros materiais e que representa fielmente o que se propõe a representar. É preciso considerar, também, que não deve haver escolhas baseadas na conveniência dos gestores da informação. A omissão de determinadas informações pode ter implicações diretas na qualidade das informações prestadas nos relatórios (GLAUTIER e UNDERDOWN, 2001). Na esfera das prestações de contas da saúde a omissão de informações

pode ter implicações diretas no processo deliberativo de Conselho de Saúde e, por consequência, no atendimento de determinadas demandas da comunidade.

Dessa forma, para que a informação possa ser considerada confiável, Glautier e Underdown (2001) tipificaram as características necessárias para o referido intento, a saber: conteúdo, valor descritível e mensurável, neutralidade, precisão e prudência. A primeira estabelece que a informação deve ser fidedigna às transações e eventos ocorridos dentro da organização e, além disso, estar em consonância com os aspectos econômicos da mesma. A segunda estabelece que uma informação deve ser quantificável e possibilitar a realização de projeções de eventos futuros.

A neutralidade revela o caráter de imparcialidade dos gestores, ou seja, não se pode escolher determinadas informações por conveniência. A precisão está relacionada ao fato das informações não serem omitidas sob pena de estas causarem uma falsa impressão ou viés por parte dos usuários (GLAUTIER e UNDERDOWN, 2001). Por fim, e ainda segundo os autores, a prudência está alinhada ao estabelecimento de estimativas para ocorrência de eventos futuros.

Contudo, ao analisar a estrutura conceitual do CPC a característica prudência (conservadorismo) foi retirada do escopo de representação fidedigna sob o argumento de que seria inconsistente em relação a neutralidade. Como justificativa o CPC 00 (R1) (2013, p. 3) menciona que “subavaliações de ativos e superavaliações de passivos [...] com consequentes registros de desempenhos posteriores inflados, são incompatíveis com a informação que pretende ser neutra”.

A análise das características qualitativas fundamentais, à luz da teoria contábil e alinhada à estrutura conceitual do CPC, permite a construção de um esqueleto qualitativo que possa dar subsídios à avaliação de relatórios, no caso prestações de contas da saúde, quando moldadas e interpretadas em face das peculiaridades do setor. Um exemplo é verificar o que seria valor preditivo em uma prestação de contas encaminhada ao CES, bem como as outras características. A figura 1 delineia a organização das características qualitativas fundamentais e seus indicadores de forma que num segundo momento serão adequadas à realidade da saúde.

(I) – Indicadores.

Figura 1 - Característica Qualitativas Fundamentais.

Fonte: Elaboração própria.