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3. PRÁTICA LETIVA

3.2. Gestão do Processo Pedagógico: metodologias e estratégias do processo de E-A

3.2.1. Avaliação Diagnóstico

A avaliação diagnóstico (AD) é um instrumento que precede e nos permite suportar, as etapas de prescrição e avaliação (controlo). Por isso esta etapa deve seguir um determinado rigor e intencionalidade, pois só assim teremos maior probabilidade de prescrever de forma apropriada (Aguiar, Fernando, Barros, Simões & Lopes, 2012).

Esta avaliação inicial é fundamental para podermos realizar um planeamento anual mais fidedigno, pois esta é considerada o elo entre o planeamento e a intervenção prática tendo em conta os três domínios: cognitivo, psicomotor e sócio afetivo (Godinho, 2010).

Sendo assim, e de acordo com o Jacinto, Carvalho, Comédias e Mira (2001), esta avaliação deve permitir ao professor:

 Conhecer os alunos em atividade de Educação Física;  Apresentar o programa/ matérias desse ano;

 Criar um bom clima de aula, ensinar/ aprender ou consolidar rotinas de organização e normas de funcionamento da aula;

 Avaliar o nível inicial dos alunos e as suas possibilidades de desenvolvimento no conjunto das matérias de Educação Física;

 Identificar os alunos “críticos” e as matérias prioritárias (a ter em conta na calendarização das atividades);

 Recolher dados para orientar a formação de grupos, podendo estes assumir as características de grupos de nível, caso a heterogeneidade da turma o justifique;

 Identificar os aspetos críticos no tratamento de cada matéria (formas de organização, questões de segurança, formação dos grupos);

 Perceber a forma como os alunos reagem às instruções e feedback.

Pretendemos assim traçar um quadro geral das características da turma e dos alunos, para intervir de forma mais consciente e individualizada possível tendo em conta os objetivos propostos para a disciplina.

Conhecer os alunos é essencial para que a ação docente decorra sem qualquer problema. Temos que colocar o aluno no centro do processo de ensino aprendizagem e esta caracterização serve para isso mesmo, pois permite, através da análise dos dados recolhidos, “escolher” uma metodologia/estratégia válida que se poderá ser funcional perante um determinado público-alvo. É então essencial podermos realizar um diagnóstico refletido para que todo o processo tenha um seguimento lógico (diagnóstico – prescrição – controlo = transformação do aluno) (Almada et al., 2008).

Sendo assim organizámos a avaliação diagnóstica em cinco níveis:

 Num primeiro nível procurámos perceber quais as expetativas sobre a disciplina, vivências e preferências assim como as matérias preferidas e as que menos se identificavam tentando criar uma forma embrionária de relacionamento entre o professor e os alunos;

 Numa segunda fase perceber algumas das características pessoais e sociais da turma e de cada aluno com base num questionário (ver anexo A) e diálogo que nos permitiu caracterizar a turma (tarefa contemplada no Plano de Estágio) em questão tendo especial atenção às seguintes variáveis:

o Dados pessoais e relativos à família: nome, data de nascimento, agregado familiar, situação laboral, EE (nome grau de parentesco, morada, contactos…) o Dados relativos à vida escolar: disciplinas preferidas, disciplinas com mais

dificuldades, ambiente escolar, relação com a turma, expetativas futuras…; o Registo de saúde: doenças, alergias e limitações;

o Atividade Física, Desporto Escolar e EF: experiência desportiva/atividade física (federado, desporto escolar ou AF); perspetivas quanto à EF (grau de satisfação/importância, matérias que gostavam que fossem abordadas, preferência em relação a determinadas matérias);

o Tempos Livres: atividades extracurriculares. Destacamos alguns dados que achamos serem pertinentes:

o Maioria dos pais empregada revelando grande heterogeneidade ao nível das profissões o que pode significar diferentes estatutos socioeconómicos;

o Prática Desportiva pouco usual tanto a nível federado (apenas três praticavam JDC). Em relação à AF também pouco regular (caminhada, corrida e BTT); o Matérias preferidas: JDC em geral com exceção do Futebol/ Matérias preteridas:

Ginástica e Dança;

o Relação com a disciplina apresentou opiniões bastante díspares sendo que onze dos alunos atribuíram um bom grau de satisfação à EF estando os restantes distribuídos pelos outros níveis razoável (4), pouco agradável (2) e péssimo (1). o Impedimentos à prática desportiva por atestado médico permanente: um caso de

epilepsia convulsiva e outro de síndrome vertiginosa.

 Numa terceira fase verificámos de forma informal a dinâmica da turma nas aulas de EF no que toca ao empenhamento motor, cumprimento de regras, aceitação das tarefas a realizar como também o domínio sócio afetivo dos alunos tendo por base os critérios estabelecidos pelo GEF;

 Numa quarta fase focámos as diferentes matérias assim como a aptidão física dos alunos, criando e adaptando algumas fichas de observação, selecionando algumas variáveis e critérios característicos de cada matéria (baseados nas indicações do PNEF (2001) assim como na bibliografia específica de apoio referente às Unidades Curriculares de Didática da EF e Desporto). As tarefas propostas visaram determinados comportamentos de acordo com a matéria selecionada e o grupo taxonómico em que estava inserida. Assim compreendemos o nível de habilidade/competência da turma e dos alunos conhecendo de forma mais pormenorizada o desempenho de cada aluno. A tabela colocada diz respeito a apenas um exemplo de uma ficha de AD (ver anexo B);

 Numa última fase estabelecemos contacto com os alunos nos diversos espaços frequentados assim como nas diversas aulas de EF de forma a conhecer cada vez mais não só o tipo de relações estabelecidas entre os alunos como também, as ideias, preferências, personalidade entre outros aspetos.

Como podemos ver a AD não teve como principal propósito verificar a prestação dos alunos nas diferentes matérias, mas também perceber as características e personalidade de cada um, o envolvimento da turma entre outras questões.

Salientamos que recorremos a diversos instrumentos que nos permitiram aferir estes e outros dados (questionário, ficha da caderneta, diálogo com os alunos, autoavaliação, fichas de

observação, ficha de registo contínuo, entre outros), pelo que estas estratégias pareceram-nos as ideais, tendo em conta que a caracterização da turma não se esgotou neste simples momento, mas prosseguiu dia a dia no contacto direto e indireto com os alunos.

Não existem realmente instrumentos perfeitos, todos podem trazer informações úteis, mas não nos podemos esquecer que com maior ou menor precisão é necessário auscultar o público-alvo que temos em mão, pois sem este diagnóstico a nossa intervenção será realizada ao acaso.

É importante referir que a principal preocupação que influenciou todo este processo prendeu-se com a predisposição dos alunos para a prática desportiva. Na primeira aula, em conversa com os alunos e com o orientador cooperante, percebemos claramente que a maioria dos alunos não estava predisposta para realizar qualquer tipo de atividade. Como tal, os objetivos primordiais para os nossos alunos passaram por, através destas matérias selecionadas (escolhidas em parte pelos alunos), conseguir motivá-los para a prática, torná-los mais predispostos para tal, garantir um aumento da autoestima e perceção da sua competência e promover situações que lhes permitissem desenvolver a capacidade de tomada de decisão, responsabilidade, autonomia e criatividade.

Acima de tudo importa-nos, enquanto professores, potenciar o processo de ensino aprendizagem tentando assim proporcionar aos alunos as mais variadíssimas experiências, respeitar as diferentes características de cada aluno e garantir, sempre que possível, um máximo empenhamento motor em todas as tarefas delineadas. Só assim é que estaremos perante um professor que procura um ensino personalizado e consciente.