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5.3 O CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DE ARTE E EDUCAÇÃO

6.1.2 Avaliação e caracterização do curso

6.1.2.1 Avaliação e caracterização da estrutura do curso

Categoria Subcategorias Grupo

Início Grupo Estabilidade Grupo Renovação Total de sujeitos Avaliação e caracterização da estrutura do curso Avaliação positiva de aspectos gerais 10 07 05 22 Avaliação negativa de aspectos gerais 05 02 02 09 Caracterização da fase presencial 04 02 02 08 Caracterização da fase vivencial 02 02 01 05 Caracterização e avaliação do memorial 04 _ 01 05

Quadro 06: Categoria Avaliação e caracterização da estrutura do curso, suas subcategorias e número de registros obtidos.

Fonte: entrevistas

 Avaliação de aspectos gerais

A maioria expressiva das professoras cursistas (22 entrevistadas, 95,6%) referiu-se ao curso evidenciando aspectos positivos. Constatamos, apenas, um relato que apresenta discurso contraditório. Inicialmente, a professora Marivanda (2008), do Grupo Renovação, declarava que não tinha aprendido coisas novas e, na sequência, relatava uma nova forma de se posicionar na escola em função do curso de formação. Vejamos em suas próprias palavras:

Na verdade, eu não aprendi coisas novas, comecei só a retomar aquilo que já fazia na sala de aula e comecei a fazer um elo isso e educação física, só isso, não foi nada de novo.

[...] Isso (organização do tempo) foi uma coisa que, depois da especialização, eu vi a importância de botar na rotina, esse horário específico, que no planejamento você tem espaço para isso. Isso foi uma das coisas que mudou.

Nesse sentido, a oportunidade da entrevista possibilitou-lhe a reflexão sobre o vivido, levando-a a reconsiderações, como vemos, ao final, quando, dentre outros comentários, diz que

E aí, mesmo vendo a limitação do curso, que eu ia ser uma especialista, tudo aquilo para mim era novo e era bom e proveitoso na minha prática

(destaque da professora entrevistada na entonação).

A respeito das suas avaliações, algumas professoras se remeteram a comentários mais amplos, a saber: Foi gratificante; Foi muito bom; Gostei muito;

Superou as expectativas; Proporcionou crescimento; Abriu janelas..., e outras,

apontando aspectos mais específicos, tais como: - a riqueza das trocas de experiências;

- a estrutura que oportunizou uma articulação entre teoria e prática; - a estrutura que proporcionou a ampliação dos conhecimentos.

Nesse sentido, observamos o destaque para a troca de experiências, possibilitada, segundo as professoras cursistas, sobretudo, nas situações dos trabalhos em grupos na própria sala de aula e do desenvolvimento dos projetos relacionados à fase vivencial. Consideramos que a partilha de saberes funcionou como elemento formativo importante na medida em que propiciava, entre outros aspectos, a articulação entre teoria e prática, e, ao mesmo tempo, ocorriam, a ampliação e o aprofundamento das temáticas em questão, e ainda a reflexão sobre esses aspectos. Tal processo pressupõe a indissociabilidade desses fatores, sem a possibilidade de identificar cada um isoladamente.

Duas professoras avaliaram positivamente o desempenho e o compromisso da coordenação e dos/as professores/as:

[...] eu achei tudo muito interessante. Não ficou nenhuma janela vaga. Os professores foram muito dinâmicos, em relação às atividades, aos conteúdos, até mesmo como conduzir o grupo. Não teve nenhum professor que dissesse assim… esse não deu conta, ficou a desejar, não (Marizete, 2008).

[...] Uma coisa fantástica foi nunca ter havido um adiamento de uma aula; quando houve havia uma justificativa. Eu achei muito interessante a responsabilidade de cada um ministrante, assumindo o seu compromisso, porque a gente estava deixando coisas para trás e eles assumiam também esse compromisso, a pontualidade e a assiduidade; a forma de interação que estabeleceram conosco; a humildade porque nós completamente leigos, com poucos conhecimentos nas áreas e a forma como foi colocada, a mediação, a orientação foi muito interessante; respeitava os diferentes saberes [...] (Maria Tércia, 2008).

Em suas falas, as professoras elegem alguns aspectos relacionados aos/às professores/as e à equipe de coordenação do curso como fundamentais para o êxito do curso: dinamismo nas atividades, relevância de conteúdos, assiduidade, compromisso, boa relação entre professor/a-aluno/a, respeito, humildade, mediação…

Continuando a análise dos discursos das professoras, destacamos, ainda, os comentários acerca da atuação dos tutores. Das vinte e três entrevistadas, apenas nove vivenciaram a experiência da tutoria. Dessas, três professoras apontaram aspectos positivos da atuação do(a) tutor(a), a saber: ajudava, orientava e tirava as dúvidas. Entretanto, verificamos duas falas de docentes do Grupo Renovação a respeito de um feedback pouco significativo da ação do/a tutor/a e no sentido de que este/a deveria ter sido mais exigente:

No nosso caso, não deu muito certo, não. Pelo menos com a gente. Porque tudo que a gente fazia estava bom. E a gente via que, às vezes, não estava bom, que faltavam coisas. Acho que em relação ao nosso grupo deixou muito a desejar. Ela podia ter orientado mais: “melhorem aqui”. Tudo que a gente fazia estava ótimo. Quando a gente ia pensar a respeito a gente percebia que não era; que poderia melhorar [...] (Maria José, 2008).

A tutora do nosso grupo era muito acessível, mas ela poderia ter cobrado mais, dado mais sugestões de atividades, de fontes... Ela sempre achava tudo ótimo (Maria Régia, 2008).

Notamos que a tutoria era entendida como elemento pertinente, no entanto, nem sempre atendeu às expectativas, pelas escassas intervenções e/ou por falta de organização e gestão do tempo, como explicitam as professoras Maria Alice e Marilda:

O tutor também é muito bom; muito interessante. Porque a gente tem muita dúvida, principalmente, no princípio. Depois, a gente vai se acostumando. No início, a gente tinha dúvida sobre o como fazer. A gente fazia os trabalhos e o tutor dizia: falta isso; faça assim; faça de novo. Muitas vezes... Poderia ter sido melhor, a gente terminava lá pra meio-dia, cansada, ele olhava o trabalho assim correndo e eram dois grupos para ele atender e não dava para ele olhar direitinho e dizer (Maria Alice, 2008).

O tutor, eu acho que ele pode ser importante. Ele pode fazer um bom trabalho. No nosso caso, não foi bom, acho que devido a gente morar no interior. A gente não tinha muito como se reunir com ele, só lá na sala que era depois da aula que a gente podia falar com ele. Todo mundo com sono, com vontade de voltar para casa, embora, todo mundo deixa marido em casa, deixa os filhos, aí, ficava muito difícil para gente a parte do tutor. Mas, eu acho que o tutor, para quem mora lá, por exemplo, eu acredito que deve ter sido de muita importância. De um modo geral, eu acho que o tutor é

muito bom [...] O curso para mim, só essa parte do tutor é que para nós... Mas, todas as outras partes, a presencial, a parte vivencial, todos os projetos que a gente teve que fazer por causa do curso [...] Foi tudo muito bom (Marilda, 2008).

Lembramos que as evidências de aspectos positivos não excluem os comentários negativos. Estes também foram sublinhados por cinco professoras, sendo três do Grupo Início, uma do Grupo Estabilidade e uma do Grupo Renovação, associados ou não a comentários positivos do curso. Atentemos para eles:

- pouca prática e pouca reflexão sobre a prática – esses comentários foram encontrados em duas entrevistas, uma do Grupo Início e outra do Grupo Estabilidade, e traz implícito o caráter eminentemente prático que tem permeado, historicamente, as áreas de Arte e de Educação Física e ainda um entendimento de prática que corresponde à realização de vivências.

Vejamos os dois excertos:

Para mim, a estrutura que ele funcionou foi ótima; a questão dos dias, dos horários. [...] A estrutura do curso, eu gostei. Agora, às vezes, a dinâmica que um professor usou não tinha como ser de outro jeito e muita gente não gostou, porque não tinha a questão da prática, mas a aula foi riquíssima. Para alguns, não foi o que gostaria que tivesse sido porque como é educação física pensavam que em todo momento ia ter uma prática para poder estar usando (Maria Selina, 2008).

Teve prática, mas foi pouco. Faltou muita prática, não sei se foi por causa do tempo que foi pouco. Como era arte e educação física ficou muito a desejar. [...] teve (espaço para pensar a prática), mas pouco. Para o curso ter mais frutos mesmo, teria que ser mais [...] (Maria Aneide, 2008).

- pouco tempo de curso – aspecto evidenciado por duas professoras, uma do Grupo Início e outra do Grupo Estabilidade, sob diferentes olhares. A primeira referiu-se à necessidade de mais tempo de estudo na própria sala de aula. Ela esclareceu que, devido ao regime de trabalho em dois turnos e à demanda do curso em relação às leituras e atividades afins, os seus momentos de leitura/estudo ficavam restritos, em muitos casos, à sala de aula. Daí, a necessidade de mais tempo. Já a professora do Grupo Estabilidade se referiu ao tempo necessário para a realização de mais práticas (vivências corporais) na fase presencial.

Consideramos que a dupla jornada de trabalho, ocasionada, muitas vezes, pelos ínfimos salários, compromete a qualidade da formação do/a professor/a e do ensino junto a crianças.

- estrutura insatisfatória da fase vivencial - vivência ao final da disciplina;

estrutura que necessitava de um acompanhamento maior do professor durante a fase vivencial; possíveis dificuldades no desenvolvimento das atividades relacionadas à fase vivencial – apontadas por duas professoras, sendo uma do Grupo Início, e outra do Grupo Estabilidade; os três aspectos dizem respeito à operacionalização da fase vivencial.

Diante do exposto, já ousamos afirmar que, de modo geral, as falas das professoras investigadas nos levam a crer que eixos norteadores do curso em questão, tais como: diálogo entre teoria e prática, interdependência entre ensino e aprendizagem e práxis pedagógica concebida como práxis social, propiciaram alcançar os objetivos propostos para ele. As poucas queixas recaem principalmente sobre questões de estruturação. Então, conheçamos melhor a estrutura do curso, segundo as professoras.

Caracterização/apreciação das Fases Presencial e Vivencial

Após o término do curso, como as professoras caracterizam a estrutura vivida organizada em fases presenciais e vivenciais?

Recordemos que o curso de formação investigado possuía uma estrutura modular, organizada em fases presencial e vivencial. A fase presencial foi caracterizada como espaço:

- de estudos com estratégias diversificadas e encadeadas;

- de estudos teóricos, “mais chatos”, e de reflexão, de apresentação de projetos, que facilitou o entendimento;

- de realização de vivências corporais;

- de trocas de experiências e fase voltada para o aprofundamento das temáticas estudadas.

Em relação à fase vivencial, a maioria das falas das entrevistadas a descreve como espaço de articulação entre teoria e prática. Além dessa característica, a fase vivencial foi apontada, também, como espaço de desenvolvimento de projetos didáticos e, por isso, outra professora ressalta a importância dessa fase:

[...] os projetos – eu acho que essa foi a chave do curso, a base do curso. [...] (Maria Diana, 2008).

Assim, mesmo que, em uma primeira leitura, a articulação teoria e prática pareça, segundo as professoras, restrita à fase vivencial, ela emerge, ao longo das entrevistas, em afirmações relacionadas à fase presencial, como por exemplo, quando assinalam a realidade social e sobretudo as situações nos contextos educativos como referências para os estudos teóricos.

Apesar de algumas críticas relacionadas à operacionalização da fase vivencial, nenhum testemunho protesta a opção quanto à estrutura adotada. Pelo contrário, a estrutura organizacional foi destacada como aspecto positivo.

Caracterização e avaliação do memorial

A construção do Memorial Descritivo como TCC foi considerado por uma professora como um trabalho penoso, mas, como complementam as professoras Marilane e Maria Alice, era uma atividade pessoal de articulação das vivências anteriores e dos estudos efetivados, ou seja, era o momento de individualização do que tinha sido com-partilhado no coletivo, em tempo recente ou remoto:

Foi recordar muitas coisas que a gente não se lembrava mais. Buscar na memória quem foram os professores (Maria Alice, 2008).

[...] na construção do memorial que a gente vai resgatar um pouco da nossa própria vivência. Foi quando eu comecei a observar minhas práticas anteriores e fui relatando o trabalho com arte e educação física, como eu tinha arte e educação física no meu período escolar [...] (Marilane, 2008).

As palavras de Mariza (2008) seguem na mesma direção das anteriores, mas as enriquecem quando se referem à produção do relatório da fase vivencial e o compara à escrita do memorial:

[...] Como aconteceu com o relatório final, a monografia. A gente sentou, conversou, leu [...].

De modo geral, a produção do Memorial foi considerada positiva por se constituir numa possibilidade de refletir coletivamente sobre as experiências vividas e compartilhá-las.

Consideramos importante ressaltar, nesse trabalho de escrita do memorial, as considerações relativas às intervenções dos professores-orientadores. Todos os comentários feitos a esse respeito realçam o papel fundamental dos/as

professores/as no processo de fazer e refazer o texto, sugerindo leituras e fazendo outras intervenções.

Então o que, na perspectiva das professoras, contribuiu nesse processo de re-elaboração dos saberes? Quais ações/experiências propiciaram mudanças?