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1. Enquadramento legislativo da educação pré-escolar e sua expansão em Portugal

2.4. A avaliação na educação pré-escolar

Avaliação em educação de infância é tão importante como em qualquer outro nível do sistema educativo. É uma “peça fundamental no trabalho dos bons profissionais de educação”, desde que se afaste dessa “imagem convencional” e redutora em que “avaliar é dar notas, avaliar é examinar, é medir as crianças, avaliar é comparar e introduzir diferenças entre pequenos (Zabalza, 2000, p.30)

Até aos anos oitenta, não era dada grande importância à avaliação na educação pré- escolar, pois entendia-se não ser necessária nestas idades.

Com o decorrer dos tempos e à medida que a educação pré-escolar ganhava mais terreno nas consciências sociais, nas políticas educativas e nos pais, também ia mudando a mentalidade relativa à importância de avaliar as atividades desenvolvidas. Gaspar (2004) salienta mudanças: ao nível das conceções da avaliação, com implicações nas práticas pedagógicas; na relação sobre o conhecimento de como as crianças aprendem e se desenvolvem; nas metas e objetivos educacionais; no número e diversidade de crianças que frequentam a educação pré- escolar; as que decorrem da convicção de não avaliar ou avaliar inadequadamente.

Avaliar o processo ou o desenvolvimento das aprendizagens coloca-nos frente a dúvidas e incertezas sobre metodologias e conhecimentos, que nos colocam frente a questões iguais a qualquer outro nível de educação e ensino.

Tal como sustenta Alves (2004), precisamos entre outras coisas, de saber que conceções de avaliação têm os professores, se avaliam os processos ou resultados ou as duas em simultâneo, que dispositivos são implementados na avaliação das aprendizagens e que critérios são usados e por quem, como base para avaliar.

A avaliação na educação pré-escolar é um elemento que deve regular a prática educativa, implicando procedimentos adequados e específicos das atividades que se desenvolvem em contexto de jardim-de-infância. Neste sentido, permitirá ao educador uma tomada de consciência da ação, uma recolha de informação sistemática, podendo adequar as suas práticas em função das necessidades de cada criança. Guba e Lincoln (1989, p.21) sustentam que “não há uma maneira certa de definir avaliação, de um modo que se possa de uma vez por todas por fim à discussão sobre como realizar a avaliação e quais os seus objectivos”. Muito embora nesta idade a avaliação não se exprima pela classificação, dá ao educador informação da forma como se desenvolvem as atividades, como se desenvolve o projeto pedagógico ou como se desenvolve e aprende cada criança e o grupo de crianças na globalidade (Gaspar, 2004).

Maia (2006, p.17) refere existir “uma nova forma de conceber a educação das crianças pequenas e da própria forma de entender o processo de avaliação, como elemento fundamental para a tomada de decisões e para o aperfeiçoamento das práticas educativas”. A autora acrescenta que a avaliação é entendida como um caminho que, se for percorrido de forma responsável e inteligente, ajudará os profissionais da educação a compreender o que acontece e por que razão, facilitando “a retificação do rumo, o reconhecimento dos erros e a melhoria das práticas” (idem, ibidem).

Contudo, as alterações organizacionais e legislativas surgidas nas últimas décadas, fazem com que para os educadores, avaliar não seja uma tarefa fácil. A problemática da avaliação tem constituído uma das dimensões mais importantes no âmbito das transformações e reformas da educação em Portugal, ao serem estabelecidas definições legais, sobretudo após a publicação da Lei-Quadro da Educação Pré-Escolar (Lei n.º 5/97), das OCEPE em 1997 e, mais recentemente, com a definição das metas de aprendizagem para a educação pré-escolar.

Parente (2002) refere que as mudanças ao nível das conceções da avaliação, com implicações nas práticas de avaliação, relativas ao conhecimento sobre como a criança aprende e se desenvolve, nas metas e objetivos educacionais, o advento das Orientações Curriculares e as exigências de ligar a planificação e a avaliação e, ainda, as decorrentes da convicção das limitações de não avaliar ou avaliar inadequadamente são indicadores do crescente interesse pela questão da avaliação na educação pré-escolar

No início do processo de avaliação, o educador deve ser capaz de responder às questões: “porquê avaliar” e “para quê avaliar”. Ao educador de infância que é responsável por construir e gerir o currículo compete, também, definir e criar um sistema de avaliação que contemple os conteúdos do currículo, as estratégias de ensino e aprendizagem utilizadas por si, e o contexto onde decorre a aprendizagem. Assim, a avaliação, nesta etapa, deve ser um processo contínuo, em que se utilizam procedimentos para descrever os progressos realizados pela criança ao longo do tempo, de forma globalizante e em contextos específicos. Surge para beneficiar a aprendizagem da criança e é, nessa medida, um elemento fundamental de trabalho dos educadores.

A observação direta “sistematicamente realizada e com caráter cumulativo da informação é um elemento fundamental da avaliação educacional”. Só com a observação, componente essencial da avaliação educacional, sistemática e consistente, se poderá obter informações precisas e saber quais as necessidades e os interesses das crianças e obter dados “precisos e significativos, capazes de informar o educador sobre as necessárias modificações a fazer” (Parente, 2002, p.168).

Os jogos, as tarefas, as reflexões, a capacidade de resolução dos problemas com que se defrontam, os registos e autoavaliações, bem como descrições sobre as suas conquistas e desafios constituem material importante para apoiar e suportar o processo de planificação e tomada de decisões do educador para a construção de novas aprendizagens de ensino.

A partir do momento em que o educador souber exatamente onde quer chegar com o seu trabalho, estabelecerá as estratégias para o conseguir. Avaliar os seus resultados pode e deverá ser prática corrente deste processo. Para Abrantes (1995), a avaliação tem como tarefa, gerar novas oportunidades de aprendizagem. Para Hadji (1994), a avaliação ajuda a regulação da vida escolar e é um elemento de comunicação social entre indivíduos da escola.

Na educação pré-escolar e com as orientações ministeriais no terreno, sabe-se que a avaliação, nesta etapa da educação, deve ser diagnóstica, formativa e participada. Como o fazer, é que se torna emergente consolidar instrumentos de observação que “meçam” simplesmente aquilo que se pretende e não uma tentativa reguladora de um processo que se pretende formativo de sucesso, articulado e intencional para um verdadeiro desenvolvimento de competências.Neste sentido, a circular n.º 4/DGDIDC/DSD/2011, refere que a avaliação tem a finalidade de:

“-Contribuir para a adequação das práticas, tendo por base uma recolha sistemática de informação que permita ao educador regular a actividade educativa, tomar decisões, planear a acção; reflectir sobre os efeitos da acção educativa, a partir da observação de cada criança e do grupo de modo a estabelecer a progressão das aprendizagens; recolher dados para monitorizar a eficácia das medidas educativas definidas no Programa Educativo Individual (PEI); promover e acompanhar processos de aprendizagem, tendo em conta a realidade do grupo e de cada criança, favorecendo o desenvolvimento das suas competências e desempenhos, de modo a contribuir para o desenvolvimento de todas e da cada uma; envolver a criança num processo de análise e de construção conjunta, que lhe permita, enquanto protagonista da sua aprendizagem, tomar consciência dos progressos e das dificuldades que vai tendo e como as vai ultrapassando; conhecer a criança e o seu contexto, numa perspectiva holística, o que implica desenvolver processos de reflexão, partilha de informação e aferição entre os vários intervenientes – pais, equipa e outros profissionais – tendo em vista a adequação do processo educativo (2011, p.3)”

CAPÍTULO lll

Neste capítulo, apresentamos a fundamentação metodológica da investigação realizada. Definimos a problemática e os objetivos que orientaram esta investigação e apresentamos as opções metodológicas escolhidas.