3. Metodologia da investigação
3.8. Técnicas de Análise de Dados
Para a análise dos dados provenientes das entrevistas, recorremos à análise de conteúdo, sendo “um conjunto de instrumentos metodológicos cada vez mais subtis em constante aperfeiçoamento, que se aplicam a «discursos» extremamente diversificados” (Bardin, 2009, p.60). Segundo Marconi e Lakatos (1999, p.133) é um instrumento de “conhecimento que possibilita, com base numa lógica especificada, que se façam inferências sobre a fonte, sobre o receptor ou destinatário da audiência e finalmente sobre a situação em que o emissor produziu o material que irá ser objecto de análise”.
A análise e, posteriormente, a interpretação dos dados obtidos, ao longo da investigação, é um dos pontos mais importantes de todo o processo de investigação, pois é através dela que damos resposta às nossas questões iniciais, neste caso compreender as perspetivas e práticas de avaliação na educação pré-escolar, nomeadamente, se a avaliação estará a tornar esta etapa de educação numa escolarização precoce e num processo demasiado formalizado.
Realizadas as entrevistas, cara a cara com as educadoras de infância, procedemos à sua transcrição para suporte informático alterando apenas alguma questão gramatical, sem correr o risco de alterar conteúdos. Depois de transcritas, todas as entrevistas foram minuciosamente lidas e analisadas, procedendo-se à organização do seu conteúdo, de acordo com as categorias definidas inicialmente e outras que emergiram da análise, para nos ajudar a compreender melhor o conteúdo, ou seja, para “inferir o seu conteúdo imanente, profundo,
oculto, sob o aparente; ir além do que está expresso como comunicação directa, procurando descobrir conteúdos ocultos e mais profundos” (Sousa, 2005, p. 264).
As categorias têm de estar de acordo com as questões da investigação e o texto deve ser analisado na sua globalidade. Faz-se, de início, uma “leitura flutuante” para, depois, selecionar o essencial da informação onde se encontra o que vai ser trabalhado (Bardin, 2009).
A análise do conteúdo das entrevistas chegamos conduziu-nos a três categorias e cada uma das categorias foi dividida em subcategorias.:
Categoria A - Perspetivas da avaliação
Categoria B - Práticas Avaliativas na avaliação da educação pré-escolar
Categoria C - Formalização/Informalização da avaliação na educação pré-escolar A categoria A, foi subdividida em três subcategorias de acordo com a especificidade discursiva:
A subcategoria A1 abrange o discurso das educadoras sobre as conceções avaliação; A subcategoria A2 abarca o discurso das educadoras relativo ao interesse que os educadores sentem pela avaliação e a formação que possuem ou adquirem em avaliação.
Unidades de registo relativas às questões da formação inicial, formação contínua, o conhecimento das orientações ministeriais, o reconhecimento de competências avaliativas e sobre alguma desilusão e frustração que sentem.
A subcategoria A3, relativa à pertinência e a importância que os educadores dão à avaliação na educação pré-escolar, contem registos das entrevistadas sobre a implementação da avaliação na educação pré-escolar e a importância do ato de avaliar.
Na categoria B (práticas avaliativas), criamos sete subcategorias:
A subcategoria B1 referente aos modelos pedagógicos usados nas práticas, registamos informações sobre modelos pedagógicos utilizados e papel do educador e da criança nesse modelo;
A subcategoria B2 aborda a organização da prática avaliativa e abarca os testemunhos sobre observar, planificar, avaliar, refletir e reformular;
A subcategoria B3 referente às das funções da avaliação, abarca os registos sobre avaliação diagnóstica, avaliação qualitativa, avaliação percentual e avaliação formativa;
A subcategoria B4 aborda a questão da reflexão sobre as práticas e sobre a autoavaliação do educador e registos da avaliação das crianças;
A subcategoria B5, referente às técnicas e instrumentos utilizados na avaliação, abarca os registos sobre a observação direta, grelhas de observação trimestral, grelhas de avaliação diagnóstica e a avaliação descritiva para os encarregados de educação;
A subcategoria B6, referente aos papéis e intervenientes na prática avaliativa, encontramos respostas sobre o papel do educador na avaliação, o papel do encarregado de educação, o papel da criança e o papel da comunidade;
A subcategoria B7, referente à utilidade que as educadoras dão à avaliação que fazem durante o ano, agrupa as respostas sobre a reflexão das planificações, dos resultados, respostas sobre a reorganização dos planos, das intervenções e das estratégias a utilizar;
A subcategoria B8, referente à articulação curricular com o 1º ciclo, encontramos respostas referentes à articulação com o 1ºciclo, em particular com o 1º ano.
A categoria C, cujo tema é a formalização da avaliação na educação pré-escolar, criamos cinco subcategorias:
A subcategoria C1, referente à planificação, encontramos respostas relativas a atividades formais e planificações formalizadas;
A subcategoria C2, referente a autonomia avaliativa do docente, abarca os registos sobre a imposição de métodos e técnicas, assim como a imposição de instrumentos de avaliação na educação pré-escolar;
A subcategoria C3, referente à valorização da avaliação na educação pré-escolar pelo 1º ciclo, abarca os registos sobre a pressão avaliativa na educação pré-escolar e o reconhecimento do trabalho e avaliação do pré-escolar pelos docentes do 1º ciclo;
A subcategoria C4, referente à preparação necessária da criança à entrada para o 1º ciclo, descreve os testemunhos sobre a preparação que se faz para a entrada da criança no 1º ciclo;
A subcategoria C5, sobre a escolarização precoce na educação pré-escolar, abarca os registos sobre alterações das práticas, alterações dos conteúdos desenvolvidos e a aplicação das funções da avaliação pelo educador.
No quadro 6 descrevemos as categorias e subcategorias e respetiva explicitação para a análise dos dados .
Quadro 6. Categorias, subcategorias e respetiva explicitação para a análise dos dados
Categorias Subcategorias Explicitação
A Perspetivas Objetivo 1: (perceber as perspetivas dos educadores sobre a avaliação) A1 Conceito de avaliação
Conhecimentos teóricos que os educadores têm sobre a avaliação Informação A2 Interesse/formação Formação inicial Formação contínua
Conhecimento das orientações ministeriais Reconhecimento de competências avaliativas Desilusão / frustração
A3
Pertinência/importância profissional e benefício
Implementação da avaliação na educação pré-escolar Importância no ato de avaliar
B Práticas Avaliativas Objetivo 2: (Conhecer as práticas de avaliação, os instrumentos utilizados para avaliar e a utilidade que os educadores conferem à avaliação. B1. Modelos pedagógicos Modelos utilizados
Papel do educador nesse(s) modelo(s) Papel da criança nesse(s) modelo(s)
B2
Organização da prática avaliativa
Observar
Conhecer a criança/grupo, as suas características, necessidades, interesses, capacidades e
desenvolvimento global Planificar
Planos anuais, mensais, semanais e diários Avaliar
Registos Refletir
Reflexão sobre a prática educativa/avaliação Reformular
Adequar a prática pedagógica Utilizar novas estratégias
Quadro 6. Categorias, subcategorias e respetiva explicitação para a análise dos dados (cont.) B Práticas Avaliativas Objetivo 2: (Conhecer as práticas de avaliação, os instrumentos utilizados para avaliar e a utilidade que os educadores conferem à avaliação. B3 Funções de avaliação Diagnóstica Formativa
Com resultados qualitativos e/ou percentuais
B4
Reflexão sobre as práticas
Autoavaliação do educador
Registos de autoavaliação das crianças
B5
Técnicas/ Instrumentos de avaliação
Observação direta
Grelhas de avaliação trimestral Grelhas de avaliação diagnóstica Avaliação descritiva para os EE
B6
Intervenientes e papéis na prática avaliativa
Papel do educador Papel da criança
Papel do encarregado de educação Papel da comunidade B7 Utilidade da avaliação Reflexão Reformulação Aprendizagem B8
Articulação curricular 1º Ciclo
C Formalização/ Informalização da avaliação na educação pré- escolar Objetivo 3: (Compreender se, a avaliação que se pratica está a tornar-se num processo demasiado formalizado e se a avaliação na educação pré- escolar está, ou não, a escolarizar esta etapa educativa) C1 Planificação Atividades formais Planificações formalizadas C2 Autonomia avaliativa
Imposição de métodos e técnicas Imposição de instrumentos C3 Valorização do 1º ciclo Pressão avaliativa Reconhecimento de trabalho C4
Preparação para 1º ciclo Avaliar para informar das competências de 1º ciclo
C5
Escolarização precoce
Alterações das práticas
Alterações dos conteúdos desenvolvidos
Aplicação das funções da avaliação pelo educador