• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO I – QUADRO TEÓRICO

3. Perspetivas teóricas de avaliação

3.2 Avaliação nos normativos legais

O Despacho Normativo n.º 30/2001 estabelece os princípios e os procedimentos a observar na avaliação das aprendizagens assim como os efeitos dessa avaliação. Neste despacho eram enunciados explicitamente cinco princípios a ter em conta na avaliação das aprendizagens, que são:

a) Consistência entre os processos de avaliação e as aprendizagens e competências pretendidas através da utilização de modos e instrumentos de avaliação

54 diversificados, de acordo com a natureza das aprendizagens e dos contextos em que ocorrem;

b) Primazia da avaliação formativa, com valorização dos processos de

autoavaliação regulada, e sua articulação com os momentos de avaliação sumativa;

c) Valorização da evolução do aluno, nomeadamente ao longo de cada ciclo;

d) Transparência do processo de avaliação, nomeadamente através da clarificação e

da explicitação dos critérios adotados;

e) Diversificação dos intervenientes no processo de avaliação. (Diário da

República, 2001b, pp. 4438-4439)

Na tabela 1.1 apresenta-se uma reflexão realizada por Correia (2004) sobre os princípios enunciados neste despacho. A autora considera serem sete os princípios fundamentais da avaliação das aprendizagens.

55 Tabela 1.1

Interpretação dos princípios fundamentais da avaliação das aprendizagens.

Despacho Normativo n.º30/2001 Interpretação de Correia (2004) A avaliação visa apoiar o processo educativo, de

modo a sustentar o sucesso de todos os alunos, permitindo o reajustamento dos projetos curriculares de escola e de turma, nomeadamente quanto à seleção de metodologias e recursos, em função das necessidades educativas dos alunos;

Princípio da equidade

A avaliação deve promover a equidade

A avaliação das aprendizagens assenta na valorização da evolução do aluno, nomeadamente ao longo de cada ciclo;

Princípio da positividade

A avaliação dever revelar o que os alunos sabem e o modo como usam o saber

A avaliação é um elemento integrante e regulador da prática educativa, permitindo uma recolha sistemática de informações que, uma vez analisadas, apoiam a tomada de decisões adequadas à promoção da qualidade das aprendizagens;

Princípio da melhoria

A avaliação deve melhorar as aprendizagens

A avaliação das aprendizagens assenta na consistência entre os processos de avaliação e as aprendizagens e competências pretendidas através da utilização de modos e instrumentos de avaliação diversificados, de acordo com a natureza das aprendizagens e dos contextos em que ocorrem;

Princípio da coerência

A avaliação deve ser um processo coerente

A avaliação das aprendizagens assenta na transparência do processo de avaliação, nomeadamente através da clarificação e da explicitação de critérios;

Princípio da transparência

A avaliação deve ser um processo transparente

A avaliação utiliza modos e instrumentos de avaliação diversificados, de acordo com a natureza das aprendizagens e dos contextos em que ocorrem;

Princípio da diversificação de procedimentos

A avaliação deve ocasionar informação variada e contextualizada para inferências válidas

A avaliação das aprendizagens assenta na diversificação dos intervenientes no processo de avaliação.

Princípio da diversificação de intervenientes

A avaliação deve assentar na circularidade de informação

Relativamente ao Despacho Normativo n.º30/2001, e com base no apresentado na Tabela 1.1, verificamos que Correia (2004) não tem em conta o princípio da primazia da avaliação formativa de forma tão explícita como consta na alínea b do ponto 6 do referido diploma legal. No entanto, a autora valoriza a dimensão reguladora da

56

avaliação no princípio da melhoria, referindo entre outros objetivos “contribuir para que cada aluno se aproprie dos conhecimentos exigíveis” e “informar o professor para que possa tomar decisões sobre o seu ensino”. Também a questão da articulação com a avaliação sumativa está presente, pois considera o uso dos resultados da avaliação formal para “determinar os níveis de aprendizagens atingidos pelos alunos e identificar causas de dificuldades por eles sentidas para que se criem condições de ultrapassagem” (Correia, 2004, p. 17).

Num diploma legal mais recente (Portaria n.º 1322/2007 Diário da República, 1.ª série

— N.º 192 — 4 de Outubro de 2007), por nós analisado, os princípios fundamentais da

avaliação das aprendizagens mantêm-se, embora seja agora explicitada a necessidade de diversificar técnicas e instrumentos de avaliação (alínea c) do artigo 6.º) e valorizada a informação a fornecer ao aluno sobre o seu desempenho, que deve ser sistemática e “com vista à melhoria das aprendizagens”.

A portaria n.º 243/2012 de 10 de agosto define o regime de organização e funcionamento dos cursos científico-humanísticos, onde se inclui o de Ciências e Tecnologias, assim como os princípios e os procedimentos a observar na avaliação. Relativamente à avaliação sumativa interna, e de acordo com este diploma legal, ela destina-se a “informar o aluno e ou o seu encarregado de educação sobre o desenvolvimento da aprendizagem em cada disciplina” e a “tomar decisões sobre o percurso escolar do aluno” (alíneas a) e b) do ponto um, do artigo 9.º). Especificamente para a disciplina de Física e Química A, a componente prática e/ou experimental deve ter um peso mínimo de 30 % no cálculo da classificação a atribuir (alínea c do ponto cinco, do artigo 7.º).

A avaliação pode ser assim considerada uma questão estratégica na condução dos processos de ensino e de aprendizagem, pelo que será um elemento relevante neste

57

trabalho de investigação, tendo em vista uma possível identificação de práticas de avaliação com impacto positivo nos resultados escolares dos alunos.

De acordo com a Portaria n.º1322/2007, a avaliação das aprendizagens compreendia duas modalidades principais: a avaliação formativa e a avaliação sumativa. A avaliação formativa é contínua e sistemática e tem função diagnóstica, permitindo ao professor, ao aluno, ao encarregado de educação e a outras pessoas ou entidades legalmente autorizadas obter informação sobre o desenvolvimento das aprendizagens, com vista à definição e ao ajustamento de processos e estratégias. A avaliação sumativa consiste, por seu lado, na formulação de um juízo globalizante sobre o grau de desenvolvimento das aprendizagens do aluno e tem como objetivos a classificação e a certificação. Estas modalidades de avaliação serão tidas em conta na próxima subsecção.

Num diploma mais recente (Decreto-Lei n.º139/2012), a avaliação diagnóstica é realçada, com um estatuto ao nível da avaliação formativa e da avaliação sumativa, considerando assim, não duas mas três modalidades. Em ambos os diplomas, a avaliação sumativa é da responsabilidade dos professores e da respetiva escola (avaliação sumativa interna) e dos serviços centrais do Ministério da Educação (avaliação sumativa externa).

Segundo este diploma mais recente, que considera então três modalidades de avaliação, os efeitos de cada uma são: i) a avaliação diagnóstica visa facilitar a integração escolar do aluno, o apoio à orientação escolar e vocacional e o reajustamento de estratégias; ii) a avaliação formativa determina a adoção de medidas pedagógicas adequadas às características dos alunos e à aprendizagem a desenvolver; iii) a avaliação sumativa conduz à tomada de decisão, no âmbito da classificação e da aprovação em cada disciplina ou módulo, quanto à progressão nas disciplinas não terminais, à transição

58

para o ano de escolaridade subsequente, à admissão à matrícula e à conclusão do nível secundário de educação (Decreto-Lei n.º139/2012, p. 3482).

Ao nível dos diplomas legais registamos assim, para além da avaliação sumativa, uma relevância significativa atribuída à avaliação formativa e ao seu papel na monitorização das aprendizagens, através do feedback, bem como à individualização da função diagnóstica que a avaliação formativa também pode ter. A nossa experiência mostra que nem sempre a avaliação formativa, nas práticas de avaliação efetivas em cada sala de aula, tem a mesma relevância dada pelos diplomas legais. Analisamos de seguida como estas modalidades de avaliação são entendidas na literatura dedicada ao tema.