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CAPÍTULO I – QUADRO TEÓRICO

4. Os instrumentos e as práticas ao serviço da avaliação de “elevado impacto”

4.1 Critérios de avaliação

É a partir do trabalho realizado na sala de aula, que o professor recolhe informação dos seus alunos e posteriormente a formaliza em registos estruturados. As técnicas utilizadas para objetivar estes registos é parte de um processo que podemos considerar subjetivamente construído a partir de inúmeros dados. Noizet e Caverni (1983) afirmam que o insucesso escolar pode ser causado, pelo menos em parte, pelos procedimentos de avaliação dos trabalhos e produções dos alunos. Por outro lado, Pacheco (1998) argumenta que o insucesso do aluno pode ser explicado, em parte, por uma frágil prática de construção do referente ou da clarificação dos critérios que servem para julgar o seu desempenho. É pois necessário refletir sobre o ato de avaliar, e de formular critérios em função de referentes concretos.

Para a construção de uma avaliação reguladora (do processo de ensino e de aprendizagem, no duplo sentido da orientação da ação do professor e formativo, ou seja, no sentido da regulação das aprendizagens), os objetivos pedagógicos têm de ser claros e os critérios de avaliação conhecidos. É necessário informar os alunos sobre as aprendizagens que é suposto realizarem e os critérios por referência aos quais as suas aprendizagens (processos e produtos) são avaliadas. Por vezes, os critérios de avaliação que são realmente utilizados não coincidem com aqueles que são explicitados e os alunos, mesmo quando são informados sobre os critérios de avaliação, não se apropriam

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deles todos da mesma forma. Ultrapassar estas dificuldades passa pela necessidade de cada professor explicitar (para si e para os alunos) os critérios que utiliza para apreciar os trabalhos e as aprendizagens dos alunos (Barbosa e Alaiz, 1994).

No sistema educativo português, compete ao conselho pedagógico definir os critérios de avaliação sob proposta dos departamentos curriculares, contemplando critérios de avaliação da componente prática e ou experimental, de acordo com a natureza das disciplinas (Decreto-Lei n.º 137/2012 e Portaria n.º 243/2012). Os critérios de avaliação constituem referenciais comuns, em cada escola, e são operacionalizados pelos professores dos respetivos grupos disciplinares. Por sua vez, os órgãos de gestão e administração da escola devem assegurar a divulgação dos mesmos aos diversos intervenientes, nomeadamente aos alunos e encarregados de educação. Um estudo realizado por Alaiz, Gonçalves e Barbosa (1997), afirma que praticamente todas as escolas definem critérios de avaliação, maioritariamente referentes à avaliação sumativa, existindo, no entanto, referência significativa à avaliação formativa nos documentos elaborados pelas escolas.

A formulação de critérios de avaliação exige um trabalho e colaboração efetiva de todos os intervenientes. A complexidade da avaliação das aprendizagens obriga a um esforço conjunto de todos os atores educativos, especialmente quando se parte do pressuposto de que a escola existe para promover o sucesso educativo (Pacheco, 2002). De acordo com este autor, o critério de avaliação é um princípio utilizado para julgar, apreciar e

comparar. Esta comparação é estabelecida entre o referido, ou seja, os dados recolhidos

que constituem o objeto de avaliação e o referente, que diz respeito ao conjunto de parâmetros que são tidos como ideais de comparação do referido.

Os critérios dependem do conteúdo e da lógica interna de cada disciplina, dos objetivos, da modalidade de avaliação pretendida, daquilo que cada professor valoriza

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(desenvolvimento cognitivo e desenvolvimento socio-afetivo dos seus alunos) e da perspetiva que os professores têm da aprendizagem ou da avaliação. Os critérios podem indicar os atos concretos que esperamos dos alunos quando lhes pedimos para executar determinada tarefa, ou seja, estão ligados ao próprio processo de aprendizagem. Trata- se, por isso, de critérios de incidência formativa, uma vez que visam, em última análise, a regulação da aprendizagem e permitem a sua (re)orientação. Mas os critérios também podem referir-se aos produtos obtidos e estabelecer as condições de aceitabilidade desses resultados. Estes critérios de incidência sumativa, mais do que aos processos de aprendizagem, dizem respeito aos produtos obtidos (Barbosa e Alaiz, 1994).

Para uma avaliação que se pretenda integrada, a recolha de dados deverá ser realizada a partir de diversas fontes, utilizando instrumentos diversos, onde é essencial o contributo de professores, alunos e encarregados de educação. Assim, e tendo em conta a necessidade de transparência no processo de avaliação, mais especificamente através da clarificação e da explicitação dos critérios adotados, Pacheco (2002) enumera algumas etapas que os responsáveis pelo estabelecimento dos critérios de avaliação devem realizar:

i) definição do objeto de avaliação - embora se diga que atitudes, valores e comportamentos também devem tornar-se em objeto de avaliação, na prática, nos critérios de avaliação, constam essencialmente os conteúdos disciplinares;

ii) instrumentos a utilizar - os dispositivos criados pelos professores, em colaboração com alunos e encarregados de educação, podem fazer variar a objetividade da avaliação. Entenda-se aqui o dispositivo como o conjunto das modalidades previstas para o levantamento e tratamento da informação;

iii) conversão dos resultados – que por norma consiste na atribuição de uma classificação que expressa os resultados da aprendizagem.

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Uma via semelhante é sugerida por Barbosa e Alaiz (1994), assente nos seguintes procedimentos: explicitação de critérios pelo professor, para si próprio (ou seja, a planificação da avaliação deve ser parte integrante da planificação didática) e a explicitação dos critérios para os alunos, o que pode ser feito no início do ano, de uma unidade didática ou antes de cada tarefa. Mas, como a explicitação de critérios não deve passar apenas pela informação pura e simples, podem ser utilizadas estratégias facilitadoras, como o desenvolvimento de exercícios de apropriação de critérios pelos alunos, propondo o desenvolvimento de tarefas na realização das quais os alunos tenham de explicitar a sua representação dos critérios, assim como o acompanhamento e apoio do professor, ao processo de apropriação dos critérios pelos alunos, em que o professor deve intervir fornecendo feedback aos alunos. A partilha com outros professores pode ser um caminho para que cada professor analise e perceba até que ponto o que é avaliado coincide ou não com o que é ensinado.