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CAPÍTULO I – QUADRO TEÓRICO

3. Contexto e participantes no estudo

A necessidade de assegurar um acompanhamento próximo do cenário em que a pesquisa iria ser realizada e, neste caso, do processo de ensino e de aprendizagem da disciplina de Física e Química A, exigida pela estratégia de estudo de caso, levou-nos a decidir por uma escolha de conveniência. Os intervenientes nos estudos qualitativos são normalmente mais intencionais do que aleatórios (Huberman e Miles, 1985) e a decisão sobre os participantes é feita com base em critérios mais pragmáticos (Bravo, 1998). Como foi já antes assinalado, nesta investigação, a investigadora era docente na escola X, da qual faziam parte mais cinco docentes do grupo disciplinar 510 (Física e Química). Destes, dois lecionavam o décimo primeiro ano de escolaridade, tendo a escolha de recair sobre um deles, em conformidade com o pretendido neste estudo. Optámos pela docente que era reconhecida pelos pares como uma professora dinâmica, envolvida em diversos projetos e a frequentar uma pós-graduação. Esta docente lecionava na escola X há seis anos, mantendo a investigadora uma relação de proximidade e confiança profissional com a mesma, cujo sentido de responsabilidade e de abertura para a cooperação profissional motivou a investigadora para um convite a participar no estudo. Após uma reunião informal em que a investigadora apresentou o enquadramento do estudo que pretendia realizar, o convite foi, por ela, prontamente aceite. O papel que a docente se disponibilizou a desempenhar no estudo ficou então definido nos seguintes termos: partilha informal de informação e conversas regulares,

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uma entrevista formal, indicação e incentivo de grupos de alunos da turma para as sucessivas entrevistas, aplicação de questionários à totalidade dos alunos da turma após cada momento formal de avaliação sumativa e disponibilização à investigadora de materiais de avaliação utilizados.

A direção da escola foi também contactada no sentido de ser obtida autorização para o desenvolvimento do estudo. Tal foi efetuado em documento elaborado para o efeito, em 7 de setembro de 2012 e objeto de análise em reunião de Conselho Pedagógico realizada no dia 12 de setembro de 2012. A aprovação foi obtida e, na sequência, foi contactada a diretora da turma participante. Também com esta docente foi efetuada uma reunião informal para enquadramento do estudo e para que fossem produzidos os documentos de registo das respetivas autorizações pelos encarregados de educação dos alunos participantes no estudo.

A participação em simultâneo da investigadora como professora na instituição onde a investigação decorreu podia ter constituído um problema a enfrentar, porque a investigadora era conhecida pelos participantes no estudo como elemento da instituição, mas poderia também trazer alguns benefícios em termos da maior regularidade e da maior atualidade da informação sobre os processos de ensino e de aprendizagem, incluindo o desenrolar das situações concretas de aprendizagem e os momentos formais de avaliação. De referir que, apesar de exercer funções na escola onde o estudo se realizou, a investigadora, no ano letivo em que a investigação decorreu, não foi professora de qualquer turma de décimo primeiro ano, garantindo assim a impossibilidade de interferir diretamente no processo de ensino e de aprendizagem da turma envolvida no estudo, como, por exemplo, ao nível de uma planificação partilhada entre docentes que lecionavam o mesmo nível de ensino, atividade habitualmente promovida na escola.

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Passamos agora à apresentação, com mais detalhe, da instituição onde decorreu a frequência das aulas e dos alunos da turma A do 11.º ano de escolaridade (ano letivo 2012-2013).

3.1 A escola sede do estudo

Relativamente à instituição onde esta investigação se realizou, a escola X, uma escola secundária com 3.º ciclo do Baixo Alentejo, em processo de agrupamento com uma outra escola do ensino básico do concelho, a mesma está inserida num concelho eminentemente rural, com uma população envelhecida. Em termos de espaço físico e serviços, a escola, com mais de três décadas de existência, é constituída por seis blocos de edifícios, apresentando especificamente destinados à lecionação das disciplinas da área da Física e Química dois laboratórios, um para a Física e outro para a Química, ambos insuficientemente equipados e com evidentes sinais de degradação. Tem também uma biblioteca, centro de recursos educativos, um centro de inovação e aprendizagem e diversas salas destinadas a serviços e fins específicos. A climatização é um dos aspetos negativos mais frequentemente apontados pela população escolar, associada a uma rede elétrica desadequada para as atuais necessidades.

De acordo com a caracterização que consta no Projeto Educativo da Escola, a população escolar é constituída por alunos oriundos de todas as freguesias do concelho, localizando-se algumas delas a mais de trinta quilómetros da cidade. São alunos com experiências de escolarização diversificadas, provenientes muitos deles de agregados familiares com baixos níveis de escolarização. No que respeita ao contexto socioprofissional, os pais distribuem-se, de modo mais ou menos equilibrado, entre os

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sectores primário e terciário. Ao nível de parcerias e cooperação, a escola trabalha em estreita colaboração com a comunidade local (através de estágios para alunos e desenvolvimento de projetos locais, nacionais e internacionais).

Como problemas mais prementes e aqueles onde a escola poderá intervir diretamente, de forma a minorar os seus efeitos e impactos, o Projeto Educativo da Escola tem, nos últimos anos, destacado, entre outros, a reduzida qualidade das aprendizagens e algum absentismo por parte dos alunos.

3.2. Os alunos participantes no estudo

Os alunos intervenientes na presente investigação frequentavam a disciplina de Física e Química A do décimo primeiro ano de escolaridade do ensino secundário e realizaram exame nacional no final do ano letivo 2012/2013. Estes alunos faziam parte de uma turma, num total de trinta, no início do ano letivo, incluindo sete que tinham obtido insucesso (reprovação) na disciplina de Física e Química A. A referida turma foi lecionada pela professora Ana que, como referido, se disponibilizou para participar no estudo.

A turma participante no estudo era constituída, como foi antes indicado, por trinta alunos, dos quais dezoito raparigas e doze rapazes. Dezanove dos alunos residiam na sede do concelho e os restantes onze eram oriundos de freguesias localizadas a uma distância que variava entre os 15 km e os 20 km da escola sede.

115 Tabela 2.1

Idade dos alunos da Turma participante na investigação

16 anos 17 anos 18 anos 19 anos 20 anos

Nº de alunos 23 2 1 3 1

Pela análise da Tabela 2.1 podemos afirmar que se trata de uma distribuição de idades (e de progressão no ensino) comum para uma turma de 11.º ano de escolaridade. Pela consulta dos registos biográficos confirmámos que vinte e três alunos da turma não apresentavam repetências no seu percurso escolar até ao 11.º ano de escolaridade e sete, com idade superior a dezasseis anos, tiveram uma ou mais repetências e, num caso, uma idade superior à que é suposta para a frequência do 11.º ano deveu-se à transição de um outro sistema de ensino para o sistema nacional. Importa salientar que três destes sete alunos frequentavam o 12.º ano de escolaridade, repetindo apenas a frequência da disciplina de Física e Química A relativa ao 11.º ano.

No sentido de traçar o perfil da turma no que tem a ver com o seu rendimento escolar em Física e Química, procedemos a uma análise das classificações obtidas pelos alunos na disciplina de Ciências Físico-químicas, em cada um dos três anos do terceiro ciclo do ensino básico, e no 10.º ano do ensino secundário, com base no seu registo biográfico, encontrando-se a média, por ano, registada na Tabela 2.2.

Tabela 2.2

Média das classificações obtidas nas disciplinas de Ciências Físico-químicas (7º a 9ºanos) e de Física e Química A (10º ano)

7.º ano 8.º ano 9.º ano 10.º ano

Média1 3,8 3,9 3,7 12,1

1

As classificações no ensino básico são atribuídas numa escala de um a cinco, enquanto no ensino secundário o são numa escala de zero a vinte.

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Como se pode observar, os alunos participantes no estudo apresentam classificações médias, ao longo de todo o percurso do ensino básico, na disciplina de Ciências Físico- químicas que poderemos classificar como elevadas, tendo a média mais baixa sido registada na classificação do 9.º ano de escolaridade. Podemos inferir que, não se tratando de alunos com classificações ao nível do valor máximo da escala (cinco), obtiveram, no entanto, em todos os anos deste ciclo de escolaridade a classificação média, arredondada às unidades, de quatro. Quanto à média da disciplina de Física e Química A, do 10.º ano de escolaridade, apesar de se tratar de um nível de ensino diferente e, para alguns alunos, numa outra escola, arriscamos uma comparação que, em termos proporcionais, revela ser inferior a qualquer uma das médias obtidas no ensino básico. A nossa experiência empírica de análise dos resultados escolares permite-nos dizer que esta é a tendência habitual, ou seja, uma diminuição da classificação média na mudança de ciclo. Porém, o valor registado para este grupo (12,1) poderá ser indicador de alunos com algum potencial para um desempenho a que correspondam classificações moderadamente elevadas no 11.º ano de escolaridade, nesta disciplina.