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Introdução Geral

2. Problema e questões de investigação

4.1 Estudos académicos na área da avaliação de alunos

Um primeiro estudo que consideramos foi o de Madureira (2011), que investigou em que medida foram influenciadas as práticas de ensino e de avaliação dos professores pelos resultados obtidos pelos alunos no exame nacional de Física e Química A, numa escola secundária. Mediante um estudo descritivo das classificações obtidas pelos alunos na disciplina de Física e Química A e de entrevistas semi-dirigidas a professores da mesma disciplina, dessa escola, a autora verificou ter ocorrido uma descida das classificações internas de frequência (CIF) e um aumento das classificações de exame (CE), no período compreendido entre 2006 e 2009, com a consequente diminuição da diferença entre estas duas classificações. Como os professores que entrevistou referiram ter orientado as suas práticas em função dos exames e respetivos critérios de avaliação, embora o insucesso (entendido como tudo o que está relacionado com as reprovações) na disciplina se tivesse mantido, a autora sugeriu estudos adicionais para perceber as causas do insucesso nos exames e como podia ser combatido. Também Lobo (2010) se dedicou ao estudo das práticas de ensino e de avaliação (formativa e sumativa) e da influência dos exames nacionais, neste caso de Português, nestas práticas. Embora

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sentindo a pressão do exame, cada professor reage de modo diferente, em função dos seus estilos sendo estes que influenciarão mais essas práticas e não tanto a pressão associada ao exame.

Um outro trabalho (Estima, 2011), realizado com o objetivo de conhecer e compreender a forma como o exame influencia as práticas de ensino, aprendizagem e avaliação na disciplina de Matemática, mostrou a existência de desvios reduzidos quando comparadas as classificações internas finais e as classificações de exame, de duas turmas com estratégias de ensino e aprendizagem diferentes. Num caso, era utilizada uma abordagem essencialmente transmissiva e, no outro uma abordagem em que a professora dava ênfase ao trabalho do aluno, atuando como uma espécie de mediadora. Em ambos os casos, contudo, o exame nacional era assumido como principal objetivo e, ao nível das práticas avaliativas adotadas, a avaliação sumativa sobrepunha-se à formativa. A autora concluiu que o exame nacional do décimo segundo ano teve assim um impacto objetivo nas práticas de ensino e de avaliação, nestes dois casos concretos, em que a existência do exame acabou por ser de tal modo significativa que o peso dos testes sumativos foi grande e outras formas de trabalho e aspetos como valores, atitudes e competências foram menosprezadas.

Um estudo de caso (Tapadas, 2007) procurou conhecer as representações e expectativas dos alunos e professores acerca da prova de avaliação sumativa externa de Língua Portuguesa (9.º ano), analisar as classificações de exame obtidas pelos alunos e identificar possíveis consensos e contradições entre o discurso oficial e o que parece ser, na realidade, o processo de avaliação sumativa externa. Os resultados do estudo apontavam para um Exame Nacional de Língua Portuguesa pouco certificativo, em que a sua função reguladora era, cumulativamente, condicionadora e limitativa de práticas,

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pouco podendo contribuir para a melhoria das aprendizagens como pretendido no discurso oficial.

Em sentido contrário, ou seja, no âmbito da influência das atividades desenvolvidas, nas aulas, sobre os resultados dos exames, foi o estudo de Lagarto (2009), realizado com o objetivo de compreender como a prática da avaliação formativa e como o tempo despendido em tarefas de aprendizagem, numa turma de História A de 12.º ano, se refletiu nos resultados dos exames nacionais dos alunos. Os resultados do estudo evidenciaram que o tempo despendido na exploração de fontes, a diversificação de estratégias, o feedback constante e a prática de autoavaliação permitiram que os alunos desenvolvessem competências muito próprias no âmbito do pensamento histórico, mas o carácter restritivo dos critérios de correção do exame e a subjetividade dos professores corretores influenciaram os resultados obtidos por alguns destes alunos.

Com base numa revisão de literatura abrangente sobre avaliação formativa, que levou à publicação de Inside the Black Box (ver Quadro Teórico no capítulo I), os investigadores Black, Harrison, Lee, Marshall e Wiliam (2011), trabalhando com professores de Inglês, Matemática e Ciências, desenvolveram um projeto para colocar em prática, em sala de aula, as suas ideias sobre o tema, de modo a tornar o ensino e a aprendizagem mais eficazes. Desta revisão de literatura surgiu uma forte relação entre a prática de avaliação formativa, os outros componentes da atividade pedagógica de um professor e a própria conceção do professor sobre a sua função. Como tal, a implementação de mudanças na avaliação em sala de aula exigirá mudanças profundas nas perceções dos professores sobre o seu papel em relação aos seus alunos e na sua prática em sala de aula. Os autores consideraram que, embora o ponto de partida fossem descobertas resultantes desta pesquisa, o próprio projeto constituiu uma pesquisa para estabelecer novo conhecimento, uma vez que apenas perante estímulos iniciais e apoio,

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no âmbito da avaliação formativa, os próprios professores participantes desenvolveram novo conhecimento prático sobre o trabalho em sala de aula. Um aspeto significativo que resultou desta pesquisa foi a clarificação do conceito de avaliação formativa: é um processo, no qual a informação sobre a aprendizagem é evidenciada e, depois, utilizada para modificar as atividades de ensino e de aprendizagem.

Um estudo para conhecer as perceções dos estudantes a frequentar o 3.º ano na Universidade do Minho sobre a avaliação, em particular sobre os métodos de avaliação mais utilizados e a relação entre avaliação e aprendizagem, revelou que os aspetos que os estudantes mais associavam à avaliação eram a aprendizagem, os testes/exames, a verificação de conhecimentos e as notas/classificações. Em relação aos métodos de avaliação, as apresentações orais em grupo, os testes e os relatórios de grupo eram os mais utilizados na perspetiva dos alunos, sendo menos frequentes o ensaio individual, o ensaio em grupo e os testes orais. Para a maioria dos alunos que participaram neste estudo, os métodos de avaliação alternativos (ex: portefólios, trabalhos práticos) permitem o desenvolvimento de novas aprendizagens e do seu pensamento crítico (Pereira e Flores, 2012).

As sucessivas reformas de que os sistemas educativos têm sido alvo, conjuntamente com a pressão externa para uma avaliação permanente do desempenho das escolas, dos professores e dos alunos, têm contribuído para a criação de um clima que em pouco ou nada favorece a melhoria sustentada da qualidade da educação, na opinião de Joaquim Azevedo (2005), uma opinião que também partilhamos. Mas o que interessa agora é lidar com essas pressões, favorecendo em simultâneo as aprendizagens que garantam o sucesso dos alunos na escola.

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Para além destes e dos autores que fomos destacando ao longo desta introdução, apresentamos a seguir projetos nacionais e internacionais especificamente relacionados com avaliação de alunos e rendimento escolar.