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A partir dos resultados obtidos na pesquisa com este grupo, observou-se que é possível que o grupo, ainda não tenha habilidade para autogestão, estando habituado com as intermediações institucionais e acostumado com as ações paternalistas e clientelistas do governo, embora tenha tido interesse em fazê-lo durante o processo. Isso ficou claro quando o grupo foi indagado sobre o que fazem com relação aos problemas ambientais que lhe incomodam, a maioria, respondeu não tomar providencia alguma.

O grupo vem tendo dificuldades, especialmente econômicas, desta maneira buscam atividades que dêem um retorno econômico imediato, daí porque tenha demonstrado abertura para novas experiências, como a Feira de Trocas (proveniente da sensibilização acerca do consumo consciente) que passaram a adotar em todos os encontros durante a pesquisa. Desinteressando-se pelas atividades de compostagem devido ao estado de carência dessas populações, sendo assim elas aceitam as inovações tecnológicas que tragam ganhos econômicos e não o que algumas consideraram trabalho adicional.

3.4. Sensibilização para a Questão dos Resíduos Sólidos e Orgânicos na Escola Municipal Antonio Santos Coelho Neto: Projeto 4

Esta parte da pesquisa foi realizada com um grupo composto pela equipe escolar da Escola Municipal de Ensino Fundamental Antônio Santos Coelho Neto - EMASCN, instituição de ensino público de um bairro de João Pessoa.

A escolha desta escola para a pesquisa deu-se em função da mesma se situar na comunidade da Penha, tendo nos últimos anos realizado um trabalho voltado para as questões ambientais, valorizando a sua localização e o capital cultural das comunidades do seu entorno, onde residem os seus alunos.

Dentre estes trabalhos, citou-se no capítulo 1, um relato do trabalho iniciado em 2006, sobre a experiência de compostagem na Comunidade da Penha, onde parte dos alunos desta escola são filhos de pescadores que fazem parte da pesquisa.

A Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Antonio Santos Coelho Neto, foi fundada no ano de 1963 denominada inicialmente Grupo Escolar Comendador Antonio Santos Coelho Neto, construída em um terreno doado pelo Sr. Paulo dos Santos Coelho, localizado à beira-mar da Praia da Penha, município de João Pessoa – PB.

Em 27 de novembro de 1979 foi transferida para a Praça Oswaldo Pessoa – s/n, na mesma localidade, para um terreno vendido pelo Dr. Otacílio Silva da Silveira à Prefeitura Municipal de João Pessoa. Inaugurada na administração do prefeito Damásio Barbosa de Franca, sendo reconhecida através do decreto de criação nº 188/88, segundo consta no Projeto Político Pedagógico (PPP) de 2012.

3.4.1 Caracterização da comunidade Nossa Senhora da Penha

A comunidade de Nossa Senhora da Penha está localizada no litoral sul de João Pessoa, entre as coordenadas geográficas 7º09’52,62’’ e 7º09’55,55’’ de latitude Sul e 34º47’53,67’’ e 34º47’52,29’’ de longitude Oeste, limita-se ao norte com a Ponta do Seixas, cuja divisa é o estuário do rio Cabelo, ao sul com o Pólo Turístico Cabo Branco, através do riacho do Aratú, a leste o Oceano Atlântico e a oeste o Planalto Cabo Branco através da PB- 008, (Mapa 03).

Mapa 03: Localização do bairro da Penha

Fonte: Mapa base da PMJP/SEPLAN, 1999. Organizado por Alzení G. da

A Comunidade de Nossa Senhora da Penha é composta por pescadores e pequenos comerciantes, dispostos em três áreas: a Beira Mar, a Praça Oswaldo Pessoa e a Vila dos Pescadores. A população total da Penha é de aproximadamente 772 habitantes (IBGE, 2010), distribuídos em 150 domicílios, considerados de baixo padrão e precária infra-estrutura. Com uma área de 41,5 hectares, a densidade demográfica é de 19,67 hab./ha.

As duas comunidades pesquisadas estão situadas na zona sul da cidade e são áreas contínuas. Os alunos desta escola residem na Praia da Penha e nas comunidades do entorno, sendo Jacarapé uma destas regiões. Três das alunas da escola inclusive freqüentaram as reuniões do grupo de mulheres “Flores de Jacarapé”, pois eram filhas destas mulheres e vizinhas.

Metodologia Projeto 4

GRUPO DE MULHERES “FLORES DE JACARAPÉ”

O quarto e último público alvo foi obtido na Associação de Moradores e Amigos de Jacarapé, sendo um grupo de mulheres intitulado “Flores de Jacarapé”. O objetivo ao pesquisar este grupo foi sensibilizar em relação aos resíduos orgânicos, e uma vez que este grupo trabalha numa estufa de flores, verificar o interesse do mesmo em produzir composto, e em caso positivo, instrumentalizá-lo por meio de oficinas.

Sendo assim, no momento inicial da pesquisa foi realizado o contato com a escola para a apresentação do projeto. Em reunião ficou definido que a escola participaria do estudo, com o apoio da direção na figura da Sra. Rosilene do Bom Parto Ferreira e o acompanhamento das atividades pela supervisora pedagógica Sra. Maria José Cândido Barbosa.

Num segundo momento, foram realizadas na escola, reuniões para a apresentação do projeto aos alunos, professores e técnicos e o acompanhamento das atividades (Figura 26 a e b). A pesquisa foi desenvolvida nas turmas noturnas do Ciclo 3 e Ciclo 4, e diurnas do 8º ano A e 8º ano B, no período de maio a outubro de 2012, por meio de: sensibilização com vídeo e discussão, roda de conversa sobre sustentabilidade, explicação dos instrumentos da pesquisa (concessão e uso das balanças), preenchimento das fichas de pesagem (modelo em anexo), oficina de compostagem e aplicação de questionários (modelo em anexo).

Figura 26 a e b: Apresentação do projeto aos alunos envolvidos na pesquisa Fonte: Maria José Cândido Barbosa (2012).

Ao apresentar-se o projeto à equipe técnica da Escola Municipal Antonio Santos Coelho Neto, houve grande interesse e aceitação do mesmo, pois esta escola vem há muito tempo se atualizando em temas ambientais e desenvolvendo atividades voltadas para a melhoria da qualidade de vida da própria escola e da comunidade em que está inserida.

Foram feitos alguns ajustes no planejamento escolar e ficou definido que a contrapartida pela inclusão da escola em nossa pesquisa a adoção de ações voltadas para a produção e a utilização do composto produzido a partir da compostagem dos resíduos orgânicos do lanche escolar. A criação de uma horta e um jardim no interior da escola, sob a responsabilidade do professor de ciências, foram previstos como um resultado da pesquisa, uma vez que a escola estava passando por um processo de reforma com data prevista de 01 de setembro de 2012 para a sua conclusão (Figura 27 e 28), que não se verificou até o final do ano letivo.

Figura 27: Entrada da EMASCN

3.4.2 Ações durante a pesquisa

As aulas de campo foram elaboradas como parte da sensibilização dirigida tanto aos alunos quanto aos professores e técnicos da escola, e com o intuito de vivenciar-se na prática, os conteúdos das aulas teóricas e vídeos apresentados dentro da temática. Um dos vídeos apresentados foi o filme: “Lixo Extraordinário”, documentário sobre o aterro de Gramacho - RJ.

Foram programadas algumas visitas a projetos de gestão de resíduos na EMPASA – JP e no aterro sanitário municipal como parte da sensibilização aos alunos.

A primeira visita técnica com os alunos foi à EMPASA, na ocasião 30 alunos fizeram a aula de campo para tomarem conhecimento do processo de compostagem que é desenvolvido pela unidade na transformação dos restos de frutas e verduras em adubo orgânico (Figura 29 e 30).

Na visita, os estudantes de duas turmas do 8º ano A e 8º ano B da escola foram acompanhados por duas professoras, uma inspetora e uma secretária e tiveram como instrutor o técnico da EMPASA, Kleber Soares, que apresentou os setores do Mercado Livre do entreposto, onde são recolhidos os alimentos não comercializados pelos permissionários e comerciantes que antes eram enviados para o aterro sanitário da região metropolitana da Grande João Pessoa. A Empasa já possui uma sistemática para receber alunos de escolas para conhecerem o projeto descrito no Projeto 1 (Cap. 1) desta pesquisa.

A aluna Marta Lima (15 anos) sentiu-se gratificada por conhecer de perto um centro de abastecimento tão grande, com aproveitamento do que era jogado no lixo e anotava tudo.

Figura 29: Alunos em visita à EMPASA

“Estou anotando o que escuto e vejo para fazer um relatório na matéria de ciências. Outro ponto bom é que vamos montar uma horta lá na nossa escola e queremos aprender como é o passo a passo desse adubo tão legal. Gostei muito do que vi por aqui”, salientou a estudante.

Os alunos participaram da explicação de todo o processo desenvolvido na EMPASA para a transformação dos resíduos orgânicos em composto, tendo a oportunidade de conhecer um processo pouco difundido, mas realizado com êxito dentro do perímetro urbano em que residem, valorizando assim a mudança de hábito, voltada para novas práticas.

A aula de campo realizada no aterro sanitário de João Pessoa foi articulada com a EMLUR para o acompanhamento técnico da equipe responsável por repassar as informações relativas a todo o processo de recebimento e tratamento dos resíduos no município e municípios circunvizinhos (Figura 31 e 32).

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No aterro sanitário as explicações aos alunos e professores da EMASCN, professores e pesquisadora da UFPB foram teóricas, sobre a existência e o processo de desativação do antigo Lixão do Roger, local que recebia os resíduos da cidade de João Pessoa até 2003. Em seguida foi apresentado o funcionamento do aterro sanitário, a previsão do seu tempo de duração, os processos que passam os materiais, seguidos da visitação às células de deposição.

O local da separação dos materiais que se prestam à reciclagem não foi visitado, pois segundo o técnico responsável pela visita, a cooperativa de catadores que funciona dentro de aterro não permite a visitação de grupos, realizando este serviço de forma isolada.

No estudo sobre percepção ambiental, perguntou-se sobre o que é meio ambiente, e a maioria dos alunos não conseguiu responder, dizendo que não sabe, o grupo intermediário deu respostas que indicaram uma visão antropocêntrica do meio ambiente, colocando-se como

Figura 31: Alunos em visita ao Aterro Sanitário Fonte: Fernanda Tavares (2012).

Figura 32: Explicação técnica sobre o Aterro

Sanitário

seres externos ao ambiente e o grupo menor deu respostas que caracterizou as respostas como sendo de uma visão ecológica, ao se colocarem como parte do meio ambiente (Gráfico 08).

Gráfico 08: Resultado das respostas obtidas pelos alunos participantes da

pesquisa quando indagados sobre o que é meio ambiente

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

As palavras que foram dadas para indicar o meio ambiente, estão listadas no Gráfico 09 e traduzem as várias interpretações contidas nas respostas sobre a visão do que é meio ambiente, citadas acima. Destaca-se a ambigüidade das respostas em que: natureza, reciclar, floresta, ar, não jogar lixo, saúde, vida, limpeza e animais, apontarem para um cuidado ambiental, em detrimento das palavras: poluição, lixo e violência, podendo estas apontar para o descuido ambiental e no caso da violência, talvez a idéia tenha sido, o imaginário do meio ambiente como lugar de mata e a mata como lugar de perigo.

Gráfico 09: Resultado dos alunos participantes da pesquisa ao

responderem uma palavra que represente o meio ambiente

Ao serem questionadas sobre um problema ambiental que lhes inquieta, estes alunos por meio das respostas revelaram uma consciência com relação às águas. Acredita-se que por residirem em uma área que contém no seu entorno rios e mar, demonstrando a preocupação com a poluição fluvial (Gráfico 10).

Gráfico 10: Percepção dos problemas ambientais pelos alunos

participantes da pesquisa

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Ao serem questionados sobre o que fazem em relação aos problemas que os incomoda com o objetivo de solucioná-los, Gráfico 11, nota-se que a maioria das respostas foi com relação a terem algum tipo de cuidado com o lixo. Mesmo assim a maioria não faz nada ou faz somente na escola.

Gráfico 11: Resultado das soluções dadas aos problemas ambientais que

os incomodam, pelos alunos participantes da pesquisa

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Com relação à pergunta sobre o que é lixo, obtiveram-se respostas variadas (Gráfico 12). No entanto destacou-se que para a maioria a resposta foi restos de comida. Pode-se observar a visualização sobre a quantidade dos resíduos orgânicos, oportunidade para a

orientação a respeito do tratamento adequado que deve ser dado aos orgânicos, produzindo-se composto.

Gráfico 12: Resultado das respostas dadas pelos alunos participantes da

pesquisa na EMASCN quando indagados sobre o que é lixo

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Observou-se que a maioria dos alunos teve dificuldade para definir resíduo sólido (Gráfico 13 a e 13 b). Verificou-se esta dificuldade nos outros grupos pesquisados, a maioria não sabe o que resíduo sólido significa, diferentemente de lixo que todos conseguem definir de alguma maneira rapidamente.

Gráfico 13 a: Resultado das respostas dadas pelos alunos participantes da

pesquisa na EMASCN quando indagados sobre uma palavra que represente resíduo sólido

Gráfico 13 b: Resultado das respostas dadas pelos alunos participantes da

pesquisa na EMASCN quando indagados sobre o que é resíduo sólido

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Ao serem perguntados sobre a separação dos resíduos sólidos em suas residências, a maioria respondeu separarem sempre, seguidos de nunca separa e separa às vezes. Algumas do último grupo, disseram que separaram por algum tempo, mas que a empresa pública ao recolher os resíduos sólidos mistura todos (Gráfico 14).

Gráfico 14: Resultado das respostas dadas pelos alunos participantes da

pesquisa na EMASCN quando indagados a separação dos RSU nas suas residências

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Quanto à freqüência de coleta nas residências, a grande maioria (Gráfico 15), inclusive nos outros grupos pesquisados, mesmo de outro município, como no caso de Pocinhos, responderam ser realizada três vezes por semana e consideram a quantidade de vezes suficiente. Sendo a reclamação de alguns, o fato do recolhimento não ser segregado.

Gráfico 15: Resultado das respostas dadas pelos alunos participantes da

pesquisa na EMASCN quando indagados sobre a frequência da coleta em suas residências

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

No quesito aproveitamento de resíduo orgânico, as respostas tiveram como afirmação os dois primeiros grupos, sendo a maioria os que fazem o aproveitamento, seguidos dos que fazem às vezes (Gráfico 16).

Gráfico 16: Resultado das respostas dadas pelos alunos participantes da

pesquisa na EMASCN quando indagados sobre o aproveitamento dos seus resíduos orgânicos

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Quanto ao destino dado às folhas provenientes de jardins ou quintais, este grupo respondeu que as utiliza para adubo, sendo que a maioria, não os aproveita ou só às vezes, e ainda, queima ou coloca no meio ambiente, ou junto com os demais resíduos (Gráfico 17).

Gráfico 17: Resultado das respostas dadas pelos alunos participantes da

pesquisa na EMASCN quando indagados sobre o destino dados as folhas das suas residências

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Ao serem indagados se possuem horta familiar, obteve-se que a maioria não possui, mas grande parte possui e a menor porção possui de acordo com a época do ano (Gráfico 18). Apenas uma minoria respondeu não ter desejo de possuir horta, a grande parte disse que gostaria e o menor grupo disse não saber (Gráfico 19).

Gráfico 18: Resultado das respostas dadas pelos alunos participantes da

pesquisa na EMASCN quando indagados sobre a existência de horta em suas residências

Gráfico 19: Resultado das respostas dadas pelos alunos participantes da

pesquisa na EMASCN quando indagados sobre a pretensão de ter uma horta em suas residências

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

Ao serem indagados se já participaram de algum projeto de educação ambiental, a maioria dos alunos respondeu que sim, alguns disseram ter interesse, mas não dispor de tempo e a minoria disse não ter esse desejo. Destaca-se, que os mesmos estavam, no momento da aplicação do questionário, passando por uma sensibilização sobre a coleta e o tratamento de resíduos sólidos (Gráfico 20).

Gráfico 20: Resultado das respostas dadas pelos alunos participantes da

pesquisa na EMASCN quando indagados sobre o desejo de participarem de projetos de Educação Ambiental

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

A pesagem que os alunos (8 º ano A e 8 º B), chegaram a fazer não resultaram em aquisição de novos hábitos, dando um destino correto para os seus resíduos. Alguns que ainda começaram o processo de produção de composto, disseram que o pouco espaço que havia nas suas residências (uma aluna, que trabalha como empregada doméstica, disse que: “iniciou a compostagem na casa da patroa, mas que os cachorros reviravam a terra e os resíduos orgânicos dispostos para a compostagem, impedindo que o processo fosse concluído”).

Com relação à percepção de como estão inseridos no ambiente, os dados obtidos pelos questionários aplicados mostram que a população residente em ambientes menos urbanizado, no caso de Jacarapé, e mesmo na cidade de Pocinhos - PB, mais afastada de grandes centros, demonstrou ter uma visão ecológica de si mesmo, em detrimento das pessoas pesquisadas no bairro da Penha e na EMPASA, conforme analisado neste capítulo de acordo com os gráficos apresentados.