• Nenhum resultado encontrado

Observações gerais com base nos resultados dos instrumentos utilizados na pesquisa: entrevistas, questionários aplicados e observação dos grupos pesquisados, no final, compuseram a proposta para a contribuição de um modelo de gestão de resíduos sólidos, apresentado no final deste capítulo, como sugestão para o tratamento de RSU ao nível individual ou coletivo.

Com relação ao tratamento individual dos RSU, a compostagem doméstica é uma solução para que todos os resíduos orgânicos gerados nas residências sejam aproveitados de maneira sustentável, complementando o tratamento dado aos resíduos recicláveis, restando apenas os rejeitos para a destinação e tratamento final.

As composteiras domésticas são recipientes compactos que são encontrados para a compra em algumas cidades do Brasil e que também estão disponíveis para a venda pela internet em vários sites, facilitando a produção de composto orgânico para quem dispõe de pouco espaço (Figura 33).

Figura 33: Composteiras domésticas Fonte: <meumundosustentavel.com>.

Para a maioria das pessoas, manter o lixo em casa continua sendo um tabu, pois aprenderam que tudo que não é necessário ou que não se quer mais deve ser jogado fora. No entanto, a compostagem doméstica é uma forma de minimizar de maneira sustentável os impactos ambientais do consumo diário, ao diminuir volume de resíduos destinado aos lixões e aterros.

Existem duas maneiras de fazer a compostagem doméstica: a vermicompostagem e a compostagem seca.

O processo de vermicompostagem é também chamado de minhocário doméstico, essesistema de compostagem é formado por uma tampa, três ou mais caixas empilháveis de plástico(a quantidade depende da demanda familiar, assim como a dimensão dos contêineres), sendo duas digestoras, com furos no fundo, uma coletora para armazenar o lixiviado produzido no processo (sendo a que forma a base da composteira).

Esse resíduo não é prejudicial ao meio ambiente, como o produzido nos lixões. O lixiviado orgânico ou biológico é um biofertilizante líquido, rico em nutrientes e sais minerais. Basta diluí-lo em água, em uma proporção de 1/5 até 1/10, e borrifar nas plantas de sua casa ou nas folhas de sua horta caseira. Nos lixões, a origem do lixiviado é diversa, contendo inclusive metais pesados, por isso é um contaminante do ecossistema.

O composto é produzido a partir da ação das minhocas que aceleram a decomposição dos resíduos orgânicos depositados nas caixas. Os próprios sites que vendem os produtos contêm explicações a respeito de todo o procedimento a ser realizado pelos compradores.

O método da compostagem seca possui várias opções de manejo, devendo-se ter atenção pela forma que será utilizada para aerar a mistura. A produção de adubo é um pouco mais demorada do que no método da vermicompostagem, porque apenas os microrganismos presentes no solo, fungos e bactérias, serão responsáveis pela decomposição da matéria orgânica, sendo importante manter a umidade e o calor da mistura sob controle.

A compostagem seca é possível ser feita em um recipiente específico ou então sobre o próprio solo. O método é basicamente colocar-se uma porção de material orgânico, rico em carbono, para duas porções de material seco (palha, folhas secas, serragem de madeira, grama seca), rico em nitrogênio, em seguida, misturar bem para aerar e facilitar a ação dos microrganismos. Existem atualmente no mercado, produtos com uma boa capacidade para o processamento dos resíduos, inclusive com mecanismos para revolver essa mistura. A mistura poderá ser dispensada, se houver a entrada de ar e água com eficiência, o que pode ser

realizado com a perfuração do composto por tubos de PVC, só que neste caso, o processo poderá ser mais lento.

Desta maneira, as duas formas, vermicompostagem e compostagem seca, representam opções de modelos para a produção do composto, podendo ser escolhidas pelos moradores, em função da melhor adequação para o uso em seu ambiente residencial.

Os dois métodos são eficientes e ecológicos, contribuindo sobremaneira para a melhoria ambiental ao reduzirem consideravelmente o volume de lixo doméstico, trazendo duas grandes vantagens, diminui o volume, aumentando o tempo de vida dos aterros, retira os nutrientes, evitado contaminação ambiental.

Observou-se ao longo da pesquisa, e na maioria do público pesquisado, um preconceito em relação aos resíduos sólidos orgânicos, demonstrando a necessidade de uma proposta para que se mude esta visão da população, desmistificando a idéia de que estes resíduos são sujos, imprestáveis e são apenas produtores de vetores e doenças, de forma a que as pessoas possam ser participantes do processo de gestão dos resíduos orgânicos, que requerem, no mínimo, a sua separação. Esta idéia aparece nas falas dos entrevistados, a exemplo das falas que são descritas abaixo: “lixo é tudo aquilo que a gente bota pra fora de casa, a gente não quer e joga fora, só serve pra juntar bicho e dá doença”.

Verificou-se em geral, não haver, a consciência sobre o consumo, pois os resíduos gerados são provenientes de compras e produtos adquiridos, mas as pessoas parecem não associar a sua responsabilidade em gerarem resíduos. Aliado a este fato está o desinteresse em reaproveitar produtos, reciclando-os, ou no caso dos resíduos orgânicos, destinando-os à compostagem, ou produzindo elas próprias, o composto.

“ninguém quer saber de lixo não, lixo a gente só quer saber que o prefeito bote pra bem longe da gente, quanto mais longe ele jogar melhor”. Nota-se que há um consenso da população em relação à atribuição da responsabilidade do recolhimento, tratamento e destinação adequada dos resíduos sólidos, referente ao poder público como único responsável por este serviço.

Verificou-se durante toda a pesquisa por meio dos instrumentos aplicados de pesagem e estudo gravimétrico o quão significativo é a quantidade de resíduos sólidos produzidos e muitas vezes desperdiçados, ressaltando-se que os esforços desprendidos resultarão em que quanto mais resíduos sólidos forem tratados, menor quantidade será enviada ao aterro (aumentando a sua vida útil, em pelo menos mais 40%), gerando menos impactos negativos e danos ao ambiente, melhorando a qualidade de vida. No caso do aterro de João Pessoa, que

foi programado para 25 anos, poderia ter mais 10 anos de atividade, só com a diminuição atual dos resíduos sólidos provenientes da EMPASA – PB.

Com relação à percepção de como estão inseridos no ambiente, os dados obtidos pelos questionários aplicados mostram que a população residente em ambientes menos urbanizado, no caso de Jacarapé, e mesmo na cidade de Pocinhos - PB, mais afastada de grandes centros, demonstrou ter uma visão ecológica de si mesmo, em detrimento das pessoas pesquisadas no bairro da Penha e na EMPASA, conforme analisado no capítulo 3 (com os gráficos apresentados, referente aos dois grupos de que trata o capítulo).

Observou-se em todas as etapas da pesquisa, a necessidade prioritária da participação de todos os atores envolvidos nas questões relativas à resolução dos resíduos sólidos, em especial aos orgânicos, em detrimento do preconceito e percentual de tratamento dado aos mesmos, mas também porque o gerenciamento dos resíduos prescinde de um tratamento sistêmico envolvendo segmentos distintos que se complementam e retroalimentam, passando da utilização e descarte dos recursos, à geração de produtos, destinação e reciclagem.

Salienta-se que o tratamento dos resíduos sólidos pode ser realizado de maneira individual (a nível domiciliar) ou coletivo (pequenos condomínios, edifícios, bairros). No entanto, após a segregação dos resíduos pelas populações é preciso haver o gerenciamento destes resíduos, etapa que requer apoios governamentais que contemplem a infraestrutura necessária, seja na recolha e destinação adequada (célula de compostagem, - quando necessário – no caso, por exemplo, de grande quantidade, já que o processo de compostagem exige um tempo para se realizar), seja na aquisição do composto por aqueles que produzirem individualmente e tiverem excedentes de uso próprio. Uma vez que uma produção do composto em pequena escala não se tornará um negócio vantajoso para todos, esta seria uma forma de incentivar as ações individuais.

Orienta-se para que haja uma ampla campanha de mídia que esclareça a população a respeito da importância de se separar e tratar os resíduos sólidos, com ênfase para os orgânicos, bem como capacitação sobre a produção do composto orgânico, tanto individual como coletivamente, ressaltando a contribuição para a saúde dos seres humanos e a diminuição dos impactos ambientais por meio da adoção desta conduta.

Observa-se que uma das estratégias que podem ser utilizadas para que a população seja estimulada a praticar a compostagem em suas residências são os benefícios advindos da redução de contas, podendo, por exemplo, ser introduzido desconto da própria conta anual da Taxa de Coleta de Resíduos – TCR, cobrada pela Prefeitura Municipal, para quem realizar a compostagem em casa. Ainda pode ser pensada a troca do composto produzido, por materiais

de interesse para a família, como material escolar, algum tipo de alimento, etc. Estes incentivos são necessários, em virtude do “preconceito” que as pessoas demonstraram ao longo da pesquisa com este tipo de resíduos.

Recomenda-se, embora este não tenha sido o universo da nossa pesquisa, que a própria Universidade Federal da Paraíba desenvolva iniciativas que venham a contemplar exemplos de gestão de resíduos sólidos urbanos, com destaque novamente para os resíduos orgânicos, considerando que esta instituição, abriga programas como o PRODEMA, que trata sobre gestão ambiental; o campus está localizado em um ambiente que contém fragmentos da mata atlântica; além dos resíduos totais gerados no campus, existem “ilhas” de alimentação, o próprio restaurante universitário e o material de poda e vegetação natural recolhido neste espaço poderá ser transformado em composto, servindo de estímulo e exemplo para o tratamento integrado de RSU num universo rico em conhecimento e tecnologia e disseminador de práticas positivas em prol da melhoria ambiental. Assim, com a própria experiência, é mais fácil transmitir estas metodologias, através da extensão, para as comunidades.

P romoç ã o da s a úd e Ag ric ul tura or gâ ni ca P rodu çã o d e r a çã o a ni ma l Bi of e rt ili za nt e s Eu tr of iz a çã o Au me nt o de v e tor e s T ra ns mi ss ã o de doe nç a s C ont a mi na çã o D imi nu iç ã o da s á re a s de gr a da da s

4.3 Propostas: ação individual e ação pública de participação