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Com o objetivo de relatar experiências que façam parte da realidade paraibana, foi feito um estudo de caso em dois espaços: uma associação comunitária e outra em uma empresa pública, sendo uma na comunidade da Praia da Penha e outra na EMPASA de João Pessoa. A finalidade desse relato foi sensibilizar e mostrar iniciativas inovadoras de compostagem próximas e que podem ser socializadas e replicadas.

1.4.1 Experiência da associação de produtores de frutos do mar da praia da penha

Na Escola Municipal Antonio Santos Coelho Neto, localizada na Praia da Penha em João Pessoa, há um trabalho relativo à coleta seletiva deste o ano de 2006, que contempla a produção de composto orgânico pelos moradores da Praia da Penha. Este projeto é um exemplo de gestão comunitária com parceria institucional e foi implementado na Associação de Pescadores da Praia da Penha.

Este projeto inicialmente teve o apoio da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de João Pessoa, por meio da Diretoria de Educação Ambiental a qual a pesquisadora era a gestora na época, e vem sendo desenvolvido pela Universidade Federal da Paraíba.

Figura 03 a: Composto orgânico -

em Ituiutaba

Figura 03 b: Detalhes da construção e aeração -

O projeto teve início na escola por meio da sensibilização dos alunos para a separação do lixo, uma vez que são filhos de pescadores locais, e em seus objetivos está, a produção do composto orgânico realizado a partir dos resíduos orgânicos domésticos produzidos pelas famílias desses pescadores da Praia da Penha.

Este projeto visa à produção aquícola e para isso é necessário produzir toda a cadeia alimentar, que se inicia com as microalgas. Para que se possam produzir microalgas, é necessário que haja nutrientes, que se adquiridos comercialmente, a produção torna-se muito dispendiosa, desta maneira o aproveitamento do composto orgânico para a liberação de seus nutrientes em água é utilizado.

Após a disponibilização de nutrientes, presentes no composto processam-se a produção de microalgas (fitoplâncton), que alimentará o zooplâncton, ambos são alimentos para todo o tipo de organismos aquáticos.

Desta forma os pescadores aproveitam os seus resíduos orgânicos domiciliares, para a custo zero, produzirem algas em larga escala, para os seus sistemas de produção aquícola, favorecendo assim, o aumento da produção do pescado.

Neste caso não tem-se dados sobre a quantidade de resíduos orgânicos que são aproveitados, mas sabe-se que estes (Figura 04) são utilizados pela comunidade para a produção de composto (Figura 05), que é aproveitado como meio de cultura para a produção de microalgas, que são utilizadas atualmente na alimentação de ostras. Como podemos ver na Figura. 06. O processo de produção de microalgas com o uso de composto é viável, atingindo estas densidades elevadas.

Figura 04: Material orgânico separado para

composto na Praia da Penha

Figura 05: Compostagem pronta na Praia da

Figura 06: Culturas algais em larga escala, produzidas na Praia da

Penha a partir de composto

Fonte: Cristina Crispim, 2008.

1.4.2 Estudo de caso da EMPASA

Projeto 1 - Experiência de compostagem em uma unidade de abastecimento público de alimentos de João Pessoa

Metodologia Projeto 1 - EMPASA

A investigação da unidade de compostagem implantada por esta empresa foi realizada por meio de visitas à EMPASA, aplicação de entrevistas com técnicos, e questionários com feirantes e comerciantes para compreender os processos adotados. Neste período foi programada e realizada uma visita com um grupo de alunos do Projeto 4 deste estudo, como parte da sensibilização e capacitação oferecida a eles.

Por serem os resíduos orgânicos o elemento norteador da pesquisa, incluímos a iniciativa da EMPASA, como experiência exitosa no Estado da Paraíba, como modelo de gestão pública e exemplo local ao universo estudado.

O diagnóstico da gestão de resíduos orgânicos da EMPASA foi feito primeiramente por meio de visitas, para conhecer-se a área da compostagem na empresa, seguida de aplicação de questionários aos técnicos responsáveis pela implantação do trabalho e a realização de entrevistas e questionários aplicados aos feirantes e comerciantes da empresa, bem como revisão bibliográfica relativa ao assunto.

1.4.3. Relato do Estudo de Caso

A escolha da experiência de compostagem desenvolvida pela EMPASA Empresa Paraibana de Abastecimento e Serviços Agrícolas para a pesquisa é resultado de levantamento sobre iniciativas de gestão dos resíduos orgânicos na Paraíba. Considera-se esta, uma experiência pioneira em tratamento de RSO, na Paraíba, em função da representatividade do seu volume, com perspectiva de ser ampliada e replicada para outras centrais de abastecimento do estado, como iniciativa voltada para a sustentabilidade ambiental.

A EMPASA está localizada no bairro do Cristo Redentor, em João Pessoa – PB, ocupando uma área de 13.335,75 m², constituída de 207 lojas (BOX) e 111 pequenos comerciantes não fixos (que alugam espaços no chão, chamados pedras, para a venda dos seus produtos) que são responsáveis por grande parte da distribuição de alimentos na capital.

No ano de 2011 a EMPASA implementou um sistema de compostagem de nome “O nosso lixo tem futuro” para o aproveitamento de frutas, verduras e folhagens inadequadas ao consumo humano que antes eram destinadas ao aterro sanitário da Região Metropolitana da Capital, segundo a técnica de segurança do trabalho da empresa Silvana Alves dos Santos, responsável pelo projeto (Figura 07).

Figura 07: Separação de resíduos orgânicos para as composteiras, para a produção do

composto, na EMPASA – JP

O relato da experiência foi feito com base nas entrevistas, questionários aplicados e depoimentos obtidos (apêndice). A técnica de segurança do trabalho, Silvana Alves dos Santos, responsável pela proposta de implantação da unidade de compostagem na EMPASA, citou que foi impulsionada a iniciar esse trabalho pelo fato de observar no cotidiano da empresa o acúmulo de resíduos orgânicos no pátio do mercado e os problemas gerados pelos mesmos, em especial a proliferação de animais vetores de doenças, tendo a idéia de aproveitar os alimentos descartados.

A unidade de compostagem da EMPASA baseou-se em experiências de outras empresas similares, como a Central de abastecimento da CEAGESP – SP, inclusive Silvana relatou a respeito de uma visita técnica à mesma. Para iniciar o trabalho, a diretoria da EMPASA contratou uma consultoria para fazer uma capacitação dos membros da comissão criada e mais alguns técnicos da empresa que tiveram interesse em trabalhar no programa de compostagem, entre eles, engenheiros agrônomos, e outros.

No processo da capacitação houve um diagnóstico da quantidade de material orgânico descartado a cada fim de dia de trabalho para avaliar se valeria à pena ou não fazer a compostagem na empresa. O estudo realizado com os feirantes e comerciantes acabou por informá-los, mesmo sem estar planejado, sobre o que poderia ser feito em relação aos resíduos orgânicos gerados na empresa, transformado-os em composto.

O trabalho de implementação da compostagem na EMPASA de João Pessoa teve início em 09/08/11, por meio da capacitação dada à equipe da comissão da empresa responsável pela implementação do programa, e aos funcionários da MARANATA, empresa terceirizada de serviços gerais que recolhe os resíduos sólidos gerados.

Entretanto, entre os feirantes e comerciantes não houve ações para informação ou sensibilização sobre o programa de compostagem na EMPASA, está programada para o primeiro semestre de 2013 a distribuição de bombonas (recipientes para depósito de resíduos) em três boxes (espaços comerciais) e a explicação sobre a segregação e disposição dos resíduos nos mesmos, como uma primeira experiência neste sentido.

Até fevereiro de 2013 a sensibilização quanto à separação e disposição dos resíduos não tinha acontecido para os feirantes e comerciantes da empresa. Sendo o recolhimento dos resíduos produzidos de forma segregada (secos: caixas de madeira e papelão e os orgânicos: frutas, verduras, palha e capim) realizado pela empresa MARANATA.

Com relação à área destinada à realização da compostagem, a diretoria definiu uma área que estava sem uso onde o processo seria executado. As etapas do processo da

compostagem nesta unidade são: varrição, separação dos materiais (resíduos) e construção das leiras.

1.4.4 Ações realizadas na EMPASA

 Articulação com a empresa terceirizada para mudanças na forma de coleta dos resíduos de forma a contemplar os lixos secos e molhados, destinando os orgânicos para o processo de compostagem.

 Composição da equipe formada para a gestão dos resíduos e compostagem.

 Deslocamento de funcionários da EMPASA para que os mesmos desempenhassem as funções necessárias relativas à produção do composto.

 Destinação de espaço dentro da EMPASA para que a compostagem fosse implementada.  Diagnóstico dos resíduos orgânicos desperdiçados na empresa.

 Aproveitamento dos recicláveis derivados das caixas de madeira que acondicionam os produtos de feira para doação por meio de solicitação

 Recebimento de grupos para visita técnica com o objetivo de conhecer o processo de compostagem.

Com relação à adesão dos funcionários ao programa, segundo a técnica responsável: “foi imediata, e todos aceitaram a tarefa, a equipe da comissão, a empresa terceirizada e boa

parte dos comerciantes”, o que se verificou é que até o final da pesquisa, outubro de 2012,

não havia informações repassadas aos feirantes ou comerciantes de forma dirigida.

A equipe técnica desenvolve o projeto utilizando o modelo de gestão ambiental baseado no Ciclo de Deming, que é uma ferramenta de gestão utilizada mundialmente. Este sistema foi concebido por Walter A. Shewhart sendo amplamente divulgado por Willian E. Deming e tem como foco principal a melhoria contínua. Desta maneira sua adoção objetivou minimizar os impactos negativos e potencializar os impactos positivos produzidos pelos resíduos.

1.4.5 Resultados

Quanto à utilização do espaço, as leiras têm formato padronizado, compostas por 5m de comprimento, 1,20 m de largura e 70 cm de altura, com oito camadas, onde a pesagem

total da leira resulta em média 2.400 kg de composto maduro, que após ser processado, transforma-se em 80 kg de composto.

A separação dos resíduos sólidos orgânicos é feita dentro da própria empresa numa plataforma, onde ficam as caixas estacionárias. O processo de compostagem leva em média 60 dias em leira para ser concluído.

A destinação deste composto é para pequenos produtores da agricultura familiar, a distribuição é realizada por meio de parceria com outros órgãos governamentais. De acordo com a técnica em segurança do trabalho Silvana Alves:

os adubos orgânicos são restos de produtos naturais que não foram industrializados, e um bom exemplo são as cascas de frutas e legumes, que por sinal são ótimos adubos orgânicos, já que contém a maioria de todos os elementos e nutrientes que utilizaram quando estavam nas plantas.

A responsável por esse projeto passou a identificar materiais recicláveis como a madeira na forma de caixas para o transporte dos alimentos que antes eram destinados aos coletores de lixo do entreposto, sendo incorporados ao projeto. Com a separação desse material, passou-se a fazer a doação aos artesãos, ou pessoas interessadas em reaproveitá-las, uma vez que a partir da simples disposição das caixas é possível produzir móveis a custo zero. Considerando que o peso de cada caixa chega a 1,080 kg, em dois meses foi computado o reaproveitamento de 618 caixas, portanto 700 kg de madeira foram reaproveitados, aumentando a contribuição ambiental de mais um resíduo sólido presente na EMPASA.

O trabalho de compostagem resultou em 200 toneladas dos resíduos transformadas em adubo orgânico em 12 (doze) meses, evitando o envio deste material para o aterro sanitário, segundo consta no folder distribuído pela EMPASA. Mesmo assim, ainda há muito desperdício de material orgânico que não é separado pelos geradores de resíduos (feirantes, comerciantes, colaboradores (homens que descarregam os caminhões), clientes (compradores) da empresa e permissionários (donos de lanchonetes e restaurantes).

Ao aplicar 35 questionários e realizar 6 entrevistas com os componentes da empresa (técnicos, feirantes e comerciantes) percebe-se que a maioria dos participantes (80%) da pesquisa não conhece ou compreende o processo de compostagem que está sendo desenvolvido na empresa. Como disse um deles que vende alho com e sem casca: “sabemos que devemos separar os resíduos para destinar à compostagem, mas a casca do alho vai servir para ser usada ou não”?

Quanto aos donos de lanchonetes e restaurantes instalados na empresa, três dos cinco entrevistados disseram que não tinham idéia de que isso estava acontecendo na empresa desconhecendo o local das leiras de compostagem.

Ao responder aos questionários 30% dos pesquisados disseram estar interessados em contribuir com este trabalho, mas grande parte também disse: “não ter tempo pra mais nada” e reclamaram da falta de infraestrutura da empresa, especialmente da ausência de banheiros.

É possível que a falta de uma sensibilização em educação ambiental dentro da empresa possa explicar o depoimento abaixo.

Segundo um dos feirantes entrevistados, na empresa não há desperdício, conforme pode ser observado na sua fala:

aqui não tem desperdício não, você chega de manhã aqui, de manhã bem cedinho. É tanta da gente pegando tudo. Prá cumé, pra dá pros porco, galinha, cavalo, tudo. Aqui não sobra nada, não tem desperdício não.

Mas, esta é uma visão isolada, porque tanto os gestores como a maioria dos usuários (cerca de 90%), concordam que há muito desperdício de alimentos na empresa. Estes alimentos poderiam tanto ser utilizados para a compostagem, quanto para a venda, ou serem destinados para instituições de caridade ou outros fins, pois muitos vão para o lixo indevidamente, segundo Silvana. Isso dá-se, simplesmente, porque houve uma baixa de preços, chegando às leiras de compostagem sacos fechados de, por exemplo, limão, laranja, tomate e pimentão em grande quantidade e com muita freqüência.

Observou-se que há esta prática indevida no comércio de produtos agrícolas, de se jogar fora produtos perfeitos para o consumo, apenas para manter preço. Na EMPASA alguns feirantes já vendem alimentos inadequados para o consumo humano para ração animal. Existem na empresa 12 instituições que ainda não estão cadastradas, que recolhem alimentos para aproveitá-los, a exemplo da Casa da Vovozinha, Hospital Laureano, Serviço Social do Comércio - SESC (Cozinha Brasil) e Casa Shalom.

A seguir uma breve avaliação das ações desenvolvidas pela empresa com base no que foi pesquisado.

1.4.6 Avaliação das ações desenvolvidas pela empresa

- A empresa elaborou um folder como material didático que é distribuído por ocasião das visitas técnicas e/ou eventos que explica o processo de compostagem realizado na

empresa, material semelhante existe em Power Point, o que permite disseminar informações sobre gestão de resíduos locais.

- Como parte da negociação para que o projeto possa ser expandido para outros municípios do estado, o trabalho desenvolvido pela empresa foi apresentado em vários eventos, a exemplo da 4ª Feira de Flores da Paraíba; Feira do Empreendedor – SEBRAE, ambas em 2012; Seminário sobre Resíduos Sólidos na UFCG; IV Ação Educativa da UEPB e I Encontro de Ecologia da Paraíba - ENECO em 2011 no Campus da UFPB em Rio Tinto.

Com base no descrito neste capítulo, podemos visualizar que os produtos orgânicos nos resíduos sólidos são em grande quantidade, cerca de 50% dos resíduos totais, e que por esse motivo, devem ser objeto de um planejamento, que permita o seu reaproveitamento na produção de outros compostos, que poderão ser usados na agricultura, na produção de gás, ou em outros sub-produtos, com potencial de agregação de renda e diminuindo os impactos ambientais.

Percebe-se a necessidade premente de um trabalho de educação ambiental que venha a sensibilizar e capacitar todas as pessoas que estejam envolvidas no trabalho da empresa para que possam interagir de maneira sistêmica na execução do projeto de compostagem.