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Percepção e Sensibilização para a Questão dos Resíduos Sólidos

Esta parte da pesquisa foi realizada junto a uma comunidade de perfil rural, especificamente um grupo formado por mulheres da Associação de Amigos e Moradores de Jacarapé, residentes numa região periurbana da cidade de João Pessoa, caracterizada como cinturão verde.

3.1.1 Caracterização da área de Jacarapé

No que se refere à descrição geográfica da área, a região de Jacarapé está localizada entre as coordenadas 7°11”41,66’ de latitude Sul e 34°48”59,59’ de longitude Oeste. É caracterizada por ser uma área de preservação ambiental, em função da criação do Parque Estadual de Jacarapé em agosto de 2001, como consta no mapa de uso e ocupação do solo do município de João Pessoa, tanto a praia de Jacarapé quanto o seu entorno vêm sendo, ainda assim, degradados em seus diversos ecossistemas (LIRA, 2010) (Mapa 02).

Mapa 02: Localização geográfica da comunidade de Jacarapé em parte do município de

João Pessoa

Fonte: Google Maps (Retirado em 02/2012).

O IBGE desde o censo de 1991 passou a considerar todo o município de João Pessoa como área urbana, entretanto a porção Sul do município, bem como, as áreas constituídas pelos vales fluviais que entrecortam a cidade, a exemplo dos rios Cuiá, Timbó, Jacarapé e Cabelo, apresentam características rurais.

Há registros de que os primeiros residentes chegaram à região na segunda metade da década de 1940 por ocasião da instalação da EMEPA – PB, estação agrícola do Estado,

quando funcionários da mesma começaram a fixar moradia próxima ao trabalho, em função do difícil acesso à mesma. Até hoje existem pendências e indefinições fundiárias na região, ocupada em sua maioria por populações “tradicionais” (LIRA, 2010).

A população alvo deste estudo pode ser definida como população “tradicional” segundo Arruda (1999), porque apresenta um modelo de ocupação do espaço e uso dos recursos naturais que tem por base a subsistência, apresentando precária articulação com o mercado, utilizando mão-de-obra familiar decorrente de conhecimentos patrimoniais por meio de tecnologias de baixo impacto e de base sustentável.

Estas populações: quilombolas, caiçaras, ribeirinhos, seringueiros, indígenas, dentre outras, como cita Arruda (1999) ocupam a região há muito tempo, como é o caso da área da pesquisa. Na sua maioria, não possuindo registro legal de propriedade privada individual da terra, as famílias definem seus locais de moradia como parcela individual, considerando o restante do território como área de utilização comunitária.

Para complementar o conceito de populações tradicionais, referido no início deste capítulo, surge à necessidade de definir o conceito de territorialidade, sendo adotado conforme formulado pelo antropólogo Little (2002) que define territorialidade como: “o esforço coletivo de um grupo social para ocupar, usar, controlar e se identificar com uma parcela específica do seu ambiente biofísico, convertendo-a assim em seu “território” ou “homeland”. Esta apropriação do espaço num nível mais subjetivo é característica de diversas populações dentre elas as populações tradicionais.

A existência de áreas ocupadas por populações tradicionais situadas em áreas de preservação, ou no entorno como o Parque Estadual de Jacarapé, em relação à comunidade em estudo, encontra-se em um local de intercessão representados por conflitos característicos de área periurbana: legalização fundiária, acesso às tecnologias, precariedade na infra- estrutura, ambivalência relacionada à identidade e valores socioambientais.

A população de Jacarapé está dividida entre moradores da praia que por meio de ocupação ilegal fixaram residência e/ou comércio (população de pescadores e comerciantes) e sitiantes e proprietários de terra. O local da pesquisa fica na área rural de Jacarapé. De acordo com as características sociais e econômicas da região encontra-se agricultura familiar, pesca, pequeno comércio e trabalhos externos como pedreiros, ajudantes de pedreiro e trabalho doméstico.

Com extensão de cerca de 400 hectares, Jacarapé hoje passa por diversos problemas de ordem fundiária, apresentando danos ambientais causados por habitações ilegais; má utilização dos recursos naturais por parte dos moradores, a exemplo da exploração de

madeira; poluição do solo e corpos d’água por resíduos sólidos e líquidos, dentre outras práticas, que comprometem a qualidade da vida dos moradores e do ambiente.

Os moradores de Jacarapé têm infra-estrutura: energia elétrica, telefonia, ônibus urbano, estrada principal asfaltada, ligação de água que abastece parte da comunidade, o restante usa água de poço. Mas esses serviços não são suficientes para atender à população que cresce a cada dia, tendo em torno de 350 famílias. Estes dados foram obtidos durante as atividades de pesquisa desenvolvidas na comunidade, por meio de entrevistas aos moradores e confirmadas pelo último censo realizado na área. Quanto ao serviço público de coleta de lixo há irregularidade que não abrange todas as áreas, de modo que a população adota práticas tradicionais de resolução deste problema.

Com frequência a população prefere enterrar os seus resíduos – secos e úmidos, sendo esta uma das práticas da comunidade em relação à destinação do lixo produzido. A falta de regularidade da coleta de resíduos em toda a comunidade vem sendo atendida com um coletor comunitário, depositado pela Autarquia Municipal de Limpeza Urbana – EMLUR, mas que muitas vezes não realiza o recolhimento do lixo depositado, tornando-se assim, foco de proliferação de animais vetores de doenças.

As atividades econômicas da população, embora tragam traços de uma vocação rural, estão mescladas com as atividades ditas urbanas, refletindo a dinâmica social que caracteriza as zonas periurbanas. A gestão pública municipal de João Pessoa passou a atender a partir de 2005 demandas de agricultores familiares por meio de políticas públicas, segundo o site do governo municipal.

De acordo com a Prefeitura Municipal o Cinturão Verde, foi a primeira linha de crédito especial, criada pelo Programa de Apoio aos Pequenos Negócios de João Pessoa (EMPREENDER-JP), vinculado à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Sustentável da Produção (SEDESP) para apoiar a agricultura livre de agrotóxicos e defensivos agrícolas.

O programa de acordo com a SEDESP, inscreve, orienta sobre o cultivo de orgânicos e capacita, liberando financiamentos por meio da linha de crédito do Programa Nacional de Agricultura Familiar (PRONAF). Jacarapé é uma das áreas beneficiadas por este programa que promove o conhecimento de tecnologias apropriadas à transição agroecológica aos agricultores familiares que residem e trabalham em comunidades rurais.

O projeto Cinturão Verde criou a Associação de Produtores Agroecológicos PROHORT, em João Pessoa, que passou a realizar feiras agroecológicas em diversos pontos da cidade, tanto fixas como itinerantes, tendo por veículo um “ônibus-feira”. Segundo o site da prefeitura, o projeto fomenta por meio da capacitação agronômica/tecnológica e

organizacional a manutenção dos residentes na região como estratégia para o desenvolvimento sustentável da área.

Dentro desta perspectiva da sustentabilidade, a partir de 2006, a prefeitura de João Pessoa por meio da Diretoria de Agricultura Familiar (DAF/SEDESP) começou a realizar um trabalho voltado para o desenvolvimento sustentável com os agricultores de Jacarapé. Foram instalados 10 aviários de frango caipira alternativo e 05 hortas agroecológicas. No ano de 2010 o SEBRAE - JP implementou em Jacarapé o Programa Mangue Vivo, com o objetivo de esclarecer o morador sobre as atividades que prejudicam o meio ambiente, como a retirada de madeira, e para desenvolver práticas que tragam rendimentos e preservem a mata nativa que compõe a área do Parque. Para a criação de pequenos negócios houve a instalação de 18 apiários, tendo por pauta a geração de renda e a revitalização dos mangues.

Em 2011 foi instalada uma estufa de mudas de flores, esse projeto veio atender a demanda de um grupo de mulheres, grupo este escolhido para a nossa pesquisa. A estufa do grupo foi conseguida com o apoio do SEBRAE e, a DAF/SEDESP e a Secretaria de Políticas Públicas para Mulheres, foram responsáveis respectivamente pela assessoria técnica e cursos de capacitação e oficinas temáticas para este grupo.

Este relato sobre as políticas públicas inseridas nesta área visa demonstrar que as comunidades locais já vêm sendo alvo de ações para melhoria da renda e qualidade de vida, podendo ser um fator facilitador para a inserção de outras ações.

3.1.2 Etapas do projeto

 Reuniões para sensibilização, conteúdo apresentado;

 Organização da feira de troca como resultado da sensibilização para o consumo consciente;

 Capacitação para a compostagem para a produção de composto;  Concordância para participação dos moradores na pesquisa;

 Pesagem do lixo produzido com a finalidade de quantificar a quantidade de lixo orgânico aproveitado e

 Oficina sobre o processo de produção do composto.

Desta maneira, fez-se o contato e a apresentação do projeto para o Grupo de Mulheres “Flores de Jacarapé”. O previsto era a pesagem dos resíduos sólidos domésticos, com a

separação dos pesos do lixo orgânico, pelo grupo (30) mulheres de Jacarapé para em seguida ser produzido e utilizado o composto orgânico pelo grupo, e mostrar a importância do reaproveitamento de orgânico, para diminuir o descarte de resíduos sólidos.

Neste grupo, destacamos a atuação de uma gestão de resíduos sólidos a partir de uma experiência associativa com destaque para os hábitos e costumes pertinentes à cultura das mesmas, que têm hábitos diferenciados de uma população eminentemente urbana.

Com relação ao perfil socioeconômico do grupo, ele é composto por mulheres que têm renda familiar em torno de um salário mínimo, e uma média de quatro pessoas por família, morando em área periurbana.

Este grupo tem como trabalho principal uma estufa de flores (Figura 20). O total de mulheres (30) que participou das atividades relativas às questões ambientais durante o período da pesquisa, foi estudado por meio de questionários, participação em eventos, feiras, visitas técnicas e conferências.

Figura 20: Estufa de flores em Jacarapé Fonte: Fernanda Tavares (2012).

Metodologia Projeto 3

ESCOLA MUNICIPAL ANTONIO SANTOS COELHO NETO

Na Escola Municipal Antonio Santos Coelho Neto - Penha, o método empregado visou à construção da gestão de resíduos sólidos a partir de uma gestão domiciliar (alunos separando os orgânicos e produzindo composto) e coletiva (composto produzido a partir dos

resíduos da merenda escolar). Na escola, as pessoas envolvidas na pesquisa foram capacitadas para a separação dos resíduos orgânicos e para fazerem a compostagem.

Nesta escola municipal há uma gestão de resíduos baseada nas orientações do plano político pedagógico, e, durante a pesquisa foram incluídas agendas internas e externas aos alunos e professores, de forma a contemplar uma gestão mais apropriada com foco no reaproveitamento dos resíduos orgânicos.

O público da Escola Municipal Antonio Santos Coelho Neto, no bairro da Penha, foi pesquisado por meio de questionários, entrevistas e observação direta em atividades de aulas, vídeos e visitas de campo, sendo eles, estudantes, e a equipe técnica da escola (diretores, supervisores e professores). Totalizando aproximadamente 110 pessoas abordadas neste projeto.

Foram realizadas 8 (oito) reuniões entre maio de 2011 e outubro de 2012 com este grupo ocorreram na Associação de Moradores e Amigos de Jacarapé e na área em que está localizada a estufa (Figura 21). O roteiro das atividades desenvolvidas foi: apresentação do projeto, sensibilização com vídeo e discussão, roda de conversa sobre sustentabilidade, explicação dos instrumentos da pesquisa, como cessão e uso das balanças domésticas e preenchimento das fichas de pesagem e aplicação de questionários.

Após o trabalho de sensibilização foi realizada uma oficina para 07 mulheres da associação por meio da exibição de material didático sobre a produção de composto a partir da separação dos resíduos orgânicos.

Figura 21: Reuniões realizadas, na Associação de mulheres de Jacarapé, no

âmbito do projeto

Durante esse período, foi realizado um trabalho de capacitação, voltado para a sensibilização para o consumo consciente, por meio de oficinas e da exibição do vídeo “A História das Coisas” que faz uma reflexão acerca da produção e estímulo ao consumo.

Nesta discussão foi apresentada ao grupo a atividade da Feira de Trocas. Esta atividade está baseada em princípios da economia solidária, ou seja, substituir o lucro, a acumulação e a competição pela solidariedade e pela cooperação; valorizar o trabalho, o saber e a criatividade humana e não o capital e sua propriedade; buscar um intercâmbio respeitoso com a natureza.

No mundo, atualmente, existem muitos clubes de trocas onde grupos de pessoas trocam entre si produtos, saberes e serviços de forma recíproca, em um clima de solidariedade e cordialidade. Esta atividade garante de maneira lúdica a participação da população mais excluída do mercado de trabalho de forma inclusiva, e que permite sem custos que as pessoas troquem objetos não mais desejados, por outros de seu interesse.

A partir desta reflexão, embora não tenha sido objetivo da pesquisa, a feira de trocas tornou-se uma prática durante os encontros com o grupo (Figura 22). Embora no primeiro momento as mulheres tenham dito que “não tinham nada para trocar”, desde a reunião seguinte trouxeram objetos variados para as trocas, sendo este momento, que passou a acontecer em todos os finais de reunião, motivo de animação.

Figura 22: Feira de trocas, realizadas como atividade final das reuniões Fonte: Fernanda Tavares (2012).

O número de mulheres que se propuseram ao estudo foi de 30, o que significaria 30 famílias, no entanto apenas 06 conseguiram fazer todo o processo. A proposta foi pesar por 30 dias seus resíduos totais (para isso foram cedidas balanças com capacidade de pesagem de até 150 Kg), diferenciando-se o resíduo orgânico, como peso isolado, participar da oficina sobre compostagem e produzir o composto orgânico.

3.1.3 Ações que foram realizadas com grupo

 As mulheres deste grupo têm uma visão 50% antropocêntrica e 50% ecológica do meio ambiente, parte do grupo se inserindo como integrante da natureza e a outra parte se percebendo como um elemento externo à mesma (Gráfico 05).

Gráfico 05: Resultado das respostas obtidas pelo grupo de mulheres de

Jacarapé quando indagadas sobre o que é meio ambiente

Esta visão mostra-se coerente com as palavras ditas ao serem indagadas sobre uma palavra que represente o meio ambiente. Verificou-se que apenas uma não soube definir o meio ambiente, e as restantes dividiram-se igualmente, associando o meio ambiente à própria natureza, 50% incluindo-se nele e 50% não (Gráfico 06).

Gráfico 06: Percepção do que é o meio ambiente pelo grupo das mulheres de

Jacarapé.