• Nenhum resultado encontrado

Avanços percebidos com a promulgação da Constituição Federal de 1988

Na América Latina, após o período da ditadura militar, o crescimento da participação feminina no processo de abertura política foi visível, principalmente no Brasil, muitos movimentos sociais foram liderados por mulheres nesse momento político.

Após a ditadura militar e com um maior conhecimento acerca do movimento feminista europeu, proporcionado pelo exílio de algumas ativistas ou simpatizantes do movimento, o Brasil presencia na década de 1990 uma “efervescência na luta pelos direitos das mulheres” (PINTO, 2010, p. 17).

Passados esses tempos sombrios, agora vivendo em um período democrático, temos mulheres participando em vários setores na base da sociedade, porém mesmo diante da autonomia do empoderamento feminino ainda são necessários instrumentos para sensibilizar e desenvolver nelas a consciência de participação política.

Nos parece que a questão do tempo parece ser um fator importante nos países pós- ditaduras, já que se trata de um momento oportuno para tirar proveito deste período de transformação política, receptivo, de introdução de mudanças, especialmente durante as transições e os processos de planejamento de novas constituições.

A Constituição Federal de 1988, significou um importante marco para a transição democrática brasileira, denominada como “Constituição Cidadã”, ela trouxe avanços no tocante ao reconhecimento dos direitos individuais e sociais das mulheres, resultado do intenso trabalho de articulação dos movimentos feministas, conhecido como lobby do batom, que apresentou propostas para um documento mais igualitário (BARRETO, online, 2010).

Foi um momento histórico, que contou com a participação das mulheres, precisamente 26 deputadas federais, nenhuma senadora, redigiram propostas durante o Encontro Nacional do CNDM (Conselho Nacional dos Direitos da Mulher), em 26 de agosto de 1986, e encaminhadas aos Constituintes.

As mulheres se uniram e organizaram uma bancada feminina, independente de posição ideológica buscaram o consenso, um exemplo para qualquer movimento social, enfrentando a tentativa de ridicularização pela mídia e a intensa pressão dos seus colegas constituintes.

Apesar da grande participação das mulheres na elaboração da CF88, na qual desencadeou no atendimento de grande parte das demandas, tais ações não foram suficientes para alterar o percentual de participação da mulher na política brasileira.

A constituição Federal de 1988 trouxe grandes avanços em relação aos direitos individuais e a garantia da igualdade e de direitos entre os homens e as mulheres, pela primeira vez, foi expressa.

Na época a maioria das mulheres que compunha o parlamento, eram próximas a políticos, eram filhas, netas e esposas. Atualmente, apesar dos números tão inexpressivos, é notável a importância da Constituição Federal de 1988 para o pleno exercício da cidadania da mulher.

A Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso I, explana que “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações” (BRASIL, 1988). Esclareça-se, a lei infraconstitucional não pode estabelecer distinções, exceto quando se quer promover a redução das desigualdades. Como forma de alcançar uma verdadeira igualdade, uma lei está autorizada a desenvolver uma discriminação positiva, hipótese na qual estaria em busca da igualdade material.

Muito embora a inclusão da mulher esteja prevista no texto constitucional, a exclusão feminina do espaço público durante séculos fez com que a possibilidade de votar e ser votada não se traduzisse em uma participação política significativa. Em relação a isso, Joaquim Barbosa assevera:

O status de inferioridade da mulher em relação ao homem foi por muito tempo considerado como algo, decorrente da própria “natureza das coisas”. A tal ponto que essa inferioridade era materializada expressamente na nossa legislação civil. A Constituição de 1988 (art. 5º, I) não apenas aboliu essa discriminação chancelada pelas leis, mas também, por meio dos diversos dispositivos antidiscriminatórios já mencionados, permitiu que se buscassem mecanismos aptos a promover a igualdade entre homens e mulheres (GOMES, 2001, p. 142).

Sob o prisma da Constituição Federal de 1988, precisamente em seu artigo 5º, inciso I, temos a disposição constitucional de que “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações” (BRASIL, 1988). Fica então presumido que a lei infraconstitucional não pode estabelecer distinções quanto ao gênero ou qualquer outro fato, exceto quando a lei está em busca da igualdade material, no caso da implantação da lei de cotas, ela quis almejar a concretização de princípios constitucionais, como o da igualdade.

Os baixos percentuais de representação feminina nas estruturas do poder formal no Brasil comprovam que a igualdade universalista prevista na constituição cidadã não tem sido o suficientemente concreta para incluir as mulheres no quadro político brasileiro.

Os obstáculos persistem e apesar dos ganhos advindos com a promulgação da carta cidadã ainda existe um conjunto de barreiras para a participação da mulher na política. De uma maneira geral essas barreiras podem ser consubstanciadas em três níveis - micro, sociológico e político – que serão demonstrados didaticamente de forma separada, mas que atuam simultaneamente em grau complementar.

A dominação masculina do campo político gera a permanência de diversas barreiras de nível micro, sociológico e político-filosófico para a inserção e manutenção da mulher na política brasileira (MATOS, online, 2009).

O nível micro faz referência ao fato da limitação da autonomia feminina na disputa de um cargo eletivo, essa barreira dificulta a competição da mulher e o sucesso eleitoral pois está relacionado a limitação da abertura política prejudicando a ambição política das mulheres, como se o modo hegemônico de fazer política fosse masculino e as mulheres estivessem associadas as atividades domésticas, de ensino ou serviços (MATOS, online, 2009).

Marlise Matos, em seu escrito, Paradoxos da incompletude da cidadania política das mulheres novos horizontes para 2010, afirma que a consequência dessa situação é a falta de autoconfiança e estima da mulher para concorrer a um cargo eletivo, além da falta de apoio e sustentação familiar para a entrada e permanência em um cargo político (MATOS, online, 2009), há também a falta de recursos financeiros referentes ao poder econômico, muitas vezes provenientes da desigualdade salarial a que as mulheres ainda se submetem (BOURDIEU, 2012, p. 106). Estas barreiras estão relacionadas a decisão de se candidatar a um cargo político, que por sua vez acabam desestimulando a participação da mulher.

Nas barreiras de nível sociológico, se encontram as desigualdades na distribuição de poder e na possibilidade de tomada de decisão, por parte das mulheres, em diferentes âmbitos que vão desde o doméstico até o político-institucional (MATOS, 2009, online). A ações de discriminação e opressão no plano pessoal, social e institucional, destacando questões como machismo, assédio moral, ausência de voz, desinteresse, além da descrença acerca do sucesso das candidaturas femininas são definidas nesse nível.

Os obstáculos de nível sociológico tratam-se de questões referentes às relações sociais e na interação da mulher com terceiros, seja familiar, com a vizinhança, eleitorado e outros partidários ou candidatos.

O perfil para potencial de elegibilidade entre as mulheres, está geralmente entre 30 e 50 anos, separadas ou viúvas, o que pode demonstrar ausência de compromisso com filhos pequenos, além de serem profissionais liberais, portanto livres de atividades que limitam a sua participação, conflitos que dividem a sua preocupação e geram antipatia dos líderes partidários.

(MATOS, 2009, online). Especificamente, esse perfil é o que se aproxima do perfil de elegibilidade dos homens.

No nível político-filosófico, encontram-se as barreiras relacionadas ao próprio jogo político-partidário, se configurando, portanto, como dificuldades formais e institucionais encontradas na própria luta e competição política, com regras do jogo político que são construídas e comandas, especialmente, por homens. (MATOS, 2009, online).

Essas dificuldades são encontradas dentro dos espaços políticos institucionais pelas mulheres já eleitas. São estabelecidos pelos partidos, por exemplo, critérios pouco claros de seleção de candidaturas. As mulheres não são indicadas para compor cargos.

No contexto das Assembleias Legislativas, de acordo com os estudos de Marlise Matos, as mulheres praticamente não são indicadas para ocupar posições de liderança dentro dos partidos, comissões de alta prestígio ou nas mesas diretoras. Elas são especialmente direcionadas a participar de comissões pouco prestigiadas, que não tem um grande impacto e nem visibilidade nas agendas parlamentares. São áreas historicamente destinadas as mulheres relacionadas a educação, cuidados, direitos humanos e serviço social (BOURDIEU, 2012, p. 112).

Diante da descrição desses elementos ficam demonstrados os principais motivos para a inexpressiva participação da mulher na política brasileira mesmo após a constituinte, como por exemplo: a herança cultural do patriarcado, machismo enraizado na sociedade, domesticalidade da mulher, educação restritiva, criminalização da política, entrave dos próprios partidos políticos, ambiente marcado pela hegemonia masculina e pelo poder econômico, a necessidade de um apadrinhamento com patrocinadores para investimento financeiro nas campanhas, exclusão do eleitorado e etc.

Mesmo com a consolidação da igualdade de gênero pela Constituição Federal de 1988, o sistema democrático brasileiro demostra toda a sua fragilidade na organização social quando a desigualdade política exclui as chances das mulheres serem eleitas e, por conseguinte de terem uma participação ativa na tomada de decisões. Isto é, foi dado as mulheres o direito de exercer o sufrágio para escolher os seus governantes e de se colocarem como representantes, mas diante desses fatores elas foram excluídas dos procedimentos de controle democrático e de participação direta.

3 O SISTEMA BRASILEIRO DE COTAS ELEITORAIS DE GÊNERO: