• Nenhum resultado encontrado

O Estado Democrático de Direito como um aliado na abertura de espaços na política

4 MEDIDAS QUE PODEM SER REALIZADAS PARA FOMENTAR A

4.4 O Estado Democrático de Direito como um aliado na abertura de espaços na política

O mundo está cada vez mais dividido por uma profunda diferença de origens e valores, e essa realidade se reflete nas democracias existentes nas atuais sociedades onde se demandam uma identidade política e plural.

A concepção de um Estado Constitucional passa por uma disputa de interesses dos mais variados com a pluralidade de grupos sociais com objetivos políticos divergentes dentro do parlamento.

O sistema político eleitoral brasileiro se mostra incapaz de promover a democratização da representação política, alargando espaços para abrigar a diversidade existente na sociedade brasileira.

O Estado Democrático de Direito aproxima a participação dos grupos que tiveram os direitos restringidos ou negados no exercício da sua cidadania em situações totalmente incompatíveis com um regime democrático e com o princípio da dignidade humana.

O Estado brasileiro tem a obrigação de oferecer igualdade de oportunidades para todos os seus cidadãos, protegendo-os contra qualquer tipo de violação, sem fazer qualquer distinção discriminatória, pois o que deve ser levado em consideração é a igualdade de direitos consubstanciada na Constituição Federal de 1988.

Essa igualdade não deve ser entendida na sua acepção formal, mas uma igualdade material que vise realmente a equiparar as condições de vida de todos os seres humanos, recuperando e fortalecendo sua dignidade (LOPES, 2006, p. 57).

Toda essa situação deve ser oportunizada pelo o Estado para que todos atinjam a plena cidadania, garantindo padrões mínimos de inclusão social, especialmente quando cada vez mais mulheres se façam presentes nas decisões políticas, alicerçando as bases da democracia brasileira fundada no ideal da igualdade e justiça social entre os cidadãos, através do diálogo entre homens e mulheres.

O Estado Democrático de Direito com o atendimento de interesses comuns está fundamentado na ideia de uma sociedade democrática, que está intimamente relacionada à noção de soberania, liberdade, justiça, pluralidade de ideais e participação popular.

A construção de uma sociedade ética, solidária e democrática com a participação das mulheres nos processos de tomadas de decisão, de forma equitativa, estabelece uma relação que proporcionará a mulher a oportunidade de se desenvolver na política, de forma compreensiva e propondo mudanças.

A Constituição Federal de 1988 estabelece como principais fundamentos do Estado Democrático de Direito a dignidade da pessoa humana e a cidadania, dentre outros.

Os direitos inerentes à cidadania são tidos como cláusulas pétreas, e estão presentes no artigo 60, incisos II e IV, que estabelece que “não será objeto deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: o voto direto, secreto, universal e periódico; e os direitos e garantias individuais”. (BRASIL, 1988).

Além do tratamento diferenciado na Constituição Federal, poderá ser prevista, na legislação infraconstitucional, em ações, políticas e programas estatais, a discriminação positiva das mulheres, com o intuito de afirmar sua igualdade (BARRETO, online, 2010).

O Estado Democrático de Direito brasileiro evidencia um novo paradigma jurídico constitucional no qual toda pessoa, sem importar suas características materiais ou imateriais, tem a igualdade de direitos garantida.

Diante desta regra, a igualdade deve ser interpretada como uma igualdade material, com um aspecto isonômico, tratando os iguais como iguais e os desiguais como desiguais.

Isso decorre do fato de que, embora enquanto ser humano toda pessoa é igual a outra, na sociedade nem todos os seres humanos exercem ou cumprem os mesmos papéis, encontrando-se alguns em situações de clara desvantagem em relação outros, situação que exige do Estado a diferente aplicação da norma no caso concreto ou a previsão de normas especiais que visem a igualar os desiguais (LOPES, 2006, p. 57).

Com essa configuração, surge o Estado Democrático de Direito como um aliado na abertura de espaços na política formal, ratificando a importância da implementação de ações afirmativas que busquem a estimular e a fortalecer a participação política das mulheres, como forma de garantir a plenitude do princípio fundamental do Estado Democrático brasileiro, que é o exercício da cidadania.

Um país que se reconhece como democrático tem a responsabilidade de promover o bem-estar de todos os cidadãos sem discriminação, não podendo de modo algum criar justificativas na desigualdade histórica, social e jurídica na qual foram submetidas as mulheres. A democracia será consolidada e assumirá um verdadeiro sentido quando as políticas dos partidos e a legislação nacional forem decididas conjuntamente entre homens e mulheres, independentes do partido na qual fazem parte ou de origem política.

A política necessita de mulheres para reparar uma injustiça. E essa reparação significa dar chances legítimas às mulheres de romperem as estruturas que obstaculizam as condições da participação feminina.

A sociedade deve reconhecer o poder político, cultural e socioeconômico que emanam das mulheres para ajustar os seus níveis de desenvolvimento interno. Neste contexto, a participação feminina na vida pública, vem aos poucos ganhando o seu espaço no decorrer da história brasileira, com a necessidade de uma reformulação política capaz de garantir a participação plena da mulher nos espaços da política formal. A defesa dos direitos da mulher com a extinção de todas as formas de discriminação e violência, constitui um compromisso dos estados democráticos de direito.

Para um Estado Democrático de Direito, a sub-representação política das mulheres é um dado vexatório. O Estado Democrático de Direito, tem o desafio de propagar os valores igualitários e democratizantes consagrados na Constituição e nos tratados internacionais de proteção dos direitos humanos das mulheres, compondo um novo paradigma, emancipatório, capaz de assegurar o exercício da cidadania civil e política das mulheres brasileiras, nos espaços público e privado, em sua plenitude e com inteira dignidade (PIOVESAN, online, 2005).

Uma sociedade é democrática na medida em que todos os seus cidadãos desempenham um papel significativo na gestão da coisa pública. Portanto, é necessário entender que as políticas afirmativas de gênero no âmbito dos direitos de participação política, têm o poder de ampliar a esfera pública a partir da inclusão das mulheres no cenário político de maneira igualitária, somente desta forma alcançaremos a representação feminina que tanto aspiramos e que poderá ser considerada justa por toda a sociedade.

Portanto, deve ser banida qualquer forma de discriminação que não esteja expressamente contida na Constituição Federal de 1988, razão pela qual não se pode ser aceita a sub-representação feminina na esfera política.

Uma parceria entre o Estado, a sociedade civil e o setor privado facilitaria a implementação desses mecanismos, acelerando o progresso nacional além de desenvolver uma geração de cidadãos conscientes com a sensibilidade para as desigualdades existentes entre homens e mulheres.

No Estado Democrático de Direito, busca-se o pleno exercício da cidadania feminina através de sua participação na política em condições de igualdade com os homens. Esta nova cidadania, é representada pela emergência feminina e pela luta da igualdade na participação política, que poderá humanizar a política, colocando em destaque a importância da dignidade da pessoa humana (NUNES; GROSSMANN, 2014, p. 19).

A construção de uma cidadania participativa, deve ser realizada com uma participação efetiva da mulher, a fim de garantir a promoção dos princípios constitucionais presentes no Estado Democrático de Direito brasileiro, além da efetivação dos seus objetivos.